Haiti - Será possível recuperar e reconstruir Porto Príncipe?

Heloisa Villela


Pobreza e miséria, agora, agravados pela tragédia. Nao sei nem mais que palavras usar para descrever o que acontece, no que se transformou a capital do Haiti. Um amontoado de escombros, de gente perdida, de desesperança.


O aeroporto da capital, Porto Príncipe, fechou logo depois do terremoto. Todos os voos comerciais foram cancelados. A imprensa mundial se instalou aqui e está literalmente acampada no gramado, instalada na pista, improvisando “escritórios” no prédio onde fica o centro de controle dos voos.

De sexta para sábado, as Forças Armadas dos Estados Unidos tomaram conta de tudo e deram uma certa ordem ao lugar. Coincidência ou não, surgiu até sinal de internet sem fio.

Para chegar aqui, voamos para Santiago, na República Dominicana, para completar a viagem de carro. Foram sete longas horas, com direito a pneu furado, estradas esburacadas e sem asfalto. Mas tudo certo. Entramos no Haiti sem problemas (depois de enfretar a burocracia da fronteira). E os sinais do terremoto surgiram apenas na entrada de Porto Príncipe.

Estrada rachada, casas tombadas, prédios destruídos. Mas era apenas o começo.

Dentro da cidade, a realidade é de embrulhar o estômago e cortar o coração. Gente andando pra lá e pra cá, com malas, cestas, tinas cheias de coisas. Aparentemente, levando o que sobrou, quem sabe para onde.

Porto Príncipe é uma cidade de quase 3 milhões de habitantes, que cresceu rapidamente e de forma desordenada, com a migração interna. O modelo econômico que promoveu as chamadas sweatshops (fábricas onde são fabricadas roupas de grifes, vendidas em Nova York e Miami) e acabou com a agricultura tem consequências visíveis e devastadoras.

Sem atividade econômica no interior, o povo tenta a vida na cidade. Se instala em favelas, vai construindo barracos como pode. Mas isso não explica tudo o que está acontecendo. O governo haitiano estima que 70% da cidade se foi com o tremor. Vimos casas grandes, nos bairros ricos, totalmente destruídas também. O tremor foi violento. Mas o padrão de construção, aqui, é inaceitável para uma cidade situada sobre uma falha tectônica. Combinação fatal.


Agora, olhando as ruas e o que restou, eu me pergunto: como recuperar e reconstruir Porto Príncipe? Será possível? E essa gente que está dormindo nas ruas (é muita gente!), o que vai fazer? Quanto tempo eles podem sobreviver nessa situação?


Quem tem parentes em outras vilas e cidades, e tinha algum dinheiro para embarcar em ônibus apinhados, fugiu. Mas e os que não têm nem como sair daqui? Para onde vão?


No sábado, começamos a perceber a presença de equipes de resgate e limpeza de vários países, trabalhando com escavadeiras, em diferentes pontos da cidade, o que não se via muito nos primeiros dias. Mas agora essa ajuda internacional já é visível. O que ainda não se vê quase é a distribuição de comida. Vai ser preciso correr com isso para evitar que a tensão, o trauma e o estresse acumulados não explodam.

Agora, vamos correr atrás de gasolina para continuar trabalhando. Os postos estão fechados. Os donos dizem que não têm o combustível, que aqui custava, em média, cerca de CR$ 7,00 por galao (3,5 litros). Diante de um posto de gasolina, fora da cidade, um funcionário do posto mesmo nos vendeu o combustível, armazenado em tanques, pelo dobro do preço.

Mas a equipe de uma tevê japonesa já pagou mais do que isso. E quem tem como estocar, está comprando tudo que pode. Até quando vamos poder circular por aqui?

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Fonte: Correspondente internacional Heloisa Villela para o R7.com
OBS: As imagens, com exceção da foto com equipamentos de transmisão no aeroporto, foram acrescentadas por mim para ilustrar as palavras da repórter Heloisa Villela.

Um comentário:

  1. Paz do Senhor querido, creio que todos estão sensibilizados com a situação tão difícil que o Haiti está passando, minha oração é que Deus possa consolar os sobreviventes dessa tragédia e todas as pessoas que foram de uma forma ou outra afetadas, pois é Ele que nos dá a força necessária pra seguir em frente...

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