Cinco Palavras que Traduzem Adoração!


Na década de 60, eu era criança em Garanhuns, interior de Pernambuco. O meu pai era pastor na principal igreja evangélica da cidade. Apesar de ter migrado para a capital com oito anos de idade, guardo vivas muitas lembranças de lá, como as idas à feira livre, meus primeiros anos de colégio, a banda marcial ensaiando para o desfile de 7 de setembro, minha primeira premiação numa atividade esportiva, a primeira ida ao cinema ("A noviça rebelde"), os carros-de-boi passando em frente de casa, e até um acidente de automóvel que derrubou o muro do vizinho.

No entanto, uma lembrança me é muito especial: a miniatura de um banco de madeira, feita como amostra pela ‘serraria’ que fabricou a bancada da “igreja”. Naquela época não existiam essas cadeiras de plástico de hoje. Aquele “banquinho” ficou na minha casa e serviu muitas e muitas vezes para que eu e minha irmã brincássemos de igreja. Eu o posicionava na frente de um púlpito improvisado, ela sentava-se nele e cantávamos músicas em “adoração” ao Senhor. Depois eu ‘pregava’ e encerrava o culto. É claro que eu repetia muito do que via nas reuniões da igreja liderada por meu pai, desde as músicas até o que era dito. E aquele foi o meu primeiro entendimento do que significava ‘adoração’.

Tudo aquilo era algo muito empolgante para mim. Depois, nossa família mudou-se para Recife, onde o meu pai passou a pastorear uma grande igreja. Lá, vivi os meus alegres dias de adolescência.

Passei a andar de ônibus, jogar basquete, fazer feira em supermercados, desenvolver novas amizades, freqüentar acampamentos, e dentre muitas outras boas atividades, tocar violão. Na igreja, recebemos alguns grupos de jovens viajantes que me impressionaram: eram as equipes missionárias de ‘Jovens da Verdade’ e ‘Vencedores por Cristo’. Eles falavam da nova vida em Cristo e, novamente, aqui e ali eu ouvia a respeito de ‘adoração’.

A influência foi tão grande que imediatamente os jovens da minha igreja e de muitas outras por todo o Brasil passaram a fazer o mesmo num movimento do Espírito, avivamento que vivenciamos sem nos apercebermos na época. De repente, lá estava eu envolvido com música e evangelismo, agora cristão consciente e comprometido com a proclamação do evangelho. E em meio a tudo isso uma palavra continuava pedindo maior explicação.

Com o tempo, num determinado momento da minha vida, entendi que o tema do coração de Deus na sua relação com o homem, a razão da existência de toda a criação, inclusive da humanidade, o motivo maior do sacrifício de Jesus na cruz em nosso favor, aquilo que une os propósitos do passado às expectativas do futuro, assim como o elo perfeito entre os ‘anseios’ dos homens e divinos, é a ‘adoração’. Foi tentando pensar ‘adoração’ na ótica divina que descobri CINCO PALAVRAS que traduzem tal tema ao longo da eternidade, quer passada ou vindoura.

As duas primeiras têm um caráter conceitual, ajudando-nos a entender os propósitos divinos, enquanto as demais traduzem como podemos desenvolver adoração ao Criador em fases distintas da existência da humanidade como povo de Deus e igreja do Senhor Jesus.

1. A primeira palavra é EXCLUSIVIDADE – Ela traduz o grau de exigência de Deus com relação ao tema. Se desejamos tentar considerar entender ‘adoração’ na perspectiva divina, essa é a melhor palavra. Adoração é algo em que Deus requer exclusividade. Ele não está disposto a dividir a adoração que Lhe é devida com ninguém. (Êxodo 20:4-5). Sempre foi assim e sempre será.

2. A segunda palavra é INTIMIDADE – Ela traduz a intenção de Deus na Sua relação com o ser humano ao longo dos tempos. O Seu maior propósito ao criar homem e mulher, juntamente com toda a criação, foi proporcionar um relacionamento de perfeita harmonia entre criatura e Criador, adoradores e alvo de toda a adoração. Seu principal objetivo ao resgatar o homem do pecado foi restabelecer essa condição de relacionamento, quando o homem novamente pode desfrutar da Sua presença e adorá-Lo. Trata-se de uma outra palavra que nos faz entender o propósito de Deus, o real sentido da adoração. Ser adorador é ser íntimo de Deus, e intimidade com o homem é, ao mesmo tempo, o que Deus mais quer e o que o homem mais anseia, mesmo que inconscientemente. Sempre foi assim e sempre será. Só podemos adorá-Lo desfrutando da Sua companhia, da Sua presença, da Sua intimidade.

3. A terceira palavra é SACRIFÍCIO – Ela traduz o método planejado e orientado por Deus para que o homem possa desfrutar da Sua presença e adorá-Lo, mesmo estando separado de Deus por causa do pecado. Nele, animais eram entregues a Deus como parte do culto de adoração, ofertas pelo pecado, ou seja, para tirar pecados (Lev.4:1-5. 13; 6:24-30), ou igualmente pela culpa (Lev.5:14-6:7;7:1-7), num processo pedagógico que traz consigo uma visão global, que consiste na apresentação de uma vítima a ser morta no lugar do pecador; na transferência dos pecados do pecador para a vítima pela imposição de mãos; na imolação, que quer dizer, a morte da tal vítima, e que pode ser melhor traduzido por literalmente “passar a faca”, cortando-lhe as artérias para que o sangue jorrasse; e depois na aspersão do sangue, ou seja, na apresentação a Deus do sangue derramado em favor do pecador.

O ‘sacrifício’ era e continua sendo a forma pela qual o homem, depois da queda, pode adentrar na presença de Deus e adorá-Lo. No entanto, sua prática diverge em épocas distintas na história. No período descrito pela Bíblia como Velho Testamento, a antiga aliança, os sacrifícios eram praticados pelo homem, sob a ordem divina, como forma de reconhecimento de pecado (Hb. 10:3) e de adoração (2 Rs 5:17 e Jo 1;16), pois os mesmos requeriam a garantia da presença e do favor de Deus (Ex. 29:43-44). Tais sacrifícios eram provisórios (Hb. 10:4) e apontavam para Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, a vítima que seria apresentada e morta (Jo 1:29;Hb 9:9-15) no nosso lugar. No período da nova aliança, a partir do novo testamento, tudo se tornou bem diferente.

4. A quarta palavra é VIDA – Ela traduz o estilo a ser vivido (I Cor.10:31) por qualquer pessoa que busque adorar a Deus no contexto da nova aliança, período descrito pela Bíblia que compreende a história a partir do novo testamento, incluindo os dias atuais, e até a volta do Senhor Jesus. Nesse período, a garantia da presença e do favor de Deus continua baseada em ‘sacrifício’. Porém, não mais nos sacrifícios provisórios dos homens, e sim na oferta definitiva em favor do pecado do homem: CRISTO, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, a oferta final em favor do homem, o sacrifício perfeito, que fez seu tabernáculo entre nós (Hb.9:11-12). “Sua vida impecável O qualificou para ser o sacrifício pelo pecado, no entanto, a Sua morte efetuou o pagamento pelos pecados.” É muito importante que entendamos que as diferenças existentes entre velha e nova aliança são fundamentais para se apresentar uma adoração genuína e de acordo com a forma ordenada por Deus para cada um desses períodos na história da humanidade. Vivendo na nova aliança, como vivemos hoje, não mais precisamos “entrar” na presença de Deus, pois Ele, Deus, entrou definitivamente em nós.

Não mais o Seu Espírito visita os homens; ao contrário, agora Ele habita definitivamente na vida de tantos quantos reconhecem o sacrifício de Jesus na cruz, arrependem-se e O recebem como o seu único e suficiente Salvador. Não mais temos um dia específico para a adoração, ao contrário, “este é o dia criado por Deus, regozijemo-nos nele.” Não mais temos um local reservado para a adoração, a não ser o nosso próprio coração; não mais temos um intermediário entre nós e Deus, pois todos fomos feitos sacerdotes; não mais temos um rígido ritual a ser cumprido, fomos feitos igreja relacional. Na era da igreja, da vida comum (de comunidade) e mútua (de mutualidade), a adoração deixa de ser pontual para ser cotidiana, deixa de ser reservada e passa a ser participativa, deixa de ser profissional e passa a ser comunitária, deixa de ser representativa e passa a ser acessível ao Pai, na pessoa de Jesus. “Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifícios de louvor, que é fruto de lábios que confessam o Seu Nome” (Hb.13:15).

Só entendendo cada vez mais todo esse processo, o seu contexto, o conjunto de suas diferenças, bem como as suas implicações, é que deixaremos de assistir e/ou vivenciar a atual confusão que se instalou, quer por falta de entendimento real da Palavra no que já foi resumidamente exposto, quer por interesses próprios de uma indústria da religião cada vez mais irresponsável. Com isso, não apenas no âmbito da adoração, mas também em outros aspectos, a igreja de uma forma geral parece que passou a agir em função das suas conveniências e não dos propósitos divinos, o que a deixa em alguns momentos perplexa, em outros confusa, mas certamente em constante distância do propósito essencial da sua existência.

5. Enfim, a quinta e última palavra é ESPERANÇA – Um dia, sem dúvida, estaremos todos em volta do trono do Rei dos reis e Senhor dos senhores. O mesmo Jesus que para nascer teve que usar um berço emprestado; que, para entrar em Jerusalém, foi transportado num jumento também emprestado; que, para ser crucificado, foi sobre a cruz de outro; que, ao morrer, foi enterrado num túmulo que também não era seu; que morreu uma morte que não era Sua e sim nossa, a fim de nos presentear com a Sua vida. Ele virá com todo esplendor e glória. Todo olho verá e toda língua confessará que Ele é o Senhor. Só Ele é digno de toda a adoração pelos séculos dos séculos. Essa é a nossa esperança! A espera por um tempo em que seremos glorificados com Ele, quando não mais conviveremos com o pecado, e, por isso, finalmente, em plena INTIMIDADE poderemos adorá-Lo eternamente. Sem fim Lhe dedicaremos adoração EXCLUSIVA. É o que traduz a última palavra.

Deus seja louvado!

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Fonte: Texto de autoria de Augusto Guedes postado em sua coluna no blog Cristianismo Criativo - Vi primeiro no blog Sou da Promessa na coluna Jovens. Artigo compartilhado no PC@maral

Sobre o autor: Augusto Guedes é fundador e diretor-executivo do ISA-Instituto Ser Adorador, que tem como missão: “Despertar e incentivar as pessoas e a comunidade cristã para a adoração ao Criador como estilo de vida, expressando-a nos relacionamentos, nas artes, no resgate de nossa cultura, no apoio a projetos sociais, missionários e causas humanitárias.

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