O reinado de Jeroboão o reinado da idolatria


Pelo que o rei, tendo tomado conselhos, fez dois bezerros de ouro; e disse ao povo: Basta de subirdes a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito! Pôs um em Betel e o outro, em Dã. (I Rs 12:28-29)

Jeroboão, Reino do Norte - Israel
A injustiça é um tipo de pecado classificado nas Escrituras sagradas como abominável a Deus. A idolatria, porém, além de ser abominável, provoca nojo em Deus. Por dez vezes, a NTLH usa o termo “ídolos nojentos” (Dt 29:17, 32:16; II Cr 15:8, 34:33; Ez 7:20, 11:21, 14:6, 18:12, 20:7-8). Como é sabida pela maioria dos cristãos, a história do povo de Israel, infelizmente, é marcada pela repugnante idolatria.

Neste estudo, conheceremos melhor o rei que virou símbolo deste detestado pecado que ceifou e continua ceifando milhões de pessoas ao redor do mundo; gente que prefere os ídolos a Jesus Cristo, Baal a Deus. Na verdade, sabemos que, quando eles adoram aos ídolos, estão adorando aos demônios (I Co 10:20).

Que a perversão espiritual de Jeroboão nos sirva de alerta e nos faça ter nojo dos ídolos e dos demônios que estão por trás deles (Ez 6:9, 20:43, 36:31) e que o Espírito Santo nos encha o coração de amor e de fidelidade para com o único e verdadeiro Deus.

I - A história contada
Em I Rs 11:9-13, é dito que Deus se indignou com Salomão por este ter se envolvido com mulheres pagãs, e, por influência delas, ter praticado e implantado a idolatria em Israel (I Rs 11:1-8). Em razão desse gravíssimo pecado, o Senhor decidiu tirar o reino das mãos de Salomão e interromper, em grande medida, a dinastia de Davi, que ficaria apenas com uma tribo, sob o comando de Roboão, por amor a Davi (I Rs 11:9-13). Desta forma, Deus suscitou adversários contra Salomão para enfraquecer seu reinado (I Rs 11:14-25). A um deles, Jeroboão, da tribo de Efraim, o profeta Aías predisse que reinaria sobre dez tribos de Israel (I Rs 11:26-40). Após estas predições divinas, Salomão morreu e Roboão, seu filho, assumiu o reinado, em Israel (I Rs 11:41-43).

Roboão reinava sobre as doze tribos de Israel, mas Jeroboão tinha a promessa divina de reinar sobre dez. Os relatos bíblicos sobre Jeroboão estão em I Rs 11:26–14:20; II Crônicas 10:1–13:20. O nome de seu pai era Nebate e de sua mãe, viúva, Zerua (I Rs 11:26). Jeroboão era um jovem valente que Salomão conheceu quando fortificava instalações em Milo. Ao ver o jovem destemido e trabalhador, o rei o colocou como comandante da cobrança de impostos e do trabalho escravo (I Rs 11:28). Este cargo marcou a entrada de Jeroboão no centro da vida política de Israel, uma vez que os pesados impostos e o trabalho escravo eram o ponto de tensão entre as tribos e o rei.

Com o desvio de Salomão, Deus proclamou que dividiria o reino e escolheu Jeroboão para comandar a parte maior do reino israelita (I Rs 11:26-39), pelo que Salomão procurou matar Jeroboão; porém Jeroboão se levantou, e fugiu para o Egito, para Sisaque, rei do Egito, e esteve no Egito até que Salomão morreu (I Rs 11:40). Com um novo rei em Jerusalém, Jeroboão voltou e se uniu às lideranças tribais que o encarregaram de ir até Roboão pedir que fossem aliviados a carga tributária e os trabalhos forçados que seu pai havia infligido ao povo (I Rs 12:1-24).

Tudo leva a crer que Jeroboão intentava apenas conseguir melhores condições de vida para o povo comum; porém, o jovem e arrogante Roboão desprezou o pedido de Jeroboão e ainda ameaçou o povo com trabalhos mais duros do que no tempo de seu pai (I Rs 12:1-15). Como resultado, Jeroboão liderou uma rebelião contra a já enfraquecida casa de Davi, quando dez tribos o ergueram rei, ficando somente a tribo de Judá, e, posteriormente, a de Benjamim, sob a liderança de Roboão (I Rs 12:16-20). As dez tribos lideradas por Jeroboão ficaram conhecidas como Reino do Norte, ou Israel, e as duas tribos lideradas por Roboão, como Reino do Sul, ou Judá. Sobre esta divisão, Gardner faz a seguinte ponderação:

A Bíblia não condena Jeroboão por essa rebelião. Na verdade, o relato bíblico indica que ele tinha motivos, devido às ameaças de Roboão de acrescentar mais dificuldade aos trabalhadores. O trono de Jerusalém tinha violado tão profundamente suas prerrogativas que tinha se tornado um governo ilegítimo. Em duas ocasiões o Senhor aprovou explicitamente Jeroboão como rei das tribos do Norte. Prometeu-lhe especificamente uma dinastia tão duradoura quanto da linhagem de Davi, desde que permanecesse fiel (1 Rs 11.38). Além disso, quando Roboão reuniu suas tropas e preparou-se para atacar Jeroboão, o profeta Semaías ordenou em nome do Senhor que voltassem (1 Rs 12.24). [1]

Contudo, as narrativas positivas sobre Jeroboão parecem cessar por aqui; logo, ele estaria se envolvendo com graves e inadmissíveis pecados. Suas primeiras medidas administrativas, como rei, demonstram sua preocupação em aumentar a distância entre os dois reinos. Temendo que a ida anual do povo ao templo de Jerusalém para adorar ao Senhor causasse o retorno dos israelitas a Roboão, Jeroboão, que reinava na cidade de Siquém, criou santuários idólatras nas cidades de Dã e Betel (I Rs 12:25-33). Com isso, Jeroboão não ofendeu apenas a Roboão, mas ao próprio Deus, que havia aceitado Jerusalém como o lugar de eterna adoração dos israelitas (I Rs 8:27-30).

A perversão espiritual de Jeroboão, entretanto, não parou por aí. Champlin lembra que ele se aprofundou na idolatria de maneira que corrompeu as leis divinas, estabelecendo o seu próprio sacerdócio, com homens que não faziam parte da tribo de Levi; instituiu suas próprias comemorações religiosas e seus próprios dias de oferecer os sacrifícios; ergueu altares para uma adoração espúria nos lugares altos, conforme o costume dos pagãos.[2] “Além disso”, lembra Gardner, “Jeroboão misturou a adoração a Deus com o culto a Baal. Erigiu bezerros de ouro em Betel e Dã e pronunciou essas palavras, reminescentes de Arão (Êx 32.4,5): ‘Vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram sair da terra do Egito’ (1 Rs 12:28).”[3]

Não bastasse isso, o rei ergueu altares a Baal em todos os lugares altos do reino, com seus respectivos sacerdotes e dias de adoração, sendo que ele mesmo, sem ser sacerdote, oferecia sacrifícios (I Rs 12:31-33). Tamanha insolência e afronta provocou a ira de Deus. Em um dos dias em que Jeroboão estava no altar para oferecer sacrifícios, o Senhor mandou até ele um profeta denominado “homem de Deus”, que lhe disse: Altar, altar! Assim diz o SENHOR: Eis que um filho nascerá à casa de Davi, cujo nome será Josias, o qual sacrificará sobre ti os sacerdotes dos altos que queimam sobre ti incenso, e ossos de homens se queimarão sobre ti (I Rs 13:2). O profeta de Deus previu ainda a destruição de todos os altares de Baal e a falsa religião de Jeroboão. As predições deste profeta cumpriram-se, quando Josias, monarca do reino do Sul, estendeu sua reforma religiosa a todo o reino do Norte (II Rs 23:15).

Com tudo isso, Jeroboão se arrependeu? Não!
Depois dessas coisas, Jeroboão não deixou o seu mau caminho; antes, dos mais baixos do povo tornou a fazer sacerdotes dos lugares altos; a quem queria, lhe enchia a mão, e assim era um dos sacerdotes dos lugares altos. E isso foi causa de pecado à casa de Jeroboão, para destruí-la e extingui-la da terra.(I Rs 13:33-34)

Por essa razão, as predições divinas contra Jeroboão continuaram. O mesmo profeta, Aías, que havia profetizado sua escolha para ser rei (I Rs 11:29-30), agora, predizia a retirada de seu reinado, a morte de seu filho, Abias (I Rs 14:1-13), e a extinção de toda a sua dinastia (I Rs 14:14-16). A morte do filho de Jeroboão se cumpriu imediatamente (I Rs 14:17-18) e o fim de sua casa se cumpriu quando o rei Baasa executou o filho idólatra de Jeroboão, Nadabe, com todos os seus descendentes (I Rs 15:25-30).

Durante vinte e dois anos, Jeroboão reinou e imprimiu um padrão tão perverso de idolatria que ficou como um modelo a nortear e macular a vida dos reis de Israel, como declara Gardner:

A idolatria do rei Jeroboão tornou-se um padrão pelo qual o escritor dos livros dos Reis comparou todos os demais governantes do Norte. Frequentemente mencionava que o rei “andou em todos os caminhos de Jeroboão” (1 Rs 16.26; 2 Rs 14.24). Assim como Davi era o modelo de rei íntegro, Jeroboão era o modelo de monarca ímpio. Essa lembrança constante de seu pecado indica a maneira como o Senhor tratou com a idolatria durante a história de Israel. [4]

II - A história aplicada
1. Quando há opressão, a idolatria pode surgir.
Jeroboão não era idólatra; era um jovem cheio de força, de esperança e de vontade de servir a Deus e a seu povo. Salomão não o encontrou na ociosidade, mas no trabalho, nas edificações que realizava em Milo. Impressionado com o moço, o rei o ergueu a líder dos trabalhadores: Jeroboão era um jovem capaz, e Salomão viu que ele trabalhava com vontade. Então o colocou como encarregado de todos os trabalhadores forçados do território das tribos de Manassés e Efraim (I Rs 11:28 – NTLH). Como líder dos oprimidos, o jovem israelita passou a receber violenta pressão por parte daqueles trabalhadores escravos. A insensibilidade de Salomão para com aquelas pessoas aumentava o sentimento de opressão na alma de Jeroboão, o que lhe gerou desconfiança sobre o Deus que era adorado em Jerusalém. A origem dos desvios espirituais de Jeroboão, provavelmente, está no fato de que ele, a exemplo de muitos de nós, não teve a capacidade de lidar com a opressão. Não raro, quando oprimidos, queremos fazer justiça com as próprias mãos. Agindo assim, fazemos o jogo do opressor, o diabo, que tenta nos fazer crer que Deus não olha para os oprimidos, para, em seguida, nos fazer confiar nos ídolos. Quando oprimidos, não devemos oprimir e nem nos amargurar; mas devemos confiar que o SENHOR [sempre] sustentará a causa do oprimido e o direito do necessitado (Sl 140:12; cf. 146:7). Para que as conseqüências da opressão não sejam danosas à nossa fé, sigamos o exemplo de Cristo, o qual, quando o injuriavam, não injuriava e, quando padecia, não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente (I Pe 2:23; cf. Is 53:7; Lc 4:18; At 10:38).

2. Quando há rebelião, a idolatria pode se fortalecer.
De líder dos trabalhadores oprimidos, Jeroboão se tornou líder de um movimento de rebelião. Suas convicções a respeito da opressão aumentaram, quando o profeta Aías lhe predisse que o Senhor o poria como rei sobre dez das doze tribos (I Rs 29-40). Equivocadamente, ele interpretou esta graciosa promessa de Deus como uma autorização para encabeçar a revolta contra o rei. As condições para o levante foram, sorrateiramente, criadas; mas, enquanto esteve vivo, Salomão conseguiu controlar a rebeldia (I Rs 11:40); com sua morte, porém, ela se tornou inevitável, em razão do clima popular favorável (I Rs 12:16-20). Em pouco tempo, Jeroboão migrou da opressão para a rebelião, pavimentando o caminho para a repugnante e mortal idolatria. Na história da igreja, não são poucos os casos em que líderes e liderados, ao se rebelarem contra os que presidem o rebanho de Cristo ou contra a doutrina de Cristo, acabam por se prostituírem espiritualmente. A exemplo de Jeroboão, muitos usam palavras de “profetas” para justificar seus levantes; idolatram espiritualmente seus novos líderes e pervertem a doutrina, a liturgia, a postura cristã; muitos destes terminam suas vidas em profunda apostasia e perdição, pois a rebelião é como um estopim a acionar o coração adormecido, mas propenso à idolatria. Por isso, Samuel declarou estas palavras ao rebelde Saul: Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei. (I Sm 15:23; cf. Is 1:5; Jr 28:16; Ez 17:20)

Para que a idolatria não tenha espaço na igreja, a Bíblia ordena que os rebeldes sejam tratados com severidade e que sejam até banidos (Rm 15:31-32; Gl 5:12; Tt 1:10-11).

3. Quando há insubmissão, a idolatria pode se estabelecer.
Quando a opressão é enfrentada com as armas da carne, ela pode descambar em rebeldia, que, uma vez acalentada, desencadeará um processo de insubmissão que resultará num estado irreversível de apostasia.

Vencido pela opressão, Jeroboão encabeçou a rebelião contra a casa de Davi, recusando-se a se submeter às orientações espirituais que emanavam do Templo de Jerusalém (I Rs 12:26-29). Consequentemente, atolou-se, bem como a seu povo, em profunda idolatria. Neste estado, estabeleceu, de forma oficial, o culto a Baal e seus demônios (I Rs 12:25-13:10). Nem com pesada correção ele se arrependeu (I Rs 13:33-34). Assim, de jovem oprimido, passou a líder rebelde, até se transformar no maior símbolo de idolatria da história de Israel.

São muitos os exemplos de pessoas que eram boazinhas, obedientes e submissas, quando começaram a seguir a Cristo, mas os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições, concorrendo, sufocam a palavra, ficando ela infrutífera (Mc 4:19). No dizer de Paulo, tendo começado no Espírito, estão se aperfeiçoando na carne (Gl 3:3).

Diante disso, podemos afirmar que a insubmissão voluntária, premeditada, consciente a Cristo, a sua palavra e a sua igreja é o último degrau da escada que conduz à apostasia fatal (Hb 6:4-6; 10:25-27). Sendo assim: Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza (II Pe 3:17).

Aos desanimados, a igreja deve consolar; aos fracos, deve amparar; mas, aos insubmissos, deve exortar, corrigir e disciplinar (I Ts 5:14; cf. I Co 5:3-5).

Concluindo
A vida de Jeroboão nos ensinou que é absolutamente possível uma pessoa, com boas intenções, com desejo de lutar por causas justas, quando submetida a grandes pressões, vir a se atrapalhar, a se confundir e a se perverter espiritualmente, a ponto de se tornar uma grande abominação, um símbolo de pecado e de morte.

Peçamos, pois, ao Espírito Santo, que nos capacite a reagirmos corretamente, quando formos oprimidos pelos pesados desafios da vida, a fim de que não venhamos a nos tornar servos rebeldes e insubmissos a Cristo, a sua palavra e a sua igreja.


Referências

[1] Gardner, Paul. Quem é Quem na Bíblia Sagrada. Ed. Vida, São Paulo, 1995, p. (?).

[2] Champlin, Russell Norman. Dicionário - O Velho Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol 4, p. 4531, Candeia, 2000.

[3] Gardner, Paul. Quem é Quem na Bíblia Sagrada. Ed. Vida, São Paulo, 1995, p. ( ? ).

[4] Gardner, Paul, Quem é Quem na Bíblia Sagrada. Ed. Vida, São Paulo, 1995, p. ( ? ).



Fonte:
Estudo bíblico de autoria do Pastor José Lima de Farias Filho
Série de estudos sobre o mais interessante período da história dos israelitas: o período da monarquia israelita


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