Cheguem Perto Dele

Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo. (I Pd 2:4-5a)

Se há uma coisa de que podemos ter certeza é que já passamos, estamos passando ou passaremos por algum momento difícil na vida. Ninguém está livre disso. Momentos assim podem nos levar a crescer na fé ou a murmurar da vida cristã. Podem nos tornar mais crente ou nos levar a desviar do caminho. Podem nos aproximar de Deus ou nos distanciar dele. Podem levar à vitória ou à derrota. Tudo vai depender da nossa reação diante dessas circunstâncias. Por isso, é preciso enfrentar as aflições com sabedoria para não tombar diante delas.

A primeira epístola do apóstolo Pedro, foi endereçada a pessoas que serviam a Cristo e que estavam sendo perseguidas por causa dele. Sofriam por fazer o que é certo. Então, o apóstolo lhes escreve exatamente para ajudá-las a ter uma reação correta diante do sofrimento. Para tanto, apresenta-lhes preciosos conselhos. Nesse texto bíblico, encontramos uma mensagem muito simples, porém, muito poderosa. A mensagem é esta: Cheguem perto dele. Com essa atitude, descobrimos que os sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada (Rm 8:18-NVI).

I. PERSEVERANDO ATÉ O FIM

Um dos maiores segredos da vitória cristã em meio às lutas é estar perto de Jesus. No que depende do nosso Senhor, ele sempre está perto de nós; porém, somos nós que nos afastamos dele, às vezes, por causa do desanimo ou do cansaço e ou do esfriamento. Nosso pecado nos separa dele (cf. Is 59:1-2). Mas, quando nos aproximamos dele, encontramos perdão, alimento, águas tranquilas, ânimo, alívio, orientação, alento e esperança. Mas como nos achegar a ele? Em I Pedro, capítulo 2, versículos 1 ao 10, o apóstolo mostra o que é preciso saber e fazer para chegar perto de Jesus. Vejamos o que o texto nos ensina.

1. Abandone todo mau: Pedro começa dizendo: Deixando, pois, toda a malícia, e todo engano, e fingimentos, e invejas, e todas as murmurações (I Pe 2:1). A palavra “deixando” ou “despojando” é apothemenoi, no grego, e significa, literalmente, “colocar de lado, tirar do caminho, remover”. [Mueller (1991:120).] De acordo com esse texto, há cinco coisas que precisam ser deixadas de lado, porque são embaraços que impedem o cristão de progredir na jornada espiritual e o afastam de seu Senhor. O primeiro embaraço é a malícia, que é malevolência, iniquidade, depravação e inclinação a prejudicar o outro. O segundo é o engano, isto é, a astúcia enganosa, a trapaça ou malandragem para levar vantagens. O terceiro embaraço é o fingimento, que é a hipocrisia ou a dissimulação em fingir ser algo que não é; o quarto, é a inveja, que está ligada ao ciúme. Ela é uma maldade interior e oculta, própria de um coração impuro que não suporta ver o outro tendo sucesso. O quinto e último embaraço a ser mencionado é a murmuração, que significa fazer difamação e calúnia, e, nesse contexto bíblico, representa os pecados da língua. [Champlin (1980:112).] O que o apóstolo Pedro está ensinando é que “todo pecado que sobreviveu ao choque da conversão deve ser abandonado”. [Taylor (2006:226).] Esse é um passo importantíssimo para estar perto de Cristo, pois tais coisas impedem a nossa comunhão com ele.

2. Igual a uma criança: A vida cristã não se resume a uma lista de proibições. Muito embora o crente precise se despojar de certas coisas, há outras coisas das quais precisa se revestir. [Welch (1978:36).] É o que nos mostra essa passagem bíblica: Como crianças recém-nascidas, desejem de coração o leite espiritual puro, para que por meio dele cresçam para a salvação (I Pd 2:2 – NVI). A palavra de Deus é vida, transmite vida e sustenta a vida em nós. É preciso ansiar pela palavra de Deus como recém-nascidos famintos! O apetite pelas coisas espirituais e o desejo pela santidade pessoal devem ser tão naturais em nós quanto a fome de um bebê. Uma criança que não sente fome não é normal, nem saudável. O mesmo ocorre quando um cristão não tem anseio pela palavra e pelas coisas de Deus. Ele está fadado à “desnutrição” espiritual e ao retrocesso na santificação. Isso não é normal e nem saudável! Por isso, é fundamental ter fome e sede de Deus. É preciso falar do fundo do coração: eu quero estar na tua presença, ó Deus! Eu tenho sede de ti, o Deus vivo! (Sl 42:1-2). Em I Pd 2:1-2, o apóstolo “declara que somos pessoalmente responsáveis por duas coisas – abandonar o fruto da carne e desejar ardentemente a Palavra” [Welch (1978:36).], ou seja, somos responsáveis pela direção que damos aos nossos desejos. Chegamos perto dele, quando desejamos intensamente isso.

3. Tornando-nos pedras vivas: Os versículos 4 e 5 lançam mão de uma bela metáfora. Segundo o apóstolo, Deus está construindo uma grande casa para morar. Cristo é a pedra angular, e nós somos as pedras que vivem e que compõem essa construção. Embora Jesus seja o alicerce sobre o qual é erguida essa superestrutura (I Co 3:11), não é essa a verdade que o texto nos ensina ao chamá-lo de pedra angular. A ideia é que ele é a pedra que une e mantem unidas todas as outras. Quando o texto diz, Chegando-vos para ele, a pedra que vive (I Pd 2:4a), a mensagem é que, quando nos aproximamos dele, tornamo-nos parecidos com ele, tornamo-nos pedras vivas. Cada vez que uma pessoa entrega sua vida a Cristo e o aceita como Salvador e Senhor, uma pedra é extraída da mina do pecado e é ajustada e cimentada na construção da casa espiritual. Essa casa espiritual é a igreja. Ela está sendo construída por meio do trabalho do Espírito Santo. Então, entenda a sua importância, meu irmão: Jesus “extraiu você da mina de seus pecados. E agora está apurando, moldando você e definitivamente colocando-o em seu lugar. Você faz parte do seu projeto de construção”. [Swindoll (2002:68).] De fato, todos nós estamos nos planos do Pai! Somos templo do Espírito Santo e morada de Deus.

4. Somos um sacerdócio santo: De acordo com I Pedro 2:5, o propósito de o Senhor nos constituir “casa espiritual” é que sejamos “sacerdócio santo”. Na antiga aliança, os sacerdotes possuíam um lugar de honra em Israel. Eram ministros de Deus que cuidavam dos sacrifícios e intercediam pelo povo. Naquele tempo, somente os sacerdotes podiam entrar no tabernáculo ou no templo. Só eles tinham acesso à presença de Deus. Eram intermediários entre Deus e o povo. Mas, na nova aliança, todo crente em Cristo é um sacerdote de Deus. Todo cristão é ministro e embaixador de Cristo aqui na terra. Temos a honra de entrar na presença de Deus e temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos abriu (Hb 10:19-20). E sendo sacerdotes, devemos ser santos e oferecermos sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus (I Pd 2:5 - NVI). Segundo Paulo, esses sacrifícios dizem respeito à consagração de nosso corpo e nossa vida ao Senhor. Disse: ... apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm 12:1). Contudo, devemos oferecer esses sacrifícios por meio de Jesus Cristo, porque somente por meio dele somos aceitos diante de Deus. [Wiersbe (2006:518).]

5. Não rejeite essa pedra: Nesse texto, Pedro faz uma excelente descrição de Jesus Cristo, a pedra. Nosso Senhor é a pedra viva! Ele ressurgiu dentre os mortos. [Wiersbe (2006:518).] Houve uma ocasião em que Pedro foi chamado de pedra (Mt 16:18), e, em seguida, Jesus disse: ... sobre esta pedra edificarei a minha igreja. Por causa disso, houve quem pensasse ser Pedro a rocha sobre a qual a igreja fora edificada. Todavia, nessa carta, o apóstolo desfaz qualquer mal-entendido. [Welch (1978:35).] Certamente, tendo em mente aquela experiência vivida com o Mestre, Pedro explica que todos nós somos as “pequenas pedras” da construção. Mas a pedra mesmo é Cristo. Ele é a pedra principal, angular, eleita. É uma pedra preciosa! (I Pd 2:4,6). Mas, apesar disso, muitos o rejeitaram no passado e outros, ainda hoje, o rejeitam. Para esses, ele é pedra de tropeço. Nos dias de Pedro, muitos judeus desprezaram Jesus, por não ser ele o Messias que esperavam. Eles tropeçaram em Cristo! E, em nossos dias, para muitos, a cruz de Cristo é loucura (I Co 1:18-25). Esses também tropeçam! Desprezam a mensagem da cruz, sem saber que ela é o maior tesouro que alguém pode ter. Note que Pedro escrevia essas palavras aos crentes de cinco províncias romanas que estavam sofrendo por causa de Cristo. Eram as pessoas mais ricas do mundo! E precisavam saber disso, para não rejeitar aquela pedra tão preciosa.

6. Conheça nossos privilégios: Ao ler I Pedro 1:9-10, descobrimos que ninguém nesse mundo tem tantos privilégios como os filhos de Deus. Em primeiro lugar, somos geração escolhida. Essa escolha não com base em nossos méritos, mas pela graça e bondade de nosso Senhor. Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros... (Jo 15:16). Em segundo lugar somos sacerdócio real. Além de sermos “sacerdotes” somos também “reis”. A Bíblia diz que Jesus nos constituiu reino e sacerdotes para servir a seu Deus e Pai (Ap 1:6). Em terceiro lugar, somos nação santa; isso porque somos chamados por um Deus santo, para sermos santos. Em quarto lugar somos propriedade exclusiva de Deus. Essa é uma das verdades mais poderosas da Bíblia: Nós pertencemos a Deus! Somos dele porque ele nos comprou, não com prata ou ouro, mas com o precioso sangue de seu Filho (I Pd 1:18-19). Em quinto lugar, somos povo de Deus. Sem dúvida, essa é uma grande honra, pois, sem merecimento algum, nós, pecadores indignos e indesculpáveis, fomos regenerados e justificados graciosamente pela fé e fomos recebidos na família de Deus como filhos dele. Deus nos amou e nós, que não éramos nada, somos, hoje, o povo dele (I Pd 1:10). Note, que, junto a esses privilégios, há uma missão: anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (I Pd 2:9).

Os cristãos que receberam essa carta do velho pastor Pedro, estavam enfrentando uma tempestade na vida cristã, e, para sobreviverem na fé, só havia uma saída: Chegar mais perto do Mestre. Para tanto, era preciso abandonar todo mal e desejar a palavra e a presença dele, como uma criança anseia pelo leite materno. Era necessário conhecer e valorizar o Senhor a quem eles serviam (a pedra eleita e preciosa); para então entender quem eles eram (pedras vivas e sacerdócio santo). E ao conhecer seus privilégios como povo de Deus; eles poderiam, com ousadia, chegar perto dele e encontrar perdão, alimento, orientação, alento e esperança.

II. APLICANDO A PALAVRA DE DEUS NA MINHA VIDA

Cheguem perto dele com santidade - Mesmo com liberdade para entrar na presença de Deus, não podemos fazê-lo de qualquer maneira. Ele é santo, e, em pecado, não podemos nos achegar a ele. Devemos abandar tudo o que é mau (cf. I Pd 2:1). Mas como fazer isso? Não conseguimos fazer por conta própria. Precisamos de Jesus! Seu sangue nos purifica de todo o pecado (I Jo 1:7). Nele, alcançamos perdão (I Jo 1:9). E é só por meio de Jesus Cristo, que podemos oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus. (I Pe 2:5). Então, seja reverente diante de Deus. Reconheça o seu pecado e confesse-o. Deixe que ele sonde seu coração, cure seus sentimentos e endireite seus caminhos.

Cheguem perto dele com percepção - Jesus, a pedra preciosa, estava sendo rejeitado por muitos, inclusive, cristãos que, diante das aflições, estavam esquecendo o valor que ele tem. Tinham a maior riqueza do mundo e não podiam esquecer-se disso! Então, Pedro os faz lembrar quem é Cristo (pedra viva e angular) e quem eles são em Cristo (pedras vivas e sacerdócio santo). Sem essa percepção não há como aproximar-se dele. Quando percebemos quem ele é, entendemos quem nós somos. Assim, não enlouquecemos diante das tormentas da vida, pois descobrimos que ele está no controle da situação e que não estamos sós. Que ele tem um propósito em nossas vidas e que nós temos uma missão nesse mundo.

Cheguem perto dele com humildade - Após lermos a lista de nossos privilégios, apresentada por Pedro (I Pd 2:9-10), podemos enganosamente nos achar merecedores. Mas não podemos jamais esquecer que tudo isso é fruto da graça e bondade de nosso Senhor e não por causa de nosso merecimento. E o apóstolo faz questão de nos lembrar disso: Antes vocês eram menos do que nada; agora pertencem ao próprio Deus. Antes vocês sabiam muito pouco da bondade de Deus; agora a própria vida de vocês foi mudada por ela (I Pd 2:10 - BV). Saiba que tudo o que somos e temos não é porque somos “bonzinhos”, mas é porque Deus é bom. Não há méritos em nós, tudo é por causa da misericórdia do Senhor. Portanto, além de eu e você chegarmos perto dele com santidade e percepção, eu e você precisamos chegar com humildade. Reconheça-se indigno e livre-se da soberba e do orgulho espiritual!

CONCLUSÃO

Qual tem sido a nossa reação diante da tribulação e da provação? Essas circunstâncias nos têm feito crescer na fé ou murmurar da vida? Têm tornado mais crente ou feito desviar do caminho? Têm nos aproximado de Deus ou distanciado dele? Irmão ou irmã, se a luta está difícil, se o mar está agitado, se nosso barquinho está indo a pique, cheguemos perto de Jesus. Olhe para ele e não tire os seus olhos dele. Esse é o segredo para a nossa sobrevivência em meio à tempestade. Saiba que ele é o nosso refúgio e a nossa força, socorro que não falta em tempos de aflição (Sl 46:1). Mas para se aproximar dele é necessário abandonar todo mau que impede a comunhão com Deus, tais como: malícia, engano, fingimento, murmuração. É também, fundamental desejar a presença dele, igual uma criança deseja o leite materno. É ainda valioso saber quem ele é e saber quem nos tornamos através dele. Saberemos que temos uma missão e muitos privilégios por seguir a Cristo. Vale a pena sofrer com ele e por ele! Ele é a pedra eleita e preciosa. O nosso maior tesouro. Que jamais nos afastemos dele, mas que cheguemos perto dele com santidade, percepção e humildade.

Que Deus nos abençoe!

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DEC - PC@maral

2 comentários:

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