Em Nome de Deus

Duas reportagens que considerei interessantes sobre fé e religião refletindo as idéias predominantes no mundo atual, “Em nome de Deus” [Revista Época edição 605 de dezembro de 2009], e “Deus é Pop” [Revista Época edição 578 de junho de 2009].

A descentralização da cruz de Cristo é evidente, e o modernismo que ronda as igrejas desafia o homem a escolher o caminho que deve seguir. Geralmente é o que lhe dará, em tese, maior prazer. Na oposição a todo o tipo de religião, entra em cena, com duros golpes, um novo grupo de pensadores conhecidos como “novos ateus” que condenam a morte todas as religiões. A igreja do século XXI tem um grande desafio pela frente: “Confiar plenamente em Deus e ser fiel a Ele em todos os aspectos”. Poderá o homem voltar aos “rudimentos da doutrina dos apóstolos” tendo como único manual a Bíblia Sagrada e sua Verdade?

A fé e a religião, nos dias de hoje, tornaram-se um produto a ser comercializado. O cristianismo tornou-se apenas mais uma opção religiosa, não faz mais diferença, não opera a transformação necessária porque o homem, simplesmente não quer. O sentimento da necessidade de uma mudança interior do homem natural, deixando de lado seus desejos carnais contrários a vontade de Deus, foi substituído por uma adaptação de Deus na vida deste mesmo homem. A alegação imediata é de que Deus ama ao homem do jeito que ele é, e que Jesus Cristo morreu na cruz por ele [homem] quando ainda era pecador. A necessidade de mudança [conversão seguida de santificação] fica de lado conforme o padrão bíblico, e o homem lança mão da razão e de sua própria interpretação do que é santo e profano.

A primeira reportagem a ser publicada aqui no PC@maral é “Em Nome de Deus” que segue agora para sua leitura:

Em nome de Deus

Em seu novo livro, a escritora inglesa Karen Armstrong rebate os papas do novo ateísmo, que condenaram à morte as religiões

PERSISTÊNCIA

Peregrino muçulmano ora no Deserto do Sinai. Sua fé é um exercício de disciplina que abre portas para o território do sagrado.

Ao ver Buda meditando, sentado sob uma árvore, um brâmane ficou fascinado com sua serenidade e autodisciplina. “Você é Deus?”, perguntou-lhe o monge, ao ver sua concentração transformar-se numa extraordinária paz interior. “Não”, foi a resposta. “Apenas descobri um novo potencial na natureza humana, que nos torna capazes de viver em paz e harmonia neste mundo de tantos conflitos e sofrimentos.” O segredo, disse Buda, era não tanto crer, mas, sobretudo, praticar a meditação com afinco. “Desse modo, cada um atinge o máximo de sua capacidade, ativa partes adormecidas de sua mente, neutraliza o próprio ego e se torna um ser humano plenamente iluminado.” Por fim, ao despedir-se do sacerdote curioso, Buda disse: “Lembre-se de mim como alguém que despertou”.

É com esse episódio singelo que a escritora de origem irlandesa Karen Armstrong conclui seu mais novo livro, The case for God (em tradução livre, Uma defesa para Deus). É um fecho fiel tanto à vida de Karen quanto à essência de seu livro. Ex-freira católica durante os trepidantes anos 1960, portadora de epilepsia, Karen perdeu a fé – para resgatá-la, décadas adiante, sob uma nova ótica, semelhante à de Buda. Para ela, o encontro de Deus deriva menos de uma crença e mais do esforço pessoal. Autora de mais de 20 títulos sobre religião, entre eles aclamadas biografias de Maomé e de Buda e uma história da própria Bíblia, Karen nunca mais retornou formalmente à Igreja Católica ou a qualquer outra. “Sou uma monoteísta free-lance”, diz ela.

Com lançamento no Brasil previsto para o final de 2010, The case for God faz parte de uma nova leva de livros que defendem a religião de ataques recentes. Fazem parte dessa leva God is back (Deus voltou), escrito por John Micklethwait e Adrian Wooldridge, jornalistas da revista The Economist, e Reason, faith and revolution: reflections on God debate (Razão, fé e revolução: reflexões sobre o debate a respeito de Deus), do crítico literário inglês Terry Eagleton. Todos esses trabalhos partem de uma mesma constatação: mesmo sob o fogo cerrado do racionalismo ateu, a devoção a Deus e às religiões continua a se fortalecer no mundo todo.

Essa nova onda tenta revidar os ataques do grupo de pensadores conhecidos como os “novos ateus”. São autores como o biólogo inglês Richard Dawkins, cuja defesa ferrenha da teoria da evolução das espécies valeu-lhe – ou custou-lhe, depende... – o apelido de Rotweiller de Darwin; ou o jornalista anglo-americano (e colunista de ÉPOCA) Christopher Hitchens, que considera a ideia de Deus uma crença maligna e totalitária, com seus dias contados pela ciência. A dupla, acrescida do neurocientista Sam Harris e do filósofo Daniel Dennett, ambos americanos, ficou conhecida, nos meios intelectuais, como os Cavaleiros do Apocalipse, pela virulência de seus ataques à religião. “Elas permitem que visões, que de outra forma seriam consideradas sinais de loucura, tornem-se aceitas e, em muitos casos, veneradas como sagradas”, diz Harris.

Em The case for God, Karen faz o melhor contra-ataque às teses do grupo. “Os novos ateus são teologicamente iletrados”, escreve ela. “Como os fundamentalistas religiosos, eles infantilmente concebem Deus como um ser poderoso que os homens não conseguem enxergar.” Para Karen, o engano comum a ambos é analisar os textos sagrados em sua literalidade. Uns para negar cientificamente a ideia de Deus. Outros para distorcê-la com finalidades políticas.

TRÊS EM UM




A Grande Mesquita de Meca durante a peregrinação anual, judeu no Muro das Lamentações em Jerusalém e cardeais católicos no Vaticano: símbolos do monoteísmo que os novos ateístas consideram uma afronta irracional à ciência


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Fonte: Reportagem de José Ruy Gandra para a Revista Época - Texto incial de PC@maral

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