O Próximo Presidente Do Brasil

Entrevista RS - Dilma Rousseff

Por Ricardo Franca Cruz, Pablo Miyazawa, Rodrigo Barros e Fernando Vieira

Foram oito meses de tentativas, sucessivas negativas, quase uma dezena de assessores consultados, inúmeras explicações e frustrações: as dificuldades e os percalços em conseguir uma longa entrevista com a candidata Dilma Rousseff (PT) foram - traçando um paralelo com os temas e personagens normalmente retratados pela Rolling Stone Brasil - dignos de uma celebridade musical, cinematográfica ou televisiva de primeira grandeza. Mesmo antes da confirmação de sua candidatura ao cargo máximo da nação, plenamente apoiada pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a organização da campanha tentava blindar a mineira Dilma, 62 anos, de um contato mais aprofundado com os principais órgãos de imprensa do Brasil. Foi somente após sua consolidação no topo das pesquisas de opinião que o cerco a seu redor se afrouxou - mas não o suficiente: todas as nossas insistentes solicitações para uma entrevista com Dilma em corpo presente foram negadas, supostamente por causa da atribulada agenda de compromissos relacionados à campanha. As respostas a seguir foram concedidas por meio de uma única troca de e-mails com a candidata.

Caso eleita, que a senhora pretende fazer pelo Brasil?

Sempre acreditei que o Brasil podia mudar , mas por muito tempo isso parecia uma possibilidade longínqua. O governo Lula mostrou que isso é possível, com um projeto de desenvolvimento com inclusão social. Um governo para 190 milhões de brasileiras e brasileiros e não para poucos privilegiados, como se fazia no governo anterior. Minha candidatura representa a continuidade deste projeto que trouxe mudanças. Continuidade que significa manutenção e avanço. No governo Lula, 24 milhões de pessoas saíram da miséria e 31 milhões ascenderam à classe média. Mas ainda há muito a fazer. Este é meu sonho: um Brasil sem miséria, um Brasil majoritariamente de classe média. Vamos trabalhar para que o país alcance esse lugar e seja uma das maiores economias do mundo.

Quando a senhora pensou em ser presidenta? Quando essa idéia lhe ocorreu pela primeira vez?

A possibilidade de concorrer ao cargo de Presidente da República surgiu com o convite do presidente Lula. Esse convite tornou-se um compromisso político quando o PT confirmou meu nome como candidata pelo partido. Depois, consolidamos uma coligação forte, composta por vários partidos que apoiam a continuidade do projeto de mudança do Brasil, capitaneado, nos últimos oito anos, pelo presidente Lula. Fui a primeira ministra das Minas e Energia e a primeira ministra da Casa Civil, tendo coordenado todos os ministérios e programas do governo. A missão de agora é extraordinária e de grande responsabilidade: suceder o maior presidente da história do Brasil. Eu me sinto preparada para isso.


O que a sua experiência política - e particularmente a experiência durante esta campanha - lhe ensinou sobre o Brasil e os brasileiros?

A experiência do contato direto com o povo é única. É fantástica. Mas o Brasil eu já conhecia de ponta a ponta, percorrendo o país ao lado do presidente Lula, vendo a realidade de perto e trabalhando para mudá-la. Foram momentos de aprendizado constante. A principal lição é que os brasileiros têm uma enorme capacidade de superação dos inúmeros e graves problemas historicamente presentes no Brasil. A convivência entre deficiências profundas e uma enorme esperança de mudança sempre fez parte da vida dos brasileiros. O governo Lula representou um marco na história da transformação do Brasil. Nossos governantes anteriores, na maioria das vezes, viam o país sob a ótica exclusiva da eficiência econômica, os brasileiros apenas como números. Em maioria, não tinham a sensibilidade de perceber que, por trás dos números, das obras, das conquistas ou perdas econômicas, existem pessoas. O presidente Lula fez essa transformação. O Brasil não é mais o país do futuro, como diziam. É o país do presente, que pode chegar a ser uma das cinco maiores economias do mundo. Os brasileiros e o Brasil voltaram a acreditar em si mesmos, no potencial de cada um e no potencial da coletividade. Essa confiança no futuro não tem preço e nos levará a um patamar ainda maior, caso seja eleita e tenha a oportunidade de dar continuidade e aprofundar as mudanças iniciadas pelo governo Lula.

E o que a senhora diria que já aprendeu sobre si mesma a partir do momento em que seu nome ganhou notoriedade nacional?

Cada momento da vida nos traz aprendizados. Este será mais um.

Você lê esta matéria na íntegra na edição 48, setembro/2010

Leia as entrevistas:

Marina Silva

José Serra

Dilma Rousseff

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Fonte: Revista Rolling Stone Brasil - Foto: Ilustração Marcelo Calenda - Foto: ROBERTO STUCKERT FILHO/DIVULGAÇÃO

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