O Juízo Divino

Eis que ele vem, diz o Senhor dos Exércitos. Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda? E quem poderá subsistir quando ele aparecer? (Ml 3:1b-2a).

Um pensamento equivocado sobre o juízo divino: “O antigo problema da aparente prosperidade do homem mau também era bem vivo no tempo de Malaquias. Parecia que Deus favorecia aos maus, e tanto Jeremias (Jr 12:1) como Habacuque (Hc 1:2-4) puseram em dúvida a providencia divina, enquanto ao mesmo tempo mantinham sua fé na justiça final de Deus. Os contemporâneos de Malaquias, por sua vez, tinham se tornado cínicos e incrédulos, porque tinham desistido de levar o bem e o mal a sério o profeta os coloca diante do julgamento vindouro”. (BALDWIN, J. G. Ageu, Zacarias e Malaquias: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1982, p. 202).

O versículo 17 do capítulo 2 de Malaquias, expressa perfeitamente o pensamento de muitos acerca do juízo de Deus: Qualquer que faz o mal passa por bom aos olhos do Senhor, e desses é que ele se agrada; ou: Onde está o Deus do juízo? O juízo de Deus estava sendo questionado e o Deus do juízo, acusado de parcialidade e impunidade. “O argumento: considerando que muitos desfrutam de prosperidade material, embora violando definidamente a lei moral, se existe um Deus, Ele ao que parece, os favorece”. [Pfeiffer; Harrison (2001:382)]. Porém, a resposta de Deus a tais acusações, vem em seguida, por meio de quatro argumentos que “lançam por terra”, qualquer pensamento que tenta pôr em dúvida, a justiça divina. São eles:

1. Eis que eu envio o meu mensageiro: O mensageiro citado em Malaquias 3:1, refere-se, provavelmente, a João Batista. Podemos comprovar isso comparando os textos de Ml 4:5 e Mt 11:14. João Batista é o Elias que havia de vir: Pois todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir (Mt 11:13-14). Não devemos imaginar este texto como uma alusão à falsa doutrina da reencarnação. “A Bíblia explica que João veio no espírito e no poder de Elias (Lc 1.17) e não como reencarnação de Elias. A identificação não é corpórea, mas de ministério” [Lopes (2006:83)]. O juízo de Deus estava às portas: Deus enviaria seu mensageiro! João Batista viveu para cumprir o chamado de Deus. Ele era o precursor do Messias, e como tal, pregava a mensagem de arrependimento: Arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus (Mt 3:2). Com esta mensagem, saía também de seus lábios, a mensagem de juízo: A sua pá, ele tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível (Mt 3:12). O juízo de Deus não tarda, pois, a seu tempo, se cumprirá, irrevogavelmente. Não importa se somos ou não portadores de um nobre cargo na sociedade ou entre o povo de Deus, jamais conseguiremos fugir do seu julgamento.

2. Mas quem suportará o dia da sua vinda? Como podemos observar, no texto de Ml 3:1, o mensageiro viria com o propósito de preparar o caminho diante do Senhor. Após o mensageiro cumprir a sua missão, seria a vez do próprio Senhor aparecer. A questão, porém, é: ... quem suportará o dia da sua vinda? (3:2a). O que teriam imaginado e sentido as pessoas a quem tal pergunta fora direcionada? Teriam os acusadores de Deus argumentos convincentes para fugirem dessa dura e terrível realidade? Muitos fariseus e saduceus tentaram, porém, o que conseguiram nada mais foi do que a repreensão de João: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? (Mt 3:8b). Na verdade, ninguém poderá suportar o juízo de Deus. Ninguém conseguirá ficar impune. Não há uma “fórmula mágica” que impeça o pecador de ser julgado pelos seus pecados. “O profeta Amós diz que o dia do Senhor será dia de trevas e não de luz para aqueles que esperam o favor de Deus, mas permanecem em seus pecados (Am 5:18 20)” [Lopes (2006:84)]. Já não nos resta nenhuma dúvida de que Deus não suporta a parcialidade no julgamento, muito menos, a impunidade. O próprio Deus será a principal testemunha contra os adúlteros, contra os que juram falsamente, contra os que defraudam o trabalhador em seu salário, a viúva, e o órfão, e que pervertem o direito do estrangeiro (Ml 3:5).

3. Porque ele será como o fogo do ourives: O ourives tinha a função de fundir e purificar o ouro (Is 1:25, 48.10). Nesse processo, as impurezas que impediam o ouro de mostrar o seu brilho, eram todas, consumidas pelo fogo. O juízo de Deus destruirá, por completo, todo fragmento pecaminoso que hoje, impede o ser humano de refletir a sua glória. A semelhança do ourives, Deus eliminará os “excessos” que há em nós, e nos tornará mais puros do que o ouro refinado. “O fogo destrói a escória e purifica o ouro. Esse é um processo doloroso, mas necessário” [Lopes (2006:84)]. E, o fato de Deus nos colocar na fornalha, não é sinal de seu abandono, mas prova do seu grande amor por nós: “Ele jamais iria depurar algo imprestável” [Lopes (2006:84)]. Somos preciosos para ele! Malaquias alerta: Assentar-se-á como fundidor e purificador de prata; e purificará os filhos de Levi, e os refinará como ouro e como prata, até que tragam ao Senhor ofertas em justiça (3:3). Os filhos de Levi tinham funções importantíssimas no tabernáculo de Deus (Nm 16:8-9). Mas aqui, observamos uma falha gravíssima em relação as suas ofertas! Ofertas de justiça é a exigência de Deus para todos. Deus não exigiu dos filhos de Levi, uma oferta de grande peso financeiro (isso, porém, não nos isenta da generosidade e responsabilidade financeira para com a obra de Deus), mas espiritual: eles falharam! Deus promete, através de Malaquias, que eles seriam purificados como ouro. Estejamos preparados, nós também: Ele é como fogo do ourives!

4. Chegar-me-ei a vós outros para juízo: O alerta continua! O Senhor promete ser uma testemunha veloz contra os feiticeiros, contra os adúlteros, contra os que juram falsamente, contra os que defraudam o trabalhador em seu salário, a viúva, e o órfão, e que pervertem o direito do estrangeiro (Ml 3:5). Esta é a resposta de Deus a interrogação de Malaquias 2:17: Onde está o Deus do juízo? O juízo de Deus viria. Como observamos no texto acima, havia, no meio do povo do Senhor, pessoas completamente corrompidas. O povo de Deus não é um “paraíso perfeito”, onde todos praticam as virtudes do amor, longanimidade, mansidão, fé e etc. Existem sim, muitas pessoas sérias, todavia, há muitos que não o temem. Deus ama o seu povo e, por essa razão, zelará por sua pureza. Por amar o seu povo, ele o julgará com justiça.
“Alguns crentes possuem um raciocínio bastante estranho. Presumem que Deus não tolera o pecado no incrédulo e o condena por isto, mas que faz vista grossa aos pecados dos crentes” [Coelho Filho (1994:60)].
Devemos lembrar que, por diversas vezes Deus julgou Israel por seus terríveis pecados, sendo que, para isso, usava, em alguns casos, nações pagãs. Portanto, não nos admiremos quando Deus decidir nos julgar, pois assim ele o faz porque nos quer bem: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, nem te desanimes quando por ele és repreendido; pois o Senhor corrige ao que ama, e açoita a todo o que recebe por filho (Hb 12:5b-6). Há muito, o processo de purificação teve o seu início. Não é de hoje que o Deus do juízo tem “lançado por terra” a muitos homens arrogantes; Deus os afogou nas águas turvas da sua própria hipocrisia. Diante do Senhor não há pecados escondidos! Quem poderá se esconder dos olhos do onipresente Deus? Há muito tempo o precursor do Messias anunciou: Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo (Mt 3:10). Certamente, ninguém gostaria de ser “cortado” e “lançado ao fogo”. Para que isso não aconteça, necessário é que haja verdadeiro temor e arrependimento diante de Deus (Mt 3:8).

PRATICANDO A PALAVRA DE DEUS

Deus é infalível - Mas quem suportará o dia da sua vinda? E quem subsistirá, quando ele aparecer? Pois ele será como o fogo de fundidor e como o sabão de lavandeiros (Ml 3:2). Este texto não nos deixa dúvida de que o juízo divino é apenas uma questão de tempo! Deus cumprirá sim, com a sua promessa de juízo. Portando, as pessoas que se deleitam na prática do adultério, da corrupção, da feitiçaria, da idolatria, da ira, do homicídio, da maledicência, etc., serão julgadas por Deus. Isso acontecerá porque Deus não falha em suas promessas, mesmo quando estas, se referem ao juízo. Mesmo que muitos pensem o contrário, o Deus infalível não deixará impunes os pecadores desta geração.

Deus é imparcial - E chegar-me-ei a vós para juízo (Ml 3:5a). Poderá haver injustiças nos julgamentos humanos, pois somos pecadores e poderemos falhar (I Jo 1:8). A justiça humana peca por ser parcial, ou seja, age em favorecimento de uns em detrimento de outros. Mas Deus não age com parcialidade! Engana-se quem pensa que Deus fará o pai pagar pelos pecados do filho, ou vice-versa; e que o justo será julgado pelos erros do injusto (Ez 18:2-4). Deus não favorece classe de pessoas; ele não favorece a injustiça. Deus não deixará de julgar uma pessoa que vive na prática do pecado, só porque ela é crente ou líder da igreja. O Deus imparcial julga a quem merece.

Deus é imaculado - Assentar-se-á como fundidor e purificador de prata; e purificará os filhos de Levi, e os refinará como ouro e como prata, até que tragam ao Senhor ofertas em justiça (Ml 3:3). O julgamento de Deus é necessário? Sim. Muito necessário. Por quê? Tem como objetivo, não somente a punição, mas também a pureza dos seus filhos. Deus é essencialmente santo e deseja que a sua santidade seja uma realidade nós, como está escrito: Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento (I Pe 1:15). Deus quer nos purificar e nos “moldar” a fim de que, um dia, sejamos semelhantes a ele: imaculados.

CONCLUSÃO

Observando os quatro argumentos que confirmam o juízo divino, pudemos chegar à fundamental conclusão: o juízo nos traz a certeza de que Deus é infalível, imparcial e imaculado. Tal conclusão é imprescindível para todo servo de Cristo, pois mostra que o nosso Deus não abandonou o mundo à sua própria sorte, mas julga os “maus” e se preocupa em nos conduzir a uma vida de santidade. É inevitável as pessoas ouvirem falar de juízo e não terem medo, pois a imagem que nos vem à cabeça é a de que se trata somente de algo punitivo. Porém, o julgamento de Deus nem sempre destrói, mas purifica e dá uma nova chance ao pecador (Ml 3:3).


Que Deus nos abençoe!

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BIBLIOGRAFIA

PFEIFFER, F. C. & HARRISON F. E. Comentário Bíblico Moody: Isaías a Malaquias.
São Paulo: IBR, 2001, Vol. 3.

LOPES, H. D. Malaquias: a igreja no tribunal de Deus. São Paulo: Hagnos,
2006.

COELHO FILHO, I. G. Malaquias: nosso contemporâneo: um estudo contextualizado
do livro de Malaquias. 2 ed. Rio de Janeiro: Juerp, 1994.

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DEC - PC@maral

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