Rompendo Com O Pecado

Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este pensamento: que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado (I Pe 4:1).

De uns tempos para cá, hospitais de várias partes do mundo, têm aberto programas de tratamento personalizado para pessoas dependentes de tecnologia. Por gastarem grande parte do seu tempo usando sites de entretenimento e relacionamento, elas acabam ficando cronicamente agitadas e agressivas [alguns blogueiros também rsrsr]. A relação estabelecida com a tecnologia se torna, então, patológica. O tratamento, que dura em média trinta dias, não é baseado na abstinência, mas, sim, no controle. A proposta não é romper com tecnologia em si, mas, sim, com o domínio que ela exerce. Orienta o paciente a se relacionar com ela sem ser dominar por ela.

Algo semelhante ocorre na vida cristã. Mesmo depois de convertida ao evangelho, a pessoa continua pecando, mas não como antes, porque todo aquele que é nascido de Deus não peca habitualmente (I Jo 3:9 – AS 21). Ela continua pecando porque a presença da natureza pecaminosa ainda não foi removida do seu corpo. Esta remoção só acontecerá na glorificação, quando, por ocasião da vinda de Cristo, receberá um novo corpo. Não peca como antes porque não é mais prisioneira da vontade pecaminosa, da carne, da parte maldita, dos impulsos negativos, da velha natureza. Ela pode romper com o seu domínio. É exatamente isso que I Pe 4:1-6, o texto que vou usar, nos ensina e nos mostra.

Por terem deixado de se entregar às aventuras da carne, os crentes em Jesus, alguns vindos do paganismo, outros vindos do judaísmo, que viviam espalhados pelas províncias do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia (1:1) passaram a enfrentar oposição implacável. Muitas delas provinham daquelas pessoas que outrora fizeram parte do seu círculo de amizade. Pedro sabia que eles poderiam, a qualquer momento, se sentir desencorajados e desistir de tudo. Pior ainda, poderiam retornar à vida imoral de antes. Para que isso não ocorresse, oferece-lhes orientações práticas para perseverarem até o fim, no capítulo 4, versículos de 1 a 6.

1. Pensamento armado: Nota-se que bem no meio do versículo1 existe uma ordem: armai-vos também vós com este pensamento (4:1b). O termo grego traduzido por armai-vos era usado para retratar o soldado que se equipava adequadamente para batalhar contra o inimigo. Deve-se dizer que esta ordem não entra em choque com as outras ordens da carta, que propõe que se pague o mal com o bem (2:18-23 e 3:8-17). O armai-vos aqui não é, obviamente, literal: é figurado. O crente em Jesus arma-se não para um combate de natureza física, mas para um conflito de natureza espiritual. O Novo Testamento, por algumas vezes, compara a vida cristã a uma batalha de natureza espiritual (Rm 7:23; Gl 5:17; II Co 10:4; Ef 6:12; I Tm 1:18; 6:12; II Tm 2:4; Hb 10:32; I Pe 2). Mas vamos voltar à ordem dada. Antes e após essa ordem, existe uma alusão à morte de Cristo. A primeira alusão é em relação à natureza dessa morte: Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne (4:1a). Ele afirma que Cristo padeceu, não por culpa própria, mas por culpa nossa: ele sofreu e morreu por nós, isto é, em nosso lugar e em nosso favor. A morte de Cristo, foi a morte do inocente pelos culpados, do justo pelos injustos (3:18). A segunda alusão é em relação à eficiência dessa morte: aquele que padeceu na carne já cessou do pecado (4:1c). Através da sua morte na cruz, Cristo “‘fez cessar’ o pecado, ou seja, o seu poder na vida daqueles que estão” [Mueller (1988:227)]. e vivem nele. Por meio dela, ele os livrou não somente do castigo do pecado, mas também do domínio do pecado. Isto não quer dizer que se tornaram impecáveis, mas apenas que o domínio opressor e tirano do pecado foi rompido e quebrado de maneira perfeita e definitiva. Não são mais escravos impotentes do pecado. O pecado já não é mais o senhor e mestre da vida deles, como antes.

2. Rompimento possível: Pois bem, o que Pedro quer, então, é que os eleitos segundo a presciência de Deus (1:2a) armem as suas mentes com a crença de que Cristo triunfou sobre a força e o poder do pecado em sua morte, por uma razão muito séria: para que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus (4:2). A expressão tempo que vos resta na carne é sinônima da expressão tempo da vossa peregrinação, que aparece em 1:17. O verbo viver significa conduzir a vida. A palavra concupiscências, que aparece também em 1:14, 2:11 e 4:3, foi traduzida pela NTLH por desejos carnais. Referem-se aquelas paixões que dominam a pessoa, não sendo somente de natureza sexual. Pedro está ciente de que o mundo pagão e suas pressões imorais cercam os crentes em Jesus do seu tempo por todos os lados. Antes de Cristo entrar na vida desses crentes, eles, de fato, não tinham poder algum para dizer “não” a estas pressões do mundo pagão moralmente corrupto. Quando ocorriam, eles se rendiam. Não conseguiam romper com elas. Mas, agora, ele lhes mostra que, desde que Cristo passou morar neles, receberam força para romper tanto com o domínio do pecado do lado de fora, quanto com domínio do pecado do lado de dentro. Por essa razão, tinham condições de viver para satisfazer não a vontade da carne, mas a de Deus.

Pedro lembrou que muito tempo da vida deles já havia sido gasto em dissoluções, concupiscências, borracheiras, glutonarias, bebedices e abomináveis idolatrias (4:3). Quando alguém se rende mesmo a Cristo, dói muito para ele pensar no tempo que viveu sem Deus no mundo: os perigos aos quais se expôs por vários anos, os danos que causou a si mesmo e aos outros, as perdas que sofreu. Dói, mas é bíblico e didático. O próprio Deus instou Israel a lembrar-se de que havia sido escravo no Egito (Dt 5:1). Quem foi liberto do pecado, precisa se recordar das angústias duradouras que ele causou, e não apenas dos seus prazeres transitórios.

3. Tratamento agressivo: Por terem crido em Cristo, a vida dos crentes da época de Pedro, muitos deles vindos do mundo pagão, mudou radicalmente. Os seus antigos amigos de pecado reagiram de imediato quando notaram essa mudança incrível. Pedro fala de duas reações deles. A primeira reação deles foi de surpresa: acham estranho não correrdes com eles no mesmo desenfreamento de dissolução (4:4a). Eles acham estranho, ou seja, “não entra na cabeça deles” ou “não conseguem entender” a transformação que haviam experimentado. Não correrdes com eles significa simplesmente não participam ou não partilham com eles da vida louca e imoral de antes. Deixaram de conviver com eles. Eles ficam profundamente confusos e perplexos diante da nova direção tomada por seus amigos que foram alcançados pela graça perdoadora e salvadora de Deus. Os que antes viviam em função dos desejos e apetites da carne, não se negando a nada, agora fogem o tempo todo daquelas circunstâncias que facilitam a expressão plena e livre deles. Admiram que agora eles desprezem aquilo que todos os demais gostam, que eles creiam em muitas coisas que para os demais não parece fazer sentido, que eles tenham prazer em muitas coisas que para os demais são enfadonhas e tediosas. A segunda reação deles foi de blasfêmia: blasfemando de vós (4:4b). A vida transformada dos que foram libertados pelo precioso sangue de Cristo (1:19a – NTLH), fez deles pessoas esquisitas, dando lugar a condenação dos gentios, que estavam cegos para a verdade espiritual (II Co 4:3, 3). Os que antes eram amigos íntimos se tornaram inimigos públicos ferozes. Eles passam a falar mal deles sempre que têm oportunidade. Fazem uma campanha generalizada de insulto e maledicência contra a sua forma de viver, contra a sua religião e contra o seu Deus. Dizem que eles são separatistas, orgulhosos, fanáticos.

4. Julgamento garantido: Para encorajar e confortar as pessoas que estão sendo injustamente malfaladas e maltratadas, o apóstolo Pedro garante que os que cometem tais agressões não ficarão impunes. Elas serão julgadas: os quais hão de dar conta ao que está preparado para julgar os vivos e os mortos (4:5). Esta é terceira vez que Pedro se refere ao Senhor como juiz. Antes, havia dito que Deus julga imparcialmente de acordo com as obras de cada um (1:17) e que julga de modo justo (2:23). A certeza do julgamento divino, sem dúvida, trazia esperança para aqueles que sofriam injustamente. Mas o que Pedro ensina sobre o julgamento? Primeiro, ele fala da necessidade do julgamento: os que falam mal do que não são maus hão de dar contas de todas as suas falas falsas. Segundo, ele fala da proximidade do julgamento. Eles vão ter que dizer a razão de tanta ofensa ao que está preparado para julgar. Na expressão está preparado há um sentido de urgência e iminência. Terceiro, ele fala da abrangência do julgamento. Ele vai julgar vivos e mortos, isto é, todos os que já passaram (4:7) e ainda passarão por sobre a face da terra, sem exceção alguma. Ele não precisará de confissão dos réus, nem de testemunhas oculares, nem de perícias técnicas, nem de análise de materiais genéticos, nem de reagentes químicos, nem de estudos de cronometragem, nem de cruzamento de informações, nem de investigadores responsáveis, nem de argumentações robustas de promotores inteligentes, nem de júri popular para descobrir a verdade e proferir a sua sentença definitiva porque não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas (Hb 4:13).

Os que amam as trevas podem se opor aos que amam a luz. Podem escarnecer das virtudes deles, colocá-los no banco dos réus, emitirem um julgamento, pronunciar uma sentença, mas os que foram regenerados para uma viva esperança (1:3b) não retornam ao seu antigo curso de vida. Quando o pecado e o sofrimento lhes são apresentados, escolhem o sofrimento. Preferem ser injuriados a voltarem a praticar os pecados de outrora. Entendem que os anos que lhe restam devem ser vividos não para a satisfação dos desejos carnais, mas para a glória daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa (I Pe 2:9b).

II. ROMPENDO COM O PECADO - PRATICANDO A PALAVRA DE DEUS

Rompa com a cumplicidade - Pode-se pecar tanto diretamente quanto indiretamente. O pecado direto é aquele que a pessoa comete pessoalmente. O indireto é aquele que a pessoa somente contribui para que se realize. Ela peca por cumplicidade. Mas para Deus é tudo igual. Ambos atraem sua a ira. É por isso que a Bíblia sem rodeio algum ordena a você: Não tome parte nos pecados dos outros. Conserve-se puro (I Tm 5:22b, NTLH). O que Deus quer não é que você facilite a prática do pecado, mas que você a dificulte. Você deve estar a serviço, não da transgressão, mas da santificação. Sendo assim, não participe por cumplicidade das obras infrutíferas das trevas: antes, exponha-as à luz (Ef 5:11).

Rompa com a circunstância - Nem todas as circunstâncias são idênticas e saudáveis. Há circunstâncias que facilitam a inclinação para as coisas da carne (Rm 8:5a) e há circunstâncias que facilitam a inclinação para as coisas do Espírito (Rm 8:5b). Há circunstâncias que favorecem o uso da pornografia, a relação homossexual, o sexo antes do casamento, o adultério, o roubo, a mentira, o homicídio, o uso de drogas, o suicídio, a corrupção. Sendo assim, não brinque com aquelas circunstâncias que contribuem para a demolição do bom caráter e para corrupção dos bons costumes. Rompa com elas, antes que seja tarde demais. Antes que você se deixe levar por elas e faça o que sabe que não pode nem deve fazer!

Rompa com a convivência - As pessoas que cometem imoralidades não as cometem sozinhas. São incentivadas por outras pessoas do seu circulo de convivência. Já parou para pensar nisso? Talvez algumas pessoas do seu círculo de amizades não façam bem para a sua vida cristã, especialmente porque você não consegue suportar as tentações do estilo de vida que elas lhe oferecem quando estão juntos. Quando está no meio delas, você perde a noção do certo e do errado. Você precisa se afastar delas o quanto antes. Quem sabe o seu caso seja tão grave que você tenha que chegar ao ponto de excluí-las do seu Mensseger, Orkut, Facebook. Mas se for para evitar que você se perca, faça isso. E não tenha medo do que irá ouvir deles. Deus é por você.

CONCLUSÃO

Você já morreu para o pecado: então, como pode continuar vivendo nele? Antes, você não podia se livrar das garras dele, mas agora, se você quiser você pode fazê-lo. Você pode por causa do que Cristo fez por você e em você, por meio da sua morte na cruz. O domínio do pecado foi encerrado definitivamente no Calvário. Você precisa aprender ou reaprender a viver em função dessa realidade espiritual maravilhosa e extraordinária. Você está unido com Cristo e quem está unido a Cristo pode, sim, romper com o poder do pecado. Isto é absolutamente possível. Sendo assim, não sirva mais o pecado como escravo. Não aceite mais ser oprimido por ele. Não o deixe reinar mais em sua vida: não deixe que ele domine o seu corpo mortal e faça com que você obedeça aos desejos pecaminosos da natureza humana (Rm 6:12). Vamos, inicie o processo de rompimento com o domínio do pecado hoje mesmo. E não tenha medo desse rompimento seja qual for o seu tamanho ou as suas implicações. Além de inúmeros benefícios imediatos do consciente e corajoso rompimento, você receberá muitas outras recompensas no decorrer do tempo ainda lhe resta aqui na terra e na vida eterna.

Que Deus nos abençoe!

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DEC - PC@maral

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