A Doutrina De Balaão


Por Vítor Quinta

Ao estudarmos a Palavra de Deus encontramos, por vezes, alusões fortemente negativas quanto à chamada “doutrina de Balaão”. Neste pequeno trabalho vamos procurar entender quem foi este homem, que papel desempenhou e que atributos negativos lhe são atribuídos na Bíblia Sagrada. Em primeiro lugar reparemos que o significado da palavra Balaão é “Devorador”. Convenhamos que é um significado pouco apelativo, tanto mais que pode ser facilmente equiparado a Adversário [Satanás] que, em si mesmo, é um devorador de almas.

Ao escrever à Igreja de Pérgamo, em Apocalipse 2:14, o Senhor Jesus Cristo refere-nos a condenação deste tipo de ensinamentos, como uma indicação muito clara de que se trata de uma doutrina adulterada e que perdurou através dos tempos, i.e. até aos dias de hoje. Vejamos as Suas palavras: “Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem”.

Ao amaldiçoar os povos moabita e midianita que hostilizaram Israel após a sua saída do Egito, e pouco antes de entrarem na Terra Prometida [Israel acampou nas campinas de Moabe, conforme nos diz em Números 33:49], diz-nos Deus que Balaão era um profeta, filho de Beor, de Petor, junto ao rio Eufrates, [Balaão era oriundo da Mesopotâmia (junto ao Rio Eufrates e Babilónia) e tinha o seu coração contaminado com o sistema babilónico que perdurou até aos nossos dias. Ainda hoje o sistema babilónico instilado nos corações dos homens e vertido no coração dos que servem Roma e suas filhas, procuram combater e destruir Israel ou tudo o que se refere aos ensinamentos de raiz hebraica, como a Lei eterna do Altíssimo] e cujos serviços de profecia foram “alugados” por Balaque, rei dos Moabitas, inimigos de Israel: Deuteronómio 23:4 – “Porquanto não saíram com pão e água, a receber-vos no caminho, quando saíeis do Egito; e porquanto alugaram contra ti a Balaão, filho de Beor, de Petor, de Mesopotâmia, para te amaldiçoar”. Só o fato de um profeta “alugar” os seus serviços já é mau em si mesmo. Pior se torna quando esse “profeta” é visto por Deus como Seu adversário, ou quando Deus vê que o seu coração não é bom.

Este episódio entre o rei Balaque e Balaão vem descrito em Números 22:5-12 (e até 24:25). Curioso é notar, porém, que Balaão fala sempre com Deus, que é seu Deus também: Então Balaão respondeu, e disse aos servos de Balaque: Ainda que Balaque me desse a sua casa cheia de prata e de ouro, eu não poderia ir além da ordem do SENHOR meu Deus, para fazer coisa pequena ou grande; para inquirir o que deve fazer e o que deve dizer. (Números 22:18). Segundo as instruções do SENHOR, ele obedeceu e, primeiro recusou a ir com os mensageiros de Balaque e só os acompanhou quando Deus lhe deu instruções para o fazer. Apesar de obedecer, o Anjo do Senhor saiu ao seu caminho (e pôs a jumenta de Balaão a falar com ele). O Anjo do Senhor ameaçou Balaão porque conhecia a perversidade de coração do profeta. Balaão foi chamado por Balaque para amaldiçoar o povo que Deus tinha abençoado. Fiel a Deus, nessa altura, Balaão abençoou a Israel por três vezes em vez de os amaldiçoar.

Mas, Balaão amava o dinheiro e era inconstante, tendo por fim levado o povo de Israel a desobedecer a Deus ao contaminarem-se com as filhas dos moabitas, a idolatrarem com os seus deuses e a comerem carne sacrificada a esses ídolos. Ao levar Israel a sacrificar aos ídolos dos moabitas e midianitas, Balaão cometeu um grande pecado, pois levou Israel a desviar-se dos preceitos do SENHOR e a cometer fornicação espiritual. Israel deixou-se contaminar com o culto de Baal (de Peor), o “deus” canaanita das tempestades e da fertilidade. O castigo que sobreveio a Israel por este pecado foi grande: morreram 24.000 homens – Números 25:1-5, 9.

Israel tinha recebido instruções muito precisas para destruir todos estes povos pagãos e tomar conta da terra que Deus lhe tinha dado por promessa. Ao invés, deixou-se seduzir por eles. Veja-se as instruções do SENHOR em Números 33:50-56. Esta terra de Canaã que deveria ter sido purgada de todo o mal que nela havia, é uma imagem do que será a terra durante o reino milenar de Jesus, que também terá que ser limpa de toda a sorte de males e idolatria.

Veja-se o episódio que nos é relatado em Números 31:12-18 – “E trouxeram a Moisés e a Eleazar, o sacerdote, e à congregação dos filhos de Israel, os cativos, e a presa, e o despojo, para o arraial, nas campinas de Moabe, que estão junto ao Jordão, na altura de Jericó. Porém Moisés e Eleazar, o sacerdote, e todos os príncipes da congregação, saíram a recebê-los fora do arraial. E indignou-se Moisés grandemente contra os oficiais do exército, capitães dos milhares e capitães das centenas, que vinham do serviço da guerra. E Moisés disse-lhes: Deixastes viver todas as mulheres? Eis que estas foram as que, por conselho de Balaão, deram ocasião aos filhos de Israel de transgredir contra o SENHOR no caso de Peor; por isso houve aquela praga entre a congregação do SENHOR. Agora, pois, matai todo o homem entre as crianças, e matai toda a mulher que conheceu algum homem, deitando-se com ele. Porém, todas as meninas que não conheceram algum homem, deitando-se com ele, deixai-as viver para vós”.

O “truque” ou artifício que Balaão usou para com Israel, levando o povo o pecar contra o preceito do SENHOR de não se misturar com povos pagãos e assim se deixar levar pela idolatria – o que é abominação aos olhos de Deus, ainda hoje é usado por Satanás junto de muitos dirigentes religiosos dos nossos dias. Uns deixam-se seduzir por dinheiro, enquanto outros se agarram a um estatuto social (mundano). Falando dos nossos dias e daqueles homens ímpios que hão de ser destruídos devido à sua descrença e pecados, os quais se deixam levar pelos seus interesses pessoais, o apóstolo Judas, nos versículos 10 e 11 da sua carta diz que estes foram levados pelo engano do prêmio de Balaão. Este é o premio da sua injustiça. Lembremos que Balaão foi morto à espada devido aos pecados enraizados no seu coração.

Quantos chefes religiosos hoje amam o dinheiro acima de tudo, e por ele, deixam a doutrina verdadeira do Senhor para seguir ao deus deste mundo? Muitos. Este é o prémio de Balaão. Seguir a doutrina de Balaão não é mais do que servir a Deus pelo ganho material. Nada há de mais errado em termos espirituais. O dinheiro e os ganhos materiais ou até a afirmação da posição social dos dirigentes nas comunidades religiosas, pode corromper o coração, levando-os, até, se necessário, a interpretar a Palavra consoante as suas conveniências. Podemos dizer que este tipo de dirigentes religiosos, cujo coração está “preso” a outras coisas que não à Verdade de Deus, se enquadra no que a Bíblia apelida de falso profeta.

Através do profeta Miquéias, Deus condena este tipo de atitude dos que se dizem presbíteros, mas que deixam o seu coração ser dirigido por interesses pessoais: Miquéias 3:11 – “Os seus chefes dão as sentenças por suborno, e os seus sacerdotes ensinam por interesse, e os seus profetas adivinham por dinheiro; e ainda se encostam ao SENHOR, dizendo: Não está o SENHOR no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá”. Este tipo de procedimento, errado aos olhos de Deus, anda de braço dado com a doutrina dos Nicolaítas – o domínio do rebanho por parte dos seus dirigentes. Todos os que resistem ao SENHOR e à Sua Palavra, Deus os compara ao pecado de Balaão. Reparemos no que nos diz o apóstolo Pedro em 2 Pedro 2:14-16 – “Tendo os olhos cheios de adultério, e não cessando de pecar, engodando as almas inconstantes, tendo o coração exercitado na avareza, filhos de maldição; os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prémio da injustiça; mas teve a repreensão da sua transgressão; o mudo jumento, falando com voz humana, impediu a loucura do profeta”.

Há quem afirme que a doutrina dos Nicolaítas é a dos seguidores da doutrina de Balaão (doutrina com tropeços). Na realidade, o dinheiro e os engodos deste mundo podem ser grandes tropeços para muitos que por eles se deixam prender. Este tipo de atitude é em tudo contrária ao bom caminho de humildade e reverência que um ministro de Deus deve ter. Este é o conselho de Deus em 1 Pedro 5:1-4 – “Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória”.

É flagrante a contradição entre estas duas posições acima relatadas. Infelizmente existem muitos que não andam segundo o conselho do Senhor Deus e do Seu Cristo Jesus.
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Fonte: Estudo de autoria de Vítor Quinta compartilhado no PC@maral

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