Fé, razão, pecado e redenção no pensamento de Blaise Pascal [2]

Publicado originalmente em Revista Ultimato

O homem está dividido dentro de si mesmo.

Diz o Eclesiastes que "o coração dos homens está cheio de maldade e de loucura durante toda a vida" (Ec 9.3). Pascal sabia muito bem disso!

Quem não se conhece cheio de soberba, de ambição, de concupiscência, de fraqueza e de injustiça é bastante cego.

Precisamos baixar os olhos para a terra para nos vermos como míseros vermes, e olhar para as feras das quais somos companheiros.

Hoje o homem se tornou semelhante aos animais, num tal afastamento de Deus que apenas lhe resta uma luz confusa de seu Criador.

A encarnação de Jesus mostra ao homem a grandeza de sua miséria pela grandeza do remédio que ele precisa.

Existe uma guerra interior no homem, entre a razão e as paixões. Sem a razão haveria só paixão. Mas existem uma e outra e elas não podem existir sem guerra. O homem está dividido dentro de si mesmo.

Os inimigos dos homens não são os babilônios, mas as suas paixões.

Poucos falam humildemente sobre humildade. Poucos falam castamente sobre castidade. Somos mentirosos, temos duas caras e vivemos sob disfarces na tentativa de ocultar dos outros o que realmente somos.

Como o coração do homem é oco e cheio de baixeza!

Se o homem se eleva, eu o rebaixo; se ele se abaixa, eu o levanto e o contradigo sempre até que ele se compenetre de que é um monstro incompreensível.

Sem a graça de Deus o homem não é senão um sujeito cheio de erros inapagáveis. Nós não somos senão mentiras, duplicidades, contrariedades. Nós nos escondemos e nos destruímos a nós mesmos.

Somos tão presunçosos que gostaríamos de ser conhecidos em toda a Terra e também daqueles que virão quando não estivermos mais aqui. Somos tão vaidosos que a estima que nos rodeia nos ilude e nos deixa contentes.

Nascemos injustos e depravados.

Estamos cheios de concupiscências; portanto, cheios de mal. Assim, deveríamos odiar a nós mesmos e a tudo o que nos excita a outro vínculo que não seja somente Deus.

Perdemo-nos nos vícios e não vemos mais a virtude.


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