Neemias e a reconstrução dos muros de Jerusalém. Muito trabalho pela frente - Neemias 2: 11-20


Você já teve a experiência de iniciar um projeto? Quais foram os seus primeiros passos? É justamente sobre os primeiros passos numa grande obra que trata este artigo, que é uma continuação da nossa jornada de estudos no livro de Neemias.

Vejam como é difícil a nossa situação! A cidade de Jerusalém está em ruínas, e os seus portões foram destruídos. Vamos construir de novo as muralhas da cidade e acabar com esta vergonha. (Ne 2:17 – NTLH)

Depois de pedir permissão para ir a Jerusalém, a fim de reconstruí-la (Ne 2:5) o capítulo 2 de Neemias, versículos 11-20, trata exatamente do momento em que ele chega à cidade e de suas primeiras ações, a fim de realizar a obra que o levou até lá. Vamos conferir como ele procedeu.

A viagem da Pérsia até Jerusalém era altamente desgastante. Mesmo assim, Neemias faz este percurso para cumprir a obra de Deus. Ao chegar e andar pela cidade depara-se com cenas piores do que havia imaginado. A gloriosa Jerusalém de Salomão estava destruída e humilhada! Ele chega a dizer no versículo 17: Estais vendo a miséria em que estamos. A palavra hebraica traduzida por “miséria” também tem o sentido de “calamidade”. A situação era mesmo muito complicada, e Neemias tinha muito trabalho pela frente. Todavia, com a ajuda de Deus, ele soube iniciar este grande desafio com muita sabedoria. Com base em Neemias 2:11-20, analisaremos cinco questões que não foram ignoradas por ele, neste inicío de trabalho.

1. Ele não ignorou o descanso:

Antes de começar a grande obra, Neemias descansou. O versículo 11, do capítulo 2, diz: E cheguei a Jerusalém e estive ali três dias. Depois de uma viagem cansativa, de mais de mil e quatrocentos quilômetros, Neemias fez uma pausa. Toda a sua dinâmica, vista no início do capítulo 2, não dá lugar a precipitação a esta altura do relato. A enorme vontade deste servo de Deus em ajudar os seus conterrâneos não o fez chegar a Jerusalém “impelido por uma compulsão ardente de pegar a colher de pedreiro, empregar ajudantes e pendurar o prumo; em suma, fazer alguém começar o muro – bem depressa!”. [1] Neemias passa três dias descansando da fadiga da viagem, antes de tratar de qualquer negócio. Não se acelera nem para ação (v. 11) e nem para a conversa (v. 12). Descansar, antes de colocar a mão na massa, é altamente benéfico, e esse tempo pode ser usado para a reflexão, renovação de forças, etc. Na Bíblia, há um claro equilíbrio entre trabalho e descanso (Êx 20:8-11, 23:12). Todo servo de Deus deve saber cuidar de si mesmo, de sua saúde física. Depois do trabalho, Jesus chamou seus discípulos para descansar (Mc 6:31). Não confunda intensa atividade com espiritualidade, aprenda com Neemias. Frente a uma grande empreitada, ele soube valorizar, também, o descanso.

2. Ele não ignorou a observação:

Além do necessário e merecido descanso, Neemias “também separou um tempo para fazer um ‘levantamento da situação geral’ sem despertar o interesse do inimigo”. [2] Leia o que diz os versículos 12 e 13, do capítulo 2: Saí de noite com alguns dos meus amigos. Eu não havia contado a ninguém o que o meu Deus havia posto em meu coração (...). De noite saí (...) examinando o muro de Jerusalém. A palavra “examinar”, que aparece neste texto e no versículo 15, é a tradução da palavra hebraica shbhêr, que significa “contemplar”, “observar algo cuidadosamente”. “É um termo médico para examinar a extensão de um ferimento”. [3] Antes de começar o trabalho, Neemias fez uma avaliação detalhada para familiarizar-se com a situação, confirmar as informações que recebera (cf. Ne 1:3) e estabelecer um plano para a reconstrução. Fez tudo isso à noite para não chamar a atenção. Seus servos o acompanharam a pé, pois um grupo montado poderia chamar a atenção demais. Um pouco de cautela nunca é demais. Neemias, montado em sua mula, viu que os “portões da cidade tinham sido queimados; as muralhas se desintegraram, com exceção dos pequenos trechos, aqui e ali. [4] Leia todo o relato da miséria em que se encontrava Jerusalém em Neemias 2:13-15.

3. Ele não ignorou a cooperação:

Enquanto a cidade dormia, Neemias estava acordado. E, depois de coletar os fatos e saber exatamente em que pé estavam os muros da cidade, Neemias procura os judeus: os sacerdotes, os nobres, os oficiais e aqueles que iriam realizar a obra em Jerusalém e lhes diz: Veja a situação terrível em que estamos: Jerusalém está em ruínas e suas portas estão destruídas pelo fogo (2:17). Observe que Neemias se identificou com os seus companheiros judeus. Ele não disse: “Veja a situação difícil em que vocês estão!”, mas disse: “Veja a situação difícil em que estamos”. Ele era um deles! A tarefa que tinha pela frente era imensa! Não havia a mínima chance de ele fazer tudo sozinho; por isso pede colaboração. No versículo 17 ele apresenta a situação da cidade e desafia: Venham, vamos reconstruir os muros de Jerusalém, para que não fiquemos mais nesta situação humilhante (v. 17b). “A extensão dos muros era de quase dois quilômetros, e os novos deveriam ter cerca de um metro de largura, talvez mais, ao rés do chão, e cinco ou seis metros de altura”. [5] Reconstruir este muro só seria possível se houvesse a colaboração por parte dos habitantes de Jerusalém. Neemias conseguiu essa ajuda. Depois de mostrar para o povo que aquele não era um projeto dele, mas de Deus, ele os motivou ao trabalho. Eles responderam: “Sim, vamos começar a reconstrução”. E se encheram de coragem (v. 18). Esta resposta, por parte de todo o povo, é tão milagrosa quanto à permissão do rei Artaxerxes.

4. Ele não ignorou a firmeza:

Tão logo o povo se dispôs a vestir a camisa e fazer a obra de Deus, a oposição entra em cena. Sambalate e companhia não queriam o bem dos israelitas (2:10). Na verdade, eles ficaram muito irritados quando souberam que alguém se importava com os judeus. Quando o povo se une para reconstruir os muros, desde o início ficou bem claro que o trabalho não iria adiante sem os desafios dos inimigos: Porém Sambalate, o horonita, e Tobias, o servo amonita, e Gesém, o arábio, quando o souberam, zombaram de nós, e nos desprezaram (v. 19). O termo hebraico para “zombaram” traz a ideia de “pronunciar palavras de menosprezo”. Além de zombar, a oposição também questiona: Quereis rebelar-vos contra o rei? (v. 19). Este argumento era sério e sujo. Jerusalém ficava entre a Pérsia e o Egito. Esta localização era estratégica. A Pérsia não podia ver nenhuma deslealdade em Judá, pois o Egito era uma colônia persa em constante rebelião e, no momento em que o governo precisasse intervir, não poderia encontrar oposição em Judá. [6] Veja o quanto o argumento da oposição é sutil. Todavia, Neemias estava firme em sua decisão de reconstruir e levar adiante o projeto de Deus. Não estava disposto a dar ouvidos àqueles que se opunham à obra e nem permitir que alguém, a não ser o próprio Deus, detivesse o trabalho. Ele disse com firmeza o que haviam decidido: Nós (...) começaremos a reconstrução (v. 20b). Neemias não se intimidou!

5. Ele não ignorou a dependência:

Quando Neemias saiu da Pérsia para ir rumo a Jerusalém, recebeu cartas do rei Artaxerxes comprovando não ser ele um traidor do império, ao querer ajudar o povo judeu. Ele tinha autorização para realizar aquela obra de reconstrução. Todavia, quando seus inimigos o acusaram, ele fez seu trunfo não do mandato que recebeu do rei, “mas, sim, da sua autoridade da parte de Deus”. [7] O Deus dos céus é o que nos fará prosperar (v.20a). Neemias não confiava em si próprio, em sua própria força ou entendimento. Ele teve coragem suficiente para afirmar que sua força vinha de Deus. Não quis tomar para si a glória que não era dele. Neemias aprendeu a dar o crédito ao soberano Senhor, em tudo. A “prosperidade”, que, neste contexto, se refere à missão que ele viera cumprir em Jerusalém, viria do Senhor. A base das ações de Neemias era a vontade de Deus. Ele fazia com que as pessoas olhassem para Deus e não para ele. E quanto a nós: “As pessoas nos seguem ou estão seguindo ao Senhor enquanto ele nos guia?”. [8] O capítulo 2 de Neemias termina com a seguinte declaração aos opositores: ... vocês não podem fazer parte deste trabalho, porque não têm parte legal, nem lembrança em Jerusalém (v. 20c). Aquela história seria reescrita sem a ajuda deles. Sambalate e companhia não poderiam nem melhorar, nem participar, nem atrapalhar uma obra que era de Deus.

Aplicando a Palavra de Deus em nossa vida

Na obra de Deus, estime corretamente o descanso.

Neemias chegou a Jerusalém para fazer a obra de Deus (Ne 2:12), e há muitos que, diante das atividades relacionadas à obra de Deus, não permitem a si mesmos períodos de descanso. Aliás, até pensam que descanso é perda de tempo, negligência para com as responsabilidades “espirituais”; sobrecarregam a agenda, num ativismo exagerado e prejudicial, que afeta, inclusive, as relações familiares e a saúde e impede “que exerçam um ministério eficaz”. [9] Por isso, na obra de Deus ou em qualquer outro tipo de atividade, valorize corretamente o descanso.

Na obra de Deus, valorize adequadamente as pessoas.

Hoje em dia, há uma tendência muito forte, inclusive, entre cristãos, de valorizar mais as coisas do que as pessoas: valoriza-se mais o carro do ano do que uma boa amizade; mais a casa luxuosa do que a comunhão cristã; mais o “ter” do que o “ser”. Com este pensamento, quem está à frente liderando sempre se acha superior a quem é liderado; por “ter” um posto mais alto. Este é um grande mal entendido que precisa estar bem longe dos filhos de Deus. Ninguém consegue ir muito longe sozinho. Por mais inteligente que alguém possa ser, este, ainda sim, precisa da ajuda de pessoas. Neemias era um líder fabuloso, mas, sozinho, não conseguiria realizar a missão que recebera do Senhor. Precisou e procurou ajuda. Não usava as pessoas apenas como máquinas de trabalho; tanto é que, quando pediu colaboração, incluiu-se entre elas. Ele disse: “Vamos construir” e não: “Construam”. Na obra de Deus, nunca se esqueça disso.

Na obra de Deus, glorifique exclusivamente a Deus.

Todo cristão precisa viver, aqui, nesta terra, para a glória de Deus: Portanto, quando vocês comem, ou bebem, ou fazem qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus (1 Co 10:31). “Tudo” não é alguma coisa, algum dia ou em algumas circunstâncias. Todo cristão precisa almejar, em tudo o que for fazer a glória de Deus. No que se refere à obra de Deus, isso precisa ser ainda mais enfatizado. Muitos são os que estão recebendo a glória para si, no serviço a Deus, aparecendo mais do que o Deus da obra. Neemias diz que só fora a Jerusalém porque Deus estava com ele; de outra maneira, não teria recebido a autorização (2:18); diz também que a obra que fora fazer era de Deus e não dele (2:12), e que quem daria o êxito na obra seria o Senhor e não sua capacidade de liderar (2:20). Toda glória somente a Deus!

Conclusão

Ao sair da Pérsia para ir a Jerusalém, apesar de ter alguma noção, Neemias talvez não imaginasse o quanto a situação da cidade era caótica. Quando ele viu com seus próprios olhos, percebeu que era pior do que haviam contado. Todavia, esta situação não o paralisou. Enquanto caminhava, à noite, pelos escombros, trazia no peito a esperança de que um dia a Jerusalém de Salomão voltaria a ser “gloriosa”. Havia muito trabalho pela frente, muito que fazer, mas Deus estava com o povo. Eles conseguiriam ser bem sucedidos, mesmo frente à oposição. Na obra de Deus, apliquemos os princípios aprendidos com Neemias, neste estudo!



Bibliografia


1. SWINDOLL, Charles R. Liderança em tempos de crise: como Neemias motivou seu povo para alcançar uma visão. São Paulo: Mundo Cristão, 2004. pág. 50

2. WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento. Vol. 2. Santo André: Geográfica: 2008. pág. 624

3. SWINDOLL, Charles R. Liderança em tempos de crise: como Neemias motivou seu povo para alcançar uma visão. São Paulo: Mundo Cristão, 2004. pág. 52

4. CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado: versículo por versículo. Vol. 3. São Paulo: Candeia, 2000. pág. 1779

5. PACKER, I. J. Neemias: paixão pela fidelidade – sabedoria extraída do livro de Neemias. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. pág. 91

6. ADEYEMO, T. (Ed.). Comentário bíblico africano. São Paulo: Mundo Cristão, 2010. pág. 549

7. KIDNER, Derek. Esdras e Neemias: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1985. pág. 90

8. WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento. Vol. 2. Santo André: Geográfica: 2008. pág. 630

9. ADEYEMO, T. (Ed.). Comentário bíblico africano. São Paulo: Mundo Cristão, 2010. pág. 549


DEC

Um comentário:

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