Neemias Leva o Povo a Assumir um compromisso com Deus.

Por causa de tudo isso, nós, o povo de Israel, estamos fazendo por escrito um acordo solene. E as nossas autoridades, os nossos levitas e os nossos sacerdotes vão assiná-lo. (Ne 9:38 – NTLH)


A primeira reforma promovida por Neemias foi estrutural. A cidade passou por uma imensa reforma física, econômica e social. Já a segunda reforma foi espiritual. [1] Esta foi a mais importante. Surgiu do desejo de conhecer a palavra de Deus. O povo começou a estudar a Bíblia e orar, e os resultados vieram: choro pelo pecado, confissão e vontade de acertar-se com Deus. Então, Israel não quis ficar só nas palavras e nem na emoção do momento: decidiu fazer uma aliança com o Senhor, assumindo e registrando compromissos.

Uma coisa é sermos impactados pela palavra e fazermos uma oração fervorosa de confissão, como pode ser visto no capítulo 9 de Neemias, que foi explanado no estudo anterior; outra, muito diferente, é sermos fiéis a Deus e nos mantermos assim, depois que dizemos: “Amém”. [2] Israel levou a sério aquela oração e estava decido mesmo a recomeçar. Os líderes e todo o povo fizeram um pacto solene de fidelidade. Essa atitude é desafiadora para nós hoje, pois vivemos numa época em que muitas pessoas não gostam de assumir compromissos. Neste estudo, que se baseia em Neemias 10, refletiremos sobre os participantes e os compromissos desta aliança de fidelidade feita com Deus.

1. Os participantes: 

O capítulo 9 termina assim: Em vista disso tudo, nós estamos fazendo um acordo, por escrito (...) e assinamos este contrato (Ne 9:38 – NBV). Com essa atitude, os companheiros de Neemias estavam dizendo: “Senhor, (...) que isso signifique uma promessa selada (...). Assinaremos nossos nomes a fim de provar que manteremos a promessa”. [3] Deste modo, o capítulo que estamos estudando começa com uma lista dos nomes daqueles que selaram o documento (Ne 10:1-27). Sabe quem é o primeiro da lista? Neemias é claro!

O líder deve sempre ser o exemplo, e Neemias era. Este homem não era do tipo que dizia “faça o que eu mando, mas não o que faço”. É lamentável quando o pastor quer que a igreja mude, mas ele mesmo não dá o exemplo. Também é igualmente triste pais quererem que os seus filhos assumam um compromisso que eles próprios nunca quiseram assumir. Semelhante é o caso de um líder da igreja local que exige de seus liderados comprometimento, mas ele mesmo não é comprometido. Neemias não era assim. Ele foi o primeiro a assinar e a assumir o compromisso.

Além dele, apareceram mais oitenta e quatro pessoas que puseram o seu selo na aliança feita com Deus. Ali, estavam os nomes dos sacerdotes (10:2-8), dos levitas (10:9-13), dos líderes e nobres (10:14-27). Estes assinaram em nome de todo o povo. Os cidadãos comuns, mesmo não assinando o documento, concordaram e aderiram àquela aliança (10:28). Até mesmo as mulheres e as crianças, que não podiam colocar um selo pessoal num documento oficial, comprometeram-se também. Que cena magnífica: cada uma daquelas pessoas que ouviram a leitura e a explanação da palavra estava, agora, assumindo, com emoção e consciência, o compromisso de obedecer ao que lhe fora ensinado. Essa postura dos judeus concorda com o ensino de Tiago, que disse: Sede praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando a vós mesmos (Tg 1:23-24). O apóstolo explica a razão para isso: Pois, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, é semelhante a um homem que contempla o próprio rosto no espelho; porque ele se contempla, vai embora e logo se esquece de como era (Tg 1:23-24). Quantas vezes ouvimos a palavra, nos comprometemos com ela, mas, logo a esquecemos? É só lembrarmos as muitas promessas não cumpridas que já fizemos, a cada início de ano.

Neemias e seus amigos não queriam que isso acontecesse. Não podiam esquecer o que ouviram de Deus. Decidiram praticar e, para não esquecer, revolveram anotar num documento cada atitude a ser tomada. Fizeram um juramento, que implicaria castigo ao desobediente (Ne 10:29). Hoje, “jurar” não é a melhor forma de o cristão assumir compromissos com Deus, pois os juramentos são, em linhas gerais, baseados no medo, e o Pai celeste não deseja isso de nós: ele quer que a base de nosso relacionamento com ele seja o amor. De fato, “não somos bem sucedidos em nossa vida cristã porque fazemos promessas a Deus, mas sim porque cremos nas promessas dele e agimos em função delas”. [4] Ainda que não seja necessário jurar a Deus, é dever do cristão ser comprometido com a obediência à palavra em amor.

2. Os compromissos:

Anotar, a fim de não esquecer o que devemos praticar ou melhorar é um exercício precioso. Foi isso que Neemias e os demais judeus fizeram. Diante da exposição da lei de Deus, eles perceberam claramente em que estavam falhando e decidiram fazer um pacto de mudança.

Em primeiro lugar, assumiram um compromisso com a obediência à palavra. Eles decidiram “andar na lei de Deus” e disseram: ... obedeceremos a tudo o que o Senhor, nosso Deus, nos manda; e cumpriremos todas as suas leis e mandamentos (Ne 10:29b). Eles elegeram a palavra de Deus como regra suprema e fizeram da obediência um projeto de vida. Que bela decisão!

Em segundo lugar, assumiram um compromisso com a pureza do casamento. Jerusalém estava cercada de gentios que queriam que o remanescente do povo de Deus fizesse parte de seu meio social e econômico. A melhor maneira para isso acontecer era através dos casamentos mistos. Para os judeus, as vantagens eram muitas e a tentação era enorme. Porém, não era a vontade de Deus. Essas uniões mistas com estrangeiros idólatras eram condenadas pela lei de Deus (cf. Êx 34:12-16). O motivo para a proibição desses casamentos mistos não era racial, mas espiritual e religioso. [5]

Não era uma questão de preconceito, mas de santificação do povo. Nestes casamentos, o cônjuge judeu corria um grande risco de perder a sua fé. De que forma um judeu casado com uma esposa idólatra poderia obedecer fielmente às leis cerimoniais e às leis da alimentação? Como iria educar os filhos? Em situações assim, o marido e a mulher ficavam em constante conflito e o lado judeu quase sempre cedia. Vale lembrar que casamentos mistos continuam, ainda hoje, sendo um grande problema para os filhos de Deus (1Co 7:12,13,39a; 2Co 6:14-7:1). Os jovens cristãos devem prestar atenção nisso para não sofrer no futuro.

Em terceiro lugar, assumiram um compromisso com a observância do sábado. Antes de Neemias chegar, Jerusalém era uma “cidade fantasma”, uma “terra de ninguém”, mas, após a sua reedificação, tornou-se uma “terra de oportunidades”. Devido à posição geográfica estratégica da cidade e ao talento dos judeus para os negócios, muitos viam a chance de prosperar e, de fato, alguns estavam prosperando. Outros, ali, ainda estavam buscando “seu lugar ao sol” e trabalhavam por sobrevivência. Com isso, o dia do Senhor estava sendo negligenciado. Se guardassem o sábado, teriam um dia a menos para o comércio. Então, a ganância e a falta de confiança em Deus estavam levando-os a pecar. Mas decidiram que era hora de mudar. Eles afirmaram que não comprariam nada no dia de sábado (10:31a). Seriam fiéis em seus negócios; inclusive, prometeram guardar os anos sabáticos (10:31b), isto é, de sete em sete anos, fariam a terra descansar por doze meses. Foi uma grande prova de confiança e um lindo exemplo de dependência de Deus.

Em quarto lugar, eles assumiram um compromisso com a manutenção da casa de Deus. Em Neemias 10:32-39, é repetida nove vezes a expressão “a casa do Senhor”. A ênfase é clara: eles decidiram dar a devida atenção à manutenção da obra. Por muito tempo, o povo havia negligenciado o lugar da adoração, mas agora seria diferente. Eles prometeram entregar as ofertas e os dízimos para o sustento dos levitas e dos sacerdotes e para o cuidado do templo.

Você deve ter percebido que as questões levantadas no capítulo 10 de Neemias são bastante atuais. Em nossos dias, vemos, ainda, cristãos sofrendo por causa de casamentos mistos. Vemos, também, alguns com dificuldade na guarda do sábado, tendo que escolher entre o sustento e a fé. Para outros, a questão é a fidelidade nos dízimos e nas ofertas. Poucos gostam de rever seus conceitos, de reconhecer o erro e recomeçar. Porém, a vida cristã é marcada por recomeços. Precisamos nos consertar com Deus.

Aplicando a Palavra de Deus em nossa vida

Não seja superficial

Neemias percebeu que a reconstrução do muro era só uma parte de um longo percurso. Deveria andar, agora, sua segunda milha. [6] Por mais grandiosa que fosse a reforma feita na cidade, ainda era superficial. Perecia que tudo estava bem, mas não estava. Havia iniquidade dentro da cidade. Outra reforma era necessária, uma reforma espiritual, profunda e radical. Neemias não ficou satisfeito com a superficialidade do “muro” e levou o povo a um grande reavivamento espiritual. E nós? Que compromisso temos assumido com Deus? Como está nossa santidade? E nossa vida de oração? Superficial? Meu irmão, não se contente só com o “muro”, não fique só na aparência. Pegue a Bíblia e, com base nela, faça um exame completo de sua conduta e de seu interior (Hb 4:12). Se for preciso, recomece; volte atrás e refaça o seu pacto com Deus.

Não fique somente nas palavras

É triste quando os compromissos assumidos com Deus ficam apenas nas palavras. Afirmamos que vamos mudar, mas não mudamos; dizemos que vamos orar mais, e não oramos. Garantimos que iremos controlar a língua e não controlamos. Neemias não queria que isso acontecesse com Israel, e fez com que todos os líderes do povo assinassem uma aliança, com princípios de condutas. Ele não ficou só nas palavras: partiu para a ação. Se você deseja que suas promessas a Deus não sejam apenas promessas, parta para a ação. Mude sua agenda e seus hábitos. Não espere para manhã. E lembre-se: Coloque em prática a palavra de Deus, e não seja apenas ouvinte (Tg 1:22 – NBV).

Não vise somente ao seu interesse

O compromisso feito por Israel era admirável. Porém, significava abrir mão de muitas coisas. O povo iria perder casamentos socialmente lucrativos; teria de fechar o comércio aos sábados, perdendo “dias úteis”, e não iria mais sonegar os impostos para a manutenção do culto. Mas quem disse que ser fiel é algo fácil? Ser fiel é escolher a porta estreita; é andar na contramão do mundo; é remar contra a maré. Quem está disposto? Há cristãos que assumem compromissos com Deus e fazem promessas e votos para alcançar bênçãos e obter proveitos desse relacionamento. Mas quem está disposto mesmo a abrir mão das “vantagens”? Quem é capaz de negar a si mesmo? Talvez não agora, mas logo você verá que vale a pena, sim, servir a Deus (Mt 25:21; Ap 2:10).

Conclusão

Este episódio da história dos judeus nos desafia, hoje, a sermos cristãos comprometidos com a palavra de Deus e a estarmos dispostos a recomeçar. Nossa tendência é caminharmos para um afrouxamento de valores, por isso, acabamos por fazer concessões e abrir mão de alguns princípios cristãos. Por isso, de tempo em tempo, precisamos voltar à palavra e nos acertar com Deus. Que estejamos dispostos a recomeçar e a assumir compromissos com Deus.

Bibliografia:

1. LOPES, Hernandes Dias. Neemias: O líder que restaurou uma nação. São Paulo: Hagnos, 2006. pág. 165

2. WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento. Vol. 2. Santo André: Geográfica: 2008. pág. 667

3. SWINDOLL, Charles R. Vamos construir juntos! São Paulo: Candeia, 2008. pág. 165

4. WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento. Vol. 2. Santo André: Geográfica: 2008. pág. 668

5. KIDNER, Derek. Esdras e Neemias: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1985. pág. 127

6. GRETZ, J. R. O prefeito de Jerusalém: Segredos de Neemias para os líderes de hoje. Florianópolis: GB Comunicação, 1997. pág. 158


Fonte:
DEC - PCamaral

3 comentários:

  1. Muito boa explanação. Ajudou muito. Glória à Deus, pois só Ele merece!!!

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    1. Amém! Que bom que ajudou e nos trouxe edificação.
      Obrigado pela participação nos comentários e que as muitas bençãos do Senhor seja sobre sua vida.

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  2. Muito obrigado esse ensinamentos estamos outubro reforma ? Manutenção obrigatório.

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