A maior doença da humanidade reside na falta de amor.


Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nosso pecados (I Jo 4:10)

O tema principal deste estudo é a expiação de Cristo. Expiação, neste caso, pode ser definida como sendo “a obra que Cristo realizou em sua vida e morte para obter a nossa salvação”. [1] Uma das causas da expiação foi o maravilhoso e incondicional amor de Deus, que o levou a enviar ao mundo, habitado por pessoas indignas e rebeldes como nós, o seu único Filho, para morrer a nossa morte e sofrer a nossa pena: Vejam como é grande o amor do Pai por nós! (I Jo 3:1 NTLH).

A Bíblia deixa claro que, após sua queda, do estado original para o pecado, a tentativa do homem foi esconder-se de Deus, entre as árvores do jardim. Consciência culpada sempre produz medo e fuga. Deus, porém, o procurou, perguntando: Onde estás? (Gn 3:8-10). Nota-se que o ser humano, ao pecar, teve como uma das primeiras consequências o distanciamento de Deus, com as trágicas consequências espirituais, emocionais, conjugais, ecológicas, físicas e materiais (Gn 3:1-24). Deus então, anunciou a Adão a trágica e dolorosa sentença de morte: Você foi feito de terra e vai virar terra outra vez (Gn 3:19b NTLH). Isso significa que todos que pecam devem receber a devida punição pelo pecado. E a Bíblia afirma que o salário do pecado é a morte (Rm 6:23a).

Em vista da queda, o pecado tornou-se universal. Como resultado, a morte se espalhou por toda a raça humana; porque todos pecaram: O pecado entrou no mundo por meio de um só homem, e o seu pecado trouxe consigo a morte (Rm 5:12 NTLH). Diante disso, nenhuma condição o ser humano possuía, para alterar a sentença de morte proferida por Deus. Além disso, ele não tinha como pagar a dívida perante o Senhor, contraída por causa do pecado. A questão era: Como obter esse perdão da dívida? Se Deus perdoasse o pecado, sem nenhum castigo, a sua justiça seria colocada em dúvida. Deus não podia libertar o pecador até que as exigências da lei fossem cumpridas. Alguém teria de sofrer o castigo ou a sentença pelo pecado cometido pela humanidade.

Deus então, pouco a pouco, foi revelando que o perdão só seria possível pela morte de um substituto. Por essa razão ele estabeleceu, na Antiga Aliança, o sacrifício de animais para expiar tanto os pecados pessoais (Lv 6:2-7) quanto os coletivos (Lv 4:13-20). Todas as vezes que um animal desses era sacrificado, Deus estava enfatizando e ensinando aos israelitas uma verdade espiritual profunda: (...) sem derramamento de sangue não há remissão (Hb 9:22), isto é, não há perdão de pecados. Os sacrifícios da Antiga Aliança eram, porém, incapazes de atender plenamente à exigência divina de justiça e salvação para a humanidade, pois o sangue de touros e de bodes não pode, de modo nenhum, tirar os pecados de ninguém (Hb 10:4).

Por essa razão, a importância e a aplicabilidade dessas cerimônias e desses sacrifícios estavam limitadas ao tempo e ao espaço, pois haviam sido impostas até ao ponto oportuno de reforma (Hb 9:10). Elas eram transitórias e preparatórias para a Nova Aliança, cujo mediador seria o próprio Jesus, Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo (Ap 13:8; I Pe 1:20; Ef 1:3-4). Embora cercada de glória, a Antiga Aliança estava, portanto, destinada a desaparecer, quando a Nova chegasse, através de Cristo. Muitos israelitas, porém, não entendiam essa transitoriedade, porque, segundo o apóstolo Paulo, os seus sentidos foram embotados (II Co 3:14). Sobre isso Champlin faz o seguinte comentário:

Se porventura tivessem entendido corretamente essas coisas, naturalmente ter-se-iam voltado para Cristo (...). Nessa ignorância, pois, perderam o grande beneficio da salvação que há em Cristo, não podendo perceber que a glória da antiga aliança havia desaparecido de todo, e que existe um glória nova, maior e eterna, no novo pacto [2]

Então, quando chegou o tempo certo, Deus enviou seu Filho (Gl 4:4a) para sofrer e morrer em nosso lugar. A sua morte, portanto, foi vicária, isto é, a morte em lugar de outro: “quando pois se diz que os sofrimentos de Cristo foram vicários, o significado é que ele sofreu no lugar dos pecadores”. [3] É óbvio que Cristo não morreu por seu próprio pecado, pois ele não cometeu nenhum pecado, e nunca disse uma só mentira (I Pe 2:22 NTLH). Vários e claros são os textos da Bíblia que mostram que Cristo morreu por causa dos pecados de outros. Caso queira checar [o que recomendo e incentivo] leia em sua Bíblia todos os textos a seguir: Isaías 53:5-6; I Corintios 15:3; II Corintios 5:21; Romanos 5:8; I Pedro 2:24, 3:18; João 10:11; Marcos 10:45.

A morte de Cristo era mesmo necessária? [4] Sim! Era necessária! Por quatro razões:

1 – Era necessário que Cristo morresse para pagar a pena de morte que merecemos por causa dos nossos pecados. 

Os efeitos do pecado não atingiram somente Adão e Eva, pois a Bíblia diz o seguinte: (...) é verdade que, por causa de um só homem e por meio do seu pecado, a morte começou a dominar a raça humana (Rm 5:17a NTLH). Por causa do pecado de Adão, viemos ao mundo com uma natureza inteiramente depravada e sob a condenação de Deus. Então, Jesus se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado. (Hb 9:26)

2 – Era necessário que Cristo morresse para nos livrar da ira de Deus, que sempre se revela para castigar aquele que se rebela contra a sua palavra de vontade. 

Em seu grande amor por nós, o próprio Deus ofereceu o substituto, Jesus, o seu único e amado Filho. Assim, na cruz, Jesus sofreu para absorver e desviar a profunda e furiosa ira de Deus, de nós para si mesmo: Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados (I Jo 4:10). A palavra propiciação no grego, é hilasmos, que tem o sentido de sacrifício que afasta ou aplaca a ira de Deus – e, dessa forma, torna Deus propicio ou favorável a nós.

3 – Era necessário que Cristo morresse para nos reconciliar com Deus, de quem estávamos separados e distanciados pelo pecado. 

Ao pecar, Adão voltou as costas para Deus. A comunhão e a amizade que havia entre ambos foi rompida e quebrada, por causa do pecado. Mas, a despeito disso, Deus mesmo tomou a iniciativa de amar os seres humanos, ao ponto extremo de enviar-lhes seu Filho, como a Bíblia declara: Mas deus nos mostrou o quanto nos ama: cristo morreu por nós quando ainda vivíamos no pecado (Rm 5:8 NTLH). A morte de Cristo satisfez as exigências de Deus, reconciliando-nos com ele: (...) nós éramos inimigos de Deus, mas ele nos tornou seus amigos por meio da morte do seu Filho (Rm 5:10a).

4 – Era necessário que Cristo morresse para nos redimir ou para nos resgatar da servidão e do cativeiro do pecado de Satanás. 

Jesus afirmou que a razão de sua vinda era dar a sua vida em resgate de muitos (Mt 20:28; Mc 10:45); “Resgate” é a tradução da palavra grega lutron, que, quando usada, fazia a pessoa pensar no dinheiro de compra usado para alforriar ou libertar um escravo. Nota-se que a morte de Cristo é mostrada como pagamento de um preço ou de um resgate em vários textos da Bíblia (Lc 21:28; Rm 3:24. 8:23; I Co 1:30; Ef 1:7, 14, 4:30; Cl 1:14; Hb 9:15, 11:35). De fato, Deus nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados (Cl 1:13-14).

Agora, deve-se frisar que Deus resolveu salvar os pecadores, não por necessidade, mas por misericórdia. Ele poderia, naturalmente, dispensar, aos seres humanos pecadores, o mesmo tratamento dispensado aos seres angelicais rebeldes: Pois Deus não deixou escapar os anjos que pecaram, mas os jogou no inferno - (tártaro = ταρταρωσας) - e os deixou presos com correntes na escuridão, esperando o Dia do Julgamento (II Pe 2:4 NTLH). Ele, sem dúvida, poderia ter escolhido não resgatar do pecado um ser humano sequer. Contudo a Bíblia Sagrada afirma que: a misericórdia de Deus é muito grande, e o seu amor por nós é tanto que, quando estávamos espiritualmente mortos por causa da nossa desobediência, ele nos trouxe para a vida que temos em união com Cristo. (Ef 2:4-5)

O amor, portanto, foi a razão de Deus ter enviado seu Filho, que, por sua vez, também nos amou e deu a sua vida por nós, como uma oferta de perfume agradável e como um sacrifício que agrada a Deus! (Ef 5:2b NTLH). Como afirma Hodge: [5] O Pai não estava obrigado a prover um substituto para os homens apostatados, nem o Filho obrigado a assumir tal oficio. Foi um ato de pura graça que Deus suspendesse a execução da pena da lei, e consentisse nos sofrimentos e morte vicários de seu filho unigênito. E foi um ato de amor sem paralelo que o Filho consentisse em assumir nossa natureza, levar nossos pecados e morrer, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus. Portanto, todos os benefícios que se creditam em favor dos pecadores como consequência da satisfação realizada por Cristo são para eles simples dádivas; bençãos às quais eles mesmos não tem direito algum. Requerem nossa gratidão e excluem toda a jactância.

Deve-se frisas, ainda, que, ao morrer por amor, Cristo pagou a pena dos pecados de todos e não apenas dos que seriam, por fim salvos – ele sabia de antemão quais seriam. Os benefícios da morte de Cristo se estendem a todos, homens e mulheres do mundo inteiro, como nos mostram os textos de Jo 1:29; 3:16; 6:51; II Co 5:19; I Jo 2:2; I Tm 2:6; Hb 2:9. Para receber esses benefícios espirituais, a pessoa precisa crer em Cristo. Nota-se, pelo ensino da Bíblia, que “existe uma ordem necessária na salvação do homem. Ele precisa primeiro crer que Cristo morreu por si, antes de poder se apropriar dos benefícios de Sua morte para si próprio” [6]. Assim, todos os que vierem a Cristo para serem salvos, serão salvos, pois o mesmo Cristo afirma: (...) o que vem a mim. de modo nenhum o lançarei fora (Jo 6:37b).

Aplicando a Palavra de Deus a nossa vida

Aquele que conhece o amor de Deus passa da morte para a vida:

Jesus é a personificação do amor de Deus. Quem não conhece a Jesus vive nas trevas, na solidão, na pobreza espiritual, na incerteza, sem fé e sem esperança (Ef 2:12). Conhecer a Jesus é sentir-se amado, acolhido, perdoado, protegido e salvo. O próprio Jesus afirma: em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida (Jo 5:24). Caro leitor, apaixonado pela Palavra de Deus, um dia, eu e você, provamos da mais extraordinária experiência divina, em nossa natureza humana: pasamos da morte para a vida. Cumpriu-se em nossa vida o que Paulo desejou aos irmãos de Éfeso: (...) e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus (Ef 3:19).

Aquele que experimenta o amor de Deus passa a amar incondicionalmente o seu próximo: 

O amor de Deus, em Cristo Jesus, não é restritivo ou exclusivo; ao contrário, é extensivo e inclusivo. No coração do Pai, há espaço suficiente e amor bastante parta todos. Para você que já experimentou desse amor incondicional e continua desfrutando de seus maravilhosos efeitos, há uma expectativa de Deus: ele quer que você ame incondicionalmente o seu próximo, pois, como disse Jesus: se amardes os que vos amam, que recompensa tereis? Sede vós, pois, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai que está nos céus (Mt 5:44-48). É deste amor que o mundo precisa: altruísta, sacrificial e isento de interesse pessoal (I Co 13:4-6). Esse amor foi capaz de mover o céu e a terra. E, assim como moveu o nosso coração, se utilizará de nós para mudar o coração daqueles que não conhecem a Deus. Amém!

Aquele que vive o amor de Deus desfruta de uma vida plena: 

Dentre os quase sete bilhões de habitantes do planeta, é elevado o numero de pessoas infelizes, frsutradas e insatisfeitas. As razões variam entre carência material, emocional e espiritual. A mais forte, caracterizada por uma sensação de vazio existencial, seguramente reside na área emocional, com a ausência ou deficiência de amor. Em Deus, essa necessidade fundamental da vida é plenamente atendida e satisfeita. Ela é contemplada no Salmo 23: O Senhor é o meu pastor, nada me faltará. Em sua onisciência, Deus se compromete a acudir e a suprir as carências afetivas daqueles que foram desprezados e abandonados pelo mundo, por instituições, pela família e até pela própria mãe (Is 49:15). Para você, que conheceu, experimenta e vive o amor de Deus, não há razões para queixar-se ou angustiar-se. Alegre sua alma; dê um brado de júbilo; afinal, você é filho do Altíssimo!


Conclusão

A maior doença da humanidade reside na falta de amor. Desesperadamente, as pessoas buscam a felicidade, sem se dar conta de que ela jamais será encontrada no dinheiro, na cultura ou nos prazeres que a vida oferece. A Bíblia nos ensina que a felicidade está diretamente associada ao recebimento e à prática do amor. O amor de Deus liberta, redime, engrandece, eleva, devolve a vida, a fé e a esperança; é provado através de um ato concreto de doação da vida de Jesus. O amor divino é o único antídoto altamente eficaz para curar a humanidade; é imerecido, inexplicável e incomensurável. Esse é o amor que nos alcançou, trazendo-nos salvação, saúde e felicidade, para a glória de Deus.


Bibliografia:

1 – GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999. pág. 471
2 – CHAMPLIN, Russel Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Milenium, 1979, vol. 4. pág 317
3 – HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo:Hagnos, 2001, pág. 838
4 - GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999. pág. 482-483
5 – HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo:Hagnos, 2001, pág. 835-836
6 – THIESEN, Henry Clarence. Palestras Introdutórias em Teologia Sistemática. São Paulo: Imprensa Batista regular do Brasil, 1987. pág. 237

Fonte:
Departamento de Educação Cristã
Paulo Cesar Amaral



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