Nós existimos para glorificar a Deus e não vice-versa.

Louvar-te-ei, Senhor Deus meu, com todo o meu coração, e glorificarei o teu nome para sempre. (Salmos 86:12)

Por James M. Renihan

Enquanto estava assistindo televisão, em certa noite, deparei-me com o que posso chamar de um espetáculo cristão, apresentado por um famoso evangelista de uma mega-igreja. Foi uma produção realmente impressionante. No centro do palco havia uma "árvore de natal viva", ou seja, um grande coral estava disposto no formato de um pinheiro, em oito ou nove degraus, por coristas vestidos de túnicas brancas. Em frente a esta grande estrutura, dois habilidosos cantores, um homem e uma mulher, entoavam números espetaculares, freqüentemente acompanhados por uma companhia de danças (homens e mulheres) ou às vezes por um coral infantil. A qualidade da produção era excelente, tanto em termos de cenário quanto de talentos e de apresentação televisiva. Hollywood ou Las Vegas não poderiam ter feito algo melhor.

O final foi especialmente impressionante. Todos juntos apresentaram uma interpretação em estilo swing do "Aleluia. de Handel". Um coral saiu caminhando pelos corredores do público, enquanto os dançarinos (que rapidamente vestiram túnicas brancas) cercavam a árvore de natal. Os dois cantores principais colocaram-se ao centro do palco, no meio dos dançarinos, e todos balançavam o corpo de um lado para o outro, acompanhando o ritmo da música. O coral e os dançarinos entoaram várias partes do Aleluia, enquanto solistas improvisaram alguns slogans inspirativos, inserindo os em vários trechos da interpretação. Quando a música chegou ao seu clímax, do teto foram soltos muitos balões, e fogos de artifício explodiram do palco. Todos os participantes desfrutaram de um tempo bastante agradável.

Devo mencionar que houve uma tentativa de se pregar uma mensagem, um pouco antes do final. Um homem levantou-se (não sei quem era ele), dirigiu-se ao auditório e declarou que o tema daquela noite era "Ele [referindo-se a Deus] fez tudo por você". Todas aquelas músicas e danças eram simplesmente uma celebração do fato que o Natal era uma demonstração do supremo propósito de Deus, ou seja, que homens e mulheres, rapazes e moças tivessem uma vida boa e feliz, agora e para sempre. O homem (não posso chamá-lo de pregador) tomou apenas cinco minutos para apresentar sua mensagem e, em seguida, disse aos seus ouvintes que Deus esperava que eles O invocassem, a fim de terem um relacionamento com Ele. Isto foi acompanhado por uma interessante tática evangelística. Aquele homem gentil anunciou ao auditório que iria fazer uma oração e desejava que todos em voz alta orassem juntamente com ele. Instruiu as pessoas, dizendo-lhes que pronunciaria uma frase e queria que elas a repetissem com seus próprios lábios. Em seguida, todos foram orientados a curvar suas cabeças e fechar seus olhos, e ele os conduziu em uma oração nestas palavras: "Querido Jesus, obrigado por teu amor por mim. Compreendo que necessito de Ti. Venha para minha vida e salve-me. Em nome de Jesus, amém!" Logo que a oração foi concluída, as luzes se apagaram e, num instante, começou o final do espetáculo. Foi emocionante.

Enquanto assistia ao espetáculo, sentia tristeza em meu coração. Quanto mais a assistia, tanto mais percebia que aquela produção era exatamente o oposto de tudo que eu entendia das Escrituras. O programa terminou com um breve tempo de compartilhar. Compreendi que, se o homem que tentou pregar tivesse escrito o Breve Catecismo, a primeira pergunta e resposta teriam a seguinte redação: "Qual o principal objetivo de Deus? O principal objetivo de Deus é glorificar os homens e alegrar-se neles para sempre". Em um estilo atraente, este homem havia indicado que o evangelho centraliza-se no homem; o evangelho não fala sobre uma Divindade ofendida e irada, que exige propiciação como resultado dos pecados dos homens; pelo contrário, Deus nos espera ansiosamente, a fim de satisfazer as necessidades de nossa vida. Tudo naquela noite foi idealizado para fazer um apelo às emoções do auditório. Os dias de Natal são uma época de muitos sentimentos, e aquela igreja estava espalhafatosamente se beneficiando deste fato para apresentar o evangelho com uma roupagem bastante atraente. Poderia alguém ficar ofendido com uma mensagem desse tipo?

Recordei as palavras do apóstolo Paulo acerca da loucura da pregação. Do ponto de vista humano, não há dúvida de que a abordagem utilizada naquela apresentação foi um imenso apelo às massas. As pessoas se mostram dispostas a participar de eventos dessa natureza, visto que são confortáveis, produzem muito entretenimento e exigem somente a observação da audiência. Tudo que as pessoas têm de fazer é permanecer sentadas e desfrutar do suntuoso espetáculo de cores, sons e movimentos. Porém, de que maneira todas estas coisas estão relacionadas à pregação do evangelho? Esse é o tipo de evangelismo que encontramos na Bíblia?

Às vezes, depois de ter pregado na igreja, tenho descido do púlpito sabendo exatamente o que Paulo estava dizendo, quando se referiu à loucura da pregação. Tenho questionado porque Deus escolheu este método, em especial numa cultura que aparentemente não se concentra em um assunto por mais de cinco minutos. Todavia, isto é o que ele tem feito, e a pregação é o método que temos de utilizar. Deus promete abençoar a ousada proclamação de sua Palavra, da ofensiva cruz de Cristo, das ameaças da Lei de Deus e do bálsamo do evangelho anunciado por homens escolhidos por Ele. Não é o palco e sim o púlpito que deve estar no centro de nosso evangelismo.

Há dois problemas nesse tipo de apresentação: o método e a mensagem. É evidente que a mensagem ali apresentada não era o evangelho de Cristo. Embora estivesse camuflada com uma linguagem religiosa, evangélica, era uma mensagem perniciosamente diferente. A pregação da cruz não é uma suave e premeditada tentativa de manipular homens e mulheres a fim de levá-los a um relacionamento com o Deus todo-poderoso. Pelo contrário, a pregação da cruz humilha-os, quando eles compreendem sua desesperadora situação como pecadores e começam a perceber a grande provisão de Deus em Cristo. O método do apóstolo Paulo não tinha um apelo popular. Por vezes, resultou em prisão, açoites e apedrejamento. No entanto, era o poder para a salvação. Não podemos abandoná-la, por causa dos caprichos da cultura popular. Ao contrário, precisamos nos engajar em pregá-la cada vez mais. Espetáculos desse tipo devem nos motivar a fazer, com vigor ainda maior, aquilo para o que fomos chamados por Deus: pregar o evangelho a homens e mulheres. Existe uma vantagem no velho método . Deus prometeu abençoá-lo.

Confiando no Espírito Santo, resistamos às tendências que nos cercam e proclamemos, com ousadia, que homens e mulheres estão perdidos, são ímpios e estão condenados. Mostre-mo-lhes que são inimigos de Deus. Acima de tudo, devemos falar-lhes sobre o Senhor Jesus Cristo, pregando a respeito de sua obediência ativa e passiva. Devemos proclamar seu amor e misericórdia. Convidemos os pecadores a prostrarem-se e sujeitarem-se ao Filho de Deus.

Assistir aquela apresentação foi bom para mim. Aprofundou meu compromisso de fazer a obra de Deus de acordo com o método Dele: pregar o evangelho. Prefiro o Breve Catecismo assim como ele está: nós existimos para glorificar a Deus e não vice-versa.

Fonte: Editora Fiel | Publicado no ano 2000 | Compartilhado no PCamaral

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