Agora você está no fundo do mar!

O tempo é chegado, dizia ele. O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas! (Marcos 1:15)

Publicado originalmente em Revista Ultimato

Era uma multidão: chefes de Estado, empresários ricos, comerciantes e curiosos. Todos estavam com cabelos em pé, espantados, desolados, horrorizados, confusos, visivelmente perturbados. O rosto deles mostrava angústia.

Não era para menos. O navio de carga que havia feito muitas viagens pelo Mediterrâneo, transportado mercadorias de alto valor de um porto para outro, enriquecido muita gente e tinha uma tripulação de primeira linha, agora estava no fundo do mar! Todo o carregamento e toda a tripulação desapareceram para sempre.

Na verdade, não se trata de um navio afundado, mas de uma poderosa cidade afundada. Porque Tiro fica numa ilha próxima do litoral e era o principal porto marítimo da costa da Fenícia (atual Líbano), o profeta Ezequiel compara a cidade com um navio de luxo que vive do comércio e termina em naufrágio (Ez 27).

Embora historicamente dirigida a Tiro, essa passagem do livro de Ezequiel “é um documento crítico sobre a sociedade materialista e consumista que enriquece cada vez mais os poderosos”, de acordo com a nota de rodapé da Edição Pastoral da Bíblia Sagrada.

A frase mais chocante dessa página das Escrituras está no versículo 34: ““Agora”, você está no fundo do mar, está afundado nas profundezas do oceano. Os seus bens e todos aqueles que trabalhavam para você desapareceram, junto com você, no mar”.

No capítulo anterior, antes do naufrágio, o Senhor Deus havia dito a Tiro: “Farei você virar uma cidade deserta como as cidades arrasadas, onde não mora ninguém. Cobrirei você com as águas profundas do mar. Eu a jogarei no mundo dos mortos, onde você estará com gente que morreu há muito tempo. E a abandonarei nesse mundo que fica debaixo da terra, nesse país de ruínas antigas, e você ficará junto com os mortos. Em você, Tiro, nunca mais morará ninguém, e você não voltará a ocupar o seu lugar no mundo dos vivos. Farei de você um exemplo horrível, e esse será o seu fim. As pessoas vão procurá-la, mas ninguém a encontrará. Eu, o Senhor Deus, falei” (Ez 26.19-21).

As palavras de juízo não poderiam ser mais candentes e contundentes. A referência à morte é terrível. Pior do que ser jogado no fundo do mar é ser jogado na cova, na fossa, no abismo, nas profundezas da terra, no “Hades”, no “Sheol”, no “Gehenna”, no lago de fogo que arde com enxofre (Ap 19.20), na escuridão, no lugar “onde há choro e ranger de dentes” (Mt 8.12), no lado de fora. Nesse imenso mundo dos mortos (Hades), Tiro estaria com “gente que morreu há muito tempo” (26.21), com “os povoadores do passado” (BP), o “povo de outrora”, com “as gerações passadas” (EP), com “os povos que há muito desapareceram” (BH), com uma multidão de pessoas que morreram, mas não sumiram, que certamente tem muito o que conversar. O ambiente não poderia ser mais triste, soturno, lúgubre, fúnebre, sombrio, sinistro e medonho.

A doença terminal, a morte, o cortejo fúnebre, a sepultura e o Hades são uma progressão totalmente oposta à outra progressão: a concepção, a gravidez, o parto, a apresentação da criança (cerimônia religiosa) e o percurso longo ou breve da vida. Antes da concepção nada havia. Contudo, não se pode dizer o mesmo sobre o depois da morte: depois da desintegração do corpo provocada pela morte, a vida continua. Não apenas o cristianismo afirma tranquilamente isso, mas também quase todas as demais religiões, mesmo que haja concepções diferentes entre elas.

Se Deus falou a Tiro: “Agora você está no fundo do mar”, hoje ele pode falar: “Agora você está doente”; “agora você está idoso”; “agora você está desiludido”; “agora você está perdido”; “agora você está no mundo dos mortos”. Antes de afundar com tudo o que tem, o navio deve lançar âncora no porto seguro da salvação em Cristo Jesus.


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