Somos privilegiados, não indispensáveis

Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido? (1 Coríntios 4:7)

Por Héber Negrão em Revista Ultimato

Você já sentiu cheiro de couro curtido ou de uma carcaça de animal? Particularmente esses não são os aromas mais agradáveis pro meu nariz. Mas foram esses instrumentos que Deus escolheu usar para derrotar inimigos poderosos.

Davi tinha uma funda de couro, já queimada por tanto ficar exposta ao sol nas horas de pastoreio. Mas foi com uma funda, imagino que muito fedida, que Davi cumpriu a obra que Deus tinha lhe confiado ao derrotar Golias (1 Sm 17). Sansão usou uma carcaça de um jumento já em decomposição. Pegou a queixada, cheia de carne podre do bicho morto e matou mil (só mil) filisteus (Jz 15). Instrumentos repugnantes usados por Deus.

Nós temos a tendência de achar que somos imprescindíveis. Isso faz parte da nossa necessidade de autoafirmação como seres antropocêntricos que somos, vivendo em uma sociedade antropocêntrica como a nossa.

A mentalidade contemporânea do “tudo posso porque eu me fortaleço” tende a influenciar nossa visão em relação ao Reino de Deus. Acabamos por acreditar que somos imprescindíveis para que a obra de Deus se complete no mundo. Não era essa a visão que Paulo tinha quando disse que Deus guardou os preciosos tesouros do Evangelho em vasos de barro, afinal o vaso quebra (2 Co 4.7). Nem quando ele disse que o sábio Deus usa as coisas loucas do mundo pra envergonhar os entendidos (1 Co 1.27).

Devemos nos alegrar porque Deus deu ao homem a preciosa tarefa de cumprir a Grande Comissão. Ele quis que a mensagem da salvação fosse anunciada por homens para os homens, “coisas essas que anjos anelam perscrutar” (1 Pe 1.12). Recentemente ouvi de um pastor que o ápice do desejo de Deus em usar a humanidade para cumprir sua obra na terra foi o fato de ele ter enviado seu filho em forma de homem.

Quando um Deus soberano e onipotente escolhe usar homens falhos, fracos e fedidos para ver seu Reino expandido na terra é incoerente (beirando a burrice) que esses meros instrumentos de barro se arroguem o direito de serem indispensáveis para que Deus cumpra seus propósitos.

Você tem um “chamado”? Ótimo. Jamais se cale. Anuncie o Evangelho. Mas não fique achando que Deus não pode abrir mão de você. Se recusar a servi-lo você vai perder o privilégio de fazer parte de uma história maior, e Deus vai levantar outra pessoa para tomar o seu lugar.

Somos privilegiados por Deus escolher nos usar. Isso, porém, não nos torna indispensáveis para que sua obra se cumpra.
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Héber Negrão é paraense, tem 30 anos, mestre em Etnomusicologia e casado com Sophia. Ambos são missionários da Missão Evangélica aos Índios do Brasil (MEIB), com sede em Belém, PA.

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