Nova série da HBO, ‘O negócio’ junta a profissão mais antiga do mundo a técnicas de marketing


Por Maecelle Ribeiro em O Globo

Prostitutas que poderiam figurar nas páginas da editoria de economia de um jornal. Assim Luca Paiva Mello, um dos roteiristas da série “O negócio”, que estreia neste domingo, às 21h, na HBO, define as três protagonistas da série: garotas de programa que aprendem técnicas de marketing para alavancar seus lucros no universo do alto luxo paulista.

— A série é sobre três jovens lindas e sofisticadas que resolvem fazer uma revolução do setor da economia em que trabalham, que é de necessidade básica e que não usava o conceito de gestão utilizado em outros setores. A trama reflete o universo do poder e das mulheres como executivas. Elas se posicionam como uma geração empreendedora — diz Mello.


Ao contrário do que a temática promete, o primeiro episódio, com uma hora de duração, tem poucas cenas de sexo. Mostra como Karin (Rafaela Mandelli), uma garota de programa que cobra R$ 300 por hora e está insatisfeita não com a profissão, mas com as estratégias (ou a falta delas) para conseguir clientes, rompe com o seu booker (o popular cafetão) e passa a gerenciar sua carreira sozinha. Conversando com um cliente da amiga e também garota de programa Luna (Juliana Schalch), ela tem a ideia de pesquisar sobre marketing e aplicá-lo à prostituição.

Karin terá duas sócias na empresa que montará: Luna é uma universitária não muito dedicada aos estudos que se prostitui sem o conhecimento da família e procura um pretendente rico para se casar. Magali (Michelle Batista) é de uma família que já teve muito dinheiro, mas faliu, e faz sexo em troca de diárias em hotéis luxuosos e jantares chiques. As três circulam com naturalidade pelo universo de luxo paulistano.

Na fase de composição das personagens, as atrizes mergulharam no universo da sociedade de alto padrão de São Paulo e, curiosamente, não conversaram com prostitutas da vida real. O pedido foi da direção da série, que não queria que elas caíssem em estereótipos. Já os criadores da atração conversaram com garotas de programa de luxo e tiveram a consultoria de profissionais de marketing para desenvolver o roteiro.

— Se queremos representar garotas classe AAA de São Paulo, não valia a pena procurar o estereótipo de garota de programa e frequentar lugares que elas frequentam. As mulheres que representamos são de classe alta, iguais a quaisquer outras. A gente precisava conhecer esse universo, dos hotéis e restaurantes luxuosos. Era muito fácil cair numa coisa de vestido colado e curto, peito na bandeja, no lugar-comum de uma mulher de programa que se vende a qualquer preço — explica Michelle.

Já Juliana conta que foi buscar inspiração no cinema. — Minha referência foi a personagem de Natalie Portman, do filme “Closer — Perto demais”, porque a minha personagem brinca com a identidade dela — disse a atriz, que já interpretou uma prostituta no filme “E aí, comeu?”.

Já no primeiro episódio, Karin, a fundadora da empresa, testa a sua primeira ideia de marketing para levar mais clientes a uma boate frequentada por garotas de programa com uma promoção entre operadores da bolsa de valores, atrelada ao funcionamento do mercado. Nos episódios seguintes, elas vão encomendar uma pesquisa de opinião a uma consultoria para saber o que os homens buscam nas prostitutas e tentar usar as técnicas de venda casada e reposicionamento de marca. Apesar de seus clientes serem muitas vezes maridos infiéis, elas vão tentar criar um programa de fidelização.

— A prostituição é um tema que já foi abordado muitas outras vezes, mas que estamos tratando de forma diferente. Estamos despidas de julgamento nessa série — afirma Rafaela.

“O negócio” tem 13 episódios e foi filmada em mais de 130 lugares de São Paulo. A direção teve como desafio dosar cenas de sexo com as que mostram estratégias usadas pelas personagens.

— As cenas de sexo estão sempre em função da história, não acontecem de forma gratuita — conta o diretor-geral Michel Tikhomiroff.

Desconfiança da elite

No processo de criação das personagens, as atrizes Juliana Schalch e Michelle Batista passaram a olhar de maneira diferente para as mulheres à sua volta e a “desconfiar” delas. Como tinham que retratar prostitutas que circulam com desenvoltura por lugares de alto padrão, muitas vezes despercebidas, as duas passaram a ter um olhar mais atento às pessoas que frequentam restaurantes e hotéis caros de São Paulo, assim como clubes de elite. Juliana e Michelle admitem que ficavam com a pulga atrás da orelha sobre as reais atividades das mulheres desses círculos sociais.

— Eu tenho uma certa ambiência nesse mundo que elas circulam, por causa do clube do qual eu sou sócia, da escola que frequentei, no bairro do Jardins, e de lugares que são familiares. E foi engraçado porque comecei a olhar e pensar: “O que será que essa mulher do lado faz”? — conta Juliana.

Michelle, que interpreta uma jovem que mora em hotéis de São Paulo em troca de sexo, ri quando revela que também desconfiava das hóspedes do local em que ficou durante as filmagens.

— Eu encontrava garotas no elevador e ficava muito curiosa para saber o que elas faziam. Mas depois lembrei que elas deviam pensar a mesma coisa de mim: sai de madrugada, chega maquiada, arrumada (risos) — conta Michelle.

Vice-presidente de produções originais da HBO América Latina, Roberto Rios conta que o pai do roteirista Luca Paiva Mello, um dos criadores de “O negócio”, deu livros de marketing ao filho anos atrás. Ele fala de maneira bem humorada sobre a ideia de fazer uma série ligando esta área à prostituição.

— O pai do Luca achava que ele não ia ser criativo, e que, por isso, tinha que trabalhar numa corporação para ganhar dinheiro de verdade. Anos depois, buscando projetos para a HBO, ele e o Rodrigo (Castilho, roteirista) pensaram em juntar duas coisas que são muito importantes: o mundo dos negócios e o mundo do sexo, que são duas forças motrizes grandes da sociedade. E aí os velhos livros de marketing que o pai deu a ele acabaram dando certo — conta Rios.

Mello, que estudou Engenharia, é o criador de duas séries que concorreram ao Emmy Awards: “Mothern”, sobre maternidade, exibida com sucesso no GNT, e a infanto-juvenil “Julie e os fantasmas”, que foi ao ar pela Band e pelo Nickelodeon.

Além do trio protagonista, também estão no elenco Gabriel Godoy, Guilherme Weber, Pedro Inoue, Johnnas Oliva e João Gabriel Vasconcellos.

Nenhum comentário:

Todos os comentários serão moderados. Comentários com conteúdo fora do assunto ou do contexto, não serão publicados, assim como comentários ofensivos ao autor.

Tecnologia do Blogger.