O peso da cruz



Tomai sobre vós o meu jugo ... e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve (Mateus 11.29-30).

Quando Jesus apresenta seu jugo como suave e seu fardo como leve para nós, não significa que tenha sido para ele. Ao contrário, foi muito pesado, pois o processo de sua crucificação foi fisicamente cruel, emocionalmente humilhante e espiritualmente agonizante em sua pior forma.

O peso físico da cruz começou no Getsêmani quando Jesus suou sangue (Lc 22.39-44), chamada hematidrose, causada por profundo stress, normalmente acompanhada por dores fortíssimas e desidratação.
Logo que foi condenado pelo Sinédrio, Jesus foi esmurrado e levado pelos guardas debaixo de bofetadas até Pilatos (Mc 14.65). Depois de ter sido condenado por Pilatos, fincaram-lhe uma coroa de espinhos e ficaram batendo nela com uma vara (Mc 15.16-20). Foi açoitado com o objetivo de tortura, possivelmente 40 vezes menos uma (Dt 25.3), com um chicote com tiras de couro carregadas com pedaços de chumbo e ossos na ponta, causando feridas profundas em suas costas, como dito pelo salmista: Passaram o arado em minhas costas e fizeram longos sulcos (Sl 129.3 - NVI).

Percorreu o trajeto até o Gólgota a pé carregando a sua própria cruz de aproximadamente 40 quilos por cerca de 800 metros (Jo 19.17). Tão pesada para quem já estava flagelado, foi necessário alguém ajudá-lo a carregar (Mc 15.21; 2 Co 13.4). Ao subirem-no na cruz, não o amarraram, mas o pregaram com cravos nos pés e mãos (Jo 20.25). Ficou suspenso na cruz por seis horas, das 9h até 15h (Mc 15.25-34), quando morreu. Nas palavras de Isaías, Jesus tornou-se homem de dores e que sabe o que é padecer (Is 53.3).

O peso emocional da cruz começou quando foi traído com um beijo de um dos seus discípulos (Mc 14.18, 44-46), negado por outro (Lc 22.61), vítima de um julgamento falso, falho e sumário.
Foi zombado pelos soldados que, vendando seus olhos, provocavam para que ele profetizasse quem o esbofeteava e dirigindo-lhe muitas palavras infames e blasfemas (Lc 22.63-65). Viu e sentiu a raiva e o ódio que moveram as agressões físicas que recebeu. Foi cuspido no rosto, desnudado, ridicularizado pela multidão, provocado pelos guardas (Lc 23.35, 37), provocado por um ladrão crucificado ao lado, chacoteado pelos que passavam (Mc 15.29), escarnecido com uma placa acima da cabeça escrita em aramaico, latim e grego: "Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus" (Jo 19.19-20). Nas palavras de Isaías quando profetizou o sofrimento de Jesus: não escondi a face da zombaria e dos cuspes (Is 50.6b - NVI).

O peso espiritual da cruz, de todos, foi o mais intenso.
Do meio dia até as 15h houve escuridão sobre toda a terra (Mc 15.33). Toda a criação manifesta sua dor junto com o Criador. Era hora do poder das trevas (Lc 22.53). Três dias de escuridão na Páscoa no Egito (Ex 10.21-23) apontam para as três horas de escuridão na Páscoa do Cordeiro de Deus (Jo 1.29). Jesus ficou em silêncio até que chegou ao clímax de seu sofrimento quando clamou agonizado: Eloí, Eloí, lamá sabactâni?; que significa "Meu Deus! meu Deus! Por que me abandonaste?" (Mt 27.46 - NVI)  Durante o período de escuridão Jesus se tornou pecado (2 Co 5.21) e maldição por nós (Gl 3.13), tomando sobre si as nossas dores, sendo traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades, recebendo sobre si a iniquidade de todos nós (Is 53.4-6).

Teve a clara percepção dos efeitos da humanidade decaída e destituída da comunhão com Deus, tornando-se apto, através de sua própria dor, a compadecer-se de nossa realidade (Hb 4.15-16). Não clamou às autoridades, aos religiosos, aos amigos, nem à sua mãe. Clamou ao Todo-Poderoso. Clamou a quem devido. Clamou como filho obediente. Clamou do lugar onde deveria estar. Clamou a palavra de Deus (Sl 22.1). Clamou com esperança (Sl 22.24). Clamou como vitorioso.

Apesar da crueldade física, humilhação emocional e agonia espiritual, Jesus, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, ou seja, não se importando com tudo o que sofreu (Hb 12.2). De fato, cumpriu-se que Jesus verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito (Is 53.11a). Tão satisfeito está que continua nos convidando para tomarmos sobre nós o seu jugo, o seu trabalho, a sua obra, a sua missão. Só assim acharemos descanso para as nossas almas.

Fonte:
Instituto Jetro - Rodolfo Garcia Montosa

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