Como devo enxergar outros que servem ao Senhor de modo diferente de como eu faço?


Qualquer um que já se lamentou sobre divisões na igreja, e sobre o papel que indivíduos desempenham em criá-las e alimentá-las, provavelmente já se fez esta pergunta: “Como eu devo enxergar outros crentes que servem ao Senhor de modo diferente de mim?”. É possível – e bíblico – agradecer a Deus por aquelas igrejas nas quais não sinto confortável participando dos cultos de adoração? Como podemos apreciar igrejas cujos membros veem nosso cristianismo com suspeita? Os crentes de outras tradições são nossos concorrentes ou companheiros?

Nós não somos as primeiras pessoas a perguntar essas questões.

Quando estava na prisão por pregar o evangelho, o apóstolo Paulo foi confrontado com essa mesma questão. Aqui está como ele descreveu o problema e sua resposta:

É verdade que alguns pregam Cristo por inveja e rivalidade, […] por ambição egoísta, sem sinceridade, pensando que me podem causar sofrimento enquanto estou preso. Mas que importa? O importante é que de qualquer forma, seja por motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está sendo pregado, e por isso me alegro. De fato, continuarei a alegrar-me (Filipenses 1.15-18, (NVI)).

O que Paulo está dizendo aos filipenses e a nós?

Não se alegre no falso ensino

Paulo não está escrevendo sobre aqueles que pregam outro evangelho. Sobre os falsos mestres, Paulo escreveu aos filipenses, “Cuidado com os ‘cães’, cuidado com esses que praticam o mal, cuidado com a falsa circuncisão!” (Filipenses 3.2), aqueles que pregam um evangelho das obras de Cristo somadas às nossas. “Se alguém anuncia a vocês um evangelho diferente daquele que já receberam, que seja amaldiçoado!” (Gálatas 1.9).

Os crentes não podem se alegrar quando Testemunhas de Jeová sinceras pregam uma versão de Cristo que é criado no tempo, de uma essência distinta do Pai, e que não é capaz de “salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, se aproximam de Deus” (Hebreus 7.25). Os crentes não podem se alegrar quando universalistas unitarianos dizem coisas boas e simpáticas sobre um Jesus que veio não para morrer sob a pena divina pelos pecados dos filhos de Deus, mas como um exemplo de ativismo social.

Os oponentes de Paulo não eram hereges, mas apenas cristãos em desacordo, míopes, invejosos, ambiciosos, não caridosos, e que machucam. Eles ensinavam acuradamente as boas novas do reino, mas apenas como um meio para propagar sua visão autocentrada do reino.

Alegre-se mesmo quando pessoas pregam Cristo de forma insincera

Os crentes são livres para se alegrar em ministérios fingidos porque a obra de Deus não está presa aos motivos do pregador mas à Sua mensagem. Como Calvino comenta, “Nós devemos reconhecer a bondade de Deus, que […] algumas vezes realiza uma obra admirável por meio de instrumentos maus e depravados.”

Há vários anos um colega de ministério pastoral caiu no pecado do adultério gravemente. Ele feriu muitas pessoas e responderá a Deus por seu abuso da ovelha. A ironia divina é como a igreja cresceu sob seu ministério. Pessoas foram salvas. Elas se tornaram mais parecidas com Jesus – mesmo enquanto o ministro estava tragicamente vivendo uma mentira. Similarmente, muitos dos meus colegas foram treinados por um professor que estava secretamente vivendo uma vida dupla. Não há desculpa para seu comportamento. Mas de maneira impressionante, seus estudantes são ministros melhores por causa do que ele ensinou.

Paulo poderia perdoar e até se alegrar por ministros embaraçados porque Deus pode conduzir pecadores a Ele mesmo por meio de pregadores insinceros. Paulo ansiava acima de tudo ver pecadores salvos e Cristo exaltado.

Evite o sectarismo

O sectarismo, do tipo que Paulo enfrentou na prisão, é uma atitude que prioriza nosso grupo ao invés do reino de Deus, frequentemente às custas da reputação dos outros. Os pregadores fingidos que Paulo mencionou podem ter amado Jesus mas não amaram Paulo. Eles queriam separar-se do apóstolo que estava em adversidade, aprisionado. Mas o partidarismo se opõe à oração de Cristo pela unidade dentro da igreja (João 17), ele estraga nossa alegria na obra do Espírito além das fronteiras da nossa tradição, e mina nossa experiência da comunhão dos santos.

Quando crianças crescem em igrejas que criticam outras expressões do cristianismo, é provável que elas frequentemente achem que aqueles sendo criticados eram “bichos-papões”; essa prática pode abalar a confiança delas na igreja. Nós devemos querer nossas crianças imersas no nosso melhor entendimento do cristianismo E ensinadas a serem generosas para com aqueles que diferem desse entendimento.

Paulo está, ao mesmo tempo, ensinando-nos a alegramo-nos com cristãos não caridosos e a evitarmos suas falhas.

Oriente sua identidade em torno de Cristo

Nós somos tentados sempre a encontrar nossa identidade em nossas formalidades, rituais, e posições, e não em Cristo. Ficamos alegres, como Paulo, toda vez que Cristo é pregado verdadeiramente? Ou a pregação de Cristo é secundária para nossa alegria? O que faz os cultos valerem a pena? Para Paulo, era nada mais nada menos que todos, crentes, e não crentes, pudessem ouvir do próprio Deus que Jesus sacrificou seu conforto e rotina pela nossa salvação. Conforme Maria, nós precisamos priorizar a única coisa necessária (Lucas 10.42), que Cristo viveu, morreu, e vive novamente em favor dos pecadores.

Orientar nossa identidade em torno de Cristo nos ajudará também a lidar pacientemente com ofensas pessoais. Recentemente eu ouvi um homem falar em seu leito de morte sobre todas as igrejas que ele deixou porque pessoas o ofenderam. E ele estava orgulhoso disso! Paulo tinha sentimentos como os nossos. Ele foi ferido pelos ataques de cristãos inconsequentes. Mas, em Cristo, Paulo pôde alegrar-se e perseverar com aqueles que procuravam “acrescentar aflição” (Filipenses 1.17, ARC) às suas cadeias.

O que poderia acontecer se nós colocássemos a honra de Cristo à frente de nossos sentimentos feridos, conforto, e preferências? Junto com Paulo, nós poderíamos experimentar alegria. Mas também poderíamos ver o reino vir mais poderosamente do que nunca.


Fonte:
CCC Discover - William Boekesteinvia Palavra Prudente
Tradução: Lucas Vasconcelos Pinto. Original aqui.

William Boekestein é o pastor da Imannuel Fellowship Church, em Kalamazzo, Michigan. Ele tem escritos muitos livros e numerosos artigos. Ele e sua esposa, Amy, têm quatro filhos.

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