Carisma e Caráter na Família

Isaque já estava bem velho e havia ficado cego. Um dia ele chamou Esaú, o seu filho mais velho, e disse: Meu filho! Estou aqui pai, respondeu ele. O pai lhe disse: Você está vendo que estou velho e um dia desses vou morrer. Pegue o seu arco e as suas flechas, vá até o campo e cace um animal, (Gn 27:1-4)

Em fevereiro de 2001, grande parte da população brasileira fixava seus olhares para o horário nobre da Rede Globo a fim de acompanhar a novela Laços de Família, um grande sucesso destes últimos tempos da emissora. Segundo o IBOPE, mais de 32 milhões de brasileiros assistiram-na todos os dias [inclusive crentes]. O famoso capítulo em que Camila teve seu cabelo raspado alcançou 79% dos televisores ligados no país inteiro. A trama, que tinha como grande novidade (além de outras aberrações morais) a criação de Capitu, a primeira “prostituta de família” da história das novelas brasileiras, segundo a Revista Veja (numero 1682).

Quando o assunto é família, nunca é demais afirmar que não existe a família perfeita. Porém, as famílias apresentadas em Laços de Família eram imperfeitas demais do ponto de vista do caráter cristão. A fraqueza no “caráter” pode destruir os nossos laços familiares transformando-nos numa Família Problema. Foi assim com a família do patriarca Isaque (Gn 27:1 – 28:9).

A honestidade da Bíblia é impressionante! Em momento algum a Palavra de Deus pretende nos mostrar os grandes homens e mulheres do passado como impecáveis ou infalíveis. Ao contrário, ela, (Bíblia), os apresenta como eles são! Tanto Isaque como Rebeca tinham experiências com os “carismas” de Deus. Isaque era uma pessoa extremamente carismática, pois, tanto o seu nascimento (Gn 18:1-10) quanto o seu casamento (Gn 24:1-67) foram resultados de uma experiência carismática, com presença de anjo e tudo. De “carisma”, ele e sua esposa entendiam, mas de “caráter”... Bom, de “caráter” é o que vamos ver a seguir.

I – CARISMA SEM CARÁTER = FAMILIA PROBLEMA.

Quando há muito “carisma”, mas pouco “caráter”, surgem atitudes que causam problemas para a família a ponto de transformá-la numa família-problema. Observemos algumas dessas atitudes-problemas:

Atitude-Problema 1: Ao lermos Gn 27:1-5, ficamos sabendo que na Família de Isaque e Rebeca havia preferência por filhos. O pai gostava mais de Esaú, porque era o mais velho e tinha hábitos que o agradavam. Esaú era caçador. O queridinho do papai! E rebeca, a mãe, gostava mais de Jacó, porque seu nascimento havia sido difícil e ele tinha hábitos que a agradavam. Jacó gostava de ajudá-la na cozinha (Gn 25:24-28). Tornou-se o queridinho da mamãe! Com tanta predileção, ficou fácil o aparecimento do ciúme doentio que não perdoou nem os laços de família seguintes. Bem lá na frente, um dos fiulhos de Jacó, José, por exemplo, foi maltratado pelos próprios irmãos que não o suportavam, pois era o protegido do pai (Gn 37:3-4), ou seja, a família tem a benção de Deus (carismas), mas a falta de atitudes corretas (caráter) produz problemas sérios no lar.

Atitude-Problema 2: Isaque estava idoso, já não enxergava direito e não podia mais trabalhar.Estava prestes a morrer, mas ainda era rico. Esaú estava de olho na herança; Jacó também, e sua mãe era sua aliada nessa causa. O velho pai fez uma troca com Esaú: Pediu uma deliciosa porção de carne para poder abençoá-lo (Gn 27:4). Veja que coisa: as relações eram de troca! Esaú “bajulava” o pai, na esperança de ficar com a melhor parte. Jacó se apoiava na mãe com a mesma intenção. O curioso de tudo é que, na adolescência, Esaú tinha, também, trocado ou negociado com Jacó essa mesma benção da primogenitura (Gn 25:29-34). Ele “se esqueceu” do acordo, feito sob juramento. Após tudo isso, sobrou vingança familiar: “odiava a Jacó por causa da benção... e disse consigo: ... hei de matar a Jacó, meu irmão”, ou seja, os dois filhos buscavam bênçãos (carismas), mas as relações baseadas em trocas (caráter fraco) estavam produzindo ira e vingança no lar.

Atitude-Problema 3: Rebeca estava do lado de Jacó e achava que ele merecia a benção do pai, pois Esaú lhe vendera o direito. Como viu que a causa estava perdida, armou um esquema baseado na mentira, no engano. Jacó aceitou a proposta da astuciosa mãe (Gn 27:11-17). A cultura da mentira e da trapaça foi colocada em prática e Jacó foi abençoado. Ele ganhou a benção (carisma) trapaceando (Gn 27:27-30). A relação familiar fora sendo construída sobre o principio da mentira, até se tornar um hábito comum no histórico patriarcal (Gn 12.11-20, Gn 20:1-14, Gn 26:6-11). Deus reprovou todas essas atitudes.
 Em nossos dias há muitas pessoas fazendo de tudo para obter bênçãos espirituais: mentindo, falsificando e forjando espiritualidade. Deus está atento a esse tipo de gente e agirá na hora certa.
Atitude-Problema 4: Quando se viu apertado, Jacó usou, desonestamente, o nome de Deus para explicar a sua “habilidade” e rapidez para encontrar alimento para o seu pai, dizendo: “Porque o Senhor, teu Deus, a mandou ao meu encontro” (Gn 27:20). Ele envolve Deus em sua mentira, expressando “teu Deus”. Em outras palavras, Jacó está dizendo: “Olha papai, o teu Deus ajudou-me na desonestidade, na malandragem”. Que absurdo! Imagine Jacó orando: “Senhor, Deus de meu pai, ajuda-me a enganá-lo. Mande-me uma caça, por favor!”

Que conceito esquisito sobre Deus! Mais tarde, Jacó se encontrou cara a cara com Deus e não pôde adotar o artifício da falsidade parta levar vantagem e nem usar o Seu nome desnecessariamente. Depois, de enganador passou a ser enganado por muita gente, até pelos próprios filhos, que também se tornaram especialistas em enganosinhos (Gn 37:12-35). Isso mostra que o uso dos “carismas” sem o “caráter” produz uma família problema.

II – CARISMA COM CARÁTER = FAMÍLIA SOLUÇÃO

Para cada atitude-problema levantada anteriormente apresento agora, uma atitude-solução, que deve ser desejada e praticada por aquela família que almeja equilibrar “carisma” e “caráter”.

Atitude-Solução 1: Uma família que deseja ter uma fé equilibrada entre “carisma” e “caráter” deve ser consciente de que o afeto nas relações familiares deve ser distribuído de forma justa, sem privilegiar ninguém, porque “o amor não se alegra com a injustiça” (II Co 13:6). Sem predileção dos pais por um determinado filho, não se instala entre os outros irmãos a perigosa e danosa estratégia da rivalidade e da hostilidade. Mas, com predileção, a situação se complica. Assim, em um espaço em que não é preciso “brigar” pelo afeto, pelo abraço, pelo beijo, pelo colo, pela atenção dos pais, os relacionamentos presentes e futuros da família não são comprometidos; e a amargura, o desgosto, a irritação, a aspereza não são passados de geração a geração, de família a família, como aconteceu na família dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó. Enfim, o que cada filho pensará e sentirá acerca de si mesmo será positivo e abençoado.

Atitude –Solução 2: Uma família que deseja equilibrar “carisma” e “caráter” na prática de sua fé não tem relações pessoais sustentadas na troca. As relações não podem ser na base do que se pode ganhar ou lucrar. Os ganhos e lucros são conseqüências do amor verdadeiro, que é gracioso, generoso e desprendido de tudo. A fé baseada no “carisma” e no “caráter” não busca satisfazer as próprias pretensões, porque compreende que o amor não pode ser negociado nem barganhado. Mas, conhece e vivencia a teologia da afetividade de I Corintios 13:15: “o amor... não procura os seus interesses” e de Romanos 13:10: “O amor não pratica o mal contra o próximo”. O negócio é fazer tudo com base na verdade.

Atitude-Solução 3: Uma família que deseja equilibrar “carisma” e “caráter” não aceita naturalmente o espírito da mentira em seus relacionamentos. Até mesmo porque os resultados da mentira são aparentes (a pessoa pensa que deu certo); porém, o preço que irá pagar lá na frente será alto demais. É como diz o provérbio bíblico: “A comida que se consegue desonestamente pode ser muito gostosa, mas depois será como areia na boca” (Pv 20:17 BLH). A familia deve banir do lar as atitudes mentirosas.

Atitude-Solução 4: Enfim, uma família que deseja equilibrar “carisma” e “caráter” luta para ter um conceito teológico correto acerca da ética de Deus, pois o Senhor exige integridade e honestidade em todas as dimensões da vida: no trabalho, na escola, na família, no namoro, nas amizades. Todos somos conscientes de que o ambiente familiar desempenha um papel fundamental na formação do nosso caráter, funcionando como a primeira escola onde aprendemos lições que irão nos acompanhar para sempre. Paulo afirma isso, ao falar da família de Timóteo: “trazendo à memória a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti” (II Tm 1:15). A família deve estar consciente de que Deus não apóia as atitudes erradas, mas de que, nos quer ajudar (com seus carismas) a termos atitudes corretas (caráter).

Concluindo

Segundo o que vimos, podemos concluir, ao contrário de Laços de Família, da rede Globo (em que quase todas as personagens apresentavam atitudes imorais, do ponto de vista cristão, e terminaram a trama felizes), os laços de família dos patriarcas foi diferentes: tudo acabou em um final extremamente infeliz. Rebeca, por exemplo, perdeu a companhia de seus filhos por vinte anos. Mas sua maior dor foi ser deixada sozinha com um marido cego e frustrado com as mentiras da esposa e do filho. Embora seja possível que ela ainda estivesse viva quando Jacó finalmente retornou para Canaã (Gn 35:8, 27-29), a Bíblia silencia a respeito dela. Fica-nos um alerta: Não há relacionamento familiar tão difícil e ruim que não possa ser revisto e mudado. Também não há relacionamento familiar que vá tão bem que não precise melhorar ainda mais.

Que Deus nos ajude a desenvolver, equilibradamente, o “carisma” e o “caráter” em nosso laços de família.

Que Deus nos abençoe!


Fonte: Texto de autoria do Pastor Genilson Soares reproduzido e adaptado para a série Carisma e Caráter no blog PCamaral

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