A ‘Geração T’ e seus estranhos valores


Vivenciamos uma geração extremamente teórica, sem muita prática e/ou real interesse pela mesma. Acredito que a atual inversão de valores, em que o parecer é decididamente mais importante do que “Ser“, em todos os possíveis sentidos, acaba por nos criar a estranha mania de apenas testemunhar e relatar o que nos cerca. E isso se transforma em uma deplorável dificuldade quando é necessário agir.

Uma das melhores ilustrações, que traduz muito bem nossa conflitante conduta neste mundão paralelo (Redes Sociais), onde criticamos tudo e todos através de um monitor que nos nutri com a falsa sensação de ‘missão cumprida’ foi a tirinha acima, produzida pelo talentoso André Dahmer, ‘O Poço Dos Desejos’

Diante deste cenário, sou obrigado a concordar com uma afirmação que Rafael Hoscman – a.k.a. Rafinha Bastos, fez questão de compartilhar em algumas de suas timelines:

É impossível diagnosticar esquizofrenia em tempos de redes sociais.


Considero e aceito a colocação acima porque, sem nenhuma dificuldade, percebo que estamos construindo uma sociedade cada vez mais individualista. Com estéticas que se esbarram e egos que se confrontam. A ‘Geração T‘, que é viciada em só Testemunhar e/ou, no máximo, relatar, tem medo de viver. Essa geração se acostumou com o breve conforto do ensaio. Esse tipo de conduta evidencia uma falha nesta nossa suposta evolução. Pensamos demais e sentimos de maneira escassa e superficial.


Não é difícil, então, diagnosticar esta “incrível” esquizofrenia que sofremos ao nos depararmos com a clara cisão de que existe entre estas duas realidades paralelas (on-line/offline). Desta forma, acabamos por assumir diversos ‘papéis’, afinal, a dimensão de cada uma delas é absolutamente diferente da outra. Como ainda não descobrimos como fazer melhor uso desta tecnologia, o que se confirma, em ambas vivências, é a cristalização da questão visual do ‘parecer’. Porém, em uma conversa “física” e pessoal, onde olhares são trocados e gestos podem não apenas serem vistos, mas também interpretados, muitos já não conseguiriam sustentar o avatar virtual para manter o encontro na esfera real.

The human being is becoming increasingly more being than human.

Porque no mundo virtual, o parecer supera, de forma drástica, a função do Ser. Afinal, nada ali existe de fato. Tudo reduz-se ao mero visual, e isto inclui desde as relações pessoais até as mais diferentes formas de se propagar uma falsa ideia do que você é. O que mais me intriga é que “se você não muda a si mesmo quando lê alguma coisa, como espera que outra pessoa vá mudar lendo você?“. Mais observamos do que interagimos com os outros, e isto torna todos os relacionamentos solitários, totalmente individualizados. Apesar de, aparentemente, existir o ‘diálogo’, as formas de interagir e se expressar podem ser quantificadas em likes, shares, comments e retuites. Como conseguimos mensurar – de fato – a qualidade desta troca virtual? Monitorar/acompanhar a vida dos outros não é, nem de longe, a mesma coisa do que compor a experiência exposta.

Uma maneira muito fácil de diagnosticar alguns sintomas desta possível esquizofrenia é observar a diferença entre o usuário e sua imagem virtual com a do Ser – em si. Sim, eu me referi à mesma pessoa, só que em ambientes diferentes: on-line e offline. Na realidade virtual é muito fácil parecer e mostrar para os outros aquilo que você é ou gostaria de ser. Mas no mundo real, o ‘Ser’ é e, sempre será, totalmente insubstituível. Parafraseando o rapper Criolo:

“As pessoas não são más, elas só estão perdidas. Ainda há tempo.”

Um vídeo que me provocou vontade para escrever este artigo foi este incrível trecho de ‘O Grande Ditador’, de Charlie Chaplin. É válido lembrar que o longa tem mais de 60 anos e, mesmo assim, seu discurso é totalmente condizente com a nossa moderna e, quem sabe, triste ‘realidade de 2012‘. Vale o play:


(…) Nosso conhecimento nos fez críticos, nossa sabedoria, duros e rudes. Nós pensamos muito e sentimos pouco. Mais que maquinário, nós precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de bondade e ternura. Sem essas qualidades, a vida será violenta e tudo estará perdido. (…)

No fim das contas, o retrato desta nossa atual realidade só deixa evidente o fato de que não nos falta amor mas nos falta saber amar. Ou a capacidade de.

Nota: Viver uma vida, falar, emitir comentários ou opiniões, protegido por um “avatar” é bem cômodo e prático, mas, ao mesmo tempo, perigoso. O perigo está na falsa impressão de que estamos rodeados de centenas ou milhares de “amigos”, então, quando desligamos nossa máquina de relacionamentos percebemos que nada pode substituir a comunhão, o contato físico, o olho no olho, a conversa casual. Mesmo que neguemos que não agimos como da forma descrita no texto, e quero lembrar que é uma realidade preocupante, nossa atitude, se não cuidarmos, nos levará a nos tornar dependentes dessas redes sociais e, por conseqüência, mais distantes e solitários.


Fonte:
Comunicadores

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