Judas um homem avarento - "Série Homens e Mulheres da Bíblia"

Figura de Judas

“Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava”. (Jo 12:6)

No mês de abril, mais precisamente, em um sábado chamado de sábado de aleluia, em muitas cidades do interior do Brasil, onde o espírito de coletividade e os espaços de convivência são, ainda, preservados, inúmeras pessoas irão malhar o Judas, na prática de um costume popular trazido para a América Latina pelos colonizadores portugueses e espanhóis.

O artigo de hoje trata de Judas. Assim como os artigos anteriores, sobre “Homens e Mulheres da Bíblia”, este também esta dividido em duas partes. Na primeira, “o que diz a Bíblia sobre Judas”, vamos ver o que os evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João escreveram sobre Judas. Na segunda parte, “as lições da vida de Judas”, veremos o que podemos aprender com o fracasso desse homem. Vamos, então, à primeira parte.

I – O que a Bíblia diz sobre Judas:

Judas, um dos homens mais repudiados e mais detestados da história, não seria o traidor que vendera Jesus a seus inimigos por algumas moedas de prata, mas o discípulo obediente e prestativo. De acordo com o manuscrito do fraudulento “Evangelho de Judas” – provavelmente, produzido no Egito, por volta do quarto século depois de Cristo, descoberto em 1970, com existência anunciada em 2004 e tradução concluída em 2006 –, quando Judas entregou Jesus às autoridades judaicas, estaria fazendo o que seu mestre pedira. Desse modo, Judas não seria um vilão e um traidor, mas, sim, um herói, que ajudou Jesus a cumprir a sua missão. Mas como evangelhos autênticos de Mateus, Marcos, Lucas e João descrevem Judas? Vejamos.

1) Judas no evangelho de Mateus:

Mateus narra que, dentre os capacitados e comissionados pelo Senhor, para serem enviados, prioritariamente, às ovelhas perdidas da casa de Israel, com a missão de anunciar, gratuitamente, o reino dos céus, estava Judas Iscariotes, que foi quem o traiu (Mt 10:4). Judas era um dos nomes mais belos da Bíblia. Vem de Judá, que significa louvado (no hebraico, yehudhâ). É daqui que vem a palavra judeu, que quer dizer: aquele que louva. O seu bom nome, porém, em nada o ajudou. Seu nome indicava o louvor, mas sua vida é lembrada pela traição. Quanto ao significado do sobrenome “Iscariotes”, inúmeras explicações são apresentadas pelos estudiosos, mas, de acordo com Gardner, a mais antiga e mais aceita, porém, é “homem de Queriote”, que pode ser uma cidade de Moabe (Jr 48 :24) ou da Judéia (Js 15 :25). Se este for o caso, Judas seria o único dos doze sem origem galiléia.

Outra alusão a Judas é feita por Mateus, no capítulo 26, versículos 14 -16 . Neste trecho, ele aparece negociando o preço da traição de Jesus com os principais sacerdotes. Dos quatro evangelistas, apenas Mateus indica o valor da traição, trinta moedas de prata. Não há como saber qual seria o valor dessas moedas, hoje. Na época do Antigo Testamento, se um boi de alguém chifrasse e matasse um escravo ou uma escrava, o proprietário do escravo receberia, como indenização, trinta moedas de prata (Êx 21:32).

No tempo do Novo Testamento, este era o valor pago a alguém que trabalhasse quatro meses. Judas vendeu o Mestre muito abaixo do preço de um escravo. Mateus faz menção a Judas, novamente, no capítulo 27, versículos 3-10. Tão logo Judas notou que Jesus seria mesmo morto, sentiu profundo remorso (Mt 27:3b), que, no grego, é metamellomai. Esta não é a palavra costumeira para indicar arrependimento para a salvação. Ela apenas expressa o desejo de que algo fosse desfeito. Judas tentou reparar a injustiça cometida:

"devolveu as trinta moedas de prata aos principais sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo sangue inocente" (Mt 27:3b-4a).

Os sacerdotes, todavia, não se sensibilizaram nem com a sua confissão do pecado, nem com a sua devolução do dinheiro. Eles simplesmente disseram:

"O que é que nós temos com isso? O problema é seu" (Mt 27:4b).

Diante disso, Judas, irado, atirou (Mt 27:5) – o verbo grego rhipto indica um gesto irado – as moedas da traição dentro do templo e partiu para se matar.

2) Judas no evangelho de Marcos:

O evangelho de Marcos, o mais breve, mais simples e mais antigo dos quatro evangelhos, afirma que Jesus chamou os que ele mesmo quis e vieram para junto dele. As razões do chamado são também explicadas. Em primeiro lugar, Jesus os chamou para “partilharem da presença”: para estarem com ele (Mc 3:14 a). Em segundo lugar, Jesus os nomeou para “partilharem do seu ministério”: para os enviar a pregar (Mc 3:14 b). A relação dos chamados desponta na seqüência. Judas é o último nome da lista, seguido da expressão que traiu Jesus (Mc 3:16 -19 ).

Nota-se que Judas teve a mesma oportunidade, a mesma proximidade e o mesmo treinamento que os demais. Assim como os demais, ele partilhou, também, da presença e do ministério de Jesus, que jamais o rejeitou e nunca o depreciou. Marcos volta a fazer menção de Judas, quando trata das cenas finais da vida de Jesus; mostra as várias reações do Senhor. Em primeiro lugar, aponta que as autoridades judaicas estudavam uma maneira de prender e matar Jesus, sem provocar tumultos e revoltas, pois a cidade estava repleta de peregrinos para as festividades (Mc 14 :1-2). Um dos doze discípulos procurou-os para entregar-lhes Jesus (Mc 14 :10). Por esta, eles não esperavam!

Naturalmente, eles, ouvindo-o, alegraram-se e lhe prometeram dinheiro (Mc 14 :11 a). Alegraram-se, não com a justiça e a verdade, mas com a injustiça e a mentira. A partir disso, Judas buscava, continuamente, um momento adequado para o entregar (Mc 14 :11 b). Ao cair da tarde, ao redor da mesa da páscoa, Jesus alertou aos doze: Em verdade vos digo que um dentre vós, o que come comigo, me trairá (Mc 14:18). Ele já havia dito que seria traído (9:31, 10:33), mas, agora, declarava, especificamente, que seria traído, não por um desconhecido, mas por um companheiro: é um dos doze, o que mete comigo a mão no prato (Mc 14:20). Por fim, Jesus ainda advertiu: ai daquele por intermédio de quem o Filho do Homem está sendo traído! Melhor lhe fora não haver nascido! (Mc 14:21). O que o Senhor disse, porém, não produziu em Judas nenhum tipo de quebrantamento e nenhum tipo de arrependimento. Ele levou o seu plano de traição avante (Mc 14:43-46).

3) Judas no evangelho de Lucas:

A primeira aparição de Judas, no evangelho de Lucas, ocorre no capítulo seis. Ali, temos o relato da escolha dos doze discípulos. Assim como por Mateus e Marcos, Judas é também o último a ser alistado por Lucas, que, igualmente, acrescenta ao nome do discípulo a expressão: que se tornou traidor (Lc 6:16). A narrativa que Lucas faz do chamado dos doze, porém, difere num aspecto: ele registra que, antes de escolher os discípulos, Jesus retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus (Lc 6:16). O fato de Jesus passar uma noite inteira em oração é extremamente relevante, pois “acentua a importância da direção de Deus na seleção dos Doze”.

A partir de que momento Judas procurou as autoridades judaicas para negociar a entrega de Jesus? Lucas registra que isso ocorreu após Satanás ter entrado nesse discípulo. Mateus e Marcos não mencionam essa influência satânica. Além disso, Lucas relata, de maneira diferente, a referência indireta que Jesus fez a Judas, durante a Última Ceia (Lc 22:21-23). A sua narrativa sobre a traição também é mais resumida (Lc 22:47 -48 ). Outra questão que chama à atenção, nos escritos de Lucas, é o seu modo de abordar a morte de Judas. Ele diz que este, precipitando-se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram (At 1:18 b).

Este relato da morte de Judas diferencia-se um pouco do de Mateus (27:3-9), mas ambos não se contradizem; antes, se complementam

Postos lado a lado, relatam o fim trágico de uma vida que tinha grande potencial. Possuído de remorso, Judas enforcou-se. Seu corpo ficou pendurado, rejeitado, até que, finalmente, a corda se rompeu ou ele se decompôs. Quando o seu corpo caiu, o seu abdômen arrebentou-se no solo rochoso do campo do oleiro. Um campo de barro era adquirido por um oleiro fabricante de vasos, que retirava o barro do campo para fazer os vasos. Quando um oleiro abandonava um campo, ele ficava basicamente inútil.


4) Judas no evangelho de João:

Dos quatro evangelhos, o de João é o que mais revela e destaca o caráter negativo de Judas. Em Jo 6:70, Jesus faz uma pergunta e uma declaração: Não vos escolhi eu em número de doze? Contudo, um de vós é diabo. Este último termo é de origem grega e significa acusador, difamador, caluniador. Jesus estava se referindo a Judas ( Jo 6:64 ,71 ). Outra descrição negativa do caráter Judas é encontrada na narrativa da unção de Jesus, feita por Maria ( Jo 12:1-8), quando ele contestou o ato desta mulher, observando que o perfume poderia ser vendido pelo equivalente ao salário de um ano de um trabalhador típico e dado aos pobres ( Jo 12:4). João se apressou em explicar a razão de Judas ter reagido daquela maneira: Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava ( Jo 12:6).

João mostra que Jesus, logo depois de praticar e ordenar a cerimônia da humildade, passa a falar do traidor, de modo cada vez mais claro (Jo 13:2,10,18). Ao ser perguntado sobre quem o haveria de trair, Cristo o indicou: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tomou, pois, um pedaço de pão e, tendo-o molhado, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes (Jo 13:26). João prossegue a narrativa, dizendo que, assim que Judas recebeu o pedaço de pão, Satanás entrou nele (Jo 13:27a). Diante disso, Jesus lhe disse: O que pretendes fazer, faze-o depressa (Jo 13:27b). E foi o queJudas fez: tendo recebido o bocado, saiu logo. E era noite (Jo 13:30). Ao concluir sua oração, Cristo foi com os onze para um jardim, lugar muito conhecido pelos discípulos. Para levar adiante o seu plano de traição, João relata que tendo, pois, Judas recebido a escolta e, dos principais sacerdotes e dos fariseus, alguns guardas, chegou a este lugar com lanternas, tochas e armas. A seguir, João, diferentemente de Mateus, Marcos e Lucas, enfatiza a firmeza e a prontidão de Jesus em ser levado, que tornou inútil a traição de Judas ( Jo 18 :3). Sendo assim, Jesus não foi preso por aqueles soldados e policiais treinados em perseguir e aprisionar criminosos perigosos, mas se identificou e se entregou, para que o prendessem e o manietassem ( Jo 18 :12).

Judas vinha se conduzindo bem. Seu porte era firme. Ele não tinha o que esconder, nem o de que se envergonhar. Graças ao poder de Jesus, expelia demônios, sarava enfermos, realizava milagres, pregava o evangelho. Mas, pouco a pouco, foi se tornando horrível e perigoso. Tudo ocorreu por causa de um descuido de sua parte. Por causa de uma vontade não sufocada, de uma desobediência seguida de outra, também seguida de outra desobediência. Judas abriu as comportas da carne, o seu inimigo do lado de dentro, que abriu portas para os seus inimigos do lado de fora, o mundo e o diabo.

O mal, então, foi se agravando, sendo que Judas foi descendo cada vez mais, foi acumulando pecado, foi se distanciando demais de Jesus. Ele escolheu andar na teimosia do seu coração, apesar de Jesus o ter advertido várias vezes. Judas não pôs um basta à sua loucura, à sua rebeldia, à sua volúpia. Apesar das muitas loucuras, das muitas fraquezas, das muitas tentações, das muitas maldades, dos muitos perigos, das muitas oposições, os outros onze sobreviveram espiritualmente. O mesmo, porém, não se pode dizer de Judas. Ele foi engolido por um fracasso sem retorno e sem salvação. Enfim, Judas perdeu Jesus para sempre.


II – Lições da vida de Judas:

1. Não pode haver sobrevivência espiritual, se não houver vitória sobre os impulsos da carne.

Porque não venceu os impulsos da carne, Judas não sobreviveu espiritualmente! Ele não quis dizer não aos desejos inferiores e interiores que procedem do coração e contaminam a pessoa, sua conduta e o seu caráter (Mc 7:20-23). Se você não quer acabar como Judas, viva o tempo todo em “atitude de atenção” e em “atitude de oração”, pois, como disse Jesus, o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26:41 ). Estar em “atitude de atenção” é vigiar, estar de sobreaviso, estar alerta, estar prevenido. Estar em “atitude de oração” é abrir o coração diante de Deus para suplicar sua presença, sua intervenção, sua graça, sua força. Ambas atitudes são recursos necessários e extraordinários para a obtenção da vitória sobre os impulsos carnais.

2. Não pode haver sobrevivência espiritual, se não houver vitória sobre as atuações do diabo.

Porque não venceu as atuações do diabo, Judas não sobreviveu espiritualmente! Os evangelhos de Mateus e Marcos mostram, de modo muito claro, Jesus dando poder a Judas para expelir e expulsar espíritos malignos. Ele não tinha somente o poder de Jesus, mas tinha também o Jesus do poder, o vencedor de tentações satânicas. Mas Judas não utilizou o poder de Jesus, nem procurou o Jesus do poder para superar as perigosas artimanhas e as insistentes insinuações satânicas. Por esta razão, Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, que era um dos doze discípulos (Lc 22:3), pondo na cabeça dele a idéia de trair Jesus ( Jo 13:2 – NTLH). Nós, porém, não precisamos reagir como Judas, diante do tentador ( Jo 13:27). Pela fé no poder de Jesus (I Pe 5:9; Tg 4:7), que reina acima de todo poder de natureza humana ou espiritual, podemos resistir, com firmeza (Ef 6:10-18 ), à pessoa e à atuação de Satanás.

3. Não pode haver sobrevivência espiritual, se não houver vitória sobre os valores do mundo.

Porque não venceu as valores do mundo, Judas não sobreviveu espiritualmente. O mundo onde Judas nasceu viveu e morreu era habitado por líderes religiosos avarentos (Lc 16 :14 ; Mt 23:14 ). Essa cultura religiosa mundana seduziu-o a tal ponto que ele se tornou ladrão e traidor. Se queremos sobreviver espiritualmente, ouçamos o alerta do Senhor Jesus: cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui. Esta advertência é encontra, freqüentemente, nas Escrituras Sagradas (Mc 7:22; Rm 1:29; I Co 5:10-11 , 6:9-11 ; Ef 5:3,5; Cl 3:5; I Tt 6:10; II Pe 2:14 ). Não olhe para o valores e as glórias deste mundo, pois passam se perdem. Olhe para o reino de Deus, cuja gloria é eterna! Siga o conselho da palavra de Deus, que diz:

Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei (Hb 13:5).

Conclusão:

A Bíblia lembra que, quando Jesus subiu às alturas, levou cativo o cativeiro (Ef 4:4). Se ele levou cativo o cativeiro, você está verdadeiramente livre. Sendo assim, você não é obrigado a andar segundo o curso deste mundo, segundo as inclinações naturais da carne e segundo o príncipe da potestade do ar. Em obediência à vontade do nosso Deus e Pai, Cristo se entregou para ser morto a fim (...) de nos livrar deste mundo mau (Gl 1:4 – NTLH).

Sabemos que a nossa velha natureza pecadora já foi morta com Cristo na cruz a fim de que o nosso eu pecador fosse morto, e assim não sejamos mais escravos do pecado (Rm 6:6, NTLH). Foi na cruz que Cristo se livrou do poder dos governos e das autoridades espirituais. Ele humilhou esses poderes publicamente, levando-os prisioneiros no seu desfile de vitória (Cl 2:15 – NTLH).

Portanto, por meio daquele que nos amou, podemos ser mais que vencedores sobre os impulsos da carne, as atuações malignas e os valores mundanos! Cristo é o segredo da sobrevivência espiritual.


Fonte:
Texto de autoria do Pastor Genilson Soares da Silva adaptado para ilustrar a série "Homens de Mulheres da Bíblia - O exemplo dado por eles"

Nenhum comentário:

Todos os comentários serão moderados. Comentários com conteúdo fora do assunto ou do contexto, não serão publicados, assim como comentários ofensivos ao autor.

Tecnologia do Blogger.