A maneira como faço meu trabalho é de acordo com a vontade de Deus?

Procurai (...) trabalhar com as próprias mãos, como já vo-lo temos mandado, para que andeis honestamente para com os que estão de fora, e não necessitais de coisa alguma. (I Ts 4:11-12)

Deus se importa com a maneira que nos comportamos em nosso ambiente de trabalho. Entre os que, neste momento, estão lendo este estudo, hajam advogados, médicos (a), pintores (a), empresários (a), políticos, aposentados (a), pastores, mecânicos, secretários, donas de casa, etc. A Bíblia tem muito a nos dizer sobre a maneira correta de ganharmos o nosso pão. Tão ligado está o trabalho à definição de nossa identidade que, quando somos apresentados a uma pessoa, a pergunta mais imediata que fazemos não é de onde ela vem ou quem é sua família, mas o que ela faz. Se o trabalho assumiu essa importância tão central em nossa vida, é natural que não nos contentemos apenas com o que ele nos traz. Nós sempre soubemos que o trabalho é a ação de transformar algo: matéria-prima em objetos, tarefas em serviços. Hoje nos preocupamos também com o que ele faz de nós, como ele nos transforma. (...) [Todavia] Em um momento de crise econômica mundial, esse tipo de preocupação tende a ser relegado a segundo plano. Uma pesquisa da consultoria Nielsen, realizada na semana passada, revela que a principal preocupação dos profissionais brasileiros é a manutenção do emprego. Para 22% dos pesquisados, essa é a questão primordial, e o total de preocupados com a estabilidade chega a 33%. Se acrescentarmos os preocupados em pagar dívidas (um quarto dos pesquisados) e os preocupados em sustentar a família (um quinto), a conclusão é que as questões pragmáticas dominam o mundo do trabalho. Não é de espantar: como lembra o bem-humorado ditado, se trabalhar fosse bom, não precisaríamos ser pagos. Essa visão tem uma forte herança histórica. Os antigos romanos designavam as profissões como “sórdidas artes”. Os gregos antigos, cuja cultura forneceu a base da civilização ocidental, menosprezavam o trabalho. (...) [Agora] Para grande parte das pessoas, o trabalho traz satisfação em si. Não é, provavelmente, o único motivo para trabalhar. Talvez nem o principal. Mas é um motivo forte. (...) Do ponto de vista do cidadão, a equação de trabalhar sem prazer para viver livremente nos períodos de folga é dura demais, se considerarmos que passamos mais de 60% do dia envolvidos com o trabalho. E, como não há notícia de um ser humano que tenha conseguido desligar o cérebro durante suas tarefas, somos também nós mesmos durante o labor. É impossível que ele não nos forme, de algum modo. [Fonte: COHEN, David; CID,Thiago; MARIANO, Nádia; PEREIRA, Rafael. Dá para ser feliz no trabalho? Disponível em: Revista ÉPOCA On line (http://revistaepoca.globo.com) Acessado em 16/10/2009].

A ORIENTAÇÃO BÍBLICA

Você conhece alguém que crê que a sua fé e o seu compromisso com Cristo não têm nada a ver com o seu trabalho diário, que chama o trabalho secular de “mal necessário” e pensa que só o serviço na igreja é santo? Hoje em dia, não é difícil encontrarmos pessoas assim. Entretanto, isso não deveria acontecer. Afinal, a maioria de nós passa a maior parte do tempo no ambiente de trabalho. Será que Deus não se importa com o modo com que nos comportamos ali? Será que ele não se importa com o nosso trabalho? É certo que sim! Por isso, neste estudo, iremos checar alguns textos bíblicos que tratam desse assunto na intenção de descobrir a visão bíblica correta a respeito do trabalho.

1. O imperativo bíblico do trabalho:

Para que fique bem claro, desde o início, quando nos referimos a trabalho, estamos enfatizando toda atividade deliberada, envolvendo energia mental, emocional ou física, ou as três, seja ela remunerada ou não. A Bíblia apresenta uma visão positiva a respeito do trabalho. Está carregada de textos que mostram a necessidade de trabalhar. Vamos checar alguns. Comecemos com o texto básico, que diz: Procurai (...) trabalhar (...), como já vo-lo temos mandado (I Ts 4:11a). Mas por que Paulo disse isso? Ao que parece, alguns membros da igreja de Tessalônica, por acreditarem que a vinda de Cristo estava bem próxima, estavam vivendo na inatividade, largando seus postos de trabalho, e, por isso, precisaram ser exortados a trabalhar. O fato de sermos filhos de Deus e aguardarmos a vinda do Senhor não é desculpa para não trabalharmos. Não é só neste texto que o trabalho é ordenado. Em outras ocasiões, Paulo disse: Aquele que roubava, não roube mais; pelo contrário, trabalhe (Ef 4:28); ... vos ordenamos que se alguém não quer trabalhar, também não coma (II Ts 3:10). A Bíblia sagrada condena a preguiça e rejeita a ociosidade! Todo crente em Jesus precisa considerar essa ordem bíblica para viver a fim de agradar a Deus (I Ts 4:1, cf. Sl 128:2; Ec 3:13; I Co 4:12, 15:10; II Ts 3:12).

2. O esforço diligente no trabalho:

Vamos continuar lendo o texto de I Tessalonicenses. Nós já vimos que Paulo ordenou que os irmãos trabalhassem: Esforcem-se para (...) trabalhar, ele disse. Agora veja a continuação da frase: ...com as próprias mãos... (I Ts 4:11b). O que a expressão “com as próprias mãos” nos ensina? Diligência individual para conseguir o seu próprio sustento! Essa ordem do apóstolo “vale para nós também. O cristianismo não nos libera do trabalho e do dever do nosso próprio chamado, mas nos ensina a sermos diligentes nisso”. O Salmo 128, nesta mesma linha diz: Do trabalho de tua mão comerás (v. 2). Conforme já destacamos, em vista da vinda do Senhor, os crentes em Jesus de Tessalônica estavam abandonando suas ocupações. Mas, de que maneira eles estavam comendo, então? A resposta é simples. Estavam se aproveitando da boa vontade dos outros, comendo de graça a comida (cf. II Ts 3:7-12). Por isso, a orientação de Paulo: Esforcem-se para ganhar o próprio sustento com as próprias mãos! O escritor de Provérbios também incentiva o trabalho diligente: O que trabalha com indolência empobrece, mas a mão do diligente enriquece (10:4); em outra parte, ele diz que em todo o trabalho há proveito; meras palavras, porém, levam à penúria (14:23). O trabalho é um imperativo e deve ser feito com diligência.

3. O valor oferecido ao trabalho:

Pensemos mais um pouco na expressão: trabalhando com as próprias mãos. Com essa simples frase, Paulo oferece muito valor ao trabalho. Por quê? Por detrás desse mandamento, talvez, Paulo também esteja combatendo a atitude grega que desprezava o trabalho manual. No mundo grego antigo, o trabalho era visto como uma maldição, um mal absoluto, e ficar sem trabalho era um fato singularmente apreciado. É possível supor que existiam alguns crentes tessalonicenses gregos com essa mentalidade. Quando Paulo os ordena a que trabalhem com as próprias mãos, ele está indo de encontro com essa mentalidade grega da época. O apóstolo rejeitava essa ideia, tanto no seu próprio modo de vida (I Co 4:12) quanto no seu ensino (Ef 4:28). Dificilmente conseguiremos ser santos no trabalho, se o encararmos como uma maldição. Há quem pense isso. Porém, este não é o ensino da Bíblia. Adão já trabalhava, antes da queda (Gn 2:15). O que a Bíblia ensina, em Gênesis, é que Deus amaldiçoou a “terra”, e não o trabalho (Gn 3:17). Neste sentido, o trabalho pré-queda era totalmente prazeroso, porque a terra não estava sob maldição. Agora, por causa da maldição da terra, o trabalho pós-queda tornou-se algo, por vezes, fatigante e desanimador. Contudo, repetimos: o trabalho, em si, não foi amaldiçoado, mas a terra. O trabalho é uma benção e não maldição; dignifica o homem! Não é um “mal necessário”, mas um presente de Deus (Ec 3:13 cf. 2:24).

4. O proceder correto no trabalho:

Até agora, vimos o imperativo do trabalho, a diligência no trabalho e o valor do trabalho. Vejamos o que diz a continuação do versículo: ... afim de que andeis com dignidade diante dos que são de fora (I Ts 4:12a). Veja com quem Paulo está preocupado aqui: “os de fora”. Este termo se refere aos não cristãos. O cristão não tem compromisso somente com aqueles que fazem parte da igreja, mas, também, precisa dar testemunho aos de fora. A santificação pessoal precisa ser evidenciada para além das quatro paredes da igreja. Isso não estava acontecendo na igreja de Tessalônica. Como haviam abandonado seus trabalhos, os irmãos de Tessalônica não estavam pagando as suas contas e dependiam dos outros crentes para sobreviver. Um péssimo testemunho! Lamentavelmente, ainda hoje, existe muita gente vivendo das cestas básicas da igreja, do estado, da prefeitura. Não estamos dizendo que é errado recorrer à ajuda desses órgãos, mas o problema é que existem pessoas nessa condição há tanto tempo que se acomodaram e já nem se esforçam mais para ganhar seu próprio sustento. Isso é um desserviço ao evangelho. A Bíblia nos orienta a nos portarmos com sabedoria para com os de fora (Cl 4:5). Você tem se portado de modo digno do evangelho? Trabalhe e desenvolva a sua santificação pessoal em seu ambiente de trabalho, para viver de modo digno aos olhos dos que estão de fora.

5. O alvo bíblico do trabalho:

Aqueles que desejam agradar a Deus com o seu trabalho precisam entender qual é a finalidade deste. Ao concluir a sua exortação, Paulo diz aos cristãos que deveriam trabalhar para dar bom testemunho aos que estão de fora e para que não necessitassem de coisa alguma (I Ts 4:12b). Eles não deveriam ser parasitas da sociedade. Precisavam trabalhar para adquirir o próprio sustento. Esta é, em parte, a razão ou a finalidade do trabalho. Em outra ocasião, mas também escrevendo aos tessalonicenses, Paulo diz: ...ordenamos e exortamos por nosso Senhor Jesus Cristo que, trabalhando em paz, consigam o próprio pão (II Ts 3:12). Desde Gênesis a ordem ao ser humano é: ... do suor do teu rosto comerás o teu pão (Gn 3:19). A vida depende do trabalho, em muitos sentidos. Quando Jesus disse: Não fiqueis ansiosos quanto à vossa vida, com o que comereis, ou com o que bebereis (Mt 6:25), não estava estimulando seus ouvintes à preguiça, nem ordenando a que não procurassem emprego, afinal, se alguém não quer trabalhar também não coma, diz a Bíblia (II Ts 3:10). O trabalho serve para o trabalhador adquirir o seu sustento. E não só para isso. Em Efésios, também somos ensinados a trabalhar para termos o que repartir com quem está passando necessidade (Ef 4:28). De acordo com o texto de Efésios, ser santo no trabalho envolve muito mais que diligência para conseguir o próprio pão. Além de as mãos estarem sempre prontas a desenvolver o trabalho, o coração deve estar sempre pronto a exercitar a compaixão. Prontidão para ajudar os necessitados é uma virtude cristã que deve ser cultivada! Não são poucos os que usam o resultado do seu trabalho para o mau, de maneira egoísta. Sejamos diferentes! Usemos para o bem o resultado do trabalho das nossas mãos. Precisamos ser santos no trabalho. Na próxima parte, veremos três maneiras corretas de o cristão se comportar em seu ambiente de trabalho para glorificar a Deus.

APLICAÇÃO E MUDANÇA DE ATITUTE

Para que aja santidade no trabalho, ele deve ser feito com franqueza.

No capítulo 6 de Efésios, Paulo fala sobre os deveres dos empregados, e dos empregadores cristãos. Ele começa com os empregados. O apóstolo diz que estes devem ser respeitosos: ... obedecei a vossos senhores deste mundo, com temor e tremor (Ef 6:5a); e sinceros: ... com sinceridade de coração (Ef 6:5b). Não para por aí: Paulo mostra que o trabalho deve ser feito com franqueza: ... não servindo só quando observados (Ef 6:6a). Há uma tendência muito natural de não trabalhar o suficiente, quando o patrão não está presente. Essa é uma forma de desonestidade, os “níveis de produção de um cristão não podem variar de acordo com a posição geográfica do chefe”. Neste texto, Paulo ainda diz aos senhores que esta palavra também era aplicada a eles: ... fazei o mesmo para com eles (Ef 6:9). Veja que a franqueza, o respeito e a sinceridade devem vir de ambos os lados!

2. Para que aja santidade no trabalho, ele deve ser feito com prontidão.

É bem provável que você conheça ou já conheceu alguém que gostava de fazer “corpo mole” no serviço. Que precisava ser empurrado, “levado nas costas”, em todas as situações. Será esta uma atitude cristã? É óbvio que não! O conselho da Bíblia para o cristão é: trabalhemos de boa vontade (Ef 6:7), ou com ardor, de acordo com a tradução da Bíblia Viva. “Boa vontade”, aqui, neste texto, sugere prontidão, assinala a pessoa que não precisa ser forçada a trabalhar. É assim que deve ser. Trabalhemos com prontidão! Seja um funcionário exemplar em seu ambiente de trabalho. Deixe a luz do evangelho resplandecer através da sua vida!

3. Para que aja santidade no trabalho, ele deve ser feito com satisfação.

Conforme já vimos, o trabalho é uma benção de Deus! Por isso, trabalhemos de todo coração, assim como a Cristo (Ef 6:5); ... como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus (Ef 6:6). Os trabalhos, mesmo os mais humildes e comuns, podem se tornar nobres e dignos, quando feitos para a glória de Deus. A Bíblia diz: Fazei tudo sem murmurações (Fp 2:14). Talvez você conheça pessoas que só vivem reclamando. Para esses, a roupa nunca está boa, a comida sempre está sem sabor, o outro sempre tem culpa, enfim, o mundo está contra ele! Ao contrário de tudo isso, o servo de Deus deve trabalhar com satisfação, reconhecendo “que a empresa onde trabalha foi a oportunidade que Deus lhe proporcionou para exercer a sua profissão”.

CONCLUSÃO:

Como você tem se comportado em seu ambiente de trabalho? O seu serviço tem sido feito de coração, como a Cristo (Ef 6:5). As donas de casas, ao preparar refeições ou limpar a casa, têm se lembrado de Cristo, no desempenho de suas funções? “É possível para os professores educar crianças, para médicos tratar pacientes e para enfermeiras cuidar deles, para advogados ajudar clientes, para balconistas atender fregueses, para contadores fazer auditoria dos livros (...) como se em cada caso servissem a Jesus Cristo”. Pense nisso, e não se esqueça: cada um, seja escravo ou livre, receberá do Senhor todo o bem que fizer (Ef 6:8).

Que Deus nos abençoe e guarde!
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DEC - PCamaral

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