Sejam Santos no Pensamento


O que você pensa, na maior parte do tempo, é bom ou é ruim? Se você não sabe dizer, talvez seja porque ainda não parou para pensar no que você pensa. Não é muito sábio, da sua parte, ignorar o que se passa pela sua mente, porque o seu pensamento influencia de maneira direta o seu comportamento. Não é à toa que a Bíblia, sem rodeio algum, alerta: “Tenha cuidado com o que você pensa, pois a sua vida é dirigida pelos seus pensamentos” (Pv 4:23, NTLH).

O cérebro bem estimulado em tarefas como leitura, aprendizado de novas línguas, resolução de problemas matemáticos ou mesmo em tarefas rotineiras no trabalho pode esticar a longevidade de uma pessoa e evitar que ela sofra de problemas típicos da velhice, como a senilidade e a perda de memória. Uma pesquisa realizada entre pacientes com mais de 65 anos, todos de um mesmo bairro e mesma classe social, no Hospital Francês de Buenos Aires, revelou que 38% deles tinham desenvolvido o mal de Alzheimer, doença degenerativa que apaga mecanismos da memória coordenadores de movimentos naturais, como os da locomoção. Esse índice, contudo, caía para apenas 7% entre os pacientes com nível de instrução universitário. Quanto mais informação útil é armazenada no cérebro, melhor é seu desempenho. Maior também é o benefício que ele leva a todo o resto do organismo ao qual está ligado. (...) O cérebro é uma máquina maravilhosa que desempenha múltiplas tarefas biológicas. Pesando pouco mais de 1 quilo e representando apenas 2% do peso total de um homem adulto, ele gasta 20% de toda a energia despendida no corpo.

Entre uma orelha e outra de uma pessoa, estima-se que existam mais conexões neurológicas do que estrelas na Via Láctea. Se alguém tentasse contar essas conexões, chamadas de neurônios, gastando um segundo em cada uma delas, levaria 32 milhões de anos para concluir a tarefa. É o cérebro que comanda as funções que asseguram a reprodução e a sobrevivência da espécie. Pense na batida inconsciente do coração, nas pálpebras piscando, na respiração contínua dos pulmões, nos alimentos sendo processados pelos intestinos, numa perna que se move. Tudo isso é organizado e dirigido pelo cérebro. (...) Sua missão mais elementar é recolher os estímulos externos, captados pelos sentidos, e transformá-los em impulsos elétricos que percorrem os neurônios. Toda essa informação é catalogada e arquivada na memória. É a ela que o cérebro recorre quando precisa tomar decisões, comandar os movimentos corporais e organizar o pensamento. [Fonte: GUARACY, Thales; RAMALHO, Cristina. A força da mente. Disponível em: Revista Veja On line (http://veja.abril.com.br/190898/p_102.html) Acessado em 03/11/2009].

O que diz a Bíblia sobre o pensamento do cristão?

Das vinte e uma cartas que compõem o Novo Testamento, treze são de Paulo. Dessas, há uma que contém muitas instruções sobre a santificação do pensamento: a que foi escrita e enviada aos Filipenses. Nela, há muitas palavras que estão diretamente associadas com pensamento: “lembro”, “sentir”, “boa mente”, “julgando”, “sintais”, “sentindo”, “humildade”, “sentimento”, “cuida”, “reputei-o”, “considero”, “julgo”, “esquecendo-me”, “sintamos”, “sentis”, “pensam”, “sintam”, “inquietos”, “entendimento”, “pensai”, “lembrança”, “lembrando”. O apóstolo utiliza muitas dessas palavras para enfatizar que, para sermos santos no pensamento, precisamos ter uma mente sincera, humilde, espiritual, integral e ocupada.

1. Uma mente sincera:

Diante da prisão de Paulo, os irmãos da igreja de Roma deixaram o temor de lado e passaram a pregar a palavra de Deus com mais ousadia (Fp 1:14). Mas nem todos faziam isso de boa mente (Fp 1:15b). Paulo afirma que alguns pregavam Cristo por ambição egoísta, sem sinceridade, pensando que me podem causar sofrimento enquanto estou preso (Fp 1:17 – NVI). O problema não estava na mensagem dos pregadores, mas no seu pensamento. A mensagem era boa, mas o pensamento era mau. Eles utilizavam o ministério da palavra com pensamentos egoístas: “promover a si mesmos e granjear seguidores para si” [Wiersbe (2008:87)]. É triste pensar que alguém pode exercer um ministério tão magnífico como é o ministério da pregação do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus (Mc 1:1) aos perdidos pensando em alcançar mais espaço e ganhar mais prestígio no rebanho do Sumo Pastor. Isso ensina uma lição muito clara para todos: quem serve na igreja de Cristo, deve estar atento ao que se passa pela sua mente. Deve vigiá-la e sondá-la o tempo todo para ver se não existe nela alguma intenção obscura ou algum motivo impuro, pois quem serve, deve buscar com fervor não a glória do próprio nome, mas a glória do nome que está acima de todo nome (Fp 2:9b) Jesus Cristo.

2. Uma mente humilde:

Após pedir para os irmãos serem unidos de mente, Paulo ordena: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade.” Há, nesta ordem, três palavras que merecem uma rápida explicação: “contenda”, “vanglória” e “humildade”. Contenda é espírito litigioso ou ambição egoísta. Vanglória está associada a orgulho, exibicionismo. E humildade? No grego, é tapeinophrousune [ταπεινοφροσύνῃ]. Essa palavra difícil de ser escrita e falada literalmente significa: pensamento modesto ou humilde. Uma pessoa de mente humilde não se considera superior aos outros nem atenta apenas para o que é propriamente seu (Fp 2:3b-4). Não trata os outros de modo brutal, cruel, insensível, desumano, inclemente, indiferente, desapiedado, incompassivo, sem misericórdia. Uma pessoa de mente humilde também não se sente ameaçada por aqueles que possuem mais talento, mais educação, mais dinheiro, mais influência. Não se recusa a realizar o serviço que quase não aparece, o trabalho que permanece nos bastidores, a obra insignificante. Essa pessoa possui o mesmo modo de pensar que Cristo Jesus tinha (Fp 2:5, NTLH). A mente de Cristo, o Senhor e Mestre (Jo 13:13), era uma mente de servo: uma mente que em nada era egocêntrica, uma mente que sabia sacrificar-se, uma mente que sabia servir, uma mente que sempre pensava nos outros e não em si [MacDonald (2008:662)].

3. Uma mente espiritual:

Para ganhar a Cristo, Paulo teve que virar as costas para um monte de coisas, que, na mente de muitos, tinha muito valor (Fp 3:1-14). Aliás, se há um termo muito usado por Paulo, neste trecho, este termo é “coisas”: ocorre dez vezes (3:1, 8, 13, 14, 19, 21). Ele, pois, pede para que os irmãos da igreja imitem a sua atitude (Fp 3:17), e não a daqueles que só pensam nas coisas que são terrenas (Fp 3:19b). Paulo não os chama pelo nome, mas frisa que, na mente deles, não existe lugar para o que é eterno. Eles não pensam no que é de natureza celestial. Uma vez que o deus deles era o ventre, na mente deles, não havia nenhuma capela: só cozinha. Uma mente espiritual valoriza um estilo de vida simples, sem vaidade, sem anéis de ouro nos dedos, sem trajes de luxo, sem ostentação. Uma mente espiritual leva os dízimos à casa do tesouro para expressar o seu amor por Deus e pelo próximo e seu zelo pela expansão do reino dele, e não com o intuito de receber. Uma mente espiritual sabe que o reino dela não é deste mundo, pois a sua pátria está nos céus (Fp 3:20a). Uma mente espiritual busca as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus (Cl 3:1). Enfim, a mente espiritual pensa nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra (Cl 3:2).

4. Uma mente integral:

Os inimigos da igreja de Cristo, em Filipos, eram muitos (Fp 1:28 e 3:18). Eles se constituíam uma verdadeira ameaça para quem servia a Cristo. Quando se está sob ameaça, a mente corre um sério risco de ficar ansiosa. E uma mente ansiosa é uma mente dividida. O termo grego para ansiedade, merimnao, vem do verbo merizo (dividir) e de nous (mente). A ansiedade parte a mente em duas, dividindo os pensamentos entre o “agora” (presente) e o “amanhã” (futuro). E uma mente divida não consegue amar a Deus de todo o seu entendimento (Mt 22:37). Como evitar que a mente fique dividida por causa das ameaças? Orando mais a Deus: Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças (Fp 4:6). Conversar com Deus a respeito de tudo que nos ameaça mantém a mente integral, pois a paz de Deus guardará a [nossa] mente em Cristo Jesus (Fp 4:7). O verbo guardar, no grego (phroureo), muito usado no mundo militar, literalmente, significa proteger, através de uma guarda militar. A paz de Deus é como um exército protegendo-nos dos temores internos.

5. Uma mente ocupada:

Uma mente santa não é uma mente vazia: é uma mente ocupada. Paulo faz uma lista do que deve ocupar a nossa mente.

Primeiro: a nossa mente deve se ocupar de tudo o que é verdadeiro (Fp 4:8a): o que não é falso, o que merece confiança, que é genuíno e real.

Segundo: a nossa mente deve se ocupar de tudo o que é respeitável (Fp 4:8b): aquilo que é moralmente bom.

Terceiro: a nossa mente deve se ocupar de tudo o que é justo (Fp 4:8c): o que é reto diante de Deus e dos outros.

Quarto: a nossa mente deve se ocupar de tudo o que é puro (Fp 4:8d): do que não está manchado pelo pecado.

Quinto: a nossa mente deve se ocupar de tudo o que é amável (Fp 4:8e): aquilo que é agradável ou admirável de se ver.

Sexto: a nossa mente deve se ocupar de tudo o que é de boa fama (Fp 4:8f): aquilo que soa bem e que pode ser louvado aos olhos de Deus e das pessoas.

Paulo, então, conclui essa lista dizendo: se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento (Fp 4:8g). Quem ocupa a sua mente com o que é digno, tem mais chance de vencer as investidas do diabo, as seduções do mundo e as tentações da carne. Jesus teve uma mente sincera, quando lidou com o ministério. Ele buscou não a própria glória, mas a glória daquele que o enviou. Jesus teve uma mente humilde, quando lidou com as pessoas. Ele veio não para ser servido por elas, mas para servi-las e dar a sua vida por elas. Jesus teve uma mente espiritual. Ele sempre fez questão de afirmar que o seu reino não era deste mundo. Jesus teve uma mente integral para lidar com as ameaças. Passou horas e mais horas em oração ao Pai. Jesus teve uma mente ocupada para lidar com as tentações. A sua mente era ocupada pelos valores da palavra de Deus. Sigamos o exemplo daquele que se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade (Jo 1:14).

Aplicando o conhecimento bíblico

1. Sondemos a nossa mente!

Para identificarmos aqueles pensamentos errados que travam o nosso avanço na vida cristã, precisamos vasculhar a nossa mente. Se não investigarmos a nossa mente, não será possível localizar aquele pensamento indigno que abala a nossa estrutura, que altera a nossa convicção, que muda a nossa conduta, que arruína o nosso caráter. Se, porventura, nos sentirmos incompetentes para realizar essa tarefa urgente, peçamos o auxílio de Deus, o sondador por excelência: Ó Deus, Prova-me e conhece os meus pensamentos. (Sl 139:23 – NTLH). Ele vai nos mostrar e nos alistar todos os pensamentos que precisamos expulsar da nossa mente.

2. Limpemos a nossa mente!

Nós gostamos de limpeza. A maior parte dos itens da nossa lista de compras são itens de produtos de limpeza. Com eles, limpamos a poeira da mesa, as marcas de dedo na janela, o lixo debaixo do sofá, as manchas do piso, a sujeira do carro. E o que dizer da limpeza dos arquivos obsoletos da memória do computador? Fazemos também. E ainda há a limpeza cosmética, muito valorizada. Porém, existe outra limpeza muito importante, mas pouco realizada: a limpeza da mente. De todas as limpezas, essa é a mais difícil de ser feita. Mas é essencial, porque essa sujeira também afeta a nossa saúde e a de quem convive conosco. Limpemos, portanto, a nossa mente dos pensamentos maliciosos, obscenos, suicidas, odiosos, invejosos, egoístas. Não limpemos apenas o exterior do copo e do prato, mas também o seu interior (Lc 11:39).

3. Vigiemos a nossa mente!

Se nós não vigiarmos a nossa mente, vamos ter pensamentos errados acerca de nós mesmos. Não vamos pensar de nós mesmos com moderação, como nos manda a Bíblia (Rm 12:3). Ora vamos pensar acerca de nós mesmos “aquém do que convém”, ora vamos pensar acerca de nós mesmos “além do que convém”. Ora, vamos pensar que somos vermes, ora vamos pensar que somos deuses. Essa atitude mental extremista é perigosa. Quem pensa de si mesmo aquém do que convém, pode pensar que não é querido pelos outros, que não vale nada, que não é ninguém, que nunca fará nada certo. Quem pensa de si mesmo “além do que convém”, pode esquecer-se que é homem e não Deus, que é mortal e não eterno, que é pastor e não Sumo Pastor, que é servo e não Senhor.

Conclusão:

Uma pergunta incisiva e urgente foi dirigida pelo profeta Jeremias à corrupta e rebelde população de Jerusalém: “Até quando você vai continuar com os seus maus pensamentos?” (Jr 5:14b – NTLH). Da mesma forma o Senhor, que examina os pensamentos (Jr 17:10), nos pergunta: “Até quando você vai continuar pensando no que não é verdadeiro nem respeitável? Até quando você vai continuar pensando no que não é justo nem puro? Até quando você vai continuar pensando no que não é amável nem de boa fama? Até quando você vai continuar pensando no que não é virtuoso nem louvável?” Não se sinta ofendido com essas perguntas divinas. Ele as faz porque quer que nós sejamos santos no pensamento!


Fonte:
DEC - Departamento de Educação Cristã
Paulo Cesar Amaral

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