Quando o Povo se Reúne para Falar com Deus

Ó Deus, salva o teu povo e abençoa aqueles que são teus! Sê o pastor deles e cuida deles para sempre. (Sl 28:9 – NTLH)
A oração é um dos elementos mais importantes que compõem o culto público. Ela não pode ser vista como um aglomerado de palavras que usamos apenas para pedir bênçãos, muito menos como um ritual religioso em que invocamos a presença do sagrado. Oração é relacionamento; é diálogo e comunhão; é “o lugar em que Deus e seres humanos se encontram”. [1] É algo indispensável na adoração coletiva, pois não pode haver culto autêntico sem oração. Neste estudo, buscaremos entender um pouco mais sobre por que crentes em Cristo devem se reunir para falar com Deus.
Não há dúvida de que todo cristão precisa ter seus momentos pessoais e particulares na presença de Deus em oração. Jesus nos ensinou sobre isso e nos deixou o exemplo (Mt 6:6; 14:23). Essa é uma prática fundamental ao crescimento espiritual do cristão. Contudo, neste estudo, o nosso desejo é mostrar a importância da oração coletiva que fazemos em nossos cultos. Para compreendermos melhor essa questão, é imprescindível recorrermos à palavra de Deus. Por que devemos nos reunir para orar? Qual a importância da oração no culto?
A oração no culto tem respaldo bíblico: A oração é um elemento que nunca faltou no culto a Deus, em toda a história do seu povo. Na verdade, o povo de Deus sempre foi um povo de oração! De Gênesis a Apocalipse, encontramos inúmeras orações, que, por terem sido tão sinceras e verdadeiras, mereceram ser registradas nas páginas das Escrituras. Embora haja registros de muitas preces particulares de homens e mulheres consagrados ao Senhor, há, também, vários relatos em que vemos o povo de Deus desejoso de buscar a face do Altíssimo, reunindo-se para orar.
Tanto Israel, no Antigo Testamento, quanto a igreja, no Novo Testamento, tinham esse costume: ajuntar-se para clamar ao Senhor em tempos difíceis ou para agradecer-lhe pelas bênçãos recebidas. Um texto que merece destaque é 1 Crônicas 29:10-20. É o relato de um culto que foi oferecido a Deus, no final da vida do rei Davi. Nesse dia solene da história de Israel, o rei estava tão feliz pela provisão divina dos recursos necessários para a construção templo que resolveu dirigir a oração: Pelo que Davi louvou ao Senhor perante a congregação toda e disse: Bendito és tu, Senhor, Deus de Israel, nosso pai, de eternidade em eternidade (...) graças te damos e louvamos o teu glorioso nome (1 Cr 29:10,13).
Outro texto importante é o de 2 Crônicas 20:1-30. Nessa passagem, os filhos de Moabe e Amon se ajuntam num gigantesco exército para guerrear contra o rei Josafá e povo de Judá. Então, estes ficaram amedrontados, pois, humanamente, estavam derrotados. O que fizeram? Reuniram-se para orar: Então, Josafá teve medo e se pôs a buscar ao Senhor; e apregoou jejum em todo o Judá. Judá se congregou para pedir socorro ao Senhor; também de todas as cidades de Judá veio gente para buscar ao Senhor (2 Cr 20:3-4). Qual foi o resultado? Deus concedeu uma grande vitória a seu povo (2 Cr 20:14-30).
Há muitos outros textos, no Antigo Testamento, que ensinam a respeito da oração conjunta (1 Rs 8:22-61; 2 Cr 7:14-16; Et 4:15-17; Ne 9:3-5; Jl 2:15-17); entretanto, é no Novo Testamento que estão os textos mais claros a respeito da oração no culto, principalmente, aqueles que estão registrados em Atos dos apóstolos (At 1:12-15, 2:1-4,42, 4:31, 16:13, 21:5). Ali, vemos claramente a igreja em constantes reuniões de oração. O que podemos afirmar é que a oração em grupo é uma prática bíblica. Com relação a isso, não temos dúvida.
A oração no culto é uma marca da igreja: Outro motivo para nos reunirmos em oração é o fato de a oração conjunta ser uma marca da igreja de Cristo, desde a sua origem. Quando o Senhor Jesus retornou ao céu, cento e vinte discípulos ficaram orando, unânimes e fervorosamente, enquanto aguardavam o cumprimento da promessa do Pai (At 1:12-15), que era o derramamento do Espírito Santo sobre eles (At 1:8).
Enquanto oravam, o poder do Espírito Santo foi derramado (At 2:1-4). Cabe, aqui, uma observação preciosa: A igreja de Cristo nasceu orando, e era uma oração conjunta. O mover do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, aconteceu após uma reunião de oração de dez dias. E, a partir dali, aquela igreja nunca mais deixou de orar: E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações (At 2:42). Quando as perseguições e ameaças tentaram calar aqueles cristãos, ao invés de desistirem da fé, reuniam-se e erguiam suas vozes em clamores, e Deus lhes dava força. Os apóstolos, que eram líderes da igreja, tinham por costume ir ao templo orar (At 3:1). Esses homens entendiam que a oração era prioridade em seus ministérios (At 6:4).
Em Atos 12, lemos que, após a morte de Tiago e a prisão de Pedro, a igreja não teve outra reação, senão colocar-se a orar: Durante todo o tempo em que ele estava na prisão, a igreja orava fervorosamente a Deus (v.5). As Escrituras dizem que um anjo enviado por Deus libertou Pedro daquela prisão (v.7). Depois de livre, o apóstolo decidiu ir para a casa de Maria, a mãe de João Marcos, e lá encontrou muitas pessoas que estavam congregadas e oravam (v.12). A igreja primitiva se reunia também para orar agradecendo os grandes livramentos concedidos por Deus (At 4:24).
Era em momentos de oração conjunta que as pessoas eram batizadas no Espírito Santo (At 8:14-17, 19:1-7). Enquanto a igreja orava, as portas da prisão eram abertas, o evangelho avançava com poder e o nome de Cristo era glorificado. A igreja em Antioquia, por exemplo, estava em consagração, quando o Espírito Santo a guiou na obra missionária, separando Barnabé e Saulo. Foi orando, jejuando e impondo as mãos sobre eles que a igreja os enviou para a missão (At 13:2-3). Ela não apenas nasceu em oração, mas também sobreviveu e cresceu orando conjuntamente. “Sempre que a igreja experimentou grandes avanços, ela estava caminhando de joelhos”. [2]
A oração no culto é uma prática fundamental: Já sabemos que a oração em grupo ou a oração no culto tem respaldo bíblico. Aprendemos, ainda, que a prática de orar em conjunto era uma marca da igreja primitiva; porém, resta-nos uma questão: Qual a importância de orar no culto com os outros irmãos? Há muitos benefícios. Vamos destacar alguns.
Primeiro: o aprendizado. Orar coletivamente ajuda os novos na fé a aprenderem a orar. Temos, na Bíblia, todo o ensino necessário sobre a oração; contudo, na prática, aprendemos a orar ouvindo e observando as pessoas que oram [3] (cf. Lc 11:1).
O segundo: a edificação. Orar em conjunto é uma excelente maneira de edificar o corpo de Cristo, pois, na oração em grupo, muitas vezes, podemos experimentar a presença de Deus de forma especial e sair dali fortalecidos, animados e capacitados no poder do Espírito Santo. Um episódio bíblico que nos ensina sobre isso é aquele em que Pedro e João são libertos, depois de terem sido presos por falarem de Jesus (At 4:23-31). Eles se reuniram com a igreja e fizeram uma oração enaltecendo a Deus e reconhecendo sua soberania. O impressionante na oração deles é que, mesmo enfrentando uma ferrenha perseguição, não pediram alívio e nem conforto, mas, sim, mais intrepidez para anunciar a palavra. A Bíblia relata o que aconteceu: O lugar onde eles estavam reunidos foi sacudido, e todos eles ficaram cheios do Espírito Santo e anunciaram corajosamente a mensagem de Deus (At 4:31 – NBV). Observe a expressão “todos eles”. O que ela está nos ensinando? Que não foram apenas alguns edificados, mas toda a comunidade foi edificada e fortalecida naquele culto de oração.
O terceiro: a comunhão. Quanto mais oramos juntos, mais unidos ficamos, pois iremos compartilhar o fardo, a alegria no Senhor e a experiência cristã uns com os outros. [4] A oração conjunta nos une num só coração diante do Senhor.
O quarto: a intercessão. A oração no culto nos dá a oportunidade de compartilharmos nossas aflições e orarmos uns pelos outros.
Por essas razões, e muito mais, é imprescindível orarmos juntos. Contudo, é importantíssimo lembrarmos que, embora a oração no culto seja fundamental, não substitui a oração em particular (cf. Mt 6:6). Do mesmo modo, esta não substitui a oração no culto.
PRATICANDO A PALAVRA DE DEUS
Ao orarmos juntos, devemos evitar o egoísmo
A oração ensinada por Jesus começa com a seguinte expressão: Pai nosso (Mt 6:9). O que nos ensina essa expressão? Ensina-nos não apenas que Deus é nosso Pai, mas, também, que temos muitos irmãos e irmãs, em quem devemos pensar, enquanto oramos. A oração cristã nunca deve ser egoísta, até porque o cristão não deve cuidar somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros (Fp 2:4 – NVI). Além disso, em Tiago 4:3, aprendemos que Deus não ouve as orações que vêm de um coração cheio de motivos egoístas. “Ganância e egoísmos são insultos para Deus”. [5] Devemos sempre pensar em nossos irmãos, nas orações pessoais e diárias que fazemos em casa, e, muito mais, nas orações que fazemos no culto, porque eles estarão ao nosso lado. Quando você chegar ao templo, tome o cuidado de cumprimentar a pessoa que estiver ao seu lado. Pergunte como ela está. Ore por ela. Tente identificar os irmãos que estão ausentes. Lembre-se daqueles que estão enfermos. Pense naqueles que estão desanimados. Ore por todos! Reserve um tempo de sua oração no culto para interceder por seus familiares, amigos e vizinhos. No culto, não ore apenas por você mesmo, ore também pelos outros. A intercessão é um excelente antídoto contra o egoísmo.
Ao orarmos juntos, devemos evitar o orgulho.
Ao orarmos juntos, temos uma ótima oportunidade de compartilhar nossas aflições e problemas, pedindo que os outros orem por nós. Era isso que Paulo fazia: Eu peço, irmãos, pelo nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor que o Espírito dá, que me ajudem, orando com fervor por mim (Rm 15:30 – NTLH). O apóstolo Tiago vai mais além e nos incentiva a pedir ajuda dos irmãos em oração e confessar as nossas fraquezas: Confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz (Tg 5:16 – NVI). Contudo, tais tarefas são coisas improváveis para quem é orgulhoso. Uma pessoa orgulhosa tem muita dificuldade em reconhecer que precisa de ajuda, e, ainda mais, em reconhecer seus erros. Se, por um lado, a Bíblia nos diz que a soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda (Pv 16:18), por outro, diz que Deus está sempre perto de quem tem o coração partido e o espírito humilde (Sl 34:18 – BV). Portanto, quando estivermos reunidos para falar com Deus, evitemos o orgulho. Sejamos humildes e reconheçamos que precisamos da ajuda dos irmãos em oração.
Ao orarmos juntos, devemos evitar a desordem.
A oração conjunta, no momento do culto, é uma experiência tão poderosa e agradável que alguns cristãos chegam até mesmo a extrapolar nessa prática, cometendo alguns desvios. Esse foi um dos problemas enfrentados na igreja de Corinto (1 Co 14). Para que isso não ocorra conosco, precisamos saber que a oração em público não é uma questão pessoal. Orar em público, no culto ou em um grupo de oração, não é só uma questão entre o crente e Deus. Ela acontece em uma espécie de triângulo: eu, Deus e o irmão. Deste modo, quando orarmos, precisamos respeitar também as pessoas que oram conosco no culto. Há dois conselhos deixados pelo apóstolo Paulo, na Primeira Carta aos Coríntios, capítulo 14, que também servem para nós, hoje. O primeiro conselho é este: Tudo seja feito para a edificação da igreja (v. 26). Quando estivermos orando juntos, precisamos perguntar se a nossa oração está edificando o corpo de Cristo ou causando escândalo. O segundo conselho de Paulo está no versículo 40: Tudo deve ser feito com decência e ordem. Quando a nossa oração fere os princípios da decência e faz que o culto santo ao Deus santo se torne uma bagunça, então, precisamos, com urgência, mudar de atitude.
CONCLUSÃO
Orar é entrar no Santo dos santos e nos colocar na presença do próprio Deus, por meio da fé, valendo-nos do sacrifício de Cristo, e falar com Deus com toda liberdade, por meio da palavra audível ou silenciosa. [6] Essa experiência pode ser vivenciada na individualidade de nosso quarto ou na coletividade de um culto público. O desafio deste estudo foi nos ajudar a pensar na importância da oração no culto que, juntos, oferecemos a Deus. Vimos que essa prática, além de ser bíblica, é, também, indispensável, pois traz muitos benefícios ao corpo de Cristo. Portanto, ao orarmos juntos, evitemos o egoísmo, o orgulho e a desordem.
Juntos, falemos com Deus.

Bibliografia:
1. YANCEY, Philip. Oração: ela faz alguma diferença? São Paulo: Vida, 2007. pág.18
2. LOPES, Hernandes Dias. O melhor de Deus para sua vida. Vols. 1 e 2. Belo Horizonte: Betânia, 2004. pág.67 
3. DOUGLASS, Klaus. Celebrando o amor de Deus: o despertar para um novo culto. Curitiba: Esperança, 2000. pág.98
4. DUEWEL, Wesley L. A oração poderosa que prevalece. São Paulo: Candeia, 1996. pág.132 
5. KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Tiago e Epístolas de João. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. pág.182
6. CÉSAR, Elben M. Lenz. Práticas devocionais: exercícios de sobrevivência e plenitude espiritual. 4 ed. Viçosa: Ultimato, 2005. pág. 21
DEC - PCamaral

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