O que Jesus espera do relacionamento entre seus seguidores? Que nos amemos uns aos outros!


Como podemos superar as dificuldades de convivência entre nós, a ponto de sermos uma igreja saudável e testemunha eficaz de Cristo no mundo? Esta é uma questão que tem tomado conta da mente de muitos cristãos. Neste estudo, olhando para o exemplo dado pelo Senhor Jesus, poderemos encontrar a maneira de praticar essa ordenança, que é a mais profunda e desafiadora das responsabilidades mútuas dos crentes em Cristo: Amem uns aos outros.

Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. (Jo 13:34)

Entendendo o Mandamento

A expressão “uns aos outros”, no grego allelon, aparece mais de 50 vezes, no Novo Testamento. Merece máxima atenção, pois está sempre ligada ao que chamamos de mandamentos recíprocos. Curiosamente, estes muitos mandamentos podem ser resumidos em um somente: “Amai-vos uns aos outros”. Com a Bíblia aberta em João 13:34-35 e olhando as palavras do Mestre, vejamos alguns aspectos desse seu ensino.

A ordem

Foi com Jesus, na forma humana, que o amor começou a ser ensinado de modo mais claro e intenso do que em qualquer outro momento da história dos homens. Não podia ser de outro jeito, visto que ele era a prova viva do amor do Pai pela humanidade. Ele não apenas teorizava sobre o amor, mas expressava-o por palavras, gestos e atitudes. De acordo com os evangelhos, Jesus era o amor em pessoa. Como diz Clark: “Por onde passava, deixava no ar o perfume do amor”. [1] Observe como começa João 13. O texto informa que, lá no cenáculo, antes de lavar os pés dos discípulos, sabendo Jesus que havia chegado o tempo em que deixaria este mundo e iria para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim (Jo 13:1 – NVI).

A expressão “amou-os até o fim”, no texto grego, significa, literalmente, que Jesus amou-os até o limite se sua capacidade de amar. Mas como pode haver limites em quem é infinito? Na realidade, o texto quer dizer que Jesus os amou até as últimas consequências. Amou-os intensamente e com toda força. Então, imagine o tamanho deste amor! E foi para esses homens que ele ordenou que amassem uns aos outros. Não com um amor humano qualquer, mas com o amor com que ele os amou. Assim que Judas se ausentou para traí-lo, sabendo que a cruz estava cada vez mais próxima, o Senhor, na intimidade com os discípulos, declarou: Eu lhes dou este novo mandamento: amem uns aos outros (Jo 13:34a).

Ali, no Cenáculo, só havia tempo para as lições urgentes, e Jesus decidiu ensinar-lhes sobre o mandamento do amor. Tal ensino era tão imprescindível que, só nesta conversa com os discípulos, o mesmo mandamento foi repetido cinco vezes (Jo 13:34-35, 15:12,17). Uma vez que Deus é amor, a lição mais importante que ele quer que aprendamos na terra é como amar. Na Bíblia, há dois verbos gregos para referir-se ao amor: agapao e phileo. Mas, sem dúvida, o preferido do Espírito Santo para designar a prática do autêntico amor cristão é verbo agapao. É este que Jesus usa em João 13:34. Este amor não é apenas um sentimento ou uma emoção, mas, acima de tudo, uma atitude. É a escolha de agir em favor do outro, sem exigir nada antes e nem requerer nada depois. É uma ação consciente, criativa, incondicional e sincera de se aproximar de alguém com o objetivo de ajudá-lo. [2] Amar é o ato altruísta de respeitar e de se importar com o outro, querendo o seu bem e não o seu mal (1 Co 13:8-10).

O modo

O amor, por si só, é de difícil definição. Todavia, em Cristo, ele se torna ainda mais profundo e complexo. Veja que curioso: ao se referir ao amor mútuo dos cristãos, Jesus chama-o de “novo mandamento” (Jo 13:34). Mas, se pensarmos bem, veremos que, em certo sentido, o mandamento do amor não era novo, pois os dez mandamentos ensinavam o amor a Deus e ao próximo. Paulo, por exemplo, explica que estes mandamentos: “Não adulterarás”, “não matarás”, “não furtarás”, “não cobiçarás”, e qualquer outro mandamento, todos se resumem neste preceito: “Ame o seu próximo como a si mesmo” (Rm 13:9). Depois, com toda persuasão, o apóstolo conclui dizendo: O amor é o cumprimento da lei (Rm 13:10b).

Assim sendo, qual é a novidade, neste mandamento? O que há de completamente inédito é a maneira com que este amor foi demonstrado a nós por Cristo, na cruz, tornando-se o modelo para nos amarmos mutuamente. Por isso, está escrito: Assim como eu os amei, amem também uns aos outros (Jo 13:34b – RA). O modo de amar uns aos outros está estabelecido: Jesus Cristo é o padrão! Piper afirma: “A novidade é que o antigo mandamento de amar nunca havia sido exemplificado de forma tão perfeita quanto pelo Filho de Deus”. [3] De fato, antes de Jesus, nenhuma outra pessoa foi capaz de falar com tanta autoridade: “Amem como eu amei”, ou: “Eu dei o exemplo; agora, façam o mesmo”.

O apóstolo João foi, entre os doze, o que melhor entendeu essa verdade; por isso, escreveu em uma de suas cartas: Esta é a mensagem que vocês ouviram desde o princípio: que nos amemos uns aos outros (1 Jo 3:11). Após esclarecer o que não é o amor cristão, João explica o verdadeiro significado desse amor: Nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos (1 Jo 3:16). Sabemos que o amor mostrado por Jesus é incondicional, constante e autossacrificial (cf. Rm 5:8; Jo 13:1; 2 Co 5:14). É dessa maneira que amamos verdadeiramente.

O efeito

O texto de João 13:34-35 mostra-nos que é exigido do cristão um grau altíssimo de amor. Quem ama como Jesus amou, compadece-se, sofre com a dor do outro, e, ainda mais, abre mão de seu próprio bem-estar para ajudar o semelhante; é também capaz de dar vida pelo irmão. No exemplo de Jesus, aprendemos que o amor cristão não deve ser exercido apenas sobre aqueles pelos quais se descobre alguma afinidade. Ele nos ensinou, inclusive, a amar os nossos inimigos (Mt 5:43-44), ou seja, procurar o seu bem e não o seu mal (cf. Rm 13:10; 15:2). Contudo, o amor cristão deve ser ainda mais intenso no meio da família de Deus. Está escrito na Bíblia: Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé (Gl 6:10 – NVI).

O desejo do Senhor da igreja é que esse amor profundo, ardente, sacrificial e recíproco seja a marca registrada do relacionamento entre irmãos. Por isso, ele revelou: Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros (Jo 13:35). Quando o mandamento do amor mútuo é obedecido pelos cristãos, dois efeitos são logo percebidos. O primeiro ocorre nas pessoas, dentro da igreja: elas se tornam mais parecidas com Jesus, pois passam a viver o verdadeiro discipulado e a experimentar o cristianismo autêntico. O segundo efeito ocorre nas pessoas de fora da igreja: elas passam a olhar para igreja com bons olhos, pois começam a ver Cristo nos cristãos.

O amor de uns pelos outros é a prova irrefutável de que pertencemos a Jesus. Essa verdade pôde ser constatada na igreja primitiva. Lá, o convívio entre os irmãos era tão bonito que a cidade inteira tinha simpatia por eles (At 2:47 - BV). Além disso, Tertuliano, um dos pais da igreja, que viveu cerca de um século, após a morte dos apóstolos, relatou, num de seus escritos, o que, em sua época, os pagãos falavam a respeito dos cristãos: “Vejam como eles se amam! (...). Vejam, estão dispostos até mesmo a morrer uns pelos outros!”. [4] Que belo exemplo dos primeiros crentes. Que, hoje, ouçamos as mesmas palavras dos não-cristãos e sejamos testemunhas eficazes de Cristo no mundo.

Cabe-nos reconhecer que não é nada fácil praticarmos esse amor recíproco. Não é algo natural aos humanos decaídos. Ao contrário, a Bíblia diz que esse amor é divino: Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus (1 Jo 4:7 – NVI). É por isso que, logo após ter dado o “novo mandamento”, Jesus prometeu o Consolador (Jo 14:15-26). É o Espírito Santo que nos capacita a nos amarmos mutuamente. A seguir, três ensinos práticos a respeito do amor recíproco.

Aplicando a Palavra de Deus à nossa vida

1. Precisamos entender, urgentemente, que o amor recíproco como uma necessidade da igreja

O tema mais enfatizado por Jesus, no fim de seu ministério terreno, foi o amor recíproco. Isso porque essa virtude cristã, cultivada pelo Espírito Santo, fez com que a igreja continuasse a existir, mesmo na ausência física do Mestre e mesmo depois do martírio dos apóstolos. O amor é a essência da unidade da família de Deus. O amor de uns pelos outros é o oxigênio da igreja. É o que mantém o corpo de Cristo vivo e dinâmico. Além de ser uma ordem do Senhor para a igreja, é, sobretudo, uma necessidade da igreja do Senhor. Sem esse amor mútuo, não existe relacionamento saudável, dentro da igreja. É ele que nos torna irmãos, que fortalece nossa amizade e nos mantém em comunhão. Portanto, cultivemos o amor recíproco entre nós. É uma questão de sobrevivência! A vida cristã é relacionamento, e, sem amor cristão, não há bom relacionamento.


2. Precisamos entender que o amor recíproco deve ser uma característica da igreja

Começamos este texto com uma pergunta: O que Jesus espera do relacionamento entre seus seguidores? A resposta é simples: Que vivamos o amor que ele nos ensinou. A marca do verdadeiro discípulo não é um crucifixo colocado no pescoço, nem uma maneira diferente de se vestir, mas é o amor para com seus irmãos em Cristo. [5] Esse amor profundo e sacrificial de uns pelos outros é a característica que distingue a igreja de Cristo dos demais grupos. Porém, esse amor não é vivido na teoria, mas na prática. João exortou: Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade (1 Jo 3:18). O que caracteriza a igreja não é o falar, mas o praticar o amor. O respeito com o semelhante, o atendimento ao pobre necessitado, o perdão mútuo e a ajuda recíproca são algumas maneiras práticas de demonstrar o amor recíproco.


3. Precisamos entender que o amor recíproco age como um testemunho da igreja

A amizade entre os crentes em Cristo é um dos mais excelentes meios de pregar o evangelho do reino. Nesta sociedade individualista em que vivemos, quando a igreja pratica verdadeiramente amor cristão e recíproco, torna-se um manancial no deserto. Ela é sal da terra e luz do mundo, como Jesus ensinou. Era isso o que acontecia com a igreja primitiva. Naquele tempo, os cristãos desfrutavam da simpatia dos não-crentes, por causa do belo relacionamento existente entre eles, e, nisso, o Senhor lhes acrescentava todos os dias os que iam sendo salvos (At 2:47). Por isso, quando pensarmos na evangelização, não devemos esquecer que o amor de uns pelos outros, vivenciado na igreja, é uma das mais eficientes formas de apresentarmos Jesus ao mundo.

Concluindo

Neste estudo vimos a maneira de amarmos uns aos outros como o Mestre nos ensinou. Vimos que o amor recíproco é uma norma dada a todos os seguidores de Cristo e que o padrão desse amor foi estabelecido por Jesus, no Calvário: Assim como eu os amei, amem também uns aos outros (Jo 13:34b). Quando nos amamos dessa forma, praticando no nosso dia a dia os ensinos do Mestre, vivemos o relacionamento que o Senhor planejou para nós.


Bibliografia

1. CLARK, Mauro. Você ama de verdade?: Despertando para o genuíno amor cristão. São Paulo: Candeia, 1999. Pág. 11
2. SCHWARZ, Christian A. Aprendendo a amar. Curitiba: Esperança, 1997. Pág. 24
3. PIPER, John. O que Jesus espera de seus seguidores: mandamentos de Jesus ao mundo. São Paulo: Vida, 2008. Pág. 295
4. HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: João. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. Pág. 638
5. MACDONALD, William. Comentário bíblico popular: versículo por versículo: Novo Testamento. São Paulo: Mundo Cristão, 2008. Pág. 303


Fonte:
Departamento de Educação Cristã
Pb Paulo Cesar Amaral

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