Ombro amigo. Mais que palavras, isso precisa ser realidade na igreja.




Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo. (Gl 6:2)

Ele pecou e nunca mais conseguiu se reerguer. Esta tem sido a história de muitos. História que seria outra, se as ajudas necessárias tivessem chegado em tempo hábil. Ainda é tempo de ajudar, para que muitas histórias sejam diferentes e melhores. Falhas podem ser transformadas em valiosos testemunhos daquilo que Deus pode fazer nas pessoas, e ele o faz por intermédio de seus filhos, pessoas que foram lavadas e purificadas pelo sangue de Cristo. Quando ajudar, como e a quem, bem como os requisitos para quem ajuda, são questões a serem tratas neste estudo.

COMPREENDENDO O MANDAMENTO DE DEUS

Legalistas infiltraram-se entre os cristãos da Galácia, ensinando questões que consistiam em fardos pesados sobre os outros (cf. At 15:10). Isso levou Paulo a escrever a estes irmãos sobre as verdades do cristianismo. No capítulo 6 da Carta aos Gálatas, o apóstolo dá orientações seguras sobre a ajuda aos que falharem e caírem em pecado. Diferentemente dos legalistas que se utilizavam das fraquezas do outro para se promoverem, Paulo mostra o quanto é “justo” e “santo” o cristão que não se porta com arrogância, mas com compaixão, humildade e amor genuíno, para ajudar aquele que caiu.

Precisamos ajudar os irmãos que caírem: O capítulo 6 começa assim: Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta. A palavra “surpreendido” tem, aqui, o sentido de colhido ou agarrado desprevenidamente. Refere-se àquelas situações inesperadas, quando o cristão é apanhado por uma situação pecaminosa ou por um elemento surpresa, sem condições de se defender, e logo se vê pisando fora do caminho. [1] Situações assim precisam de intervenção e, geralmente, são momentos difíceis para o irmão que sofreu o fato. Ele precisa de ajuda; porém, ajudar em tais circunstâncias não é fácil.

A carga a que Paulo se refere, em Gálatas 6:2, é o terrível peso da culpa que pressiona o cristão para baixo e o escraviza no pecado. [2] A tentação o pegou e, de imediato, outros cristãos precisam encontrar meios para restaurá-lo. Levar as cargas uns dos outros significa que o fardo que era apenas daquele que caiu, agora, passa a ser também dos outros irmãos, que conseguem olhar para este com misericórdia. Isso não é missão para uma pessoa, mas para a comunidade. Por isso, Paulo usa a figura do corpo para ilustrar a igreja (1 Co 12:12). O que afeta um membro torna-se responsabilidade de todos. O cristão tem responsabilidade, quando o outro peca, no sentido de fazer o possível para ajudá-lo a se levantar.

A igreja jamais deve ignorar a sua responsabilidade para com os faltosos. É questão de obediência à palavra de Deus. Levar as cargas uns dos outros é um mandamento cristão. E obedecer-lhe sempre traz bons resultados, pois, quando se trata um caso no momento certo e na forma correta, escândalos, dores, sofrimentos e mal-entendidos podem ser evitados. O mais importante é que pessoas podem ser restauradas para a glória de Deus. Vale dizer que o texto trata sobre os cristãos espirituais, e Paulo se inclui entre eles (Gl 5:25). Crentes espirituais são distinguidos pela evidência do fruto do Espírito em suas vidas (Gl 5:22-23). Estes estão de pé, firmes e vigilantes e, portanto, podem levar as cargas dos outros. Somente crentes maduros conseguirão lidar com pecados mais sérios, sem se prejudicar e esmorecer na fé (Lc 6:39,41-42).

Devemos ter o máximo de cuidados na ajuda aos que caírem: Nem todos estão aptos para ajudar os faltosos, razão pela qual Paulo se refere aos cuidados necessários para esse tipo de ajuda. Em primeiro lugar, é preciso ter maturidade cristã: Vós que sois espirituais (Gl 6:1). Nestas palavras, fica claro o contraste entre os crentes que obedecem à palavra de Deus e os que não lhe obedecem. Em segundo lugar, é preciso ter acompanhamento: Paulo declara: ... corrigi-o (Gl 6:1). No texto grego, o tempo está no presente, o que indica ação continuada, ou seja, ações persistentes, até a restauração da pessoa. Corrigir significa levar ou restaurar algo ou pessoa à posição anterior de pureza ou integridade.

Em terceiro lugar, é preciso ter ternura e humildade: ... com espírito de brandura (Gl 6:1). Inferiorizar o outro não ajudará, em nada, o processo de restauração. Quem se dispõe a ajudar, precisa ter consciência de que não é merecedor de tal honra e de que é apenas instrumento da graça de Deus. Paulo convida o crente a olhar para trás e relembrar de onde veio (Tt 3:3-5). Quem realmente entende que foi salvo exclusivamente pela graça de Deus, jamais se aproximará de outra pessoa (salva ou não), com arrogância, superioridade ou orgulho. [3] A ajuda aos fracos deve ser feita com genuína humildade.

Em quarto lugar, é preciso ter exame pessoal: Diz-nos o texto: guarda-te (Gl 6:1). É importante notar que, aqui, Paulo muda do plural para o singular, o autoexame tem que ser individual. O verbo grego skopeo indica consideração firme, como o atirador que contempla seu alvo, antes de dar o tiro. [4] Em quinto lugar, é preciso ter vigilância: ... para que não sejas também tentado (Gl 6:1). É fundamental cuidar-se, para não cair em armadilha, ao tentar ajudar. Sempre que possível, é bom ter mais de uma pessoa envolvida na restauração, porque a carne pode engendrar processos enganosos e atraentes, que se tornam verdadeiras armadilhas para quem está atuando no processo de restauração de um irmão.

Restauração é o objetivo principal da ajuda aos que caírem: É preciso ser cuidadoso e não ser muito rápido em julgar os outros. Quando se julga com rapidez, sem conhecer detalhes sobre os acontecimentos e sem conhecer as motivações de quem pecou, corre-se o risco de não se conseguir o resultado necessário, que é a restauração, e isto por falta de bondade, humildade, compaixão e mansidão, requisitos que, conforme as orientações de Paulo, são fundamentais na ajuda aos faltosos. Sem estes requisitos, é possível ter bons acertos na avaliação do pecado, mas poucos resultados positivos na restauração da pessoa em sua vida espiritual.

Apesar de todos os cuidados tomados, haverá situações em que o crente carnal não reagirá positivamente às abordagens. Em situação semelhante, Paulo deu aos seus leitores oportunidade de escolha: Que preferis? Irei a vós outros com vara ou com espírito de mansidão? (1 Co 4:21). Alguns estão envolvidos demais no pecado e não conseguem reagir; outros estão enganados, com a visão comprometida pelo pecado e não conseguem visualizar a necessidade de mudança, ainda que as abordagens sejam feitas com amor e humildade. A igreja não pode mudar o coração das pessoas, mas o seu papel é ajudar.

Ainda que os cuidados com a restauração dos faltosos sejam uma responsabilidade da igreja local, geralmente não há necessidade de envolver cada uma das pessoas da comunidade no processo, pois nem todas estão preparadas e nem todas foram afetadas. Por prudência, o aconselhável é que somente o corpo de conselho da igreja e as pessoas que foram afetadas sejam envolvidos, e mais ninguém. O problema deve ser tratado com amor compassivo e com maturidade cristã para ter solução. O verbo “corrigir” tem também o sentido de reparar, consertar. É quando um osso do corpo é fraturado e o médico age para que seja curado. Essa é a visão que devem ter todos os envolvidos no processo de restauração de faltosos.

APLICANDO E PRATICANDO A PALAVRA DE DEUS EM NOSSA VIDA

Devemos carregar os fardos dos outros com sensibilidade - Somente com sensibilidade será possível compreender o infrator e suas necessidades e também só assim se pode perceber e seguir as orientações do Espírito Santo, como fazem os crentes espirituais. A omissão e a indiferença são graves erros. Fazem com que o crente não entenda ou não se envolva com as necessidades dos outros. Neste momento, existem pessoas debatendo-se para não serem vencidas pelo pecado, pessoas com problemas familiares e problemas emocionais. Levar as cargas uns dos outros é colocar o ombro debaixo da carga que o outro está levando para aliviar-lhe o peso. Só quem tem um coração sensível pode fazer isso. Seus ombros estão sendo instrumentos de ajuda?

Devemos carregar os fardos dos outros com responsabilidade - Alguns se colocam a ajudar, até por causa da função que ocupam na igreja local. Contudo, aproveitam-se da ocasião em que o outro está fragilizado para ofendê-lo, sendo ríspidos e injuriosos; aproveitam o momento para ir à forra por alguma situação anterior. Nesses casos, boatos tornam-se mais importantes que fatos. Isso é horrível e pecaminoso! Foge completamente do objetivo bíblico de carregar as cargas dos fracos. A ajuda deverá sempre ser de natureza positiva e nunca negativa. Nunca pode ter o objetivo de prejudicar, mas sempre de ajudar o infrator. Sua ajuda tem sido como objetivo de aliviar as cargas do irmão ou oprimi-lo ainda mais? Pense sobre isso.

Devemos carregar os fardos dos outros com complacência - Quando levamos as cargas uns dos outros, cumprimos a lei de Cristo, que é o amor (Jo 13:34). Observe a ternura com que Cristo tratou a mulher adúltera (Jo 8:1-11); veja a compaixão dispensada por ele ao ladrão da cruz (Lc 23:43); note a misericórdia demonstrada por ele à mulher pecadora (Lc 7:36-50). O crente carnal geralmente é muito exigente com os outros e pouco ou nada exigente consigo mesmo; mas o crente espiritual exige muito de si e sabe ser complacente com os outros. Aquele que caiu no pecado é como o osso que foi fraturado. Colocar o osso no lugar e esperar que ele se calcifique pode ser um processo longo e doloroso. Você tem sido complacente e misericordioso com os irmãos que falharam? Você tem oferecido seus ombros para estes?

CONCLUSÃO

Ombro amigo. Mais que palavras, isso precisa ser realidade na igreja. Todos precisam de um ombro amigo e precisam também ser um ombro amigo. Ajudar os outros a carregar suas cargas é nobre, produz a experiência de se sentir útil, para que aquele “osso fraturado” seja colocado no lugar e se calcifique. Essa é uma tarefa a ser realizada por muitos ombros; uma missão que, quando bem cumprida, traz honra e glória ao Senhor da igreja, fortalece a unidade e a confiabilidade da igreja, aumenta o conforto e a fé nos seus membros, em especial, naqueles que falharam e experimentaram o poder restaurador do sangue de Cristo.

Que Deus nos ajude!


Bibliografia:

1. GUTHRIE, Donald. Gálatas: introdução e comentário. São Paulo: Mundo Cristão e Vida Nova, 1988. Pág. 183

2. GETZ, Gene A. Um por todos, todos por um. Brasília: Palavra, 2006. Pág. 109

3. GETZ, Gene A. Um por todos, todos por um. Brasília: Palavra, 2006. Pág. 113

4. GUTHRIE, Donald. Gálatas: introdução e comentário. São Paulo: Mundo Cristão e Vida Nova, 1988. Pág. 184


Fonte:
DEC - PCamaral

Nenhum comentário:

Todos os comentários serão moderados. Comentários com conteúdo fora do assunto ou do contexto, não serão publicados, assim como comentários ofensivos ao autor.

Tecnologia do Blogger.