O desprezo ao evangelho

O desprezo ao evangelho

O evangelho de Jesus é poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1:16). Por isso, merece ser anunciado a todo o mundo (Mt 24:14). O verdadeiro evangelho é puro e incorruptível em sua essência; não pode ser mudado, nem alterado, pois, de acordo com o apóstolo Paulo, se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema (Gl 1:9b). Todavia, parece que os cristãos da Galácia ignoraram essa orientação, visto que passaram a adotar práticas do judaísmo, como a circuncisão, considerando-as determinantes para a salvação.

E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé. (Gl 3:11)

I. Estudando o ensino da carta

A atitude dos gálatas em acrescentar ao evangelho as práticas judaizantes demonstrava grande desprezo ao evangelho pregado pelos apóstolos. A situação era grave. Como veremos no estudo do texto de Gálatas 3:1-14, colocar os rituais da lei acima do sacrifício de Jesus é um grave erro. Por isso, apóstolo Paulo se preocupa em evidenciar o desprezo dos gálatas pelo evangelho, denunciar os que estão por trás do falso ensino e combater com firmeza as heresias que visam macular o evangelho de Cristo.

1. O desprezo é evidenciado

O apóstolo constata que os gálatas haviam passado por mudanças drásticas. O evangelho por eles defendido já não era mais o que lhes fora pregado, quando se converteram. Eles desprezaram o evangelho de Jesus, por meio de um retrocesso na convicção: Ó gálatas insensatos! (Gl 3:1).

A palavra “insensato” significa tolo, espiritualmente néscio, e descreve uma ação sem sabedoria.[1]
Que atitude insensata tomaram os gálatas? Estavam voltando às práticas cerimoniais prescritas na lei. Não mais eram convictos de que o sacrifício de Jesus era suficiente para justificá-los. Isso os levou a um retrocesso na escolha: ... tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne? (Gl 3:3).

Os gálatas começaram bem, mas logo recuaram. Escolheram a carne, ao invés do Espírito. Nesse contexto, a “carne” indica tudo aquilo em que, à parte de Cristo, uma pessoa quer basear sua esperança de salvação. Eles estavam renunciando a Cristo como seu único e suficiente Salvador e confiando nos ensinos dos judaizantes, que defendiam a observância de cerimônias, da circuncisão, etc. [2]

Adotaram esses rituais e não o sacrifício de Jesus, como meio para justificação.[3]

O retrocesso dos cristãos gálatas se estendeu ao seu legado: Terá sido em vão que tantas coisas sofrestes? (Gl 3:4a). Como tantos outros, os cristãos da Galácia sofreram no começo da vida cristã nas mãos dos inimigos do evangelho (At 13:45,50, 14:2-6, 19,22). O seu exemplo no sofrimento era o seu legado para os cristãos de outros tempos. Porém, para que serviram os sofrimentos, se agora desprezavam o evangelho?

2. O desprezo é promovido

Os gálatas não se rebelaram contra o evangelho genuíno à toa. Houve uma ação orquestrada de Satanás, no intuito de promover seus enganos. Para tanto, ele usou mestres enganosos:
Quem vos fascinou a vós outros? (Gl 3:1). Os judaizantes possuíam conhecimento e habilidade para convencer, mas usavam suas técnicas de retórica a serviço do reino das trevas.

Os judaizantes utilizavam o conhecimento não para salvar, mas para enganar. Suas intenções consistiam em desvirtuar os cristãos do caminho de Cristo. Para promover o engano, Satanás também disseminou ensinos maliciosos. A palavra “fascinou” (gr. abaskanen) carrega a ideia de um feitiço, de prejuízo a alguém, mediante ação espiritual ou palavras malignas.[4]

Tais palavras foram usadas pelos judaizantes para convencer os gálatas. Era sedutora a ideia que esses mestres pregavam de que deveriam ser acrescentados à fé em Cristo os rituais mosaicos.[5] É como se o evangelho puro e simples não bastasse.

Era preciso enfeitá-lo. Hoje em dia, essa prática ainda persiste. Na tentativa de suplementar o evangelho, muitos lhe adicionam práticas estranhas: o uso de sal grosso, de ganho de arruda, de copo com água, rituais evangélicos de quebra de maldição, a exigência aos membros de “sacrifícios” para serem abençoados etc.

Para promover seus enganos, Satanás ludibriou ouvintes incautos: Ó gálatas insensatos! Faltou aos gálatas prudência, cautela. Não deveriam ter aceitado de pronto os ensinos dos judaizantes. Seus argumentos mentirosos, mas bem arquitetados, foram o bastante para ludibriar os incautos gálatas. Infelizmente, eles aceitaram a mentiram como verdade.

3. O desprezo é combatido

Uma vez que o desprezo ao evangelho havia sido evidenciado e promovido, cabia ao apóstolo Paulo preparar uma defesa clara e convincente do evangelho de Cristo. E isso nele fez, utilizando dois importantes argumentos. O primeiro deles diz respeito ao meio da justificação. Ao contrário do que afirmavam os judaizantes,na justificação não ocorre pelas obras, mas pela fé (Gl 3:11).

Para reforçar esse argumento, Paulo lembra que Abraão foi justificado pela fé. As obras não o justificaram, pois a sua circuncisão aconteceu somente uma década mais tarde a esta declaração:[6] Ele creu no SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça (Gn 15:6). Ora, se o pai dos crentes foi justificado pela fé, por que seus filhos seriam justificados pelas obras da lei? Isso seria ilógico.

Paulo usa a figura de Abraão também para lembrar que os gentios são justificados pela fé: Em ti [Abraão], serão abençoados todos os povos (Gl 3:8b). Foi pela fé, não pelos rituais judaicos de cerimônias, tais como circuncisão e sacrifícios de animais, que os gentios gálatas haviam sido justificados. Voltar a tais práticas significava desmerecer o sacrifício salvífico de Jesus.

O segundo argumento refere-se ao mérito da justificação: Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (Gl 3:13). Não somos justificados por nossos próprios méritos, mas pela morte de Jesus. Com o seu sacrifício na cruz, ele pagou o preço que a nós era impossível pagar (1 Tm 2:5,6). Sabemos que a lei moral deve ser observada, hoje, por todo cristão, por ser eterna.

Contudo, não a guardamos para sermos salvos, mas guardamos porque já somos salvos em Cristo. A lei moral aponta nosso pecado; por isso, é necessária. Ela nos condena, mas Cristo nos salva e nos ajuda a obedecer-lhe. Jesus nos resgatou da “maldição da lei”, através do perdão.

É imprescindível que os cristãos da atualidade não incorram no mesmo erro dos gálatas e que sejam cautelosos, diante de qualquer ensino que sugira a salvação pelas obras em detrimento do sacrifício de Jesus. Querer depender de si mesmo para chegar à condição de justo diante de Deus, é um grave equívoco, que deve ser, o quanto antes, combatido e abandonado.

II. Aplicando o conhecimento bíblico da carta aos Gálatas

1. Para evitar o desprezo ao evangelho, não tente acrescentá-lo.

Em sua astúcia, os judaizantes convenceram os cristãos da Galácia a acrescentarem, em sua vida cristã, a prática dos rituais cerimoniais do judaísmo, como sendo necessários e determinantes para a salvação, que, na visão deles, ocorre pelas obras, não pela graça. No entanto, o Espírito Santo inspira Paulo a escrever que pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé (Gl 3:11). Os mestres do engano haviam tentado acrescentar ao evangelho a doutrina da salvação pelas obras.

Mas ninguém pode acrescentar nenhum ensino ao evangelho. Este é completo e não necessita de complemento algum em sua essência. O verdadeiro evangelho de Jesus é puro e simples e beneficia o pecador com o perdão, não por méritos humanos, mas por graça divina. Não caiamos no erro de acrescentar às boas novas práticas estranhas aos seus princípios.

Se quisermos servir a Deus, não podemos agir como aqueles que trabalham no intuito de perverter o evangelho de Cristo (Gl 1:7).

2. Para evitar o desprezo ao evangelho, não tente diminuí-lo.

Em sua astúcia, os judaizantes convenceram os cristãos da Galácia a diminuírem a importância do sacrifício de Jesus em sua vida cristã.

Mesmo tendo aprendido sobre a morte expiatória de Cristo na cruz, os gálatas deixaram de dar a esse episódio a devida importância. Eles foram ludibriados pela falsa ideia de que a morte de Cristo não era suficientemente capaz de salvá-los.

Então, voltaram-se à prática de ritos cerimoniais, como a circuncisão, acreditando que, por meio deles, alcançariam a perfeição.

A nossa justificação não ocorre por meio das nossas obras. Não possuímos mérito algum, diante de Deus, que nos faça salvar a nós mesmos. Aliás, Paulo afirmou aos efésios: ... pela graça sois salvos mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus (Ef 2:8). Foi Cristo quem nos resgatou e tomou o nosso lugar na cruz (Gl 3:13). Não fosse o seu sacrifício, estaríamos padecendo sob a ira de Deus (Rm 5:9).

Ignorar a importância de tamanho sacrifício é diminuir o evangelho. Evitemos cair em tal insensatez.

Concluindo

A estudo mostrou que a preocupação de Paulo se concentrava no fato de que os gálatas estavam desprezando o evangelho de Cristo, por meio da adesão à prática dos rituais cerimoniais do judaísmo. O apóstolo sugeriu que tal atitude é insensata, considerando que, por meio da fé em Jesus, não das obras, os gálatas haviam recebido tantos benefícios (Gl 3:1-5). Será que não temos incorrido no mesmo erro de acreditar que é por meio das obras, não da fé em Jesus, que obteremos benefícios espirituais? Reflitamos a respeito.

Notas:
1. LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: a carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos 2011. (2011:130)
2. HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Gálatas. Tradução de Valter G. Martins. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. (2009:139)
3. ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia sistemática. Tradução de Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1997. Segundo Erickson (1997:408), a justificação é o ato de Deus declarar que, aos seus olhos, os pecadores são justos. Ele nos declara inocentes e cumpridores daquilo que a lei exige.
4LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: a carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos 2011.p.131
5. HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Gálatas. Tradução de Valter G. Martins. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.p.137
6. POHL, Adolf. Carta aos Gálatas: Comentário Esperança. Tradução de Walter Fuchs. Curitiba: Esperança, 1999. p. 105

Fonte:
Lições Bíblicas - Departamento de Educação Cristã

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