Estenda suas mãos aos caídos

Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado. (Gl 6:1)



Observando a palavra de Deus, podemos constatar que a tentação pode estar presente na vida de todo cristão. Jesus Cristo foi tentado, porém, não cedeu a ela (Mt 4:1-11). Todavia, nem todos permanecem firmes, quando são tentados, e a queda pode ser, em algum momento, concreta e fatal. Uma vez caído, o ser humano necessita ser restaurado e isso acontece mediante ação do Espírito Santo. Conquanto este faça a sua parte, nós devemos fazer a nossa. Ajudar os caídos é uma responsabilidade de todo cristão. Mas de que forma podemos, então, ajudá-los? É sobre isso que iremos tratar no decorrer deste estudo.

Quando se trata de disciplina na igreja, na mente de muitos, inevitavelmente, o que surge é a imagem de uma pessoa na condição de “réu” diante do conselho local, sendo confrontada com o pecado cometido. A verdade é que, por ser muitas vezes algo constrangedor, a disciplina, dependendo da situação, não é um assunto fácil de lidar, mesmo sendo necessário. Por isso, Paulo trata desse assunto com muito zelo e amor. Portanto, é necessário que nos despojemos de todo preconceito, a fim de examinarmos com seriedade e amor a necessidade, o propósito, o processo e as consequências da disciplina na igreja.

1. A necessidade da disciplina na igreja:

A igreja é um corpo, do qual Cristo é a cabeça (Cl 1:17); Ele fez dela uma “raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, a sua propriedade exclusiva, a fim de proclamar as virtudes dele” (I Pe 2:10). Tendo, contudo, tamanho apreço diante do Senhor, a igreja ainda não é uma comunidade incorruptível, perfeita e imune ao pecado. O apóstolo João deixa isso muito claro, ao afirmar: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” (I Jo 1:8). Logo, se uma pessoa transgride os princípios e as normas bíblicas, deve ser chamada à atenção para não mais incorrer no erro. A igreja de Cristo não pode caminhar sem disciplina. Devemos, sem hesitação, reconhecer que necessitamos de disciplina.
“Nenhum de nós é perfeito, concluído. Precisamos ser inspirados, nutridos e curados; podemos necessitar de correção, disciplina ou quebrantamento”.
Podemos ser nutridos, se houver alimento nutricional correto; podemos ser curados, se nos medicarmos com o remédio certo, com a dose certa. A disciplina é o início da desintoxicação do pecado em nossa alma; é uma prova de amor, “pois o Senhor corrige a quem ama e castiga quem ele aceita como filho” (Hb 12:6).

2. O propósito da disciplina na igreja:

Ao contrário do que se possa imaginar, o propósito maior da disciplina não é “condenar” nem “excomungar” o pecador da igreja, mesmo que, em alguns casos, a Bíblia nos dê autoridade para esta última, como, por exemplo, no caso de Himeneu e Alexandre (I Tm 1:20) e no caso do homem de Corinto que praticava incesto (I Co 5:5), os quais foram entregues a Satanás, mas, ainda assim, visando ao arrependimento. O texto de Gálatas é enfático em dizer que “se alguém for surpreendido nalguma falta (...) corrigi-o” (Gl 6:1). O verbo é educativo. Katarizo significa “pôr em ordem” e, assim, “restaurar a condição anterior”. Os caídos carecem de restauração! É certo que a disciplina, dentre outras coisas, busca remover o erro e evitar que o pecado “levede” a igreja com sua influência; porém, em hipótese alguma, podemos deixar de crer que a mesma tende, não a enaltecer o pecado, mas a curar o pecador. A disciplina deve ser aplicada com a sensibilidade do amor cristão. Lembre que foi Jesus quem falou: “Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos” (Mt 9:12). Portanto, o propósito principal da disciplina eclesiástica é alcançar o duplo alvo da restauração (levar o pecador ao comportamento correto) e da reconciliação.

3. O processo da disciplina na igreja:

A disciplina não deve ser aplicada de qualquer maneira, pois estamos tratando de pessoas que, como nós, precisam da graça de Cristo. Ela deve ser conduzida com sabedoria e amor para com a pessoa infratora. Quando não entendemos isso, a obra de Deus é prejudicada, o corpo de Cristo é machucado e nós nos sentimos culpados por não cumprirmos o maior dos mandamentos, que é o amor (Mt 22:36-37). Observe a expressão “corrigi-o, com espírito de brandura” (v.1). A “mesma palavra grega ‘brandura’ (praotes) aparece em 5:23 como parte do fruto do Espírito”. Ela tem o mesmo significado de “mansidão”. Isso implica dizer que:
“Se apanharmos alguém fazendo alguma coisa errada, não devemos permanecer inertes, sob o pretexto de que não é da nossa conta e não queremos nos envolver. Nem devemos desprezá-lo ou condená-lo em nossos corações (...) devemos corrigi-lo”.
É nossa obrigação ajudar a restaurar o irmão em pecado. Há erros pelos quais podemos chegar ao irmão e corrigi-lo, sem o constranger (Mt 18:15). A discrição é importante nesse processo, bem como a imparcialidade, ou seja, a disciplina deve ser justa. Isso deve envolver a verdade dos fatos (I Tm 5:19) e maturidade espiritual (v.1).

4. As consequências da disciplina na igreja:

A disciplina bíblica, quando aplicada corretamente, tende a trazer benefícios, tais como: a) restauração da pessoa disciplinada. A disciplina mostra ao pecador o dever de cumprir a lei (Tg 2:10-12); mostra a necessidade de arrependimento (Lc 17:4). Deste modo, a pessoa disciplinada é motivada a retornar à comunhão do corpo de Cristo, pois entende que, na situação em que se encontra, sempre estará distanciada de Deus (Is 59:2). No entanto, pode contar com o perdão do Senhor, porque ele é generoso em perdoar (Is 55:7). Além da restauração do crente, a disciplina promove: b) preservação da pureza da igreja. A igreja não pode permitir que o pecado a contamine, mas deve repudiá-lo. A pessoa deve ser restaurada, mas o pecado, confrontado. Os membros do corpo de Cristo devem ter consciência de que Cristo não abre mão da pureza (II PE 3:14). Sem dúvida alguma, a disciplina leva a igreja à certeza de que o pecado não deve ser tolerado, mas a santificação precisa ser posta em prática. Foi por isso que Paulo ficou chocado pelo fato de os coríntios não terem disciplinado o homem que permanecia deliberadamente em pecado, o que era publicamente conhecido na igreja (I Co 5:2).

Tratando, ainda, de como devemos proceder, com relação à pessoa disciplinada, Paulo se dirige aos gálatas da seguinte forma: “Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo” (v.2). Nem todo aquele que está caído consegue levantar-se sozinho. Todos nós precisamos da ajuda dos outros. Na visão divina, não funciona o ditado “cada um por si e Deus por todos”. Não somos auto-suficientes. Ter de suportar a vergonha de ter cometido uma falta grave não é fácil. Por que, então, não nos dispomos a estender nossas mãos para ajudar nosso irmão, nesse momento tão difícil? Só assim poderemos cumprir, verdadeiramente, a lei de Cristo.

APLICANDO O ENSINO DA BÍBLIA

1. Ajudar os caídos envolve amor na disciplina.

Há casos em que pessoas que foram disciplinadas não conseguiram se reerguer novamente. Ora, por que isso acontece, se a disciplina visa restaurar o caído? Talvez por causa da forma com que, muitas vezes, é aplicada. O texto é claro: “Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo” (Gl 6:2). Quando alguém comete um delito grave, pode sentir-se envergonhado (Gn 3:10), e isso pode fazê-lo evitar ir à igreja, conversar com os irmãos; pode levá-lo a sentir-se inferior às demais pessoas, etc. Portanto, nesse momento, devemos ajudá-lo com intenso amor! Não devemos evitá-lo, nem devemos julgá-lo ou condená-lo, mas, sim, lutar por ele, conquistá-lo! (Mt 18:15).

2. Ajudar os caídos envolve santidade na disciplina.

O cego não pode guiar outro cego, pois ambos podem cair no buraco (Mt 15:14). A disciplina não é carnal, mas espiritual. Por isso, deve envolver santidade. O caído deve ser restaurado através da santificação e para a santificação. Para que isso aconteça, precisamos nos portar diante da pessoa caída de modo santo, a fim de levá-la a perceber a necessidade de se santificar. Foi por isso que Paulo se dirigiu a pessoas espirituais: “vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura” (Gl 6:1), ou seja, para corrigir os outros, é necessário haver, primeiramente, espiritualidade. Nesse caso, o testemunho de vida é mais importante que palavras.

3. Ajudar os caídos envolve cuidado na disciplina.

O ato da disciplina deve ser conduzido com cuidado, no que diz respeito à justiça. As pessoas devem ser “disciplinadas”, quando necessário, pelos pecados que cometem, mas é injusto serem julgadas por algo que não cometeram. Por isso, o conselho bíblico é que se analise o caso de modo imparcial, a fim de buscar a verdade dos fatos, para que a disciplina não seja injusta (I Tm 5:19,21). É muito perigoso julgarmos as pessoas por sua aparência, deixando em segundo plano a reta justiça ordenada por Cristo (Jo 7:24). Portanto, tratemos as pessoas caídas com cuidado, para não nos dirigirmos a elas injustamente. A justiça faz parte da lista das “bem-aventuranças” (Mt 5:6).

CONCLUSÃO:

Após analisarmos a necessidade, o propósito, o processo e as consequências da disciplina na igreja e ainda estudarmos as implicações do amor, da santidade e do cuidado na disciplina para com os caídos, cabe-nos, agora, uma postura imediata para que a restauração aconteça na vida dos nossos queridos irmãos que se encontram em tal situação. Pode ser que, ao seu lado, haja um irmão precisando da sua ajuda para retornar à condição anterior. Não hesite em estender as suas mãos para levantá-lo. Somos imitadores de Cristo; portanto, devemos praticar para com os caídos aquilo que mais ele nos ensinou com palavras e atitudes: amor.

Pense nisso

DEC
PCamaral


Nenhum comentário:

Todos os comentários serão moderados. Comentários com conteúdo fora do assunto ou do contexto, não serão publicados, assim como comentários ofensivos ao autor.

Tecnologia do Blogger.