Abigail uma mulher pacificadora
Há pessoas que são especialistas em construir muros: vivem erguendo barreiras entre aqueles com os quais convivem, com os quais trabalham, com os quais estudam, com os quais congregam. Fazem isto promovendo discórdias, semeando contendas, espalhando fofocas, denegrindo a imagem de outro, inventando histórias. Não é sem razão que, de um modo geral, tantas crises façam parte das relações humanas. Mas, hoje, vamos ler sobre uma mulher que era especialista em construir pontes. O seu nome? Abigail. Além de linda, ela era sábia, muito sábia. Ela usou essa sabedoria para construir uma ponte entre Davi e Nabal, o seu marido. Esta sua atuação pacificadora é extremamente instrutiva e edificante. Vamos aprender muito com esta mulher, cuja história está registrada no primeiro livro de Samuel (25:2-42).
"Nabal era o nome deste homem, e Abigail, o de sua mulher; esta era sensata e formosa, porém o homem era duro e maligno em todo o seu trato. Era ele da casa de Calebe" (I Sm 25:3)
O que a Bíblia diz sobre Abigail
1) O pedido humilde:
Logo depois do sepultamento de Samuel, Davi partiu e desceu de Parã, região desértica e inóspita. Desse lugar, soube que Nabal estava cortando a lã das suas ovelhas, num vilarejo chamado Carmelo. Esse pecuarista, extremamente poderoso e próspero, descendente do famoso Calebe, era casado com Abigail, uma mulher muito linda e muito gentil. O tempo da tosquia era um tempo de mostrar hospitalidade e generosidade, quando os envolvidos eram servidos com muita comida e bebida. Sendo assim, esta era a ocasião certa para Davi pedir uma ajuda a Nabal. Foi o que fez. Enviou a Nabal dez homens, com o objetivo de solicitar-lhe ajuda material para suprir as necessidades daqueles que o acompanhavam.Davi e os que o seguiam nunca tiveram contato pessoal e direto com aquele homem abastado. Mas, em outro tempo, em campo aberto, tiveram contato com aqueles que pastoreavam o seu rebanho. Nessa época, Davi e o seu bando – formado, na maioria, por pessoas endividadas, insatisfeitas, empobrecidas – poderiam ter atacado os pastores e roubado o rebanho de Nabal. Mas fizeram exatamente o contrário: foram como um muro ao redor deles, protegendo-os e ajudando-os contra possíveis ataques de ladrões violentos e animais ferozes do deserto. O pedido de Davi, portanto, era razoável. Ainda hoje, esta espécie de “preço de proteção” é regularmente arrecadado pelos beduínos, nas fronteiras entre as terras desérticas e as terras cultivadas.
2) A recusa estúpida:
Ao chegarem à presença de Nabal, os homens enviados fizeram uma abordagem altamente diplomática, civilizada e conveniente. Fizeram exatamente conforme a orientação de Davi. Não se utilizaram, em tempo algum, de mecanismos chantagistas ou ameaçadores para extorquir dinheiro e favores de Nabal. Eles simplesmente disseram: "dá, pois, a teus servos e a Davi, teu filho, qualquer coisa que tiveres à mão" (I Sm 25:8b). Assim que deram este recado, sentaram-se e aguardaram a resposta. Eles devem ter imaginado uma resposta igualmente educada e bondosa. Nabal, porém, fiel ao significado do seu nome, respondeu aos polidos mensageiros de Davi de maneira altamente grosseria e insultuosa. Apesar de possuir um nome com significado negativo – Nabal significa estupidez e insensatez –, aquele homem poderia ter reagido de maneira positiva e agradecida, oferecendo sua bebida e sua comida àqueles homens. A pessoa não está obrigada a comportar-se negativamente, somente porque o seu nome tem um sentido negativo. O nome – quer seja “positivo”, quer seja “negativo” – não ,exerce influência no caráter, na conduta e no destino de uma pessoa. Se fosse assim, pessoas com “bons” nomes jamais teriam maus comportamentos e pessoas com “maus” nomes jamais teriam bons comportamentos. Tudo depende da decisão pessoal. Logo, Nabal respondeu com grosseria, não por causa do “nome negativo”, mas por causa da opção pessoal.3) O desejo vingativo:
Os homens enviados retornaram e relataram a Davi que foram tratados com profundo descaso e completo desprezo por Nabal. Davi ficou grandemente indignado com aquele tratamento desrespeitoso. Convocou, imediatamente, quatrocentos homens bem armados com afiadas espadas, para subirem ao encontro daquele homem mesquinho. Nabal pagou o bem de Davi com o mau. Agora, pois, Davi iria pagar o mal de Nabal com o mal. Nabal e toda a sua casa seriam brutalmente assassinados por aquele exército movido pela vingança imediata. Perseguido por Saul, Davi não foi vingativo; antes, entregou tudo a Deus. No caso de Nabal, porém, ficou irado, e dispôs-se a vingar-se dele. As Escrituras Sagradas condenavam abertamente esta reação rancorosa e esta atitude vingativa. Davi sabia que o seu Deus era favorável à realização da justiça, mas contrário à manifestação da vingança. Isto estava registrado em Levítico, capítulo dezenove, versículo dezoito: "Não se vingue, nem guarde ódio de alguém do seu povo, mas ame os outros como você ama a você mesmo. Eu sou o SENHOR" (Lv 19:17 – NTLH). Não se podia mesmo esperar uma reação diferente daquela mostrada por Nabal. Que outra reação teria um filho de Belial? A reação dele era, portanto, condizente com seu caráter autoritário e com sua natureza dominadora. Mas a reação de Davi é espantosa e assustadora. Por quê? Porque Davi tinha o Espírito do Senhor. Desde que fora ungido por Samuel, o Espírito do SENHOR se apossara de Davi (I SM 16:13). Por isso, a sua reação poderia e deveria ser diferente.4) A notícia terrível:
Nabal ignorou o favor de Davi e de seu grupo, mas um dos seus servos o reconheceu. Este foi às pressas até Abigail, mulher de Nabal, para anunciar o ocorrido: "Davi enviou do deserto uns mensageiros com saudações para o nosso patrão, mas ele os tratou mal" (I Sm 25:14b). A seguir, o mesmo servo confirmou a bondade de Davi e dos que o seguiam: "no entanto, eles têm sido muito bons para a gente: nunca nos incomodaram e, durante todo o tempo em que estivemos com eles nos campos, eles não roubaram nada que era nosso" (I Sm 25:15 – NTLH). Disse mais ainda: "Eles nos protegeram dia e noite todo o tempo em que estivemos com eles tomando conta dos nossos rebanhos" (I Sm 25:16 – NTLH). Logo depois, o sábio servo fez um sombrio alerta a Abigail, ao mostrar que a vida de Nabal e a de todos os demais que viviam na sua casa corriam risco: "pois, considera e vê o que hás de fazer, porque já o mal está, de fato, determinado contra o nosso senhor e contra toda a sua casa". Nabal era mesmo desajuizado, pois arriscou sua vida e de toda a sua família, por conta de sua ingratidão, sua arrogância, sua prepotência. O pior de tudo era que ele não permitia a ninguém lhe advertir ou lhe alertar sobre o perigo que estava correndo. O servo admitiu isso, quando disse: "e ele é filho de Belial, e não há quem lhe possa falar" (I Sm 25:17b).5) A decisão prudente:
Abigail, depois de ser avisada do perigo a que seu marido havia exposto toda a família, apressou-se para reverter a situação. Ela, porém, agiu com extrema prudência. O momento inspirava cuidado, pois a sua missão era salvar vidas e não destruí-las. Qualquer gesto ou qualquer fala fora de lugar poria tudo a perder. Mas, além de bela, Abigail era muito sábia. O seu gesto de enviar a sua frente algo para Davi e sua gente comerem e beberem serviria para apaziguar aqueles homens dominados pela cólera e pela amargura. Assim que os servos dela foram, Abigail partiu, em cima do seu animal. "De repente, numa curva, na descida, encontrou Davi e os seus homens, que vinham na sua direção" (I Sm 25:20 – NTLH). De novo, Abigail se mostrou sábia. Tão logo viu Davi, desceu do animal, prostrou- se com o rosto em terra e pediu uma chance para lhe falar. Primeiramente, Abigail pediu perdão a Davi: "Ah! Senhor meu, caia a culpa sobre mim (...) eu, porém, tua serva, não vi os moços de meu senhor, que enviaste" (I Sm 25:24a,25b). A seguir, Abigail pediu a Davi que deixasse seus inimigos com o Senhor, que os jogaria longe, "como um homem que atira pedras com a sua funda" (I Sm 25:29b). Depois, após afirmar que, no tempo certo, o Senhor poria Davi no trono de Israel, Abigail frisou: "E, quando isso acontecer, o senhor não terá motivo para se arrepender, ou sentir remorso por haver matado sem razão, ou por ter se vingado por si mesmo" (I Sm 25:31a).6) A mudança imediata:
O Espírito de Deus tomou as palavras de Abigail como espada afiada de dois gumes e enterrou diretamente no coração de Davi. O valente guerreiro ficou profundamente comovido. Ele passou a pesar todos os acontecimentos, consultar a consciência, considerar o preço daquela decisão pecaminosa, pensar no futuro. Davi, então, voltou atrás no seu voto. Ele tinha dito: "que Deus me castigue se eu não matar até o último daqueles homens antes do amanhecer!" (I Sm 25:22 – NTLH). Ele se deu conta de que aquele voto, feito impensadamente, em momentos de desespero, baseado em raciocínios falazes e gerado pela pecaminosidade latente, não atingiria o alvo e não agradaria a Deus. Ele deveria ser anulado e quebrado. Foi o que Davi fez: recolheu a sua espada da vingança; saiu dos caminhos de destruição e miséria e transferiu-se para o caminho da paz. O verdadeiro Davi, então, reapareceu. Ficou tão grato que louvou a Deus por aquele encontro, fruto não da casualidade, mas, sim, da providência divina: "Bendito o SENHOR, Deus de Israel, que, hoje, te enviou ao meu encontro". Davi era um homem especial, escolhido pelo Senhor, não para lutar as próprias batalhas, mas para lutar a batalhas de seu Deus. Ele não tinha o direito de governar sobre si mesmo. Por estão razão, Deus não o deixou andar na teimosia do seu coração (Sl 81:12). Ele enviou lhe Abigail, mulher corajosa, temente, sensível, humilde, disponível, bondosa, pacífica, para evitar que se tornasse o causador de uma chacina que mancharia a sua integridade e roubaria a sua autoridade. Diante de tão grande livramento, Davi agradeceu a Deus e a Abigail (I Sm 25:33-35). "A mulher que teme ao SENHOR, essa será louvada" (PV 31:30b).7) A justiça divina:
Após cumprir a sua missão de paz, "voltou Abigail a Nabal" (I Sm 25:36a). Essa volta de Abigail para o marido é incrível. Ela não estava voltando para um marido generoso, carinhoso, tranqüilo, mas para um marido mesquinho, grosseiro e irascível. Abigail, porém, não o abandonou, mas retornou para ele. Ela teve a chance de fugir com Davi, mas não fugiu. Ao chegar a sua casa, Abigail se deparou com um banquete suntuoso e um marido embriagado. Ela logo notou que aquela não seria a melhor ocasião para conversar com ele, "pelo que não lhe referiu ela coisa alguma, nem pouco nem muito, até ao amanhecer" (I Sm 25:36). Pela manhã, Abigail contou a Nabal tudo que havia ocorrido. Qual foi a reação de Nabal? "Ele teve um ataque e ficou completamente paralisado" (I Sm 25:37b – NTLH). Dez dias após, "feriu o SENHOR a Nabal, e este morreu" (I Sm 25:38). Por que Deus deixou que Nabal vivesse ainda dez dias? Por causa da sua longanimidade (II Pe 3:9). Deus estava lhe dando um tempo para que mudasse o seu modo de viver, da perversidade para a santidade. Deus amava a Nabal e queria muito que aquele homem perverso se convertesse do seu mau caminho (Ez 18:23, 33:11). Nabal, porém, não soube aproveitar aquela oportunidade misericordiosa. Então, o Senhor o feriu de morte. Como Abigail havia dito, Deus cuidou da causa de Davi. Ao saber disso, Davi, novamente, louvou a Deus, dizendo: "Ele me vingou de Nabal, que me insultou. E assim livrou este seu servo de fazer o mal. O SENHOR castigou Nabal por sua maldade" (I Sm 25:39a – NTLH). Depois disso, "mandou Davi falar a Abigail que desejava tomá-la por mulher" (I Sm 25:39b). Abigail aceitou e se apressou em partir para junto dele (I Sm 25:40-42).Lições da vida de Abigail
1. Procuremos resolver os conflitos interpessoais com urgência.
O senso de urgência de Abigail fica evidente na narrativa (I Sm 25:18,23,34). Assim que soube, pelo seu servo, das resoluções do coração de Davi, Abigail apressou-se para apaziguá-lo e pacificá-lo. Uma tragédia foi evitada! Talvez você conheça alguém que tenha resolvido nunca mais pôr os pés na igreja, que tenha resolvido abandonar o cônjuge, que tenha resolvido vingar-se de alguém, que tenha resolvido entregar-se às aventuras da carne, jogar fora toda a herança cristã adquirida até agora. Não fique inerte e imóvel diante disso. Mova-se! Não seja vagaroso! Trilhe, agora, o caminho da pacificação. Inicie-se na arte de pacificar as relações conflitantes. Deus pode usar você para ajudar alguém a revogar uma decisão tomada, que irá trazer remorso, angústia, tristeza. "Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus" (Mt 5:9).2. Procuremos resolver os conflitos interpessoais com prudência.
Abigail não tinha somente senso de urgência, mas tinha também senso de prudência. A sua prudência pode ser vista, principalmente, no seu jeito de falar. Seis vezes chamou a si mesma de “tua serva” (I Sm 25:25,27,28,31,41), e oito vezes chamou a Davi de “meu senhor” (I Sm 25:25-27,31,41). A sua fala era humilde e tranqüila. Não havia ira em sua fala. Que aula de prudência! Não foi à toa que Davi a louvou. Há pessoas que não sabem falar sem elevar o tom da voz. Assim foram criados: obedeciam no grito; agora, também, tudo se resolve no grito. Às vezes, até nas igrejas é assim: tudo é gritado. Vence quem fala mais e alto. Há alguns cujas palavras são como pontas de espada (PV 12:18). Todavia, o falar prudente evita uma sucessão de erros que podem aumentar ainda mais o conflito. Por meio da prudência conserta-se o conflito.3. Procuremos resolver os conflitos interpessoais com paciência.
Na hora em que ouviu dizer que Davi queria matar o seu marido, Abigail poderia ter dito: “Pode matar o meu marido. É o que ele merece”. Mas não disse. Ela deixou Deus fazer a justiça na hora certa e do modo certo! Por favor, preste atenção: sempre que você perceber que não pode fazer mais nada, espere pelo Senhor: "A pessoa de mau gênio sempre causa problemas, mas a que tem paciência traz a paz" (Pv 15 :18 – NTLH). Só Deus pode gerar justiça, e ele nos convida a sermos seus parceiros, no que se refere a causas que nos envolvem (I Sm 25:3) ou que envolvem outras pessoas (I Sm 25:26). Coloque a injustiça sofrida diante de Deus, que a tomará como uma causa dele. Deixe-se instruir por ele sobre os caminhos a serem seguidos (I Sm 25:29). Quando você faz o que é certo, Deus cuida de encaminhar as situações da melhor forma (I Sm 25:38-39). "Sendo o caminho dos homens agradável ao SENHOR, este reconcilia com eles os seus inimigos" (Pv 16 :7).Concluindo
Deus quer que você seja um pacificador, ou seja, alguém que atua restaurando e fortalecendo relacionamentos. Antes, porém, de agir numa situação conflituosa, ore a Deus, pedindo a sabedoria do alto, que é pacífica (Tg 3:17 ). Peça-lhe autocontrole para neutralizar a gritaria, com palavras suaves; para responder às ameaças, com tranqüilidade; para falar claramente, sem usar de sarcasmo; para não utilizar intrigas; para não ser um permanente alimentador de fofocas e não fomentar contendas; para ser um melhor ouvinte e um melhor observador. Seja um pacificador ativo; construa pontes de aproximação. O pacífico deseja a paz, mas o pacificador promove a paz, encoraja à reconciliação, e estabelece o entendimento. Valorize os relacionamentos e esforce-se, ao máximo, para mantê-los em paz (Rm 12:18; Ef 4:3)Medite nessas coisas, e que Deus nos abençoe!
Fonte:
Autor Pastor Genilson Soares da Silva
Série "Homens de Mulheres da Bíblia - O exemplo dado por eles"