Sansão um homem vacilante - "Série Homens e Mulheres da Bíblia"


“E disse: Com uma queixada de jumento um montão, outro montão; om uma queixada de jumento feri mil homens”. (Jz 15:16)

A maioria das crianças cristãs nascem ouvindo incríveis histórias sobre personagens bíblicos: Davi e Golias, Jonas e o grande peixe, Sansão e os filisteus. Este último é o tema do artigo de hoje. Diferentemente do que ouvimos na infância, quando os heróis nos são apresentados de uma forma um tanto lúdica, veremos que Sansão não é um exemplo bom, não é um modelo a ser seguido, ainda que tenha sido escolhido por Deus, desde a sua infância. A história de Sansão, conforme narrada nas Escrituras Sagradas, mostra-nos que ele se transformou num homem vacilante e pecaminoso, uma pessoa que migrou do espiritual para o carnal. Ele foi um homem que falhou na sua missão de juiz e teve um fim terrivelmente trágico. Leiamos com atenção sua história e aprendamos a não praticar os seus erros.

Sansão, cujo nome significa “pequeno sol”, é conhecido por sua força incomum, por suas façanhas violentas, por sua performance muscular, por sua fúria incontrolável. Poesias e canções são feitas em sua homenagem, sem, contudo, haver lembrança de que a maioria de suas ações espelhava a sua total ausência de domínio próprio. Ele, que nasceu por volta de 1090 a.C., deve ter dado início à sua missão de juiz pouco tempo depois da “terrível batalha que se feriu perto de Afegue, por volta de 1070 a.C., quando os filisteus capturaram a arca e incendiaram Silo (1 Sm 4)”. No livro de Juízes, nos capítulos 13 a 16 , encontramos a história de Sansão, que viria a ser o último dos doze juízes de Israel, antes da ascensão de Samuel.

Os juízes eram líderes carismáticos que Deus levantava para livrar seu povo de perigos específicos, em tempos específicos. Deus levantou esse tipo de liderança, porque, “naqueles dias, não havia rei em Israel; e cada um fazia o que achava mais reto” (Jz 21:25). Sansão surge nesse ambiente caótico. Tudo em sua vida começou quando os israelitas voltaram a pecar contra Deus, e, como castigo, o Senhor os entregou nas mãos dos filisteus, por quarenta anos (Jz 13:1). Foi nesse tempo que o Anjo do Senhor veio à esposa de Manoá, que era estéril, e lhe garantiu um filho, advertindo-a: “Não corte nunca o cabelo dele, pois ele será consagrado a Deus como nazireu desde o dia do seu nascimento. Ele vai começar a livrar o povo de Israel do poder dos filisteus” (Jz 13:5 – NTLH).

O voto de nazireu é bem explicado no livro de Números, capítulo 6. Nazireu significa “separado para Deus desde o nascimento”. A pessoa consagrada ao nazireato não poderia beber vinho ou bebida alcoólica, nem comer uva ou algo derivado da vinha; também, não poderia cortar o cabelo e se aproximar de cadáveres (Nm 6:1-6). Havia outras regras a que o nazireu tinha de se submeter (cf. Nm 6:7-26). Desta forma, conforme dissera o Anjo do Senhor, “a mulher de Manoá deu à luz um filho e pôs nele o nome de Sansão. O menino cresceu, e o SENHOR o abençoou” (Jz 13:24 – NTLH). Já crescido, Sansão “estava no campo de Dã, entre Zora e Estaol, quando começou a sentir que o Espírito do SENHOR o dirigia” (Jz 13:25 – NTLH).

Ambos os versículos citados não deixam dúvidas: Sansão tinha a bênção de Deus e era dirigido pelo Espírito Santo. De tal forma o Espírito de Deus estava com ele que lhe dava força física para realizar coisas incríveis (cf. Jz 14:6,19, 15:14). Não bastasse a presença de Deus em sua vida, Sansão recebeu toda a herança tradicional de seus pais, quanto aos mandamentos, estatutos, juízos e princípios divinos; ele também foi, criteriosamente, treinado por seus pais, quanto ao modo de viver e ao serviço que viria a fazer para Deus (Jz 13:8,12-14 ). Em outras palavras, Sansão tinha tudo para dar certo. Mas, lamentavelmente, fracassou. Na verdade, ele teve sucessos esporádicos, durante o período de vinte anos (Jz 15 :20, 16 :31); resolveu muitos problemas que atingiam as tribos de Dã e Judá, ambas envolvidas diretamente em graves conflitos com os impiedosos filisteus. A propósito, a Bíblia, não nega que Sansão confiava em Deus (Hb 11 :32-34); mas mostra que ele não tinha essa atitude em certas ocasiões.

Logo no início de sua vida adulta ele se mostrou descuidado com seu voto de nazireu, ao se aproximar de um cadáver de Leão (Jz 14 ;8-9; cf. Nm 6:6). Mais à frente, Sansão não hesitou em fazer um banquete como os moços costumavam fazer, ou seja, com vinhos ou bebidas alcoólicas, na ocasião da festa de seu casamento com uma filistéia (Jz 14:10; cf. Nm 6:3). Aprofundando-se na desobediência, Sansão quebrou o voto nazireu: ele deixou de dedicar-se exclusivamente a Deus e se relacionou sexualmente com uma prostituta da cidade de Gaza e com Dalila (Jz 16:1-4). Nessa etapa da vida, Sansão era fisicamente forte, mas, moralmente, fraco (cf. Jz 14:1-20, 16:1-3, 16:4-22). À semelhança de Salomão, perdeu-se entre as mulheres.

A facilidade com que Sansão eliminava até mil homens num dia (Jz 15:20), a maneira humilhante como vencia seus adversários (Jz 16:2-3), provavelmente, fizeram que se engrandecesse, e, portanto, se enfraquecesse espiritualmente e esquecesse de sua sagrada missão de juiz de Israel. Ele passou a se gabar de sua força monumental: “Com uma queixada de jumento um montão, outro montão; com uma queixada de jumento feri mil homens” (Jz 15:16 – Grifo nosso). Ele não diz: “A força de Deus que em mim habita feriu mil homens”, mas diz: “Eu feri mil homens!”. Certo estava Davi, quando disse: “O SENHOR é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo em que me refugio; o meu escudo, a força da minha salvação, o meu baluarte” (Sl 18:2).

O que vemos na vida de Sansão é a função de juiz sucumbir à força física; a missão de livrar Israel desaparecer, diante da performance humana; a essência do voto nazireu ser engolida pelo desempenho individual. Quantos cristãos, nos dias de hoje, não se deixam levar pela aparência da força e do desempenho pessoal? A força de Sansão vinha de Deus, mas ele usou a graça do Senhor para impressionar os inimigos. Com suas façanhas físicas, chamou a atenção dos filisteus para si próprio, ao invés de fazê-los saber que deviam temer ao Deus de Israel, de quem vinha sua colossal energia muscular. Em situação semelhante, à frente de um poderoso filisteu, Davi agiu de forma bem diferente (I Sm 17:45-47).

Desta forma, o homem que era cheio do Espírito Santo se tornou carnal, impulsivo, incontrolável, violento, vingativo. Certa vez, foi à cidade de Asquelom e matou trinta homens inocentes; tirou-lhes a roupa fina e deu-as aos rapazes que haviam respondido à sua adivinhação. Enquanto isso ocorria, sem que Sansão estivesse presente, o pai de sua esposa deu-a em casamento a outro homem ( Jz 14 :1-20). Quando Sansão voltou à cidade – sua esposa morava em Timinate e ele, provavelmente, em Hebrom, segundo Jz 14:1, 16:3 –, seu sogro recusou-se a entregar-lhe a filha. Se, antes, já havia agido com violência gratuita, agora, encontrara uma justificativa para destilar toda a sua fúria: ele incendiou todos os campos e as plantações dos filisteus, levando pânico aos adversários.

Como resultado, os filisteus queimaram vivos sua esposa, seu sogro e toda a família. Como Sansão não era homem de diálogo nem de paz, vingou-se com uma grande matança (Jz 15:1-8). Sansão sucumbiu pela autoconfiança, pelo excesso de violência, pela concupiscência da carne; caiu nas garras da manhosa Dalila, a quem os filisteus subornaram para descobrir a fonte da força dele. Não resistindo aos encantos, carícias e amores de Dalila, Sansão lhe contou que o segredo de sua força estava em seus cachos de cabelo. Ao revelar seu voto nazireu, Sansão rompeu a aliança com Deus. Na verdade, ele sabia que sua força não vinha de seu cabelo, mas do Senhor. “Desde então, retirou-se dele a sua força, mas ele não sabia ainda que já o SENHOR se tinha retirado dele” (Jz 16 :19 -20).

Ambos os versículos mencionados não deixam dúvidas: Sansão não tinha mais a bênção de Deus, não era mais dirigido pelo Espírito Santo. Nesta vida, não pode haver tragédia maior, pois, sem Deus, nada de bom se pode fazer ( Jo 15 :5). “Sansão, os filisteus chegaram!”, gritou Dalila para um Sansão sonolento. Ele se levantou, partiu em direção aos poderosos inimigos, mas foi pego com incrível facilidade. O Senhor se fora de sua vida. A fé em Deus se esvaziara, se enfraquecera, se esfacelara, acabara. Assim como o Espírito Santo deixara Esaú, Gideão, Saul (Hb 12:16 -17 ; Jz 8:27; I Sm 15 :26 28), deixou Sansão. Em situação semelhante, Davi clamou a Deus: “Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito” (Sl 51 :11 ). Mas Sansão não era homem de ver seus próprios defeitos; não enxergava que, sem Deus, seus braços de nada valiam. Ele confiava nos músculos, na forma física, na impostação da voz.

Com um ferro vermelho em fogo, o carrasco filisteu se aproximou de Sansão levando a peça ardente até seus olhos, que explodiram, diante do ferro em brasa; uma outra possibilidade é que tenham arrancado violentamente seus olhos. O certo mesmo é que, fraco e cego, Sansão foi levado a Gaza para o cárcere. Como escravo, foi posto para trabalhar humilhantemente, empurrando uma pesada mó, onde o trigo era moído, para alimento de seus adversários. Num dos dias de festa em que os filisteus cultuavam seu deus, Dagom, trouxeram o ilustre prisioneiro para ser zombado. Nesse tempo, o cabelo de Sansão já havia crescido. Ele pediu a um dos moços que o guiava para ser colocado entre as duas colunas que sustentavam o templo.

A casa estava cheia de homens e mulheres; também ali estavam todos os príncipes dos filisteus. Sobre o teto, havia uns três mil homens e mulheres, que olhavam, enquanto Sansão os divertia (Jz 16 :27). Então este clamou ao Senhor e disse: “SENHOR Deus, peço-te que te lembres de mim, e dá-me força só esta vez, ó Deus, para que me vingue dos filisteus, ao menos por um dos meus olhos” (Jz 16 :28). Em seguida, ele abraçou as duas colunas e fez força sobre elas, falando alto: “Morra eu e os filisteus!” Sansão se inclinou com toda a sua força “e a casa caiu sobre os príncipes e sobre todo o povo que nela estava; e foram mais os que matou na sua morte do que os que matara na sua vida” (Jz 16 :30).
Sansão foi um homem que começou bem e terminou mal. “Seus irmãos desceram, e toda a casa de seu pai, tomaram-no, subiram com ele e o sepultaram entre Zorá e Estaol, no sepulcro de Manoá, seu pai” (Jz 16:31). Sansão foi um homem que começou no Espírito e terminou na carne.
Estejamos atentos, para levarmos a sério esta triste história, pois, como diz a Escritura: “tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15:4).

Lições da vida de Sansão

1. Precisamos reagir corretamente à ação de Deus em nossa vida.

Sem dúvida, o Espírito de Deus estava na vida de sansão ( Jz 13:24-25). Da mesma forma, não há dúvida de que ele, pelo poder de Deus, fez proezas para proteger Israel dos inimigos (Hb 11 :32-34). Contudo, não podemos negar que Sansão vacilou, quando usou a força, que a graça de Deus lhe dera, para se vingar, e o carisma que essa graça lhe conferira, para desfrutar de prazeres pecaminosos. Atenção: Não usemos o poder do Espírito Santo para ameaçar pessoas que discordam de nós ou criticam nossa conduta impura, nem usemos a imagem carismática, que Deus gera em nós, pelo mesmo Espírito, para atrair pessoas e envolvê-las em pecados carnais. Tais atitudes provam que a pessoa, conquanto possa fazer prodígios publicamente, na verdade, não reflete mais a obra do Espírito Santo (Gl 5:22-23).

2. Precisamos ter uma visão de longo prazo sobre a ação de Deus em nossa vida.

As atitudes vacilantes de Sansão comprovam que ele era um homem que agia motivado por resultados imediatos, urgentes; seus atos não demonstram preocupação com o futuro. De fato, somente no livro de Juízes encontramos a história de Sansão. Ele ficou lá, quase que restrito ao Antigo Testamento. Fora dos capítulos 13 a 16 de Juízes, seu nome não aparece em nenhum outro lugar da Bíblia, à exceção de Hebreus 11:32. Não é estranho que nenhum profeta, nenhum apóstolo nem Jesus o citem como exemplo? Até mesmo Jonas, o profeta desobediente, foi lembrado por Jesus (Mt 12:39-42, 16:4). Atenção: Há crente que pensa que suas atitudes erradas de hoje não têm conseqüências no futuro: mente com facilidade, negocia com bases mundanas, dá sempre um “jeitinho” no pecado. Contudo, a Bíblia nos alerta: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6:7).

3. Precisamos usar à ação de Deus em nossa vida de forma construtiva.

Sansão colheu o que semeou. Ele plantou violência? Seus adversários mataram sua esposa e seu sogro, torturaram-no e vazaram-lhe os olhos. Ele se entregou à prostituição? Deus lhe tirou as forças e seus inimigos o humilharam publicamente. Contudo, Sansão era teimoso: até no último dia de sua vida, queria vingança ( Jz 16 :28); usou o poder de Deus para se autodestruir. É evidente que Deus, em sua soberania, usou Sansão para punir os filisteus, mas jamais usou os pecados dele como meio de fazer justiça. “Não teria sido melhor se ele [Sansão] tivesse sido um instrumento finamente lapidado e moldado [por Deus] para realizar o propósito divino para sua vida?”

Se Deus lhe devolveu as forças, não poderia devolver-lhe a visão e a missão de juiz? Sim! Atenção: O cristão só triunfará, nesta vida e no porvir, se usar as bênçãos de Deus construtivamente. (cf. Rm 15 :2; I Co 14 :12,26; II Co 10:8, 13:10).

Concluindo

Diante de uma história triste e, em certo sentido, comovente, Deus nos ensina que, sem Ele, por mais forte que pareçamos ser, não passamos de vaidade (Ec 12:8). A vaidade fez de Sansão um homem fraco, cego e escravo. Mas o castigo é útil para nos humilhar. Rodando o moinho pesado, Sansão teve tempo para pensar nos seus erros; voltou a orar. Apesar de sua oração ter sido motivada por vingança, “talvez mostre evidência de arrependimento, de disposição para ser usado como instrumento de Deus para derrotar um povo que por tanto tempo oprimiu o seu”. Não podemos negar o fato de que “Deus ouviu suas últimas palavras, ele [Deus] falou e respondeu a sua oração, tornando-o ainda mais eficiente na morte do que fora na vida”.

Medite nessas coisas, e que Deus nos abençoe!

Fonte:
Autor Pastor José Lima de Farias Filho
"Homens de Mulheres da Bíblia -O exemplo dado por eles"

2 comentários:

  1. Sempre tive uma dúvida a respeito da história de Sansão.
    Sei que o post no blog já foi feito a muito tempo, mas acho que vale a pena comentar isso. E criar essa incógnita.
    Sansão, suicidou ou não?
    Vale lembrar que suicídio, é considerado como pecado digno de levar aquele a quem o faz para o lago de fogo.

    Afinal de contas, Sansão foi ou não para o inferno quando matou os filisteus?

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  2. J.Lobo

    A paz do Senhor!

    Creio que não. Em primeiro lugar devemos lembrar que Deus conhece TODOS os desígnios de nosso coração, ou seja, ele conhece as intenções que estão por trás de nossos pedidos. Conforme você lembra suicídio é considerado pecado, pois o homem não tem direito de tirar sua própria vida que foi dada por Deus e que mantém essa vida. Só o Senhor pode tirar nossa vida, Ele não nos dá esse direito em hipótese alguma. E de forma alguma levaria alguém a pecar voluntariamente.

    Creio que, se Sansão, tivesse no coração a intenção de suicídio, Deus não teria atendido a seu pedido e lhe dado forças para derrubar as colunas do Templo. Eu gosto muito do comentário na conclusão do texto:

    “talvez mostre evidência de arrependimento, de disposição para ser usado como instrumento de Deus para derrotar um povo que por tanto tempo oprimiu o seu”. Não podemos negar o fato de que “Deus ouviu suas últimas palavras, ele [Deus] falou e respondeu a sua oração, tornando-o ainda mais eficiente na morte do que fora na vida”.

    Eu creio que Sansão foi perdoado por Deus e que foi salvo sim.

    Que Deus lhe abençoe!

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