O reinado do Rei Josafá o reinado da instrução


Depois de uma pequena pausa, retorno ao estudo sobre o período monárquico vivido pelo povo de Deus no Antigo Testamento. Até agora apresentei os reinados da rebelião, da expansão, da riqueza, da divisão, da idolatria, da renovação. Tratarei agora do reinado da instrução, comandado por Josafá, o quarto rei de Judá, Reino do Sul. Ele também era chamado de Jeosafá. Este nome de origem hebraica significa “o Senhor tem julgado”. Trata-se de um bom rei que, de um modo geral, fez o que era reto aos olhos do Senhor. Na verdade, ele é considerado um dos melhores reis de Judá: organizou grande exército; fortificou bom número de cidades em Judá e Efraim; restaurou muitos cargos governamentais criados por Davi.

O povo de Deus deve estar comprometido com o estudo, a prática e o ensino da palavra de Deus.

A figura de Josafá, normalmente, está associada a guerra, jejum, oração e, sobretudo, louvor. Todavia, devemos nos lembrar de que ele foi também um homem altamente dedicado à educação bíblica; criou um vasto programa nacional de ensino do povo, para tornar a lei do Senhor conhecida, entendida e praticada por todos em Judá. Por causa disso, o seu reinado desfrutou de uma genuína prosperidade. O fato de termos mais que quatro capítulos no segundo livro das Crônicas (II Cr 17-20) sobre Josafá demonstra a importância do seu reinado como exemplo para o povo de Deus. O estudo da história do seu reinado, certamente, nos trará muito crescimento espiritual.

E ensinaram em Judá, e tinham consigo o livro da Lei do SENHOR, e rodearam todas as cidades de Judá, e ensinaram entre o povo (II Cr 17:9)

I - A história contada

Josafá assumiu definitivamente o trono de Judá aos trinta e cinco anos de idade, por volta do ano 873 a.C, após a morte de seu pai, Asa. No início, preocupou-se sabiamente em proteger-se contra eventuais ataques militares vindos do reino de Israel, colocou topas militares em várias cidades de Judá e de Efraim. Além de ser militarmente prudente, Josafá era espiritualmente piedoso: ... andou nos primeiros caminhos de Davi, seu pai, e não procurou a baalins (II Cr 17:3), as várias imagens de Baal, deus da religião dos cananeus, em cujos cultos aconteciam as mais extravagantes imoralidades sexuais com o propósito de fertilizar a terra.

Em virtude de sua fidelidade, o reinado de Josafá foi grandemente abençoado por Deus: ... e todo o Judá deu presentes a Josafá, o qual teve riquezas e glória em abundância (II Cr 17:5b). Diante disso, ele se tornou ainda mais decidido a obedecer à palavra de Deus. Fez o que o seu a pai Asa não fez (I Rs 14:14). Combateu a idolatria, retirando de seu território todos os altos e objetos de falsa adoração (II Cr 17:6b). Era costume dos cananeus construir templos e altares de adoração idolátrica em lugares elevados (I Rs 14:23), para que os adoradores pudessem chegar mais perto dos seus deuses. Nesses lugares, eles fincavam seus postes-ídolos, entalhados com a imagem de Aserá, deusa cananéia associada a Baal.

Josafá foi também um grande educador, pois entendia que o povo precisava saber o porquê era necessário abandonar a idolatria; compreendia que não bastava dizer ao povo que era preciso abandonar os ídolos; era preciso fazê-los entender que o Senhor era o único Deus. Josafá resolveu, então, enviar seus príncipes com os levitas para ensinarem nas cidades de Judá: Levaram consigo o Livro da Lei de Deus, o SENHOR, e foram por todas as cidades de Judá, ensinando a Lei a todo o povo (II Cr 17:9 – NTLH). Essa sua atitude agradou a Deus, que muito abençoou a sua vida e o seu reino, dando-lhe enorme tranqüilidade (II Cr 17:10) e imensa prosperidade (II Cr 17:11).

Os povos que habitavam ao redor passaram a temer Josafá e não fizeram guerra contra o seu reino (II Cr 17:10). Ele recebia presentes de alguns filisteus e árabes, tais como prata e grande rebanho de carneiros e outros animais (II Cr 17:11). Com o aumento contínuo das riquezas, construiu várias fortalezas, para guardar as suas fronteiras, e grandes armazéns, para ajuntar as suas colheitas (II Cr 17:12-13). Para proteger essa grandiosa riqueza, ele ainda contava com um exército formado por mais de um milhão de valentes soldados (II Cr 17:14-19)!

Ao lermos o primeiro e o segundo versículos do capítulo dezoito, ficamos bastante surpresos com a estranha conduta do então piedoso e próspero Josafá. O texto bíblico declara que ele se tornou aliado do rei Acabe, de Israel, por laços de casamento (II Cr 18:1 – NTLH). O rei de Judá “caiu na armadilha de misturar-se por casamento com a família do ímpio rei Acabe, monarca de Israel, a nação do norte”[1]. A mistura que Satanás não conseguiu fazer por outra maneira, conseguiu através da união conjugal do filho (Jeorão) de uma família piedosa com a filha (Atalia) de uma família perversa.

O livro dos Salmos afirma que um abismo chama outro abismo (42:7). Foi o que aconteceu com Josafá. Tempos depois, ele foi até a cidade de Samaria visitar Acabe (II Cr 18:2), que lhe pediu para ser seu aliado numa guerra contras os sírios. Agora, pasme com a incrível resposta de Josafá: Serei como tu és, o meu povo, como o teu povo; iremos, contigo, à peleja (II Cr 18:3). Ele sabia que Acabe era praticante de idolatria e matador de profetas, mas disse: Serei como tu és! Vemos nisto a astúcia de Satanás, a antiga serpente, o sedutor de todo o mundo (Ap 12:9), sendo empregada para corromper Josafá.

Josafá, porém, não estava totalmente corrompido. Antes de partir para a guerra, decidiu consultar a Deus. Acabe consultou quatrocentos dos seus “profetas” de Israel. Todos concordaram que o Senhor estaria com Acabe, garantindo-lhe absoluta vitória na peleja (II Cr 18:4-5). Josafá, todavia, estranhou aquela unanimidade profética. Quis ouvir outro profeta. Foi-lhe apresentado Micaías, homem sincero e temente a Deus (II Cr 18:12-13), mas odiado por Acabe, porque nunca profetizava coisas boas, mas apenas coisas ruins ao seu respeito (II Cr 18:6-9).

Mesmo sob pressão, Micaías profetizou a derrota do monarca do reino do Norte (II Cr 18:16). Disse, ainda, que o Senhor tinha posto um espírito de mentira nos profetas de Acabe com o objetivo de persuadi-lo a guerrear contra os sírios (II Cr 18:18-22). Por causa disso, Micaías, servo de Deus, foi espancado e encarcerado (II Cr 18:23-26). Os dois reis não deram crédito à palavra do profeta: ... assim o rei Acabe, de Israel, e o rei Josafá, de Judá, foram atacar a cidade de Ramote-Gileade (II Cr 18:24 -- NTLH). Lá se cumpriu a palavra do Senhor, dita através de Micaías: ... de repente, um soldado disparou seu arco ao acaso e atingiu o rei de Israel entre os encaixes da sua armadura (II Cr 18:33a), ferindo-o mortalmente.

Por pura graça de Deus (II Cr 18:31-32), Josafá escapou e retornou seguro para o seu palácio, em Jerusalém, onde foi duramente repreendido pelo destemido profeta Jeú, por se haver associado com o Acabe (II Cr 19:2). Jeú era filho de Hanani, que também proferira ousadas palavras contra o pai de Josafá, o rei Asa, por causa da sua aliança com os Sírios (II Cr 16:7-9). Josafá se humilhou perante a palavra de Deus. As suas ações mostram e provam o seu sincero e profundo arrependimento (II Cr 19:4-11). Ele aceitou a correção divina! Nisto era diferente de Asa, que, ao ser advertido por Hanani, ficou tão zangado com o profeta, que mandou amarrá-lo com correntes e metê-lo na prisão (II Cr 16:10a – NTLH)

Uma outra prova muito clara da mudança de conduta de Josafá encontra-se no vigésimo capítulo. Ao enfrentar o ameaçador e inumerável exército dos moabitas, amonitas e meunitas, Josafá imediatamente buscou socorro divino; conclamou a nação inteira a se unir em uma gigantesca reunião de jejum e oração (II Cr 20:1-11); não buscou ajuda de qualquer outro rei, nem confiou eu seu poderio militar; em vez disso, mostrou humilhação e dependência diante de Deus: porque em nós não há força para resistirmos a essa grande multidão que vem contra nós, e não sabemos nós o que fazer; porém os nossos olhos estão postos em ti (II Cr 20:12). Josafá não foi como seu pai, que não recorreu ao Senhor na hora da prova (II Cr 16:12).

A resposta de Deus não demorou. O profeta Jaaziel lhe transmitiu uma palavra de grande consolação da parte de Deus: Não temais, nem vos assusteis por causa desta grande multidão, pois a peleja não é vossa, mas de Deus (II Cr 20:15). O Senhor deu instruções sobre como Josafá deveria enfrentar os inimigos, e garantiu o seu sucesso sem a necessidade de pelejar nesta batalha (II Cr 20:16-29). Todas as forças inimigas se voltaram umas contra as outras e o exército de Judá marchou vitoriosamente de volta para casa: Assim, o reino de Josafá teve paz, porque Deus lhe dera repouso por todos os lados (II Cr 20:30). O rei Josafá mostrou o que pode acontecer quando um líder deposita total confiança no Senhor.

Perto do final do seu reinado, Josafá se envolveu de novo em outra aliança errada: aliou-se com Acazias, rei de Israel, que procedeu iniquamente (II Cr 20:35); aliou-se com o rei de Israel, para fazerem navios que fossem a Társis (II Cr 20:36) em busca de ouro (22:48a). Contudo, não chegaram ao destino previsto: porque os navios se quebraram em Eziom-Geber (I Rs 22:48b). Quem impediu a aventura marítima? Deus (II Cr 20:37). Acazias tentou de novo: Então, Acazias, filho de Acabe, disse a Josafá: Vão os meus servos embarcados com os teus (I Rs 22:49a). O rei de Judá, porém, rejeitou ao convite (I Rs 22:49b). E, assim, após ter reinado vinte e cinco anos, por volta do ano 849 a.C., descansou Josafá com seus pais e foi sepultado com eles na Cidade de Davi (II Cr 21:1a).

II - A história aplicada

1. Precisamos dispor o nosso coração para consultar a palavra de Deus.

O coração de Josafá estava disposto a conhecer e consultar a palavra de Deus. Antes de partir para a guerra de Ramote-Gileade, ele disse ao rei de Israel: Consulta, primeiro, a palavra do SENHOR (II Cr 18:4). Acabe, então, reuniu os seus profetas para consultá-los; mas Josafá não se satisfez: Não há, aqui, ainda algum profeta do SENHOR, para o consultarmos? (II Cr 18:6). Por que ele quis ouvir outro profeta? Porque percebeu que aqueles profetas de acabe não eram sinceros. Acabe, porém, preferiu acreditar nas palavras dos seus profetas. Deu-se mal! A profecia dos seus profetas não se cumpriu. Por ter crido na falsa profecia, Acabe perdeu tudo, o trono e a vida (II Cr 18:5, 33-34).

Hoje, vemos o povo errante correndo atrás de experiências místicas, de arrebatadores milagres e de extraordinárias profecias. Muitos irmãos são viciados em profecias, em ver o que Deus lhe tem a dizer; estão deixando de lado o estudo criterioso das Escrituras Sagradas, a melhor profecia, para ouvir as vozes confusas de homens e mulheres que a si mesmos se declararam profetas e profetisas (Ap 2:20). Falsos profetas sempre existiram e sempre existirão. Deixemos, porém, que eles sigam sozinhos para o inferno. Não devemos fazer-lhes companhia. Examinemos cuidadosamente os profetas e as profecias (Dt 13:1-5, 18:21-22; Jr 23:28; Is 8:20; I Ts 5:19-21), para que não caiamos nas suas “profetadas”, que já arruinaram a vida de muitos irmãos.

2. Precisamos dispor o nosso coração para obedecer à palavra de Deus.

Josafá não era somente um conhecedor da palavra de Deus; ele se esforçava para viver o ensino da palavra de Deus: ele andou nos seus mandamentos e não segundo as obras de Israel (II Cr 17:5). Outro exemplo de prática da palavra de Deus está em II Cr 20:14-21, em que lemos que Josafá madrugou-se para praticar a palavra de Deus. Ele, portanto, tentou viver o que pregava. Não era um homem perfeito; tinha os seus defeitos e as suas fraquezas. Não se pode negar, porém, que Josafá era um homem esforçado e dedicado aos propósitos da aliança do Senhor. Quando advertido, humilhava-se, consertava-se, retornando à palavra do Senhor (II Cr 19:1-11; I Rs 22:49).

Prezado leitor, vivemos, hoje, uma profunda crise moral em nossa nação. Os políticos que lideram o nosso povo, com raras exceções, são sérios no discurso, mas frouxos na conduta. A Revista Veja [2], em determinada ocasião, que usarei como exemplo, trouxe, na capa, a foto da deputada petista Ângela Guadagnin dançando no palácio da Câmara, depois que deputado petista João Magno, que recebeu mais de 400.000 reais do “valerioduto”, escapou da cassação do mandato político! Essa mesma crise ética tem atingido a igreja evangélica brasileira! Nota-se que há um divórcio entre a profissão de fé e a prática da fé de muitos crentes. Não basta consultar a palavra do Senhor; é preciso vive-la.

Esforce-se ao máximo, para obedecer às Sagradas Escrituras! A ordem de Deus é que você não se desvie dela nem para a direita nem para a esquerda, para que você seja bem-sucedido por onde quer que andar (Js 1:7 – NVI)

3. Precisamos dispor o nosso coração para proclamar a palavra de Deus.

Josafá não somente procurava consultar e obedecer à palavra do Senhor; ele a ensinava: No terceiro ano do seu reinado, enviou ele os seus (...), para ensinarem nas cidades de Judá (II Cr 17:8). O nono versículo do mesmo capítulo também nos declara que ensinaram em Judá, tendo consigo o Livro da Lei do SENHOR; percorriam todas as cidades de Judá e ensinavam ao povo. Ele não reteve a verdade de Deus apenas para si; não sonegou ao povo as riquezas da Palavra de Deus. Josafá decidiu enviar a sua liderança para ensinar a palavra de Deus ao povo.

A igreja, o povo de Deus da nova aliança, como coluna e baluarte da verdade (I Tm 3:15), tem o privilégio e a responsabilidade de propagar e espalhar o ensino bíblico. É muito claro, no Novo Testamento, que esta era a alta prioridade na vida do Senhor da Igreja e da Igreja do Senhor, nos primeiro século. Esta deve ser também prioridade da igreja do presente século. A ordem dada por Paulo a Timóteo serve também para nós: E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros (II Tm 2:2).

Precisamos de líderes que amem as Escrituras, que amem o povo de Deus e busquem ensinar com profundidade e fidelidade todo o conselho de Deus.

Conclusão

Apesar de seu maravilhoso investimento no ensino da palavra de Deus, Josafá não era perfeito. O seu reinado foi da instrução e não da perfeição. Foi lamentável o seu envolvimento com a família de Acabe! Devemos aprender com esse erro. Às vezes, bons homens ajudam-nos a sair da confusão religiosa, como Josafá ajudou as pessoas do reino de Judá a saírem da idolatria. Esses homens podem nos ajudar em muitos sentidos, mostrando como devemos respeitar a palavra de Deus em tudo que fazemos. Mas, eles ainda são homens. Neles também, isto é, na sua carne não habita bem nenhum (Rm 7:18). Por causa disso, muitos não fazem o bem que preferem, mas o mal que não querem (Rm 7:19).

Assim como Josafá, bons servos e boas servas de Deus, hoje, podem ter atitudes condenáveis e reprováveis, pois estão sujeitos a errar. Quantos que nos ajudaram no passado encontram-se atualmente apostatados e desviados da verdade de Deus, pregando as mais horrendas heresias? Muitos! Isto nos mostra que o fato de alguém ter nos ajudado no passado na compreensão da palavra de Deus não garante que sempre nos conduzirá no caminho de Deus.

Fiquemos atentos a isso! E mais: jamais esqueçamos que somos um povo peregrino e forasteiro, numa terra corrupta e perversa. Não estamos aqui a passeio. Não estamos aqui para "sermos felizes". Nem estamos aqui para "deixarmos a vida nos levar". Temos uma missão a cumprir: ensinar a palavra de Deus. Façamos isto com seriedade e santidade!



Referências Bibliográficas

[1] Champlin, 1676.

[2] A Edição 1949 da Revista Veja, de 29 de março de 2006


Fonte:
Estudo bíblico de autoria do Pastor Genilson Soares da Silva
Série de estudos sobre o mais interessante período da história dos israelitas: o período da monarquia israelita


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