Vivam Como Pessoas Livres

Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus (I Pd 2:15-16).

Ser livre. Quem não quer? Impossível encontrar alguém que não queira. Isso, na verdade, é o que todo mundo mais anseia e mais busca. A liberdade nunca foi tão valorizada como em nosso tempo. Se alguma coisa a ameaça, logo surgem milhares de pessoas em sua defesa. Muitas delas chegam a perder a própria vida, para devolvê-la aos que a perderam. Mas, curiosamente, existe uma grande confusão acerca do que é ser livre e do uso que se faz da liberdade. E você não precisa ir muito longe para se dar conta dessa realidade. Basta olhar para dentro de casa. O que os filhos pensam sobre ser livre? A maior parte deles pensa que ser livre é fazer apenas o que quer, na hora que quer e do jeito que quer. Ser livre, para muitos deles é muito simples: é poder ir aonde quer, voltar na hora em que bem entende, resolver se o almoço vai ser um sanduíche ou nada, trocar o canal de televisão sem ninguém reclamar, dormir e acordar tarde, vestir a roupa que achar melhor, ficar horas e horas na internet. Mas ser livre é isso? Ser livre é não ser de ninguém? Ser livre é viver livre de tudo e de todos? O texto de I Pe 2:11-17, apresenta-nos o verdadeiro conceito de liberdade.

I. PERSEVERANDO ATÉ O FIM

Ainda no início de sua carta, Pedro havia dito que os seus leitores haviam sido libertados pelo precioso sangue de Cristo (1:18 – NTLH). Ele, porém, não tocou mais no assunto. Mas, agora, o assunto volta à tona. E tinha que voltar mesmo. As pessoas libertas costumavam entender o conceito e o exercício da liberdade de maneira bastante equivocada. Paulo que o diga. Ele gastou grandes porções de suas cartas para explicá-lo. Basta ler Romanos, Gálatas e Coríntios. Pedro segue esta mesma linha. De igual modo, mostra qual deve ser o estilo de vida daqueles que se encontram espiritualmente livres.

1. Um estilo de vida controlado:
É assim que Pedro se dirige aos seus leitores: Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma (2:11). Ele os chama de amados. Ao todo, chama-os assim por cerca de oito vezes em suas duas cartas (I Pe 2:11, 4:12; II Pe 1:7, 3:1, 8, 14, 15, 17). Eles são amados por Deus. O mundo pode tratá-los com ódio, mas Deus os trata com amor. Não são todos igualmente habilidosos e amadurecidos: mas todos são igualmente amados por Deus. Algumas provas desse grande amor já foram dadas (2:9-10). Os amados, porém, não estão ainda na casa do Amado. Eles ainda são peregrinos e forasteiros. Veem-se obrigados a morar em caráter temporário num lugar que não é seu lar permanente. Estão em terra estrangeira, onde não têm os direitos e os privilégios dos cidadãos nativos. Sabem, porém, que uma cidade celestial os aguarda: ...uma cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador (Hb 11:10). Admitem que sua pátria está nos céus, de onde também aguardam o Salvador, o Senhor Jesus Cristo (Fl 3:20). Anseiam pelos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça (II Pd 3:13).

Eles são exortados a se absterem das paixões carnais. Pedro usa a primeira pessoa do singular [eu] exorto-vos para se dirigir de maneira direta aos seus leitores. O verbo exortar (parakaleo) tem aqui o sentido de encorajar. Abster-se é manter-se afastado ou distante de. Dá a ideia de oposição a alguma coisa. Paixões carnais são todos os desejos ou impulsos que pertencem ao lado egoísta da natureza humana. Referem-se a quaisquer desejos contrários à vontade de Deus, e não apenas aos desejos sexuais errados. Estes, e não os gentios são os piores inimigos dos leitores de Pedro. As paixões carnais fazem guerra contra a alma. O verbo guerrear, no grego, designa uma campanha militar contínua e violenta com o objetivo de capturar e assassinar o inimigo. Não há pausa nem trégua nela. Dura a vida toda. O verbo não é usado por acaso. Pedro quer mostrar aos seus leitores que as paixões carnais não são, de modo algum, menos letais do que as atitudes carnais (Tg 1:14-15). Poderiam, de igual modo, abater a alma deles, levando-a novamente ao cativeiro, furtando-lhe sua liberdade espiritual, alienando-a de Deus e banindo-a dos céus. É por isso que deveriam sempre se opor a elas.

2. Um estilo de vida exemplar: Sem pausa alguma, Pedro passa dos desejos para a conduta dos seus leitores: ...mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação (2:12). A palavra exemplar (kalos) denota aquilo que é moralmente gracioso, excelente, admirável e louvável. Procedimento (anastrophe) é modo de vida, conduta, comportamento, postura. No meio dos gentios, implica que essa conduta deve ser mantida entre, aqueles que vivem sem Deus (Ef 2:12b) O apóstolo explica aos seus leitores o propósito da conduta exemplar, quando utiliza o para que. Notícias absurdas e acusações perversas eram proferidas e espalhadas pelo império romano por seus inimigos gentios, que não entendiam as suas novas crenças, nem aceitavam as suas novas atitudes. É difícil precisar a natureza desse falatório calunioso. A palavra malfeitores é bastante abrangente; é usada para se referir a alguém que diz ou faz coisas perversas, injuriosas, perniciosas, destrutivas. Era aplicada a um homem ímpio que fazia o mal de tal maneira que ficava sujeito à punição pelos magistrados.

Como deveriam rebater estas acusações infundadas? Por meio de um estilo de vida exemplar. Deveriam rebatê-las não pela eloquência de suas palavras, mas pelo brilho de seu comportamento. Só poderiam defender-se vivendo de maneira louvável. Os seus acusadores os observavam de maneira atenciosa e reflexiva. O termo grego usado por Pedro para observar subtende alguém que é uma testemunha ocular. Assim que vissem as boas obras deles seriam levados a glorificar a Deus no dia visitação. A palavra visitação é uma tradução da palavra episkope, que também significa exame, inspeção, sondagem, supervisão, investigação. Refere-se àquele ato pelo qual Deus, o sondador por excelência, examina e perscruta o caminho e o caráter dos homens e das mulheres. Essa visitação pode ser tanto de juízo (Ex 32:34) [A Septuaginta também utiliza uma palavra que tem o mesmo sentido.] quanto de graça (Lc 19:44). Mas nesta carta de Pedro, onde se frisa que o final de todas as coisas está perto, pode ser que o dia da visitação se refira à ocasião em que Deus virá não para salvar, mas para julgar. Nesta época, todo joelho haverá de se dobrar diante de Jesus e toda língua haverá de confessar que ele é Senhor, para a glória de Deus Pai!

3. Um estilo de vida submisso: Pedro orienta a relação do seus leitores originais com os governos romanos, dizendo: Sujeitai-vos a toda instituição humana (2:13a) Sujeitar-se é uma palavra de origem militar que significa literalmente colocar-se ou organizar-se debaixo da autoridade de alguém. Deveriam se sujeitar por causa do Senhor, o mesmo que disse que se deve dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mt 22:21). A sujeição deveria se estender ao rei, como soberano, bem como às autoridades, enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem (2:13b-14). Embora fossem peregrinos e forasteiros (2:11) – estavam apenas de passagem pelas províncias romanas em direção ao lar celestial –, os leitores de Pedro não deveriam falar mal das pessoas apontadas pelo Império Romano para governá-los, tampouco trabalhar para derrubá-las. A vontade de Deus é que continuassem praticando o bem, pois, assim, fariam emudecer a ignorância dos insensatos (2:15b). Emudecer significa, literalmente, amordaçar. Os que diziam que os crentes em Jesus incitavam a anarquia e apoiavam a rebelião nas províncias romanas, calariam-se ao notarem o estilo de vida submisso deles.

A seguir, Pedro alerta sobre o uso da liberdade espiritual: como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus. O termo grego traduzido por pretexto significa aquilo que cobre, capa. Malícia, por sua vez, indica uma forma de iniquidade que não se envergonha de quebrar a lei. O ensino é claro: Não se deve utilizar a liberdade espiritual para justificar a recusa em se submeter a qualquer autoridade terrena. Embora a liberdade espiritual não seja incompatível com a sujeição ao governo romano, é totalmente incompatível com a insubmissão e com a ilegalidade. Pedro, então, conclui o seu ensino com algumas ordens para os livres em Cristo. Quem está livre em Cristo, deve tratar a todos com honra (2:17a). Cada vida humana tem valor inestimável para Deus, quer seja crente em Cristo ou não. Quem está livre em Cristo, deve amar os irmãos (2:17b). Um amor voluntário, autêntico, sacrificial e imparcial. Quem está livre em Cristo, deve temer a Deus (2:17c). Deve respeitá-lo, sendo sensível às coisas que o agradam e o desagradam. Quem está livre em Cristo, deve honrar o rei (2:17d). Só não se deve fazê-lo quando as suas políticas ou práticas forem contra as leis do Rei dos reis.

Então, por causa dos ímpios que os olhavam atentamente e por causa do Senhor que os amava grandemente, os crentes em Jesus desta época tão difícil e aflitiva deveriam desfrutar da liberdade espiritual com extrema sabedoria. Eles deveriam ser o sal daquela terra e a luz daquele mundo. No meio daquela geração pervertida e corrupta, deveriam se comportar de maneira inculpável para que os seus acusadores fossem silenciados e para que o seu libertador fosse glorificado.

II. PRATICANDO A PALAVRA DE DEUS

Domine o seu desejo - Dentro de você não existe apenas desejo nobre, santo, limpo. Há também desejo errado, imoral, egoísta. A sua maior luta não é contra quem o cerca: é contra o que você sente dentro de você. Dizem que, em certa ocasião, D. L Moody afirmou: “Tenho mais dificuldades com D. L. Moody do que com qualquer outra pessoa que eu conheço”. Se você ouvir os apelos insistentes e atender as ordens absurdas desse seu desejo inferior, a sua vida cristã será uma ruína. Você passará a viver como os incrédulos que estão ao seu redor e o seu testemunho deixará de ser eficaz. Afaste esse desejo do seu coração, antes que ele acabe com você.

Valorize a sua conduta - Se você pensa que a forma como vive não é vista pelos ímpios que estão ao seu redor, está muito iludido. Saiba que você está na mira deles. Eles estão atentos a tudo: ao modo como você trabalha, como age nas lutas da vida, como se comunica com seus familiares, como se relaciona com os seus colegas de trabalho, como se comporta no trânsito, como preenche a declaração do imposto de renda. Querem ver se o que você faz está de acordo com o que você diz. Procuram por incoerências. A sua conduta não deve apresentar coisa alguma que possa ser usada pelos incrédulos como munição contra o evangelho e contra os evangélicos.

Entenda o seu resgate - Você conheceu a verdade e a verdade o libertou. Hoje você está livre. O que o oprimia e o que o prendia Jesus tirou e levou para longe. Mas, por favor, não abuse desse fato. Não use a liberdade para praticar o mal, e sim para praticar o bem. Não use a liberdade em prol de si mesmo, mas sim para servir a Deus e ao próximo, quer seja crente em Jesus ou não. Use-a como instrumento para construir, não como arma para lutar. Entenda que a verdadeira liberdade é aquela que a ninguém causa mal algum. Para a liberdade foi que Cristo o libertou. Permaneça, pois, firme e não se submeta, novamente, a jugo de escravidão (Gl 5:1).

CONCLUSÃO

Um grupo de índios se reuniu para ouvir o que um senhor que fazia parte de uma sociedade missionária tinha a lhes dizer sobre Jesus. Um dos índios o abordou logo que concluiu a sua fala para lhe dizer, em nome da tribo, que todos tinham gostado muito de tudo o que ouviram a respeito de Jesus, mas que ainda não estavam prontos para tomar uma decisão. Ele disse que a tribo precisava de mais um tempo. Todos os índios dessa tribo sabiam que esse mesmo senhor também falava de Jesus para os homens brancos da região, que os trapaceavam com frequência. A tribo queria, na verdade, um tempo para observar que efeito Jesus teria sobre esses seus vizinhos. Se visse que, Jesus os libertaria das trapaças, então, todos que faziam parte da tribo tomariam uma decisão favorável a ele.

O que essa singela, mas verídica história nos ensina? Que alguém que foi liberto por Jesus precisa evidenciar para as pessoas que estão ao seu redor os frutos ou os efeitos dessa libertação. Não se testemunha apenas com os lábios, mas também, e principalmente, com a maneira de viver. Os incrédulos se impressionam mais com aquilo que veem em sua vida do que com aquilo que ouvem da sua boca. Então, viva como uma pessoa livre!

Que o Senhor nos ajude e nos abençoe!

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DEC - PC@maral

Um comentário:

  1. Parabéns pela postagem,que liberdade maravilhosa que Cristo nos deu por intermédio do seu sangue derramado na cruz e que deve ser reconhecida por nós todos os dias da nossa vida até a sua volta.Que Deus continue lhe abençoando.

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