Estou Dentro da Igreja Mas Ainda Sou Incrédulo

Tomé precisou ver para crer

Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei. (Jo 20:25b)

As dúvidas fazem parte da vida de qualquer pessoa. Elas surgem sem aviso prévio, e, caso não sejam enfrentadas e resolvidas, poderão conduzir a pessoa ao grave problema da incredulidade. Quando isto acontece, um grande conflito interno tem início, porque a incredulidade é extremamente prejudicial ao desenvolvimento da fé verdadeira (Hb 12:6). No entanto, a palavra de Deus oferece ensinos preciosos, que trazem àqueles que a estudam a certeza de que a incredulidade pode ser superada. É comum ouvirmos dizer que um crente não pode ter dúvidas.

Alguns irmãos chegam a considerá-la como uma afronta a Deus. No entanto, em meio às inevitáveis crises e dramas, que surgem ao longo da nossa existência, somos confrontados com dúvidas cruéis, que, não raras vezes, nos levam até mesmo a questionar a palavra de Deus, colocando em risco a preciosa fé que um dia abraçamos. Alguns ilustres personagens bíblicos também tiveram a sua tranqüilidade abalada pelo surgimento perturbador da dúvida. João Batista, considerado o maior profeta que já existiu (Mt 11:11), mesmo tendo dedicado a sua vida à pregação da vinda do Messias, declarado Jesus como Cordeiro de Deus (Jo 1:29) e ter se apresentado como testemunha da confirmação divina de que este era o Filho de Deus (Jo 1:30-34), não ficou imune ao dardo inflamado da dúvida. Esta veio para ele diante da forte pressão emocional sofrida, na injusta prisão de que foi vítima. Este autêntico servo de Deus foi atormentado pela incerteza do que tinha declarado, a ponto de enviar a Jesus a seguinte pergunta: És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro? (Mt 11:3).

Uma outra referência bíblica imortalizou o seu protagonista como símbolo da incredulidade. Este episódio é o que narra a dramática experiência vivida por Tomé, um dos doze discípulos escolhidos por Jesus (Lc 6:13-16). Dificilmente ouviremos uma mensagem que o aponte como um exemplo a ser seguido. Por ter sido alvo de uma repreensão feita por Jesus (Jo 20:27), acabou sendo rotulado, pelos leitores e estudantes da palavra de Deus, como “aquele que duvidou” ou “o incrédulo”. No entanto, este incompreendido discípulo pode ser um excelente exemplo para quem deseja superar crises de dúvidas e descrença e alcançar uma fé verdadeira e inabalável.

Quando analisamos a vida de Tomé ao lado de Jesus, ficamos admirados com o aparecimento de uma incredulidade tão marcante. Ele, entre tantas coisas, viu Jesus ressuscitar a Lázaro, que já estava morto e sepultado pelo período de quatro dias (Jo 11:16,43,44); contemplou a autoridade do Senhor sobre mares e tempestades (Mc 4:35-41); ouviu uma declaração magnífica do próprio Jesus, confirmando que ele era o Cristo, em resposta a uma pergunta (Jo 14:5-6); ouviu sermões edificantes e comoventes (Mt 5; Jo 10:1-21,14,15); assistiu ao milagre operado por Jesus, quando este multiplicou os pães e os peixes (Mt 14:19); e, com certeza, alegrou-se diante de tantos outros milagres que viu Jesus realizar. Os poucos registros feitos nos evangelhos sobre Tomé nos permitem desenhar o perfil de um homem leal, corajoso, investigativo, amoroso, persistente e reverente.

A lealdade de Tomé ao Mestre ficou demonstrada quando se decidiu e convenceu o grupo de discípulos a acompanhar Jesus, numa missão suicida, segundo o seu realista, pessimista e cético ponto de vista (Jo 11:8,16). Mesmo estando certo de que Jesus seria morto, ele teve coragem para acompanhá-lo. Quando não entendia alguma coisa, não tinha receio de perguntar. Ao ouvir Jesus afirmar que estava indo preparar um lugar para eles, e que eles já conheciam o caminho para o tal lugar, não hesitou em perguntar: Senhor, não sabemos para onde vais; como saber o caminho? (Jo 14:5).

O desejo de estar com Jesus em todas as situações, querer conhecer o caminho para encontrá-lo, precisar de informações claras e transparentes, em resposta às suas perguntas, fazia de Tomé um homem como poucos. Dá até para entender porque Jesus o escolheu para o seu grupo restrito de amigos. Era um discípulo leal, honesto e amava o seu Mestre. Talvez, por essas razões, o desapontamento sofrido pela morte de Jesus foi demais para Tomé. Com certeza, a sensação de desamparo e frustração invadiu o seu coração. No seu modo pessimista de pensar, ele concluiu que estava tudo acabado. Recolhido na sua tristeza, afogado no mar da dúvida, ele não participou do grande momento em que Jesus se apresentou aos seus amedrontados discípulos (Jo 20:24), oferecendo paz, alegria e consolo, através do Espírito Santo.

Ele perdeu a chance de ouvir o único que poderia responder as suas inquietantes indagações. Entretanto, não era de desistir facilmente. Retornou ao grupo, encontrando-os transbordantes de felicidade, num contraste gritante com a tristeza que lhe tinha consumido nos últimos dias. Autêntico e verdadeiro como era, declarou o seu descrédito às entusiasmadas informações de seus amigos que, perplexos, o ouviram afirmar: Se eu não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o dedo, e não puser a mão no seu lado, de modo algum acreditarei (Jo 20:25).

Era tudo ou nada. Não bastava ver; ele também precisava tocar nas feridas que tinham levado o seu querido Jesus à morte. A famosa frase “ver para crer” surgiu do desejo sincero de alguém que reconhecia a sua limitação e sua incapacidade de enxergar além do que estava ao alcance dos olhos e do toque das mãos. A dúvida, o medo, a tristeza eram as únicas certezas naquele momento crucial da sua vida. O pronunciamento honesto de Tomé era o desabafo desesperado de um homem que não podia esconder a sua dor por não conseguir crer em simples palavras.

O salmista Davi afirmou que um coração compungido e contrito não será desprezado por Deus (Sl 51:17). Essa promessa cumpriu-se na vida de Tomé. Jesus voltou para ele. O Senhor ouviu o clamor angustiado daquele discípulo tão especial, e voltou para cuidar dele e lhe dar a cura que ele precisava. Extasiado e surpreso, o atormentado Tomé se achou frente a frente com Jesus Cristo. A paz oferecida na sua divina saudação penetrou naquele coração desconfiado (Jo 20:26). Ainda sob forte impacto, ele viu o Senhor lhe dirigir o olhar, e ouviu a tão esperada resposta de Jesus ao seu clamor: Põe aqui o dedo e vê as minhas mãos; chega também a mão e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente (Jo 20:27). Neste momento, ficou claro que Tomé era a razão do retorno de Jesus.

O relato bíblico não registra se Tomé efetivamente agiu de acordo com a permissão dada por Jesus, mas apresenta uma cena emocionante de um homem convertendo-se integralmente e verdadeiramente ao senhorio do Cristo ressurreto. Jesus voltou para ficar para sempre na vida de Tomé. As terríveis dúvidas desapareceram, dando lugar a uma fé viva e verdadeira que inundou o seu coração de tal maneira que o levou a confessar que ali estava o seu Senhor e o seu Deus (Jo 20:28). Naquele momento, nascia um novo Tomé, pronto para testificar que o amor divino é real e transforma um homem de coração endurecido pela incredulidade em um verdadeiro adorador do Senhor.

A visita de Jesus a Tomé trouxe benefícios que se estenderam aos seus servos em todos os tempos: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram (Jo 20:29). Tomé precisou ver para crer, a exemplo dos outros discípulos, que também passaram a crer porque viram o Senhor (Lc 24:39). Entretanto, o Senhor garantiu que existiriam pessoas que seriam muito felizes porque teriam a condição de crer sem a necessidade de ver. A fé verdadeira iria brotar nos corações daqueles que tivessem a oportunidade de ouvir a palavra de Deus.

A era apostólica terminou, mas a fé pregada por eles continua transformando pessoas incrédulas em filhos de Deus, pelo poder da sua palavra (Rm 10:8-10). Pessoas fragilizadas pela dor e pelo sofrimento podem tornar-se vulneráveis ao ataque de dúvidas e desconfianças com relação ao cuidado paterno de Deus. Não é pecado ser assaltado por dúvidas; porém, é fundamental não ser dominado por elas. A advertência de Jesus a Tomé foi de preveni-lo contra uma doença letal: ... não sejas incrédulo, mas crente. A incredulidade é o caminho certo para a morte, daí a ordem bíblica de nos livrarmos dela: Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo (Hb 3:12).

Procurando a Mudança

Podemos vencer a incredulidade procurando a comunhão fraternal

Assim como João Batista teve, na solidão do cárcere, o ambiente propício para o surgimento de uma dúvida crucial (Mt 11:3), também o afastamento de Tomé do grupo o empurrou ainda mais para o turbilhão de dúvidas que o atormentava (Jo 20:24). Este recolhimento o impediu de ouvir os testemunhos que os irmãos já estavam compartilhando, como a experiência de João e Pedro, no túmulo vazio (Jo 20:3-8), ou, ainda, o depoimento veemente de Maria Madalena, que afirmou, aos discípulos reunidos, ter visto e conversado com o Senhor ressurreto (Jo 20:18).

A ausência de Tomé, na reunião do grupo, não o permitiu assistir ao glorioso momento em que o Senhor compareceu, de maneira sobrenatural, consolidando a fé dos presentes e afugentando deles todos os sentimentos negativos. Se alguém pensa que será mais fácil achar resposta para as dúvidas espirituais no isolamento, está muito enganado. Apesar de ser muito comum que as pessoas em crise deixem de congregar, na tentativa de entender melhor a situação adversa, este é o pior caminho a ser tomado.

Em momentos de dificuldades, a comunhão fraternal é fundamental. Quando participamos ativamente da igreja, temos mais oportunidades de superar a descrença, porque somos constantemente motivados pelo encorajamento mútuo, através da oração, do louvor, dos testemunhos e da pregação da palavra. Tomé alcançou a libertação das grades invisíveis da incredulidade, através de Jesus Cristo, quando retornou à comunhão dos discípulos.

Podemos vencer a incredulidade confessando as dúvidas espirituais

Tomé não temeu em expor, com sinceridade de coração, a sua dificuldade aos seus amigos. Por mais que os relatos deles fossem entusiasmados, demonstrando que acreditavam de verdade na ressurreição do Senhor, ainda assim, não foram suficientes para contagiar o duvidoso Tomé. Na verdade, ele sabia que precisava de um encontro pessoal com Jesus que não podia ser baseado em experiência de terceiros.

Ele não fingiu uma crença que não sentia apenas para agradar as pessoas com as quais convivia. Com coragem e determinação, abriu o seu coração, confessando aos outros discípulos a incredulidade que o perturbava. A melhor forma de vencermos a descrença é não a disfarçar, fazendo de conta que está tudo bem, enquanto a dúvida corrói o nosso interior. Afinal, sabemos que é impossível enganarmos a nós mesmos! Uma confissão sincera é um antídoto eficaz contra a destruidora incredulidade. Abrir o coração diante de Deus, sem reservas, deixando expostos a fraqueza, o medo, a desconfiança, a insegurança que sentimos é o primeiro passo para uma cura real e efetiva. Assim como Tomé foi beneficiado com a presença do Senhor, em resposta à sua declaração honesta, nós também o seremos, quando admitirmos que precisamos da intervenção divina no combate à incredulidade.

Podemos vencer a incredulidade reconhecendo a compaixão divina

A apresentação de Jesus, no segundo encontro com os seus discípulos, teve um objetivo principal: convencer o desconfiado discípulo Tomé de que ele havia ressuscitado. Ao contemplar o Mestre, Tomé compreendeu, finalmente, que, para o Senhor que venceu a morte, não existia impossibilidades. Ele, maravilhado, reconheceu que o soberano Deus estava presente naquela sala, tinha sobre o seu domínio todas as situações e nada, nem mesmo as lamentações e inquietações de um simples homem como ele, poderiam passar despercebidas da atenção daquele que tudo vê tudo sabe e tudo pode. Jesus não o havia abandonado: Paz seja convosco. A cena do versículo dezenove se repete no versículo vinte seis. Jesus voltou porque havia um deles que ainda estava precisando ter um encontro pessoal com ele. A compaixão divina alcançou Tomé. A incredulidade cedeu lugar à confiança, e a paz invadiu, definitivamente, o seu coração. Um novo Tomé extasiado e agradecido diz: Senhor meu e Deus meu! (Jo 20:28). No momento em que temos a visão correta do Senhor a quem servimos, não existe a mínima chance de sobrevivência a um coração incrédulo. Por isso, reconheça e agradeça este Deus maravilhoso, que não está distante, que se importa conosco, que não despreza o incrédulo, que pode nos transportar da dúvida para uma vida transformada pela fé.

Conclusão

Existe um pensamento popular que traz uma ilustração interessante: “Não podemos impedir que um pássaro voe sobre a nossa cabeça, mas podemos impedi-lo de fazer o seu ninho nela”. Não se conforme com a dúvida; busque respostas. Creia que a mudança é possível. Não perca de vista a certeza, garantida pela palavra de Deus, de que o Senhor Jesus está conosco (Mt 28:20), e porque ele é o nosso pastor, nada nos faltará; a sua bondade e a sua misericórdia nos seguirão todos os dias da nossa vida (Sl 23:1,6). Confie na sua promessa de que muitos milagres seguirão aos que crerem (Mc 16:17). Vale à pena lutar pela mudança.

Que Deus nos ajude e nos abençoe!

Fonte:
Departamento de Educação Cristã - Rute de Oliveira Soares

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