E agora, como consertar o que falaram sobre você na internet?


Assim como nossa vida social, ataques de consumismo e desventuras amorosas acontecem cada vez mais na internet e acabamos deixando para trás, propositalmente ou não, um arsenal crescente de informações pessoais. Com isso, marketeiros, empregadores, pretendentes e até perseguidores e ladrões estão juntando os pedacinhos do mosaico de nossas vidas e, mesmo quando bastante acurado, pode ser que o resultado não seja tão agradável.

Bisbilhoteiros com mais tempo disponível para navegar na rede conseguem encontrar evidências de suas tendências políticas, desafios de saúde, problemas no trabalho e micos em festas em comentários postados em blogs ou no Facebook - informações que poderiam atrapalhar suas chances de ser aceito em uma instituição de ensino, de conseguir ou manter seu emprego ou mesmo de conquistar um pretendente. Muitos especialistas em privacidade temem que empresas usem dados deste tipo contra seus usuários, talvez para negar uma cobertura de seguro ou aplicar uma taxa de juros mais alta em um empréstimo.

Vida exposta ao mundo

"O acúmulo de dados pessoais online está criando o cenário para um Wikileaks de nossas vidas", disse Michael Fertik, CEO da Reputation.com, antiga ReputationDefender, empresa que cobra para gerenciar informações e imagens online. "A coletânea valiosa de dados pessoais sobre cada um de nós está crescendo a níveis nunca esperados, e o vazamento de grande parte destes dados pode ser algo devastador no âmbito pessoal", disse ele.

Se quisermos gerenciar nossa privacidade, é óbvio que o primeiro lugar para começar é nos motores de busca online, como o Google, o Bing e o Yahoo, exatamente onde as outras pessoas provavelmente irão checar sua vida. Digite palavras chave de seu nome, endereço, telefone e outros dados identificadores e veja o que acontece. Não interrompa a busca depois de surgirem as primeiras páginas de resultados. Mesmo sendo as mais influentes, os micos e detalhes esquecidos podem acabar aparecendo na página seis ou mesmo depois. A advertência é do consultor Andy Beal, um dos autores de "Radically Transparent" (Radicalmente transparente, em tradução livre), livro sobre o monitoramento e gestão online de reputação, que alega já ter ajudado muita gente a remover informações da rede.

Procure também por contas que algum dia você abriu e não usa mais, principalmente em redes sociais ou sites de relacionamentos, onde você deve ter fornecido quantidade relevante de informações pessoais. Não somente seus detalhes podem ser desenterrados, como fez o blog Mashable ao postar supostas informações sobre os relacionamentos online de Julian Assange, fundador do Wikileaks, como o site para quem você confiou suas informações poderia alterar suas práticas de privacidade ou ainda ser adquirido por alguma empresa com políticas diferentes. Se você está aterrorizado por este trabalho de pesquisa, existem empresas ávidas a trabalhar em seu favor. A americana Abine cobra uma taxa anual de 99 dólares para fornecer relatórios trimestrais detalhando suas informações pessoais disponíveis na internet.

"As seis principais bases de dados online nos Estados Unidos - 123people.com, MyLife.com, Spokeo, US Search, WhitePages and PeopleFinder.com - têm um dossiê sobre minha vida. Todas elas têm meu endereço residencial, o que não me surpreende, e três delas enumeram alguns de meus familiares. A Abine também conseguiu encontrar uma engraçada discussão inflamada que postei em um fórum de assistência técnica alguns anos atrás. Por outro lado, não tinha muita coisa interessante. Aparentemente, venho mantendo um excelente controle de minha imagem online e as pessoas gostam de mim", foi o que disse Sarah Paradisi, funcionária da Abine que compilou seu próprio relatório.



Como fazer?

A parte mais complicada do processo é mascarar as informações. Geralmente é possível removê-las por conta própria, embora a empreitada provavelmente consuma bastante tempo. Primeiramente, apague das redes sociais, como o Facebook, qualquer dado que alguém poderia usar para roubar sua identidade, como sua data de nascimento completa ou endereço de sua casa. Outros detalhes podem ser ocultados através de opções de segurança que os disponibilizam somente para amigos. Também remova ou desative contas em redes sociais que você já não acessa mais.

Se quiser remover informações sobre você postadas por terceiros, você vai ter de entrar em contato diretamente com essas pessoas. Um amigo no Facebook pode concordar em deletar aquela sua foto suspeita. Mas pode ser complicado contratar uma corretora de dados online - empresa que compra informações de bases de dados para revendê-las a outras empresas que as compilam - para remover o conteúdo, principalmente se o mesmo for verídico e legal. Andy Beal diz que pedir com jeitinho, explicando a razão, geralmente funciona.

"Talvez você tenha de esperar até 30 dias para ter as informações removidas. E eles não garantem que elas serão retiradas para sempre. É um problema bastante complicado", adverte Amber N. Yoo, porta-voz da Privacy Rights Clearinghouse, que tem uma lista de 140 corretores. "As informações removidas devem desaparecer dos motores de busca dentro de algumas semanas. Se isto não acontecer, envie uma solicitação diretamente para estas empresas para que as mesmas sejam removidas. O Google fornece instruções, mas sem a ação do proprietário do site, o motor de busca raramente remove conteúdo que não seja ilegal. Tudo isso pode se transformar em uma grande dor de cabeça. Uma amiga que teve de lidar com um perseguidor passou duas semanas tentando remover seu endereço pessoal de quatro sites e motores de busca." Os sites cooperaram, mas ela conta que "ainda existe minha presença fantasma no Google", mesmo depois dela enviar diversas solicitações para ter as informações removidas.

O Google informou que seu motor de busca refletiu o conteúdo que estava disponível na internet. De fato, aparentemente, seu endereço não foi completamente eliminado de um dos sites. Ela acabou desistindo depois de encontrar o histórico de todos os seus endereços em um site de busca de pessoas que cobrava dois dólares pela informação. Ela diz que aí ficou claro que todo aquele esforço de sua parte foi em vão. Muitos sites, dentre eles o Google e algumas agências de notícias, fazem parte do segmento de informações e podem não se dispor a removê-las, principalmente se elas são verídicas. Se os mesmos não tomarem uma atitude, especialistas sugerem criar mais conteúdos favoráveis sobre você, como um perfil no LinkedIn ou um blog pessoal, para rebaixar os desfavoráveis para a terceira ou quarta tela de resultados de busca, onde poucas pessoas se preocupam em olhar. Se o conteúdo for difamatório - seja ele falso ou prejudicial - ou ainda ilegal, Beal recomenda contratar um advogado.

O preço de sair da internet

Empresas especializadas podem ajudar os consumidores a lidar com problemas deste tipo. A mais conhecida delas nos é a Reputation.com, que cobra uma taxa anual de 99 dólares pelo serviço MyPrivacy, que identifica, remove e mantém sua informação fora da rede e de bases de dados comerciais. O serviço também dispõe de tecnologia para interromper o rastreamento e coleta de dados através de cookies, o que pode ajudar a evitar a saída de mais informações.

A Abine, que também dispõe de um aplicativo anti-cookies, comercializa um serviço sob medida chamado DeleteMe, para remover partes específicas de conteúdo online. A retirada de informações de consumidores de 16 das principais bases de dados sai por 75 dólares, por exemplo, enquanto que a remoção de resultados específicos de motores de busca, vídeos do YouTube e conteúdo da Web, custa entre 10 e 50 dólares por entrada.

"Muito pouca gente se importaria em sair por aí a procura destas informações. A dificuldade é proposital, principalmente para quem tem um emprego em período integral e outras coisas pra fazer", disse Eugene Kuznettsov, presidente da Abine. E é justamente com isso que os bisbilhoteiros de plantão estão contando.
(Tradução: Claudia Batista Arantes)


Fonte: NYT via Guiame

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