Quando o Povo de Deus se Reúne para Buscar Apoio

Venham apoiar-me aqueles que te temem, aqueles que entendem dos teus estatutos. (Sl 119:79)
“Buscar apoio” é uma expressão forte, que descreve muito bem o quanto somos limitados e o quanto dependemos uns dos outros. A palavra apoio tem o mesmo significado de sustentação, base, auxílio, proteção, ajuda, encorajamento. O culto é uma excelente oportunidade para, dentre outras coisas, prestarmos e pedirmos ajuda uns aos outros. A igreja é para isso. Afinal, a Bíblia a descreve da seguinte maneira: Pois bem, vocês são o corpo de Cristo, e cada um é uma parte desse corpo (1 Co 12:27 – NTLH).
O salmista não tem vergonha de declarar que precisa de ajuda. Por isso, ele se apressa em recorrer a Deus do seguinte modo: Venha, pois, a tua bondade consolar-me (...). Baixem sobre mim as tuas misericórdias, para que eu viva (Sl 119:76-77). Ele entende que precisa buscar apoio não somente do alto, mas, também, dos que estão ao seu lado, isto é, daqueles que temem ao Senhor (Sl 119:79). Isso faz sentido. Precisamos da ajuda divina, mas devemos admitir que precisamos uns dos outros. Ao angustiado, palavras de conselho e encorajamento são fundamentais. No culto, portanto, precisamos tomar algumas atitudes em relação ao ato de apoiar.
Não precisamos, necessariamente, obter acesso a uma graduação na área de relações humanas ou algo semelhante, para nos relacionarmos afetivamente com as pessoas. A Bíblia, a palavra de Deus, é a nossa base para isso. Ela é a bússola que nos direciona em todas as áreas da vida. O seu autor compreende os seres humanos mais do que qualquer psicanalista conceituado. A Bíblia afirma que com Deus está a sabedoria e a força; ele tem conselho e entendimento (Jó 12:13). É a sua palavra que nos encoraja a encorajar por meio do aconselhamento saudável. Os que se reúnem para cultuar ao Deus santo devem ter em mente que o ato de apoiar é uma responsabilidade cristã, que tem fundamento bíblico. O apóstolo Paulo faz questão de enfatizar isso, ao escrever: Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina (2 Tm 4:2). O termo grego parakaleo, traduzido pelo verbo “exortar”, significa encorajar, fortalecer.
É um grave erro enfatizar a correção e a repreensão, sem praticar o encorajamento. Além de instruir Timóteo à prática do encorajamento, Paulo orienta Tito a seguir o mesmo princípio (Tt 1:9). O encorajamento, portanto, é uma verdade bíblica e deve ser praticada no culto com toda a longanimidade e doutrina. É um princípio bíblico e deve ser encarado como tal. Ele é tanto um direito quanto um dever do cristão. Os irmãos de Tessalônica aprenderam isso. Eles receberam o seguinte tratamento: ... vocês sabem que tratamos cada um de vocês como um pai trata seus próprios filhos, exortando, incentivando (1 Ts 2:11,12a – NBV). Mas receberam também a seguinte ordem: Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos (1 Ts 5:14).
Em algumas circunstâncias, as pessoas dependem exclusivamente da intervenção divina. Mas nem sempre é assim. Às vezes, basta que elas tomem uma iniciativa para que as coisas aconteçam. Em se tratando de apoio, o cristão deve agir de duas maneiras. Em primeiro lugar, precisa se dispor a ajudar. Quem melhor nos ensina isso é o próprio Jesus. Diante do abatimento e incredulidade dos discípulos que seguiam para Emaús, ele tomou a iniciativa de ajudá-los. A cura daqueles corações feridos e tristes pela morte do seu Senhor se deu mediante a um importante diálogo iniciado por Cristo.
Agir como Cristo agiu e imitá-lo é, sem dúvida, o melhor caminho. E como ele agiu? Ele se aproximou daqueles discípulos (Lc 24:15), perguntou o motivo da preocupação deles (Lc 24:17), dispôs-se a ouvi-los (Lc 24:19-24), confrontou-lhes o erro (Lc 24:25-27), ensinou-lhes a verdade (Lc 24:27), tornou-se íntimo deles (Lc 24:29) e, finalmente, não os abandonou, mas incentivou-os a agir (Lc 24:31,33,34). A atitude dos filhos de Deus deve ser a mesma. Todos podem se dispor a dar apoio, assim como Judas e Silas, que eram também profetas, consolaram os irmãos com muitos conselhos e os fortaleceram (At 15:32).
Em segundo lugar, o cristão precisa se dispor a receber ajuda. Quando se precisa de um conselho, a atitude mais sábia é buscá-lo. Mas, para que isso aconteça, é necessário reconhecer a própria necessidade de ajuda. A sabedoria que Salomão recebeu de Deus o impulsionou a afirmar: Quem pensa que pode vencer a vida sozinho vai fracassar totalmente; quem procura ajuda e pede conselhos será bem-sucedido (Pv 15:22 – NBV). Ele trata da importância de se consultar os conselheiros, antes de se tomar uma decisão delicada (Pv 20:18). Nas reuniões de adoração, há conselheiros. Há pessoas que se dispõem a ajudar e a receber ajuda.
Observar a base do apoio, que é a palavra de Deus, e tomar a iniciativa, tanto para ajudar quanto para pedir ajuda, indicam que o indivíduo está no caminho certo. Mas, uma vez que alguém negligencia tudo isso, deve tomar cuidado, pois aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando (Tg 4:17). Esse texto está tratando de um pecado grave: a omissão, a apatia a que muitos crentes se submetem, diante das turbulências que afligem a vida do próximo. O corpo de Cristo é o que mais sofre com os danos desse erro.
É comum vermos pessoas caírem da fé, em razão de lhes faltar apoio para continuar. Há muitos crentes desencorajados; há muitos líderes, inclusive, pastores, na mesma situação. Eles precisam de apoio. Não importa a posição de cada um no reino de Deus; todos podem passar por crises existenciais na vida. Todos são humanos. Qualquer pessoa nesse estado precisa ouvir palavras encorajadoras. Todavia, isso nem sempre acontece. Parece mesmo que alguns cristãos têm o “dom do desencorajamento”. Eles só se achegam às pessoas quando têm algo negativo para dizer, ou, então, nada dizem, o que pode ser mais desencorajador [1].
Mas Deus não quer que sejamos assim. A Bíblia nos mostra bons exemplos, dentre os quais citamos Barnabé, cujo nome significa “filho do encorajamento”. O seu nome caracteriza perfeitamente a sua pessoa. Ele apoiou Paulo, e este foi recebido entre os discípulos, apesar da má fama que tinha entre os cristãos (At 9:26,27). Tempos mais tarde, Barnabé prestou apoio a Marcos, uma vez que Paulo não queria levá-lo em sua viagem missionária. Barnabé, contudo, estendeu-lhe a mão (At 15:37-39). Não sabemos o que seria de Paulo e Marcos, se Barnabé lhes houvesse negligenciado apoio. A sua atitude foi de grande relevância para o ministério de ambos e para a expansão do cristianismo.
O clamor de quem carece urgentemente de apoio assemelha-se ao do salmista: Estou derrotado e caído no chão; de acordo com a tua promessa, dá-me novas forças (Sl 119:25 – NTLH). Dificilmente, alguém nessa situação conseguirá reerguer-se sozinho. Pessoas assim precisam ser percebidas, compreendidas. No culto, há pessoas sofrendo a dor do preconceito, em razão de um pecado cometido no passado. É possível que isso acontecesse na época de Paulo. Por isso, ele foi enfático em afirmar: Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo (Gl 6:2).
Esse texto trata de problemas concernentes ao pecado. Quem é vítima deste precisa de apoio para levantar-se outra vez: Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falha, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura (Gl 6:1). Além das vítimas do pecado, as vítimas da perda, do abandono, do desânimo, da doença merecem ser percebidas (1 Ts 5:14). Jó é exemplo disso (Jó 2:11). Esse é, talvez, o problema de muitos cristãos, que, muitas vezes, têm dificuldade para perceber os problemas que o irmão ao lado esteja atravessando.
A falta de percepção é uma falha grave, mas a indiferença é um erro ainda pior. Saber que uma pessoa está com problemas e fazer “vistas grossas”, como se nada estivesse acontecendo, não é uma atitude cristã. Cantar o amor, sem procurar praticá-lo no culto, é perda de tempo. Não foi à toa que Jesus mencionou a parábola do bom samaritano. Um sacerdote e um levita, pessoas de quem se esperava um bom exemplo, agiram com indiferença, em relação ao homem necessitado (Lc 10:31,32). Mas o samaritano, vendo-o, compadeceu-se dele (Lc 10:33). Muitos dependem de atitudes semelhantes às daquele samaritano.
PRATICANDO A PALAVRA DE DEUS
Para apoiar as pessoas, é preciso escutá-las.
A Bíblia diz que há um tempo para cada coisa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu (Ec 3:1 – NBV). Quando fazemos as coisas “fora do tempo”, podemos prejudicar a nós mesmos e aos outros. Por isso, Deus determinou que há tempo de ficar calado e tempo de falar (Ec 3:7b). Uma pessoa em estado emocional delicado precisa ser ouvida. Muitas vezes, anseia por isso. Ao desabafar, ela expelirá do coração sentimentos que lhe causam angústia. Nesses momentos, os nossos ouvidos são muito úteis. Cristo ouviu o lamento de Marta: Se o Senhor estivesse aqui, meu irmão não teria morrido (Jo 11:21 – NBV). Ouvir não significa concordar com o que a pessoa diz. Dependendo das circunstâncias, ela pode estar ressentida com alguém, por achar que este é culpado pela situação em que se encontra, mas pode estar equivocada. Nesses momentos, é melhor ser imparcial. Jesus, mais do que qualquer outra pessoa, sabia o que se passava no coração dos discípulos que viajavam para Emaús. Ele conhecia as dúvidas deles. Mas não se apressou a falar coisa alguma. Ele se dispôs a ouvi-los (Lc 24:19-24). Nós temos nos colocado à disposição do caído, do desanimado, do magoado e do desesperado para ouvi-lo? Escutá-los é, por si só, uma excelente maneira de apoiá-los, e o culto, uma oportunidade para isso.
Para apoiar as pessoas, é preciso compreendê-las.
Ouvir quem precisa desabafar é importante, mas não é tudo. Para que haja cura, é necessário, também, haver compreensão. Esse elemento é indispensável no processo de restauração de uma pessoa. Não há melhor modo de compreender alguém do que colocar-se no seu lugar. Caso contrário, a compreensão será suprimida pelo preconceito. Como é lamentável quando as coisas chegam a esse extremo! Não é essa a vontade de Deus, a quem cultuamos. Ele não faz acepção de pessoas (Ef 6:9). O mandamento bíblico para nós é: Levai as cargas uns dos outros (Gl 6:2). A Bíblia diz que devemos corrigir com brandura aqueles que estão caídos (Gl 6:1). Essa é uma característica de quem é, de fato, um cristão espiritual. Aquele que despreza, julga e condena a quem precisa de apoio não é espiritual, mas carnal. Portanto, tenha o cuidado de compreender as pessoas em crise, pois Cristo faz o mesmo por nós. Ele nos compreende e nos perdoa, apesar dos nossos pecados. Ele compreendeu a mulher que fora flagrada em adultério, perdoou a sua culpa e lhe deu outra chance (Jo 8:11). Aproveite o culto para se alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram (Rm 12:15).
Para apoiar as pessoas, é preciso aconselhá-las.
Após escutar e compreender as pessoas cabe-nos ainda dar um terceiro passo: devemos aconselhá-las. A sabedoria divina observa que, como o óleo e o perfume alegram o coração, assim, o amigo encontra doçura no conselho cordial (Pv 27:9). Tomar decisões não é nada fácil, principalmente para quem está abalado psicologicamente. Nessas horas, o apoio por meio de um conselho bem pensado e bíblico cai bem. Como já foi mencionado, a palavra de Deus é a bússola que nos direciona em todas as áreas da vida. Por isso, quem seguir os conselhos nela contidos, jamais se arrependerá. Todos precisam de apoio. O diálogo é, sem dúvida, essencial para isso. A pessoa que se sente culpada precisa de conselhos que a estimulem a aceitar o perdão de Deus. Aqueles que sofrem a dor de uma perda carecem de consolo e encorajamento, que podem ser obtidos com a certeza da ressurreição de Cristo. Os que precisam tomar uma decisão importante devem ser incentivados a confiar na direção divina. Não nos esqueçamos: o bom conselheiro precisa saber usar as palavras certas, no tempo certo, para a pessoa certa, pois, como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo (Pv 25:11). No culto, apoiemo-nos uns aos outros com sábios conselhos.
CONCLUSÃO
A igreja de Cristo é um lugar em que buscamos apoio uns dos outros, a fim de superarmos as nossas crises. Para cumprir este propósito, precisamos nos ajudar, com base na palavra, com iniciativa, sem sermos negligentes quanto o problema alheio. Ao nos reunirmos para buscar apoio, devemos ter em mente que precisamos ouvir as pessoas, bem como compreendê-las e aconselhá-las. Cristo espera isso de nós.

Bibliografia
1. GETZ, Gene A. Um por todos, todos por um. Brasília: Palavra, 2006. pág.149


DEC - PCamaral

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