O que está acontecendo com a igreja gloriosa?

Há um clamor no ar. Em vários lugares, cristãos estão se perguntando e perguntando aos outros: “O que está acontecendo com a ‘igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável’, de que fala Paulo (Ef 5.27)?”

Devemos destacar tanto o clamor que vem do país mais protestante do mundo como o clamor que vem do país mais católico do mundo. Curiosamente, os clamores são iguais. Até parece que um foi inspirado no outro. Um dos mais lidos autores protestantes, o jornalista e escritor americano Philip Yancey, em entrevista à revista Seu Mundo, declarou: “Parece-me que a igreja está mais propensa a afastar as pessoas de Deus do que a aproximá-las dele”.[1] Na mesma ocasião, o padre Geraldo Dôndice Vieira, reitor e professor de exegese bíblica no Instituto Teológico Diocesano Santo Antônio, em Juiz de Fora, MG, escreveu: “Apesar da boa intenção de muitos párocos e sua dedicação e zelo, a paróquia se tornou uma contra-evangelização institucionalizada”.[2]

Em última análise, a igreja militante, a igreja visível, a igreja como instituição humana, perdeu o direito e o poder de se fazer ouvir, de testemunhar, de pregar, de ensinar. A igreja triunfante, a igreja invisível, a igreja como corpo de Cristo, continua gloriosa, santa e inculpável. Essa igreja, “as portas do Hades” não poderão vencer, de acordo com a promessa de Jesus (Mt 16.18).

Bob Freer, autor do relatório de 200 páginas da Anistia Internacional, afirmou categoricamente: “Os Estados Unidos não praticam o que pregam”. A mesma denúncia foi feita à liderança religiosa de Jerusalém por Jesus há quase dois milênios: “Os mestres da lei e os fariseus se assentam na cadeira de Moisés. Obedeçam-lhes e façam tudo o que eles lhes dizem. Mas não façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam” (Mt 23.2-3) Cabe aqui a pergunta: Estamos vivendo em público e em particular o que anunciamos nos púlpitos, nos programas de rádio e televisão, nos livros e periódicos, nos sites e nas escolas e universidades?

Não é o que parece, levando em consideração, por exemplo, a declaração de dois médicos brasileiros, Vicente Amato Neto (professor emérito da Faculdade de Medicina da USP) e Jacyr Pasternack (doutor em medicina pela UNICAMP): “Embora as várias religiões, e não apenas a católica, considerem que a castidade até o casamento e a sinceridade férrea depois deste sejam obrigações pétreas, elas não conseguem que tais diretivas sejam seguidas por todos os seus líderes laicos ou clericais, sejam eles padres ou pastores. Não dá para tampar o sol com uma peneira — é só olhar e ver o que acontece”.[3]

Nós mesmos estamos nos acusando e colocando em dúvida a vantagem do crescimento exclusivamente numérico no catolicismo, no protestantismo e no pentecostalismo.

Da parte do catolicismo, temos o pronunciamento de Dom Eugênio Sales, arcebispo emérito do Rio de Janeiro: “Dizem que são 122 milhões de católicos batizados no Brasil. Se saísse a metade, a Igreja não ficaria prejudicada”.[4] Da parte dos evangélicos, temos a pergunta do conhecido expositor da Bíblia Russell Shedd: “Somos mais ou menos 25 milhões de evangélicos no Brasil. Onde está o poder dessa multidão?”5 Da parte dos pentecostais, temos a indignação de Rikk Watts, assembleiano, professor do Regent College, em Vancouver, Canadá: “De cada 20 pessoas no mundo, uma é pentecostal. E o mundo não é um lugar lindo. O que está errado?”[6]

Em entrevista à Veja, o principal vaticanólogo italiano, Giancarlo Zizola, disse que “o cristianismo não poderá existir no futuro como religião de sociedade, e sim como religião de testemunho”. Para tanto, será preciso liberar o cristianismo da cristandade, isto é, “desatá-lo dos regimes da cristandade — nos quais a religião cresce apenas vegetativamente, protegida por uma rede social e estatal”. Para Zizola é preciso acabar com a assimetria entre o cristianismo e a cristandade.[7]

A igreja gloriosa precisa de santos no púlpito e nos bancos. Não de santos beatificados e canonizados depois de mortos, mas de santos vivos, audíveis, visíveis e palpáveis, nos seminários, nos conventos, nos templos, na mídia, na sociedade, em casa e nos lugares de trabalho, exalando “o aroma de Cristo entre os que estão sendo salvos e os que estão perecendo” (2 Co 2.15). Pois “toda alma que se eleva, eleva o mundo”, como reza a exortação Reconciliatio et poenitentia, de João Paulo II. O inverso também é verdade: “Uma alma que se deixa abaixar pelo pecado abaixa consigo mesma a igreja e, de certo modo, o mundo inteiro”.[8]

Não será isso que está acontecendo hoje com a igreja gloriosa?
A graça é a manifestação maior do amor, da misericórdia, da compaixão e da paciência de Deus. E a libertinagem é a manifestação maior do pecado, da provocação, da maldade e da baixeza do homem.

A graça transformada em libertinagem

Quem põe a boca no trombone para fazer uma das mais sérias de todas as denúncias é Judas, “servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago” (Jd 1). É o único escritor do Novo Testamento que menciona sua ligação com Jesus Cristo e com mais alguém. Em vez de se apresentar como Judas-não-o-Iscariotes para se diferenciar do outro Judas, aquele que traiu o Senhor (Mt 10.4), o autor do terceiro menor e penúltimo livro da Bíblia prefere citar seu parentesco com Tiago.

A denúncia de Judas não poderia ser mais explícita: “[Certos homens] transformam a graça de nosso Deus em libertinagem e negam Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor” (Jd 4). Em outras palavras: “Eles torcem a mensagem a respeito da graça do nosso Deus a fim de arranjar uma desculpa para a sua vida imoral” (NTLH). A Comunidade de Taizé prefere afirmar que certas pessoas “abusam da graça do nosso Deus para levar uma vida dissoluta”.

Esse estrago está sendo cometido por alguns intrusos que já se infiltraram sorrateiramente no meio da comunidade e agora participam de suas festas de fraternidade (Jd 12) e usam de desavergonhada bajulação (Jd 16). No decorrer da epístola, Judas chama os prostituidores da maravilhosa graça de “sonhadores” (v. 8), “rochas submersas” (v. 12), “pastores de si mesmos” (v. 12), “nuvens sem água”, “árvores de outono [mas] sem frutos, duas vezes mortas, arrancadas pela raiz” (v. 12), “ondas bravias do mar, espumando seus próprios atos vergonhosos” (v. 13) e “estrelas errantes [a caminho das] mais densas trevas” (v. 13).

O que essas “rochas submersas” estão fazendo é muito grave. Quais icebergs, que escondem 90% do seu volume debaixo do nível do mar, elas realizam um trabalho de corromper a maravilhosa graça, declarando temerariamente que, depois de termos nos tornado cristãos, “podemos andar como quisermos, sem medo da ira divina” (Jd 4, BV)

Ora, a distância entre a graça divina e a libertinagem humana é imensurável. A graça é a manifestação maior do amor, da misericórdia, da compaixão e da paciência de Deus. E a libertinagem é a manifestação maior do pecado, da provocação, da maldade e da baixeza do homem. A graça de Deus parece não ter sinônimo perfeito (nem definição plenamente satisfatória). Mas os sinônimos da libertinagem são licensiosidade, dissolução, devassidão, depravação. Remover a maravilhosa graça do seu pedestal e colocá-la na mesma prateleira da libertinagem é uma violência que precisa ser denunciada em alto e bom som.

Essa fabulosa indústria de transformação, que pretende acalmar a consciência dos vencidos pela carne e enriquecer os intrusos, os advogados do diabo, os profetas da pecaminosidade e a mídia sedenta de ibope e ouro — existe há muito tempo e transforma não apenas graça em libertinagem. As outras transformações aparecem nas demais matérias de capa.
Essa capacidade maligna de transformar a arte de dar em arte de receber está profanando e tornando antipática a palavra dízimo, de origem santa.

O dízimo transformado em dividendos

A idéia de que o dízimo ou outra contribuição abrem as comportas dos céus e deixam derramar tanta prosperidade que não se tem onde guardar está tão generalizada que parece não haver retorno. Há empresários cristãos e recém-convertidos dando o dízimo com todo afoito, na esperança de serem bem-sucedidos nos negócios, de preferência, imediatamente. A malfadada teologia da prosperidade criou essa mentalidade mercantilista do dízimo. Outro dia, um pequeno empresário, com apenas um mês de conversão, comprou um bombom por vinte reais para ajudar a pagar a passagem de um missionário de partida para a Venezuela. No dia seguinte, algumas novas oportunidades de lucro chegaram ao seu escritório e ele e sua esposa logo relacionaram uma coisa com a outra.

Há igrejas e pastores encorajando, com sucesso, os fiéis a entregarem ofertas polpudas, prometendo-lhes as tais chuvas de bênçãos (materiais). Alguns dos ofertantes não conseguem nem sequer esconder a negociata que estão realizando com Deus. No auge da euforia, há quem doe todos os seus bens, ou quase todos, não por causa daquela devoção intensa e altruísta da viúva pobre que depositou no gazofilácio dois leptos (pequenas moedas de cobre quase sem valor), mas para poder escapar de uma falência, de uma doença terminal, de uma separação conjugal ou para abrir uma nova empresa e adquirir mais e mais bens de consumo.

Essa capacidade maligna de transformar a arte de dar em arte de receber está profanando e tornando antipática a palavra dízimo, de origem santa. A mão que se abre para ofertar é também a mão aberta para receber algo de maior valor. Isso vai totalmente de encontro àquele princípio ensinado por Jesus: “Há maior felicidade em dar do que em receber” (At 20.35).

Jesus deixou claro que o maior valor da contribuição é espiritual e não monetário. É por esta razão que ele valorizou mais as duas pequeninas moedas de “muito pouco valor” da mulher pobre do que as “grandes quantias” dos ricos (Mc 12.41-44). A legitimidade do dízimo e de qualquer oferta está na vontade de agradecer a Deus, na necessidade de adorá-lo e no privilégio de servi-lo. Daí a postura de Paulo: “Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me valerá” (1 Co 13.3).

O dízimo transformado em dividendos (parte dos lucros líquidos que cabe ao acionista de uma empresa mercantil) inverte os papéis e supervaloriza a obra em detrimento da graça. Deus assume o papel de devedor e o homem assume o papel de credor. A partir do momento em que você contribui com alguma coisa para o reino de Deus ou se nega a si mesmo algum prazer pecaminoso, Deus se torna seu devedor.

Originalmente, o dízimo era uma responsabilidade do povo de Deus. Um décimo de todas as posses e de toda a receita de todas as tribos (exceto a tribo de Levi) era destinado aos levitas como retribuição pelo trabalho religioso que realizavam. Já o dízimo dos levitas era destinado aos sacerdotes (Nm 18.21-29). Quando os dízimos não eram pagos, toda a estrutura era abalada, inclusive a assistência às viúvas, aos órfãos e aos estrangeiros (Dt 14.28-29). Além da agradável sensação do dever cumprido, os israelitas fiéis no dízimo e nas demais obrigações éticas eram, naturalmente, abençoados por Deus com fartas colheitas, das quais dependiam sua sobrevivência e seu bem-estar. Essa prosperidade não tem nada a ver com a prosperidade consumista, acentuada hoje em dia (carros importados, roupas sofisticadas, finas iguarias, viagens, os melhores teatros e casas na cidade, no campo e na praia).
Quando se tem a ousadia de transformar milagres em marketing, ao mesmo tempo o pastor de ovelhas é transformado em empresário.

Milagres transformados em marketing

Não há quem não precise e não busque a face de Deus para obter livramento frente a uma situação de angústia, depressão, medo, doença e morte. É absolutamente correto clamar ao Senhor com mais intensidade em situações especiais, que podem incluir desemprego, salários baixos, apertos financeiros, crises conjugais, solidão e outros infortúnios.

Algumas pessoas e igrejas são tentadas a enquadrar essas necessidades na lei do mercado. Se há procura, deve haver oferta. Se há problemas difíceis demais, grandes demais, tristes demais e complexos demais, deve haver milagres. Então monta-se uma banca ou um estande de milagres. O nome de Deus é usado inescrupulosamente. E os milagres não são feitos ao pé do ouvido, mas de forma sensacionalista; quanto mais público for, melhor. Se uma igreja não “fazia” milagres, ela passa a fazer para não perder fiéis e para crescer como a outra está crescendo. Os milagres são gratuitos, como os prêmios de Seleções do Reader’s Digest, que já estão a caminho, mas só chegam se o interessado assinar a revista. Em alguns casos – todo mundo sabe – o pagamento do milagre pode se chamar dízimo ou uma oferta de fé de alto valor, que demonstram prévia gratidão a Deus.

No final de 2004, certa denominação neopentecostal realizou uma grande concentração para festejar o aniversário de sua fundação. Havia muitas visitas. Depois de pregar por cerca de meia hora, o fundador da igreja gastou mais 30 minutos para falar sobre as revelações que Deus lhe havia feito pouco antes a respeito de algumas pessoas ali presentes. Não citou nomes. Mencionou por alto a faixa etária, o sexo e as situações pelas quais passavam (desemprego, risco de suicídio, doença grave, casamento em processo de rompimento etc.). Embora não tivesse nenhuma conotação financeira, o discurso pareceu uma propaganda ostensiva do pregador, da denominação e do dom da revelação.

Comparando essa cena e muitas outras demonstrações estudadas de milagres em reuniões, programas de televisão e órgãos de imprensa com as curas realizadas por Jesus Cristo, chega-se à conclusão de que há um grande abismo entre uma coisa e outra. Em seu livro Jesus Mestre de Nazaré, Aleksandr Mien, da Igreja Ortodoxa Russa, diz que Jesus “procurava sempre esconder das multidões os prodígios que operava. ‘Não digais a ninguém’ era só o que repetia a todos os que curava; e em geral, ele era contrário a que o povo fosse narrando por onde passava os fatos extraordinários por ele realizados. Portanto, era evidente que Jesus não queria transformar os milagres em mera arma que forçasse os inimigos a crerem nele” (Jesus Mestre de Nazaré, p. 144). Carlos Caldas, do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Mackenzie, lembra que está se fazendo uma inversão da ênfase bíblica. Enquanto Jesus diz: “Estes sinais acompanharão os que crerem” (Mc 16.17), estamos dizendo: “Os que crêem seguiram estes sinais”.

Quando se tem a ousadia de transformar milagres em marketing, ao mesmo tempo o pastor de ovelhas é transformado em empresário. Nessa metamorfose maldita, o pastor substitui a teologia pela economia e alcança muito sucesso. No caderno “Idéias” do Jornal do Brasil de 16 de abril de 2005 lê-se que “a Igreja Universal do Reino de Deus adota padrões de expansão dignos das mais modernas empresas de serviços profanos”.
Muitos de nós estamos adorando o estrelismo e criando sutilmente uma multidão de fãs para nos aplaudir e nos ajudar a subir aos lugares mais altos.

Humildade transformada em estrelismo

Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo [que], sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo (Fp 2.5, 8). Parece que “os filhos das trevas” estão tomando mais cuidado com a soberba do que os “filhos da luz”, que deveriam ter como exemplo a profunda humildade de seu Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Em maio deste ano [2005], o ex-ministro das Relações Exteriores Mário Gibson Barboza escreveu um artigo intitulado Cuidado com o andor. Trata-se de um prudente alerta contra a possível soberba brasileira na área diplomática. No final, o embaixador sugere: “Nada de ‘estrelismo’, pois há um provérbio árabe que diz: ‘a carne da gazela é a mais saborosa , mas a gazela não faz anúncio disso’, nada de auto-elogios, que não conseguem senão irritar os demais” (Jornal do Brasil, 17/05/2005, p. A-11). A declaração do general Alberto Mendes Cardoso está imbuída do pensamento bíblico: “Não existe nada que deixe uma pessoa mais vulnerável do que a vaidade exacerbada. Isso derruba um sujeito. Ele sempre cai”.

Quando o helicóptero do Grupo Pão de Açúcar caiu no mar em 2002, o comandante Sérgio Augusto Guimarães, instrutor de avião e helicóptero, explicou: “Se a falta de habilidade do piloto pode gerar tragédias, o excesso de confiança pode levar ao mesmo destino”.

Será que temos de descobrir o malefício e o perigo da soberba com os outros, e não com Jesus Cristo? Muitos de nós estamos adorando o estrelismo e criando sutilmente uma multidão de fãs para nos aplaudir e nos ajudar a subir aos lugares mais altos. A humildade cristã é uma virtude básica, mas rara e de fato muito difícil. Consiste na vigilância, na contenção e na privação da soberba existente dentro do coração humano, ansiosa por dominá-lo inteiramente por meio de auto-admiração, auto-elogio, auto-estima, autopromoção e auto-suficiência. A dificuldade da humildade decorre do fato de que ela tem de ser autêntica. Não pode ser aparente, nem fingida. Ou existe ou não existe. Por sua natureza, a humildade tem de se alojar primeiro no íntimo para só depois se exteriorizar. É uma virtude para Deus ver, e não para o homem ver.
Se a soberba descontrolada derruba impérios, por que não derrubaria igrejas todo-poderosas? Se derrubou o Faraó do Egito (Ez 29) e o Nabucodonosor da Babilônia (Dn 4), por que não derrubaria pastores todo-poderosos?
Uma das frases mais sucintas e mais ameaçadoras sobre o orgulho é de Salomão: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda” (Pv 16.18). A Bíblia Viva prefere parafrasear assim: “A desgraça está um passo depois do orgulho; logo depois da vaidade vem a queda”. Por aí se vê claramente que o caminho mais curto para o escândalo é a soberba. O Halachá (código judaico do comportamento humano) completa: “Todo aquele que anda somente quatro passos de forma arrogante, afasta-se dele a presença divina”. É por essa razão que os grandes, quando se envaidecem, caem da altura em que se encontram ou pensam se encontrar.

Quem tem o maior dever de zelar pela humildade são os cristãos. Por causa do exemplo de Jesus Cristo e por causa da conseqüente obrigação de serem iguais a ele. “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fp 2.5-8). E, entre os cristãos, são os pastores e os bispos que precisam de mais humildade, não somente por causa do exemplo, mas também para serem bem-sucedidos no ministério.

Todavia, não são poucos os casos em que o odioso estrelismo tem ocupado o lugar da humildade cristã em nossas igrejas. Jerram Barrs, fundador e diretor do Francis Schaeffer Institute, no Covenant Theological Seminary, nos Estados Unidos, avisa que “o problema do orgulho é tão profundo que até mesmo as bênçãos de Deus sobre nós podem ser prontamente transformadas, por nós mesmos, em autocongratulação”. Como o risco é grande, “mais do que qualquer coisa em nossas orações por nós mesmos, devemos orar por um coração humilde e grato e para vermos com clareza a facilidade com que nos tornamos auto-subservientes e cheios de orgulho” (A Essência da Evangelização, Editora Cultura Cristã, p. 156).

Por que muitos líderes, no Brasil e no mundo, nas igrejas históricas e nas igrejas pentecostais, antes bem-sucedidos e abençoados por Deus, estão sendo encostados pelo Senhor e pela igreja depois de algum comportamento vergonhoso? A principal razão combina perfeitamente com a já citada passagem de Provérbios (“À frente da ruína caminha a soberba, à frente da queda caminha a presunção”, na versão da Bíblia do Peregrino). Precisamos decorar aquela outra declaração de Salomão que tanto Tiago como Pedro trouxeram para o Novo Testamento: “Deus é contra os orgulhosos, mas é bondoso com os humildes” (Tg 4.6; 1 Pe 5.5, NTLH). Jerram Barrs lembra também que “o orgulho é o empecilho no caminho de toda pessoa em reconhecer sua necessidade de Cristo”. Essa desastrosa auto-suficiência que dispensa a presença divina é que provoca, irreversivelmente, a queda de quem está vivendo com intensidade a serviço do reino; Jesus deixou bem claro: “Sem mim vocês não podem fazer coisa alguma” (Jo 15.5). Se a soberba descontrolada derruba impérios, por que não derrubaria igrejas todo-poderosas? Se derrubou o Faraó do Egito (Ez 29) e o Nabucodonosor da Babilônia (Dn 4), por que não derrubaria pastores todo-poderosos?

A boa notícia é que, se à frente da queda caminha a presunção, “à frente da glória caminha a humildade” (Pv 15.33, Bíblia do Peregrino)!
Nossa demasiada euforia numérica chega a ser, às vezes, tão ridícula quanto a euforia nazista e comunista.

Força moral transformada em força numérica

Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me (Mc 8.34)

Estamos transformando força moral em força numérica. A menos que cheguemos à conclusão de que Ecclesia reformata sed semper reformanda (A igreja é reformada, mas está sempre se reformando ou carecendo de reforma, como se vê na entrevista com o historiador Alderi Souza de Matos), os próximos anos serão mais decepcionantes do que os dias de hoje. Não são as muitas letras que nos estão levando à loucura (At 26.24). São os muitos números.

A famosa declaração de Jesus de que somos “o sal da terra” (Mt 5.13) mostra o valor da força moral, e não o valor da força numérica. Mas temos nos deixado seduzir mais por esta do que por aquela, e temos sacrificado mais aquela do que esta. Quase todas as transformações suicidas abordadas nesta edição de Ultimato têm tudo a ver com o fenômeno da força moral transformada em força numérica. Por causa da ênfase demasiada nos números, transformamos a conversão em adesão, que são acontecimentos ou experiências totalmente diferentes quando se trata de salvação e do início da caminhada cristã.

Precisamos confrontar a euforia de muitos com certas informações confiáveis. Uma das vozes retumbantes aqui no Brasil é a do apóstolo Doriel de Oliveira, presidente do Supremo Concílio da Igreja Tabernáculo Evangélico de Jesus, com sede em Taguatinga, DF. Ele afirma que “o Brasil já é do Senhor Jesus” e tem certeza de que, “se nos esforçarmos só um pouquinho, conseguiremos ultrapassar a marca de 50% de evangélicos bem antes [dos próximos] 15 anos [em 2020]” (Mensagem, outubro 2004, p. 11). E essa certeza é compartilhada por muitos. O editorial e a matéria de capa de um dos últimos números da revista Show da Fé afirmam sem hesitação: “Seremos maioria (em breve)”. O autor se refere ao ano de 2022.

Na mesma ocasião, a revista Reforma Siglo 21, publicada em Guadalupe, Costa Rica, pela Confraternidad Latinoamericana de Iglesias Reformadas, jogou muitos baldes de água fria na euforia protestante e pentecostal. Baseando-se num artigo de Edward L. Cleary, ex-missionário na Bolívia e no Peru, publicado no International Bulletin of Missionary Research, seis meses antes, a revista costarriquenha fornece dados deprimentes:
— Na América Latina, 43% das pessoas nascidas e criadas nas igrejas protestantes não se mantêm ligadas a elas na idade adulta.

— No México, 68% dos que foram batizados em igrejas protestantes nos anos 80 saíram delas no início da década seguinte.

— Uma cuidadosa pesquisa realizada em Costa Rica e na Guatemala revela que uma grande porcentagem dos que hoje afirmam não ter religião eram membros de diferentes igrejas evangélicas no passado. Destes, 57% disseram que tinham experimentado uma cura milagrosa, 37% garantiram que tinham tido uma experiência pessoal de conversão e 13% haviam até falado em línguas.

— No Chile, menos da metade dos pentecostais assistem ao culto uma vez por semana. Um terço deles quase nunca vão à igreja (a maior denominação protestante chilena é a Igreja Metodista Pentecostal). (Reforma Siglo 21, outubro de 2004, p. 9-17.)
É preciso tomar muito cuidado com os números. Os dez espias de Canaã exageraram o número (“Todos os que vimos são de grande estatura”) e a estatura dos gigantes filisteus (“diante [deles] parecíamos gafanhotos”), como se lê no Pentateuco (Nm 13.31-33). Diz-se que os evangélicos são a metade dos 212 mil habitantes da próspera cidade mineira de Ipatinga, no Vale do Aço. Segundo dados do IBGE, há ali 69.743 crentes, portanto 32,8% da população, embora o crescimento seja notável. Há quatro vezes mais igrejas evangélicas do que igrejas católicas na cidade. O entusiasmo é tal que os evangélicos conseguiram que a Câmara Municipal promulgasse, em dezembro de 1999, a lei que declara Jesus como padroeiro de Ipatinga.

Os entendidos dizem que 10% da sociedade organizada consegue produzir impacto não só entre o grupo, mas fora dele. Ao afirmar que somos (ou deveríamos ser) o sal da terra (uma pitada é suficiente para salgar uma panela de arroz) e a luz do mundo (uma lamparina de querosene dá para clarear uma sala), Jesus mostrou-se solidário à força moral, e não à força numérica.

Nossa demasiada euforia numérica chega a ser, às vezes, tão ridícula quanto a euforia nazista e comunista. Hitler falava de um rich que duraria mil anos e durou menos de trinta. Em Luanda, há um monumento em homenagem aos soldados cubanos que morreram em Angola, no qual se lê: “Los hombres mueren — El partido es immortal”. Que triste equívoco!

Pelo sistema bíblico e evangélico da conversão e não da adesão, a colheita de almas é difícil, pois a porta é estreita e o caminho é apertado (Mt 7.13-14). O pecador precisa ter consciência de pecado, arrepender-se, negar-se a si mesmo (isto é, impedir que o eu seja o centro de sua vida e dos seus atos), tomar a sua cruz (isto é, estar disposto a sofrer e morrer por amor ao Senhor) e seguir a Jesus Cristo até o último dia (Mc 8.34). No ritual imersionista, o novo convertido diz adeus à carne no primeiro degrau do batistério, diz adeus ao mundo no segundo degrau e diz adeus ao diabo no último degrau (Ef 2.1-10). Então, é batizado. E, depois de justificado pela graça, mediante a fé, o recém-convertido é exortado pela Palavra, pelo Espírito e pela igreja a crucificar o velho homem dia após dia. É assim que se faz a força moral.
A idéia da superioridade da força moral sobre a força numérica percorre toda a Bíblia. É bem visível na história de Gideão, que dispensou um exército de 32 mil homens e organizou uma patrulha de apenas 300 homens (Jz 7.1-6).

Arrependimento e conversão transformados em festas

É muito mais fácil promover ajuntamentos festivos do que chorar e reparar pecados. Em épocas de acentuada frieza espiritual, o povo de Israel e seus líderes promoviam festas religiosas e assembléias solenes. Ofereciam os melhores holocaustos de carneiros e novilhos gordos; estendiam suas mãos aos céus e multiplicavam suas orações; entoavam canções e dedilhavam suas liras; queimavam incenso e celebravam seus sábados [litúrgicos] e suas luas novas. Esse apego demasiado às comemorações litúrgicas, esse nervosismo religioso, essa fuga da verdadeira espiritualidade, essa falta de coerência entre o culto e a santidade de vida só complicavam as coisas. Deus não se deixa enganar e não tolera a hipocrisia do copo e do prato que exteriormente estão limpos mas por dentro estão cheios de ganância e cobiça (Mt 23.25).

Os profetas Amós (Am 5.21-24), Isaías (Is 1.11-17) e Miquéias (Mq 6.6-8), cujos ministérios podem ser datados entre os anos 760 e 690 antes de Cristo, esbravejaram contra esse tipo de religiosidade que coloca o caráter em oposição ao culto, tornando-o dispensável e, sobretudo, odioso. A retidão que corre como um rio e a justiça que corre como um ribeiro perene (Am 5.24) valem muito mais do que “milhares de carneiros” e “dez mil ribeiros de azeite” (Mq 6.7).
Assim como há geléia light, maionese light e pão light, temos o culto light (leve, ligeiro, alegre, jocoso etc.)

Culto transformado em show

Os israelitas leram o Livro da Lei do Senhor durante três horas, e passaram outras três horas confessando os seus pecados e adorando o Senhor (Ne 9.3)

Não é apenas a mídia que está usando a palavra show para se referir a alguns cultos. Nós mesmos usamos esse termo em nosso meio. Uma de nossas revistas chama-se Show da Fé. As missas celebradas pelo padre Marcelo Rossi são usualmente denominadas de “showmissas”.

As palavras culto e show não combinam, a não ser que lhes demos significados modernos. O dicionário Aurélio define show como “um espetáculo de teatro, rádio, televisão etc., geralmente de grande montagem, que se destina à diversão, e com a atuação de vários artistas de larga popularidade, ou às vezes de um só”. Ora, nessa definição, nada combina com o significado de culto, que o mesmo dicionarista diz ser “adoração ou homenagem à divindade em qualquer de suas formas, e em qualquer religião”. “A igreja existe, não para oferecer entretenimento, encorajar vulnerabilidade, melhorar auto-estima ou facilitar amizades, mas para adorar a Deus. Se falharmos nisso”, conclui Philip Yancey, “a igreja fracassa” (Igreja: Por Que me Importar, p. 25)
Outro dia, Silas Tostes, um dos organizadores do 4º Congresso Brasileiro de Missões, mostrou-se inseguro quanto ao número de participantes, por ser um congresso de missões e não um show de música gospel.
De fato, em muitas igrejas, o tempo destinado à exposição da Palavra é cada vez menor e o tempo reservado aos cânticos é cada vez maior. Em alguns cultos já não há lugar para o antigo sermão, nem para algum substituto dele. Assim como há geléia light, maionese light e pão light, temos o culto light (leve, ligeiro, alegre, jocoso etc.). Embora a música de adoração seja de suma importância e de fundamento bíblico (basta recordar o desempenho dos cantores e instrumentistas levitas), o papel da música religiosa hoje em dia não implica, obrigatoriamente, uma elevação da qualidade dos adoradores e do culto. A decadência do culto transformado em show leva obrigatoriamente a outros absurdos: certo “levita” explicou que o ministro de música (no caso, o tal artista de larga popularidade, da definição do Aurélio) “deve andar de carro novo e vestir-se elegantemente porque, afinal de contas, tem a responsabilidade de conduzir o povo ao trono de Deus em adoração”.
Por ocasião do avivamento acontecido em Jerusalém sob a liderança de Esdras e Neemias, logo após o retorno dos exilados, gastavam-se três horas para a leitura da Lei do Senhor e mais três horas para a confissão de pecados e adoração (Ne 9.1-5).

Casa de oração transformada em covil de ladrões

O templo de Jerusalém era a mesma Tenda do Encontro, ou Tenda da Minha Presença, dos tempos do sacerdote Eli, agora em alvenaria. Embora não estivesse totalmente concluído (as obras começaram no ano 20 a.C. e só terminaram no ano 27 d.C.), era o local de culto para judeus e gentios. Daí o nome Casa de Oração para Todos os Povos (Is 56.7). Os gentios deveriam orar no grande átrio exterior, que media mais de um alqueire. Foi nesse lugar sagrado que certos aproveitadores armaram seus estandes de exposição e venda de animais sacrificiais (bois, ovelhas e pombas) e os cambistas montaram suas mesas e cadeiras (Jo 2.14).

A área dedicada ao culto tornou-se barulhenta e malcheirosa. De fato, os peregrinos que vinham de longe precisavam comprar animais para os sacrifícios, bem como trocar seu dinheiro pela única moeda aceita no local, tanto para compras como para a entrega das ofertas e o pagamento dos impostos do próprio templo. O erro era fazer esse comércio na área reservada à oração. Peregrinos, vendedores e cambistas se misturavam ali e se esbarravam uns nos outros. O ambiente era tão caótico que Jesus pôs para fora do templo os profanadores e as ovelhas, virou as mesas dos cambistas e espalhou as pilhas de moedas pelo chão (Jo 2.15). O agravo foi tão absurdo que o Senhor se referiu à Casa de Oração para Todos os Povos como covil de ladrões (Mt 21.13; Mc 11.17; Lc 19.46). Os vendilhões tiravam proveito financeiro das necessidades dos peregrinos e ainda roubavam do lugar a glória de Deus.

A Tenda do Encontro com Deus transformada em prostíbulo

A Tenda do Encontro também era solenemente chamada de Tenda da Minha Presença, porque era o lugar em que o povo se encontrava com Deus. É o tabernáculo, o templo móvel do êxodo, agora armado em Siló, capital espiritual de Israel, no período compreendido entre a posse da terra prometida e o início do reinado de Davi. Nesse lugar santo, onde se adorava a Deus e se ofereciam sacrifícios expiatórios, os sacerdotes Hofni e Finéias, filhos de Eli, “se deitavam com as mulheres que [ali] serviam” (1 Sm 2.22). Por influência da prostituição religiosa vigente nos santuários pagãos de Canaã, os dois líderes religiosos e civis de Israel transformaram a Tenda do Encontro com Deus em uma barraca de encontros clandestinos.

Templo transformado em pára-raios

Uma das mais corajosas denúncias de Jeremias é dirigida àqueles que se entregam livremente a qualquer prática pecaminosa e, depois, para se protegerem do juízo divino, fazem do templo do Senhor uma cidade de refúgio. O texto completo afirma: “Vocês roubam, matam, cometem adultério, juram para encobrir mentiras, oferecem sacrifícios a Baal e adoram outros deuses que vocês não conheciam no passado. Fazem coisas que eu detesto, depois vêm e ficam na minha presença, no meu próprio Templo, e dizem: ‘Nós estamos seguros!’ Será que vocês estão pensando que o meu Templo é um esconderijo de ladrões?” (Jr 7.9-11, NTLH).
O templo não desempenhava o mesmo papel das cidades de refúgio, localizadas de um lado e do outro do rio Jordão. Elas não abrigavam os criminosos que pretendiam continuar no caminho do crime. Assim também o batismo nunca foi um expediente apropriado para fugir da ira futura de Deus (Mt 3.7-10).

Santa Ceia transformada em comes e bebes

Os cristãos de Corinto, “das cidades gregas a menos grega e das colônias romanas a menos romana”, acharam por bem associar a Santa Ceia a uma refeição propriamente dita, tomada em grupo, denominada ágape ou “festa de amor” (uma espécie de junta-panelas). Cada família providenciava o seu próprio alimento. Os mais abastados levavam comida sofisticada e em maior quantidade. Os mais pobres levavam comida simples e em menor quantidade. Os pratos dos ricos não eram misturados com os pratos dos pobres. Os mais gulosos começavam a comer antes dos outros. Alguns ficavam empanturrados e outros, com fome. Certos irmãos bebiam além da medida e ficavam bêbados. Além de tudo, havia divisões na igreja, fundada por Paulo na metade do primeiro século. Tudo indica que o ágape dos coríntios era uma grande hipocrisia e a Santa Ceia, uma profanação.

Diante de tão grande irreverência, Paulo registra em sua primeira carta, escrita lá pelo ano 55: “As reuniões de vocês mais fazem mal do que bem”. A cerimônia da qual participavam de forma alguma poderia ser chamada de Ceia do Senhor. Os coríntios tinham transformado a Santa Ceia em comes e bebes. Eles participavam da ceia “indignamente”, uma vez que ela estava comprometida com glutonaria, bebedeiras e discriminação (1 Co 11.17-34).

Sexualidade transformada em licenciosidade

Sexualidade é uma coisa, e licenciosidade é outra. No sentido menos complexo, sexualidade é o conjunto dos fenômenos da vida sexual (Aurélio). E licenciosidade é sinônimo de lubricidade, lascívia, volúpia, luxúria, libertinagem. Sexualidade seria o prato original oferecido pelo Criador e licenciosidade, o prato posterior oferecido pela criatura. Entre um e outro está aquele evento que reporta a queda do homem. Antes da primeira desobediência havia sexualidade, mas não licenciosidade.

A Bíblia desmitifica a sexualidade e condena a licenciosidade. A sexualidade é algo positivo e legítimo, “uma manifestação orgânica inerente à natureza humana, que não deve nem ser exageradamente glorificada nem denegrida” (Hugo Schlesinger). Nem as relações sexuais nem os órgãos sexuais são em si obscenos. Mas não se pode dizer o mesmo da licenciosidade, que é a sexualidade distorcida.

Os dois conceitos estão várias vezes lado a lado nas Escrituras Sagradas. A sexualidade é poeticamente proclamada no Cântico dos Cânticos, por meio de expressões passionais. A licenciosidade, no entanto, é abertamente condenada pelo mesmo autor nos Provérbios (capítulos 5, 6 e 7).

Numa mesma página, em sua Epístola aos Coríntios, Paulo se refere à licenciosidade e à sexualidade. No primeiro caso, o apóstolo proíbe a relação sexual extraconjugal e, no segundo, proíbe a abstinência sexual prolongada sem anuência mútua e sem algum propósito justificável (1 Co 6.12; 7.1-5).

Um dos problemas mais visíveis do gênero humano deriva dessa ousadia de transformar a sexualidade em licenciosidade.

Heterossexualidade transformada em homossexualidade

Uma das maneiras de Deus punir o pecado é deixar que ele tenha seu curso natural. Como o ser humano suprimiu a verdade pela injustiça e rejeitou a revelação natural e especial de Deus, o Senhor mesmo o entregou à impureza sexual, às paixões vergonhosas e a uma disposição mental reprovável (Rm 1.18-32).

Nessa caminhada para baixo, o problema mais grave é a homossexualidade. O que aconteceu foi que até as mulheres “trocaram suas relações sexuais naturais por outras, contrárias à natureza. Da mesma forma, os homens também abandonaram as relações naturais com as mulheres e se inflamaram de paixão uns pelos outros. Começaram a cometer atos indecentes, homens com homens, e receberam em si mesmos o castigo merecido pela sua perversão” (Rm 1.26-27).

Com a transformação do hetero em homo, o masculino foi transformado em feminino e o feminino, em masculino, descumprindo-se a orientação sexual que diz: “Não se deite com um homem como quem se deita com uma mulher; é repugnante” (Lv 18.22).

O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol. (Eclesiastes 1:9)

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Notas
1. Seu Mundo, ano 1, nº 0, p. 5.
2. Rhema, vol. 10, nº 33, p. 35 (2004).
3. Folha de São Paulo, 27 maio 2004.
4. Jornal do Brasil.
5. Missão Integral, p. 143 (Editora Ultimato, 2004).
6. Jesus, o Modelo Pastoral, p. 22 (Editorial Habacuc, 2004).
7. Veja, 13 abr. 2005. p. 15.
8. Dicionário de Teologia Moral, p. 937 (Paulus, 1997).



Fonte: Ultimato artigo publicado na Revista Ultimato edição 295 de Julho-Agosto de 2005.

3 comentários:

  1. Finalmente, irmãos, vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus, que assim como recebestes de nós, de que maneira convém andar e agradar a Deus, assim andai, para que possais progredir cada vez mais.
    1 Tessalonicenses 4:1

    Infelizmente eu tenho que concordar com o que li. É difícil de achar uma palavra para corresponder ao sentimento que tenho ao ver a igreja da maneira como ela está.
    Não creio ser falta de palavra e exortação, mas falta de preparo dos líderes cristãos, que cada vez mais pensam nos números "expressivos" de suas membresias, e não se atentam que estão apenas inchando, quando deveriam crescer. Temos uma legião de pseudo-cristãos, que não saberiam nem mesmo falar sobre Jesus para as pessoas, que estão dentro da igreja apenas para receber, e não para se doarem à causa do evangelho.
    Peço perdão a Deus por muitas vezes agir dessa forma, sem me doar como eu posso e devo. Todos temos que pedir misericórdia a Deus diante desse quadro, pois todos somos parte do mesmo corpo.
    É necessário quebrantamento e verdadeiro arrependimento de nossa parte, pois a instituição cegou os nossos olhos e tapou os nossos ouvidos para a realidade.
    Que o Senhor tenha misericórdia de nós, e nos conceda graça sobre graça, para não cairmos de vez nos embaraços do mundo.

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  2. Rafael Gomes

    Seu comentário corresponde ao meu pensamento. São sinais que muitos ignoram, a apostasia é um deles. Em outro artigo ressalto o seguinte comentário de Rubem Amorese em seu livro ICABODE - “Está nascendo uma geração que não conhece, não sabe ler, não sabe estudar, não sabe citar a Bíblia”. que trago para noso tempo da seguinte maneira: "Já nasceu a geração que não conhece, não sabe ler, não sabe estudar, não sabe citar a Bíblia!"

    Deus nos ajude e nos abençoe!

    http://blogdopcamaral.blogspot.com/2011/07/as-igrejas-estao-influenciando-ou-sendo.html

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  3. Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?

    Jeremias 17.9
    Versão João F. Almeida Revista e Atualizada

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