Líderança Cristã para o século XXI



Ser líder cristão, em qualquer tempo, significará sofrer e renunciar a si mesmo. Jesus disse: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á (Mc 8:34-35).

Seguir a Jesus envolve renunciar a si mesmo. Liderar na causa do mestre, então, só para aqueles que aprenderam a fazer isso. Para aqueles que já aprenderam a amar mais ao Senhor do que a suas próprias vidas. Para aqueles que já aprenderam a olhar mais para o outro do que para si mesmo. Para aqueles que já aprenderam a trabalhar para e com o outro e não para e, apenas consigo mesmo. É um grande desafio ser um líder cristão, principalmente no século XXI!

Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, (Mateus 20:26 NVI)

O século XXI, que chegou a pouco, já mostrou a que veio. Adotar o padrão de Jesus neste tempo, em que todos estão em busca de bem estar e satisfação, é remar contra a maré mesmo. Mas, o que o século XXI tem de tão diferente? O século XXI é um tempo de mudanças rápidas e de crise de identidade generalizada. O que era verdade até bem pouco tempo, hoje é relativizado, os valores estão mudando! E o pior: tudo tem de ser aceito com naturalidade. A “tolerância” é a palavra da vez. Tudo tem de ser tolerado. É um tempo pluralista, onde os absolutos são questionados. É tempo de relacionamentos descartáveis. O que está na moda é o fast food. Parece que na nossa época nada é feito para durar. O efêmero é aceito com naturalidade.

Quando se olha para as famílias, é a mesma realidade. Estamos assistindo um desmoronamento dentro dos lares. Casamentos não são mais feitos para durar. A autoridade dos pais sobre os filhos nunca foi tão fraca. Pais e filhos cada vez têm menos contato. Em contraste com a questão da baixa dos absolutos e dos valores morais, a tecnologia cada vez mais avança. É uma busca insana pelo novo. Uma nova invenção, um novo programa, uma nova moda, uma nova tendência, etc.

Não podemos ser líderes no passado, afinal, ele já passou. Precisamos ser líderes no presente. Como o líder cristão deve se comportar nesta época? Concordo com Russel Shedd quando ele diz que “a liderança de alta qualidade será encontrada entre os mais valiosos tesouros que qualquer comunidade ou organização possui. A liderança de baixa qualidade, ao contrário, produz um desperdício trágico e uma frustração caótica. Líderes de Deus estão sempre em falta” (2000, p. 6).

Precisamos desesperadamente de líderes que Deus usa neste nosso tempo. Olhando para toda esta descrição do século XXI, acredito que o modelo que subsistirá neste tempo, e que fará diferença na vida das pessoas, é o modelo de liderança do Senhor Jesus Cristo. A igreja corre sérios riscos quando olha para os modelos de liderança desta nossa época para abalizar sua atuação. Modelos onde imperam o abuso e a manipulação. Jesus é o líder dos líderes, e é ele quem devemos espelhar. A seguir apresento pelo menos quatro características da liderança de Jesus que, a meu ver, devem estar presentes em todo líder cristão no século XXI.


1. Um modelo de dependência para um tempo cada vez mais auto-suficiente.

Quando convocou os seus discípulos, a Bíblia diz o seguinte: Depois, subiu ao monte e chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele. Então, designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar e a exercer a autoridade de expelir demônios (Mc 3:13-15).

Não fomos chamados para trabalhar para Jesus, mas com Jesus.

Fiz questão de destacar as expressões “vieram para junto dele” e “designou para estarem com ele”, para ressaltar que a liderança cristã, acima de tudo, é uma liderança que é feita com base num relacionamento de permanência com o Cristo. Não é raro ficarmos sabendo de comunidades que estão perdidas em suas atividades. Fazem, fazem e não veêm resultados duradouros. Por trás de tudo isso, na maioria das vezes, temos a figura de líderes que acham que podem fazer tudo sozinhos. São auto-suficientes. Não dão o devido valor ao tempo de permanência com Cristo. Saem para cumprir a segunda parte do versículo 14 – pregar e exercer autoridade (agir) – sem antes cumprir a primeira – estar com ele. Saem na sua própria força e não na dependência de Deus. Não fomos chamados para trabalhar para Jesus, mas com Jesus. Ele viveu uma vida de dependência do Pai (Mc 1:35-36).

Quando escolheu os doze, primeiro orou toda uma noite (Lc 6:12). Foi ele quem disse: Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer (Jo 15:5). O século XXI é um tempo de constante fazer e, um fazer baseado no conhecimento e força humana, quem não faz fica para trás. Que os líderes cristãos não caim na armadilha do ativismo que seca a alma.


2. Um modelo de simplicidade para um tempo cada vez mais empavonado.

A pessoa “empavonada” é sempre cheia de si, está inchada, é vaidosa a semelhança do pavão. Gosta de alarde. Gosta de aparecer. O líder com este tipo de sentimento é um líder com a “síndrome do pavão”. E como temos gente assim hoje! No século XXI, o que mais existe na igreja são líderes ensimesmados. Jesus, ao contrário, era simples.

O seu modelo de liderança é o modelo da simplicidade. Nunca ostentou nada: As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça (Lc 9:58). Líderes cristãos precisam ser simples e não mercenários. Jesus além de não ostentar, também valorizava pequenas coisas. Por exemplo, quando fez uma comparação citando o grão de mostarda (Mc 4:31), uma pequenina semente que se transforma numa grande hortalíça, na verdade, segundo ele, a maior.

“Líderes precisam compreender que as pequenas – e aparentemente insignificantes – coisas têm grande importância” (BRINER; PRITCHARD, 2000, p. 117).

3. Um modelo de compaixão para um tempo cada vez mais insensível.

Jesus sempre se mostrou ser um líder compassivo. Ele se importava de verdade com os seus liderados. Para ele, as pessoas que o seguiam não eram apenas mais uma na lista daqueles que o tinham como mestre. E, a despeitos das faltas e erros destas, sempre se mostrou atencioso e compadeceu-se de suas necessidades. Ao desembarcar, viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E passou a ensinar-lhes muitas coisas (Mc 6:34).

Compaixão é preocupação profunda com o outro. Esta virtude tão ncessária, está cada vez esquecida e virando peça de museu na sociedade atual. Vivemos no tempo da filosofia do “cada um no seu quadrado”, do “Deus deu a vida para cada um cuidar da sua”. É lamentável. Precisamos no século XXI de líderes que se importem realmente com as pessoas. Que as ouça. Escute opiniões. Construa uma liderança com os olhos nos seus liderados.


4. Um modelo de humildade para um tempo cada vez mais egoísta.

A competição é uma das marcas registradas da nossa sociedade. Aprendemos desde cedo a competir. Queremos os melhores lugares, as maiores posições, os melhores salários, o melhor carro, a melhor casa... Para chegar ao poder muitos jogam sujo, trapaceiam, armam esquemas, burlam regras, compram votos, e etc. Esse “desejo de ser grande” não é privilégio do nosso tempo. Tiago e João, discípulos de Jesus, também se sentiram tentados a andar no caminho ilusório do poder: “Mestre, queremos que nos concedas o que te vamos pedir (...) Concede-nos que na tua glória nos assentemos, um à tua direita, e o outro à tua esquerda” (Mc 10:35, 37).

Sentar um a direita e o outro a esquerda é assumir posições de grandeza quando Jesus tiver uma corte. Seus corações aspiravam a “grandeza”, as pompas das cortes, a mordomia da vida nos palácios. Jesus diz: Não sabeis o que pedis... A “glória” que esperava Jesus, como ele mesmo explica no versículo 38, nada tinha a ver com palácio e riquezas. A “glória” que aguardava Jesus era a cruz. Daí, Jesus chama-os a si e mostra para os seus amados discípulos qual verdadeiro caminho da grandeza. Jesus ensina que diante dos homens existem os maiorais, os grandes que exercem autoridade (Mc 10:42), mas que entre eles não seria assim. Ele disse: Qualquer que entre vós quiser ser grande, será o que vos sirva (Mc 10:43). A resposta de Jesus é radical.

A palavra “grande” que aparece neste texto é a tradução da palavra grega “megas” de onde se originou a nossa palavra em português “mega”. Jesus está ensinando que mega não é o que ocupa o cargo mais alto, mas o que tem prazer em servir. Não é quem gosta de ser visto, mas quem tem prazer e alegria em servir mesmo sem ser visto! A grandeza, aos olhos de Jesus, segue o curso oposto a que é seguida no mundo. O caminho da grandeza na visão de Jesus é ofertar-se a si mesmo no serviço aos outros para a glória de Deus. É de líderes assim que precisamos no nosso tempo! É de líderes assim que a sociedade e a igreja carecem!

Que no século XXI, Deus continue levantando líderes segundo o seu coração. Líderes com o coração ligado no altíssimo. Líderes com os olhos voltados para o próximo. Líderes com os pés prontos a caminhar e com as mãos sempre prontas ao trabalho. Líderes com a boca sempre pronta a dizer ao Senhor: “Eis me aqui”.


Fonte:
Autor - Eleiton Freitas

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