Fomos comprados por um altíssimo preço

Fomos comprados por um altíssimo preço

É possível que você já tenha ouvido a expressão: “Você tem muito valor para Deus”. Em todas as circunstâncias, positivas ou negativas, essa expressão é correta. De fato, todos os seres humanos, independentemente de etnia, condição social e religião, têm um valor inestimável. Prova disso é que somos alvos do sublime amor de Deus. Por nos amar, ele permitiu que desfrutássemos dos benefícios da graça maravilhosa. Aliás, graça é um presente divino para a humanidade caída (Ef 2:8). Contudo, precisamos entender algo: a graça não foi de graça. Ela teve um preço.

Pagar o preço é necessário para se alcançar algo grandioso. Quem almeja concretizar grandes planos, precisa ter isso em mente. A graça que nos foi proporcionada custou um alto preço. Isso mesmo. Alguém teve de pagar o preço por ela. E quem teve atitude tão nobre? Quem assumiu essa enorme dívida? Certamente, não fomos nós. Não tínhamos a mínima condição para isso (Rm 3:10). Por essa razão, a humanidade carecia de um salvador que a resgatasse. Então, Cristo, com a sua morte, pagou o preço. Este foi o preço da graça: a morte de Cristo.

Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. (Rm 5:8)

A graça foi cara, pois custou doação.

João, em seu evangelho, menciona a atitude mais linda e solidária de que temos notícia: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito (Jo 3:16). Sem doação, não haveria graça e a humanidade estaria perdida, para sempre, em seus delitos e pecados. O fato de Deus haver doado o seu Filho único, mostra-nos dois importantes aspectos do amor divino: o primeiro é a prova do seu amor. Deus provou o seu amor pela humanidade.

O texto de Romanos 5:8a é suficientemente claro quanto a isso: Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco. Deus, portanto, mostra-nos, de maneira muito explícita, o seguinte princípio: Quem ama, doa; quem ama, desprende-se do egoísmo e trabalha em favor do outro; quem ama, não “puxa o tapete” do próximo para se beneficiar; quem ama, entende que o amor faz bem e não mal. Por isso, “precisamos lembrar que a essência do amor consiste em dar”. [1] O termo “prova”, usado em Rm 5:8, é muito forte.

Não deixa nenhuma dúvida de que Deus nos ama. O fato de Deus haver doado o seu único Filho mostra-nos o segundo aspecto do amor divino: a intensidade do seu amor. Sobre isso, é correto afirmar que “a intensidade do amor é medida, em parte, pelo preço que custou a dádiva ao seu doador, e, em parte, pelo quanto o beneficiário é digno ou não dessa doação”. [2] Verdade é que nada mais merecíamos, além da morte; mas Deus nos deu a vida que não merecíamos. Cristo foi entregue para morrer como oferta pelo pecado (1 Jo 4:10). O amor de Deus pela humanidade é tão intenso que ele não poupou o seu Filho, mas o entregou por nós (Rm 8:32).

Além de doação, a graça custou renúncia.

O apóstolo Paulo, em sua carta endereçada aos irmãos filipenses, declara, a respeito de Cristo: ... sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou (Fp 2:6-7a). Certamente, Cristo não abriu mão de seus atributos divinos, pois, mesmo encarnado, continuou sendo Deus. O que o texto quer dizer é que ele não exigiu nem se apegou a seus direitos como Deus (Fp 2:6 – NBV).

Para nos prover a sua graça, Jesus renunciou algumas coisas importantes. Em primeiro lugar, ele renunciou as riquezas que possuía. Por isso, não tinha sequer onde reclinar a cabeça (Lc 9:58). Jesus era pobre a ponto de nascer em um lugar emprestado, em desconforto. Já em seu ministério, precisou pedir emprestados “uma casa onde pudesse pernoitar, um barco onde pudesse pregar, um animal em que pudesse cavalgar”. [3] Por nós, ele também pagou esse preço!

Em segundo lugar, Jesus renunciou a glória que possuía. Não foi à toa que ele disse, em sua oração: ... glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse (Jo 17:5). Antes de se tornar humano, Jesus era adorado pelos serafins. Estes cobriam o rosto em sua presença (Is 6:1-3; Jo 12:41). Contudo, Cristo, “o Objeto da mais solene adoração, voluntariamente desceu a este mundo onde foi ‘desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer’ (Is 53.3)”. [4] Além de riquezas e glória que tinha, o que mais Jesus renunciou?

Em terceiro lugar, ele renunciou a autoridade que possuía. O apóstolo Paulo não hesita em afirmar que Cristo veio para ser servo e tornou-se semelhante aos homens (Fp 2:7). Jesus não fazia a sua própria vontade, mas, sim, a daquele que o enviara: o Pai (Jo 5:30). Ao tornar-se homem, ele abriu mão da sua autoridade de ser servido e se dispôs a servir a todos (Mt 20:28). Uma atitude assim não é fácil de se adotar. Enquanto muitas pessoas não abrem mão dos “holofotes”, Cristo nos dá uma lição de humildade. A graça, portanto, custou renúncia.

Até aqui, é possível imaginarmos o quanto a graça foi cara. Coisa alguma pagamos para possuí-la, mesmo sem a merecermos. Mas Cristo pagou muito caro por ela. Além de doação e renúncia, a graça também custou entrega. Cristo, voluntariamente, entregou-se por nós. Mesmo tendo ouvido de alguns: Salva-te a ti mesmo (Mc 15:30), decidiu salvar o mundo; permaneceu na cruz e de lá não desceu, embora tenha escutado: Desce da cruz! (Mt 27:40).

É importante entendermos que, por nossa causa, Jesus se entregou tanto à dor física quanto à dor moral. Quanto à dor física, o corpo de Cristo foi marcado pelas violentas agressões que sofreu. Mateus afirma, no capítulo 26, versículo 67 de seu evangelho: ... cuspiram-lhe no rosto e bateram nele a socos e tapas (NBV). Quanta humilhação!

Aquele que tinha poder sobre as tempestades, estava sendo esbofeteado por meros mortais.

João, por sua vez, relata que os soldados puseram uma coroa de espinhos na cabeça dele (Jo 19:2). Mas isso não é tudo. Jesus foi também chicoteado (Mt 27:26). O instrumento utilizado para esse castigo era o azorrague, “um curto cabo de madeira ao qual havia presas várias correias com os extremos providos de presilhas de chumbo ou bronze e pedaços de ossos muito afiados”. [5] Em relação à dor moral, Lucas relata que os príncipes zombavam dele (Lc 23:35).

Os soldados, por sua vez, escarneciam dele e diziam: Se tu és o Rei dos judeus, salva-te a ti mesmo (v.37). Até mesmo um dos malfeitores agiu de modo semelhante (v.39). Eram palavras muito duras. Antes disso, Jesus havia sido chamado de blasfemo (Mc 14:64), glutão e beberrão (Mt 11:19). A dor moral abala qualquer ser humano, mas, para nos conceder a sua graça, Cristo também pagou esse preço.

Como vimos até aqui, a graça custou doação, renúncia e entrega. Contudo, custou a Jesus muito mais: custou-lhe sacrifício. A propósito, essa palavra, geralmente, lembra “sangue” e “morte”; isso porque, na Antiga Aliança, os pecados do povo eram expiados por meio do sacrifício de animais (Nm 6:17; Lv 5:6; 14:30-31). Desse modo, sangue tinha de ser derramado. Por isso, o autor de Hebreus observa: ... quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e, sem derramamento de sangue, não há remissão (9:22).

À semelhança de um cordeiro, Jesus foi levado ao sacrifício. Ele enfrentou a cruz e se fez maldição por nós (Gl 3:13). A sua carne foi traspassada e o seu sangue, derramado (Jo 19:34). Jesus, verdadeiramente, morreu por nós. A Bíblia o chama de o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo (Ap 13:8). Ele se dispôs ao sacrifício em nossa causa (Lc 22:20). Isaías disse que Cristo foi levado ao matadouro e, como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca (Is 53:7).

Sobre o sacrifício de Cristo, é preciso observar dois aspectos

O primeiro é a sua perfeição. O sacrifício de animais, embora necessário, era imperfeito (Hb 9:9), a ponto de precisar ser realizado diariamente (Hb 10:11). Jesus, contudo, realizou o sacrifício perfeito (Hb 9:14). Este só precisou ser realizado uma única vez (Hb 10:12).

O segundo aspecto é o seu benefício. O sacrifício de Cristo trouxe-nos perdão. João, em sua primeira carta, afirma que o sangue de Jesus nos purifica de todo pecado (1 Jo 1:7). Esse sacrifício foi essencial para que fôssemos purificados das obras mortas, a fim de servirmos a Deus (Hb 9:14). O preço da graça instiga-nos a refletir sobre algumas perguntas: Doaríamos o nosso único filho à morte, em favor da humanidade caída e ingrata?

Renunciaríamos as regalias, em troca da pobreza, e trocaríamos o título real pelo título de servo? Entregaríamos-nos às ofensas físicas e verbais dos pecadores? Disporíamos-nos ao sacrifício vicário? Sobre isso, Paulo declarou que poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer (Rm 5:7). Mas, ele também diz que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores (Rm 5:8). Cristo sabia dos sofrimentos que, como homem, enfrentaria nesta terra. Mas, ainda assim, não recuou. Portanto, sejamos-lhe gratos, por ter pago, com a própria vida, o preço da graça.

Praticando a verdade Bíblica

1. O preço da graça ajuda-nos a reconhecer a nossa incapacidade.

A graça não foi de graça. O seu preço custou caro: a vida de Cristo. Quem, dentre os pecadores, teria ousadia para morrer pela humanidade, convicto de que o seu sacrifício não seria em vão? A resposta é óbvia: ninguém. Bem disse Paulo que todos estamos debaixo do pecado. Por isso, não há um justo sequer (Rm 3:9,10). A nossa incapacidade de pagar pela graça é evidente. Jamais teríamos recursos suficientes que nos permitissem pagar o nosso resgate (Sl 49:8). Portanto, reconheçamos os nossos deméritos diante de Deus. Admitamos, assim como o apóstolo, que a graça não vem de nós; é dom de Deus (Ef 2:8).

2. O preço da graça ajuda-nos a reconhecer a nossa importância.

O fato de não sermos capazes de pagar o preço da graça não significa que não somos importantes para Deus. Afinal, este prova o seu amor para conosco (Rm 5:8). A morte de Cristo é, sem dúvida, a declaração de amor mais linda e verdadeira que a humanidade já viu. Além disso, Cristo morreu por nós, quando ainda éramos pecadores (v.6). Deus poderia ter nos destruído, como castigo pela nossa desobediência, mas não o fez, porque somos importantes para ele. Ele fez de nós raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva dele, para que proclamássemos as suas virtudes (1 Pd 2:9).

Conclusão

No estudo anterior sobre este tema, estudamos sobre a salvação pela graça. Neste, vimos o quanto esta custou. O seu preço foi pago por Cristo, na cruz. Paulo escreveu aos Coríntios: Fostes comprados por bom preço (1 Co 7:23a). Desse modo, aprendemos que a graça custou doação, renúncia, entrega e sacrifício. O apóstolo nos ajuda a reconhecer a nossa incapacidade, tendo em vista não termos condições de pagar pela graça, e a nossa importância, tendo em vista tamanho sacrifício realizado em nosso favor.


Bibliografia

1. STOTT, John R. W. A Mensagem de Romanos. São Paulo: ABU, 2000. pág. 167
2 STOTT, John R. W. A Mensagem de Romanos. São Paulo: ABU, 2000. pág. 167
3. HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: exposição dos livros de Efésios e Filipenses. 2 ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2005. pág. 478
4. HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: exposição dos livros de Efésios e Filipenses. 2 ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2005. pág. 478
5. HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: exposição dos livros de Efésios e Filipenses. 2 ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2005. pág. 478

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