O Prefácio da Lei de Deus

Então, falou Deus todas estas palavras: Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. (Ex 20:1-2)

O que é um prefácio? É um discurso preliminar que revela o motivo de uma obra escrita; palavras de esclarecimento colocadas na parte inicial de um livro ou uma obra literária, que tem como objetivo apresentar o autor da obra e o seu método. [1] Você sabia que a lei dos dez mandamentos também tem um prefácio? Ela tem, e está nos versículos 1 e 2 de Êxodo 20. Neles, podemos conhecer melhor o Deus a quem servimos, o autor desta lei. Com base nesse prefácio, destaco quatro informações fundamentais acerca da lei de Deus, que nos motivam a obedecer-lhe.
1. A autoria da lei: Observe como se inicia a entrega da lei: Então, falou Deus todas estas palavras (Ex 20:1). Essas “palavras” seriam dadas a seguir, conforme registrado nos versículos 2 a 17. Referem-se ao “decálogo”, as dez palavras (cf. Ex 34:28), ou ainda, os dez mandamentos, que foram escritos em duas tábuas de pedra (cf. Dt 4:13) e continham a lei fundamental da aliança entre Deus e seu povo. Há quem atribua a autoria desta lei a Moisés. Isso é um erro. Embora ele seja a pessoa que Deus usou para que a lei chegasse até nós, esta jamais foi fruto da mente humana.
O prefácio dos dez mandamentos é claro em nos informar: Deus falou todas estas palavras (NVI). A expressão “Então, falou Deus” (em hebraico, Vayedaber Elohiym) é bastante contundente. Significa que “Deus verbalizou, proferiu, declarou como regra” essas palavras. [2] Não foi Moisés o autor dos dez mandamentos. Estes são de autoria divina! A lei moral não é da terra, mas do céu. Nasceu em Deus e foi revelada aos humanos. Grave isto em sua mente: O decálogo, entregue no monte Sinai, não é fruto da mente humana, mas algo que tem a sua origem no coração do criador.
Aquelas palavras que estavam prestes a serem registradas por Moisés no livro do Êxodo eram e ainda são muito importantes e essencialmente magníficas, pois tratam de um resumo da vontade do Pai, por meio do qual ele instrui e disciplina seus filhos. Nisto, vemos a graça de Deus na lei, pois, sem que houvesse qualquer mérito em Israel, o Senhor decidiu fazer dele o seu povo e se relacionar com os israelitas como filhos. Revelou-se a eles e mostrou o que espera deles. Nós, hoje, também somos alcançados por essa maravilhosa graça. O criador tomou a iniciativa de vir ao nosso encontro e revelar-nos sua vontade. Falou-nos o que lhe agrada e o que lhe desagrada, através de sua lei.
2. A suficiência da lei: O prefácio da lei traz-nos outra informação fundamental acerca da suficiência da revelação contida nela. Esta passagem bíblica não afirma que o Senhor Deus falou “algumas palavras”, mas assegura que ele declarou “todas estas palavras” (Êx 20:1). Encontramos, neste texto, a expressão hebraica kol-hadevarim. O termo “kol” traduzido em nossas bíblias por “todas”, é, sobremodo, expressivo, pois está ligado à ideia de totalidade, perfeição e suficiência. [3] Além disso, o termo está indicando uma relação de posse.
Mas o que significa tudo isso? Significa que os dez mandamentos pertencem a Deus e que são plenos e completos. As regras estabelecidas no decálogo são suficientes para que os filhos de Deus vivam de acordo com vontade dele. A ideia é que Israel não precisava buscar revelações e regras novas; aquelas encontradas na lei eram suficientes para que o povo agradasse ao Senhor. Isso também se aplica aos cristãos. A lei continua suficiente. Não devemos lhe tirar, nem lhe acrescentar nada. Realmente, a lei moral, que é um conjunto de preceitos divinos e pode ser vista em toda a Bíblia, principalmente, nas palavras de Jesus, foi plenamente revelada nos dez mandamentos. Estes são a síntese de tudo que Deus espera de seus filhos (cf. Rm 7:12; Sl 19:7).
Outro fato relevante é que a lei moral foi escrita em duas tábuas de pedras. Você já se perguntou por que a lei foi divida em duas partes? A explicação é simples e esclarecedora: a primeira tábua trata do amor a Deus. Nesta, estão escritos os quatro primeiros mandamentos que orientam, sobretudo, a maneira de nos relacionarmos com Deus. A segunda tábua, por sua vez, refere-se ao amor ao próximo. Nesta, estão os seis últimos preceitos que guiam o modo de nos relacionarmos com os nossos semelhantes (cf. Rm 13:8-10). [4] Deste modo, nos dez mandamentos, está dito tudo que precisamos saber para nos relacionarmos bem com o nosso Deus e com nossos semelhantes.
3. A autoridade da lei: No prefácio dos dez mandamentos, além de vermos a autoria e a suficiência destes, vemos, ainda, o seu autor, antes do pronunciamento de suas ordens, fazendo questão de se apresentar, mostrando suas credenciais: Eu sou o Senhor, teu Deus (Ex 20:2a). A expressão “o Senhor teu Deus”, presente aqui, repete-se por mais quatro vezes, no capítulo 20 de Êxodo (vv. 5,7,10,12). Faz-nos conhecer que autoridade há por detrás desses mandamentos. Na paráfrase da Bíblia A Mensagem, lemos este versículo assim: Eu sou o Eterno, o Deus de vocês (Êx 20:2a – AM).
A autoridade do decálogo está em seu legislador. Nos tempos bíblicos, era comum que reis e imperadores começassem seus editos, suas leis e suas alianças com a inscrição de seus nomes. Esse ato autenticava o documento e obrigava que este fosse obedecido pelos súditos. É exatamente isso que Deus faz neste texto. Êxodo 20 não está relatando “dez conselhos” de um bom amigo, nem apresentando “dez sugestões” para uma vida melhor, mas, sim, dez mandamentos, ou seja, dez ordens proferidas pela boca daquele que é Senhor do Universo, o Todo-Poderoso, o Deus libertador. [5]
O Senhor é rei e legislador, conforme disse Isaías: Porque o Senhor é o nosso Juiz; é o Senhor quem faz as nossas leis, Ele é o nosso Rei. O Senhor cuidará de nós e nos salvará (Is 33:22 – BV); ou, ainda, como afirmou Tiago: Há apenas um Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e destruir (Tg 4:12– NVI). Saber disso faz toda a diferença em nossa prática cristã. Não devemos questionar suas ordens e nem desrespeitá-las, porque ele é criador, e nós, criaturas; ele é Senhor, e nós, seus servos. Obedecer-lhe é um dever de todo homem (Ec 12:13), mas, especialmente, daqueles que o conhecem.
4. A graça na lei: Neste prefácio, o legislador não apenas apresenta as suas credencias, mas também relembra a ação bondosa que fizera em favor do seu povo: Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão (Ex 20:1-2). O Deus que deu a lei é o redentor do seu povo. Aqui, temos um detalhe importante: depois de ter livrado Israel da morte (12:21 30) e o ter libertado da escravidão do Egito e da opressão de Faraó (14:26-31), o Altíssimo conduziu-o de maneira poderosa e graciosa até o Sinai, para, ali, ensinar-lhe sua lei. [6] Você consegue ver a graça de Deus nessa história?
Note que a lei escrita foi entregue a Israel, quando este já era um povo livre e redimido. Israel não fora salvo porque obedecia a lei, mas primeiro foi salvo, para, então, obedecer-lhe. A graça vem sempre antes da lei! Como já disse, em estudos anteriores: a salvação é e sempre foi pela graça. Não havia mérito algum naquela gente. O que vemos é um Deus misericordioso, que liberta pessoas perdidas e escravizadas e faz delas um povo santo e especial. Para torná-las santas, dá a essas pessoas os seus mandamentos.
Foi isso que Deus fez com aquele povo e é o que ele faz conosco, também. A graça de Deus pode ser vista neste prefácio, não somente porque Deus se apresenta nele como libertador do seu povo, mas também porque ele se interessa e se envolve com a história dos homens. Assim como o Senhor manifestou o seu amor, na história de Israel, também manifesta seu amor a cada um de nós. Ele também nos libertou da escravidão do pecado e da opressão do diabo. Pela sua graça, salvou-nos e devolveu-nos a vida. Por sua bondade, chamou-nos de filhos e mostrou-nos o caminho em que deveríamos andar, isto é, os seus mandamentos. Essa é a graça na lei do Senhor. Assim, o amor e a gratidão a Deus, por nos ter redimido, torna-se o grande motivo para obedecer-lhe.
Realmente, o prefácio da lei é bastante profundo. Muitos têm rejeitado os dez mandamentos por não darem a devida atenção aos dois primeiros versículos de Êxodo 20. Não percebem a autoria, a suficiência e a autoridade da lei, nem notam que as ordenanças foram dadas, de forma graciosa, a um povo que não as merecia. Seja diferente! Valorize a lei do Senhor.
APLICANDO A PALAVRA DE DEUS EM NOSSA VIDA
A libertação sempre vem antes da exigência. O prefácio da lei mostra-nos que a instituição dos mandamentos ocorreu em um contexto de graça. No Egito, os israelitas não eram um povo perfeito e santo. Na verdade, nem eram um povo; viviam na ignorância do pecado, oprimidos e escravizados. Mas o Senhor os amou, libertou e os levou até o Sinai para, então, dar-lhes a sua lei. Deus os amou e os escolheu, sem que merecessem ser amados. A libertação ocorreu antes de qualquer exigência. Isso também aconteceu conosco. Paulo diz que nós estávamos mortos em nossas transgressões e pecados (Ef 2:1); éramos escravos do mundo, da carne e do diabo (vv. 2-3), e merecedores de castigo (v.3). Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida juntamente com Cristo (vv. 4-5a). Isso é graça! O Pai nos amou e nos libertou-nos, sem que houvesse nada de bom em nós.
A liberdade sempre implica responsabilidade. Uma vez que fora alvo do amor divino e liberto de toda opressão do Egito, o povo de Israel deveria viver para honrar o seu Deus libertador. Deveria assumir a responsabilidade de ser luz entre as nações, fazendo o nome de Senhor conhecido entre elas. De fato, foi esta a intenção de Deus ao ensinar a sua lei: Agora, se me obedecerem fielmente (...) vocês serão o meu tesouro pessoal dentre todas as nações (...), vocês serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa (Êx 19:5-6). O mesmo ocorre conosco. De acordo com Pedro, Deus nos libertou do pecado para sermos geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou (1 Pd 2:9). Como fazemos isso? Obedecendo aos seus preceitos. Agindo assim, tornamo-nos sal da terra e luz do mundo (Mt 5:13-14). A liberdade sempre nos traz responsabilidade.
CONCLUSÃO
É impressionante como uma pequena porção das Escrituras pode ser tão formidável e significativa. O prefácio da lei, registrado em Êxodo 20, versículos 1 e 2, é prova disso. Essa pequena passagem, negligenciada por muitos, mostra-nos que a instituição da lei de Deus ocorreu em um contexto de graça e bondade divinas. Revela a autoria, a suficiência e a autoridade da lei de Senhor. Mostra que os mandamentos não foram dados para que Israel fosse salvo (este já havia sido salvo), mas para que esse povo liberto vivesse de acordo com a vontade daquele que o libertara. Assim sendo, descobrimos que a libertação sempre vem antes da exigência e que a liberdade sempre implica responsabilidade. Devemos ser santos, como é santo aquele que nos chamou; para isso, é necessário observar e praticar a sua lei.
Que Deus nos ajude e abençoe.

Bibliografia:
1. FERNANDES, Francisco. Dicionário Brasileiro Globo. 33 ed. São Paulo: Globo, 1993
2. HARRIS, R. Laird. Dicionário de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998. pág. 292
3. HARRIS, R. Laird. Dicionário de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998. pág.723
4. MEYER, F. B. Comentário Bíblico: Antigo e Novo Testamento. Belo Horizonte: Betânia, 2002. pág.51
5. WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento 1. Santo André: Geográfica, 2008. pág. 289
6. HOFF, Paul. O Pentateuco. 13 ed. São Paulo: Vida, 2005. pág.130

3 comentários:

  1. Como a algum tempo que não fazia uma visita, hoje resolvi ver o que está a escrever.É o anseio da minha alma que Jesus seja consigo, e encaminhe seus passos pela vereda da justiça. E que Ele cresça na sua vida de maneira que seja visto pelas pessoas que rodeiam sua vida, que o amor de Jesus fortaleça sua vida, e seja como um rio transbordante. Também resolvi dizer-lhe que embora não te conheça mas em Cristo te amo, e continue a ser luz. Um abraço.

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    1. A paz do Senhor,

      Antonio Deus te abençoe. Obrigado pela visita e agradeço a Deus que os textos aqui publicados possam edificar a vida de nossos leitores.

      Fique a vontade e nos visite sempre que puder. E que Deus nos ajude nesta tarefa de propagar a Sua Palavra. Sendo tudo, sempre, para honra e glória do Senhor Jesus!

      Fique com Deus!

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  2. Como a algum tempo que não fazia uma visita, hoje resolvi ver o que está a escrever.É o anseio da minha alma que Jesus seja consigo, e encaminhe seus passos pela vereda da justiça. E que Ele cresça na sua vida de maneira que seja visto pelas pessoas que rodeiam sua vida, que o amor de Jesus fortaleça sua vida, e seja como um rio transbordante. Também resolvi dizer-lhe que embora não te conheça mas em Cristo te amo, e continue a ser luz. Um abraço.

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