Como ouvirão se não há quem pregue?


Alguém só ouvirá ou entenderá o evangelho se outro lhe falar ou lhe escrever de maneira clara. Assim, a pregação é o meio escolhido por Deus para gerar fé no coração do perdido (cf. Rm 10:17). Contudo, é fundamental ter cuidado com o conteúdo da pregação. Comunicar não basta. É preciso anunciar o conteúdo certo. A parábola do semeador, contada por Jesus (Lc 8:1-15), tem muito a ver com este estudo. Nesta parábola, a ênfase está na semente e na semeadura. A semente é a palavra de Deus e a semeadura é a pregação da palavra. Embora a tarefa do semeador seja bastante simples, é importantíssima! [1] Sem semeadura, não há colheita, ou seja, sem pregação, não há conversão. Sem a comunicação da mensagem, não há entendimento.

No livro de Atos, este princípio bíblico é ainda mais forte. Claro que podemos pregar, de certa forma, sem palavras, através de nossas atitudes. Contudo, é indispensável pregar com as palavras, seja falando de perto ou escrevendo a alguém por meios eletrônicos, ou, ainda, usando a língua de sinais, no caso de comunicação com ou entre surdos. De qualquer forma, é indispensável que aconteça a comunicação.

Quando ouviram isso, os seus corações ficaram aflitos, e eles perguntaram a Pedro e aos outros apóstolos: Irmãos, que faremos? (At 2:37)

Não é preciso dizer o quanto é extremamente importante, e necessário, a pregação da Palavra de Deus

Sem dúvida, “a pregação é o meio prescrito por Deus para salvar, santificar, encorajar e fortalecer a igreja”. [2] Além disso, de acordo com a Bíblia, a pregação da palavra é a maneira escolhida e determinada por Deus para produzir a fé no coração do incrédulo (At 2:37, 4:31, 6:4, 8:35, 10:42). Sobre isso, Paulo disse: E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo (Rm 10:17). Não devemos inventar, nem colocar nada no lugar da pregação, porque foi o próprio Senhor Jesus quem nos ordenou: Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado (Mc 16:15-16). Isso significa que, se queremos que alguém seja salvo, devemos proclamar a mensagem de salvação a ele.

É por isso que, na igreja primitiva, a pregação era prioridade. Os primeiros cristãos enxergavam a necessidade e a urgência de lançar a semente. O livro de Atos demonstra isso, pela incessante ação dos apóstolos e dos demais discípulos no anúncio do evangelho. Eles entendiam que não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos (At 4:12 – NVI). Sabiam que, para uma pessoa ser salva, precisava crer e confessar Jesus Cristo como Senhor e Salvador de sua vida (Rm 10:9). Todavia, isso jamais aconteceria sem que essa pessoa ouvisse ou tivesse acesso à mensagem da cruz (Rm 10:14).

Na concepção de Paulo, pregar é algo muito sério. Ele evangelizava os gentios com o objetivo de abrir-lhes os olhos e convertê-los das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus, a fim de que recebam o perdão dos pecados e herança entre os que são santificados pela fé (At 26:18). Preste atenção nisto: Todo esse processo que acontece no mundo espiritual, descrito neste versículo, começa com o simples ato de um cristão abrir a boca e falar de Cristo. Os não salvos, por falta de entendimento, estão nas garras de Satanás e oprimidos, são escravos do pecado e condenados à morte. Só há uma saída para eles: o evangelho. Assim sendo, é imprescindível propagar o evangelho, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1:16). Alguns servos de Deus querem que seus familiares e amigos se convertam, mas nunca falam a respeito de Cristo para eles. Sequer os convidam para ir à igreja, para ouvirem a boa notícia proferida do púlpito. Se isso tem ocorrido em sua vida, é hora de mudar!

Não basta ficar só orando por eles: é preciso agir. É preciso contar-lhes as grandezas de Deus, para que ouçam. Lembre-se: ... a fé vem pelo ouvir. Lance a semente! É isso que o Senhor espera de você.

O conteúdo da mensagem não pode ser transmitido de qualquer maneira

Embora a proclamação seja algo urgente, não devemos fazê-la de qualquer jeito. Precisamos, sobretudo, ter cuidado com o conteúdo de nossa proclamação. Aqui, cabe uma pergunta importante: Qual era o conteúdo da mensagem da igreja primitiva? A resposta é muito simples: O tema central era Jesus. Se você observar a pregação de Pedro, em Atos 2, verá que a centralidade era a vida, a morte e ressurreição de Cristo. Se você ler com atenção os sermões proferidos por Paulo, perceberá que ele pregava as boas novas a respeito de Jesus e da ressurreição (At 17:18). Quando dizemos que Jesus era tema central do testemunho dos primeiros crentes, precisamos entender que isso se refere tanto à sua obra redentora quanto aos mandamentos que ele deixou (At 20:27). Os apóstolos não pregavam um evangelho sem compromisso. Proclamavam, sobretudo, o senhorio de Jesus e convidavam os ouvintes ao arrependimento.

Veja o que Pedro declarou num sermão: Cada um de vocês deve abandonar o pecado e voltar-se para Deus (At 2:38 – BV). Veja que interessante: no livro de Atos só há dois versículos em que Jesus recebe o título de “Salvador” (At 5:31, 13:23). Em compensação, o título “Senhor”, referindo-se a Jesus, aparece em 92 versículos em Atos. [3] Quando pregavam, os apóstolos não eram obcecados por crescimento, nem acreditavam em fórmulas mirabolantes para alavancar a igreja.

A preocupação deles era anunciar as verdades de Deus. Contudo, ao anunciá-las, viam o crescimento da igreja acontecer naturalmente. Qual é a lição que tiramos disso? A evangelização deve ser baseada única e exclusivamente na palavra de Deus. Não precisamos copiar as técnicas neopentecostais. Não são necessários esquemas ou artifícios humanos para obtermos sucesso no evangelismo.

Também não precisamos usar práticas de mercado, métodos empresariais, nem técnica de marketing para atrair os pecadores. Se quer ver a igreja crescer, você só precisa de uma coisa: pregar o evangelho, que é o poder de Deus. Ele é suficiente para transformar as vidas e promover o crescimento do povo santo. É bom que se diga que o evangelho não é somente para os não crentes. Todos nós precisamos! Jesus é o tema da Bíblia e deve ser o assunto principal das pregações nos púlpitos. [4] Para que não esqueçamos isso, carecemos ser “evangelizados” constantemente. A comunidade dos crentes precisa ser encharcada pela palavra. Pastores, pregadores e pregadoras, por favor, preguem sermões cristocêntricos!

Façam pregações expositivas da Bíblia! Expliquem a Escrituras ao povo! Não proclame suas próprias ideias! Pregue o evangelho! Como dizia Stott: “Evangelização é o anúncio das boas novas, independente dos resultados”. [5] Apenas pregue o fiel conteúdo da palavra e deixe os resultados com Deus.

O resultado da pregação do evangelho

Quando a mensagem da cruz passa a ser o centro da nossa proclamação, damos um passo decisivo para sermos uma igreja vibrante e crescente. Quando Pedro pregou o evangelho, em Atos 2, a reação foi que os ouvintes ficaram compungidos (At 2:37a). A palavra “compungido”, que, no grego bíblico, é katanusso, significa ser picado ou atormentado na mente de forma profunda, ser agitado intensamente em seu interior. [6] Os ouvintes não puderam ficar inertes, diante do que ouviam. Foram impactados com o evangelho de Cristo, a ponto de perguntarem aos apóstolos: Que faremos? (At 2:37b). Pedro, então, mostrou-lhes que deveriam arrepender- se e ser batizados (At 2:38). Lucas narra que foram batizados os que de boa vontade receberam a palavra. E naquele dia agregaram-se quase três mil almas (At 2:41).

A pregação do evangelho tem este poder de transformação. Mas é fundamental dizer que, embora sejamos nós que levamos a semente e a regamos, é somente Deus quem dá o crescimento (1 Co 3:6). Em Atos, vemos sempre Deus agindo para aumentar o número de seus seguidores. Vejamos alguns exemplos: ... acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos (At 2:47b). Com a divulgação de sua palavra, o resultado não poderia ser outro: ... crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos (At 6:7). Com a divulgação da mensagem, cujo conteúdo era Jesus Cristo, rapidamente a palavra se alastrava e muitos eram arrancados das trevas para a luz do Senhor (At 4:4).

Então, qual é o resultado alcançado, quando a igreja prega fielmente a palavra? Quando o conteúdo de sua proclamação é Jesus? Ela cresce! Essa pregação também promove equilíbrio entre a quantidade e a qualidade. Lucas não se limitou a tratar das conversões: tratou também do modo de vida daqueles irmãos: Eles perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão e nas orações (At 2:42). Isso nada mais é do que evidências de uma vida cristã autêntica. Um dos sinais da verdadeira conversão é a perseverança na fé. O autor de Atos faz questão de dar ênfase a isso. Ele escreve: E perseveravam (At 2:42a). Um pouco depois, diz: E perseverando (At 2:46). A Bíblia não é contrária ao crescimento numérico dos salvos. Lucas não esconde os números (At 2:41; 4:4). Porém, o importante é saber que esse crescimento sadio e legítimo registrado por ele está intimamente ligado à qualidade da mensagem pregada.

O Senhor quer a igreja crescendo. Ele é o principal interessado no seu desenvolvimento. Contudo, Deus não quer uma grande multidão que segue um pastor humano, mas, sim, um povo santo que segue Jesus. Quer pessoas que foram verdadeiramente transformadas por sua palavra. Atos é uma prova de que podemos crescer com equilíbrio e seriedade. Para isso, precisamos cumprir a grande comissão. Sem pregação, não há conversão. No entanto, o conteúdo de nossa pregação deve ser Jesus e os seus ensinamentos, ou seja, o evangelho puro e simples. Podemos acreditar: ele é suficiente! Pregue fielmente o evangelho e confie: Deus dará o verdadeiro crescimento.

APLICANDO A PALAVRA DE DEUS EM NOSSA VIDA

Somente a pregação do evangelho puro e simples é libertador!

Talvez você pense que as pessoas perdidas são um problema que cabe só a Deus. Porém, Paulo informa, em Romanos 10:14-15, que, se essas pessoas não invocarem o nome do Senhor, não serão salvas. Diz também que, para serem salvas, essas pessoas precisam crer, e, para crerem, alguém precisa pregar para elas. É aqui que você entra. Esse problema é seu também. Nesse plano de resgate, descrito por Paulo, Deus conta com você! Pense nisto: Muitas pessoas do seu convívio precisam de libertação. São escravas do pecado e condenadas à morte eterna. Você tem a mensagem que pode libertá-las: O evangelho puro e simples! Caro irmão em Cristo, não se cale! Anuncie! A mensagem que você leva pode libertar pessoas.

Somente a pregação do evangelho puro e simples é poderosa!

O ato de evangelizar, além de ser o meio de vermos as pessoas livres das garras de satanás e colocadas nos braços de Jesus, é também um meio poderoso para produzir transformação na vida das pessoas evangelizadas, pois, à medida que vão tendo contato com o evangelho puro e simples, Cristo vai moldando o caráter e a conduta delas. De fato, a igreja de Cristo é uma comunidade de ex: ex-viciados, ex-mentirosos, ex-presidiários, ex-prostitutas, ex-lascivos, ex-macumbeiros, ex-orgulhosos etc. Todos nós somos ex-alguma coisa. É assim porque o evangelho é o poder Deus para salvação (Rm 1:16), mas também para transformação de quem crer. Alguém escreveu que essa “expectativa em torno de uma nova vida, torna o compartilhamento do evangelho um prazer mais que uma obrigação”. [7] Quantas pessoas você conhece que mudaram para melhor, depois que conheceram Jesus? Quantas destas foram evangelizadas por você? Medite nisso. Não se cale. Evangelize! A mensagem que você leva é poderosa para transformar vidas e mudar histórias.

Somente a pregação do evangelho puro e simples é produtiva!

Existem muitas igrejas evangélicas, hoje, obcecadas por números. Sua filosofia é: “O importante é peixe na rede!”. Por isso, algumas pregam um “evangelho” sem compromisso, do tipo: “Venha como está e fique como veio”. Outras, para crescerem, prometem milagres. Outras, ainda, fazem da prática cristã uma barganha com Deus; do evangelho, um produto, e, do púlpito, um balcão de negócio. Os crentes se tornam consumidores e os pastores se transformam em vendedores de ilusões. Que lástima! Que Deus nos livre desse caminho maligno. Também queremos ver a nossa igreja crescer, mas não a qualquer custo. A única forma de o povo de Deus crescer de maneira autêntica e saudável é pela exposição do evangelho puro e simples, nos templos, nas casas e nas ruas (At 5:42). Esse ato produz frutos, porque não estamos sozinhos nessa obra: o Espírito Santo é nosso parceiro. Nós semeamos e ele faz o restante. O trabalho de convencer e de salvar não é nosso, mas de Deus. Sendo assim, lance a semente e confie. Quem a fará crescer é Deus, não nossos métodos (1 Co 2:4-5, 3:6).

CONCLUSÃO

A comunicação do evangelho, através da pregação, é a maneira escolhida por Deus para produzir a fé no coração dos descrentes. Sobre isso, temos um desafio. Pense em alguém de seu convívio que precisa ser evangelizado. Pode ser um familiar, um vizinho, um amigo, um colega de faculdade ou de trabalho. Quando tiver alguém em mente, siga as orientações de Paulo em Colossenses 4:3-5, ou seja, ore a Deus para que lhe proporcione uma oportunidade de pregar o evangelho a essa pessoa e peça sabedoria espiritual para isso. Não tenha dúvida: Deus lhe dará a oportunidade e a sabedoria. Aproveite-as bem. Então, tome uma atitude: fale de Jesus para essa pessoa e convide-a a ir à igreja, no próximo culto, para ouvir mais da palavra de Deus.


Bibliografia:

1. LOCKYER Herbert – Todas as Parábolas da Bíblia – Editora Vida 2001 Pág. 196
2. CASIMIRO, Arival Dias. Plante igrejas: princípios bíblicos para plantação e revitalização de Igrejas. Santa Bárbara d’Oeste: SOCEP, 2009 Pág. 67
3. CASIMIRO, Arival Dias. Plante igrejas: princípios bíblicos para plantação e revitalização de Igrejas. Santa Bárbara d’Oeste: SOCEP, 2009 Pág. 74.
4. CASIMIRO, Arival Dias. Plante igrejas: princípios bíblicos para plantação e revitalização de Igrejas. Santa Bárbara d’Oeste: SOCEP, 2009 Pág. 74.
5. STOTT, John R. W. A missão cristã no mundo moderno. Tradução: Meire Portes Santos. Viçosa: Ultimato, 2010 Pág. 47
6. Biblioteca Digital Libronix (Comentário de Atos 2:27).
7. SHEDD, Russel P. Evangelização: fundamentos bíblicos. São Paulo: Shedd Publicações, 2006 Pág. 91


Departamento de Educação Cristã
Paulo Cesar Amaral

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