O Grave Engano do Caminho Alternativo

Posso ser cristão autêntico sem carregar a minha própria cruz dia após dia?

Posso ser cristão autêntico sem carregar a minha própria cruz dia após dia?

Eis um dos pensamentos que me ocorrem com certa frequência: Dentre todas as esferas da vida, não há mais pessoas enganando e sendo enganadas do que no âmbito da religião! Refiro-me especialmente àqueles que julgam que é possível agradar a Deus e também manter um relacionamento de amizade com o sistema chamado "mundo". Que é isso?

Para deixar claro o que chamo de mundo, refiro-me ao sistema caracterizado pelas coisas que o apóstolo João mencionou aos seus leitores: "a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens" (1 Jo 2: 16 (NVI)). Ou seja: o mundo diz respeito ao pensamento que gira em torno do que é passageiro, e que não se liga ao eterno Deus, que criou o universo para a Sua glória!

Um seguro exemplo disso é a famosa "mulher de Ló", que foi indicada por nosso Senhor Jesus Cristo como sendo a representante do mundanismo de todos os tempos. Ora, qual era o pano de fundo no qual o Senhor advertiu Seus discípulos dizendo-lhes: "Lembrai-vos da mulher de Ló"?

Porventura, não estava Ele respondendo àqueles que julgavam que viria "o reino de Deus com visível aparência"? E também não afirmou Ele qual era a prioridade dos contemporâneos tanto de Noé quanto de Ló? Sim! Acerca deles, disse o Senhor: "comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; mas, no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre e destruiu a todos" (Lc 17: 20-32).

Assim, todos aqueles que pereceram estavam tão intensamente ocupados nos seus próprios afazeres temporários, que deixaram de preparar-se para a eternidade.

Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade. (Mateus 7:21-23)

Mas é possível que você, leitor, esteja perguntando: O que tem a ver a história de tantas gerações, que viveram buscando satisfação pessoal, com a religião? E mais: Muitos, dentre todas as gerações, desde Adão, não viveram e vivem até hoje sem religião? Oh! Caro leitor! Penso que posso lhe dizer, fundamentado nas Escrituras, que você está completamente enganado!

E seu engano começa quando "esquece" que o universo foi criado pelo Senhor Deus, incluindo, obviamente, cada ser humano, desde Adão. Então, saibam os homens ou não, todos foram feitos à imagem de Deus e todos têm, por isso, o dever/necessidade de adorar o Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!

Ora, com isso em mente, passo-lhe a mostrar algumas razões pelas quais as pessoas se enganam especialmente na esfera da religião:

1. O homem foi criado essencialmente religioso. 

Quanto a isso, não diz a Escritura: "Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra" (Gn 2: 26)?

Então, tendo sido criado "à imagem de Deus", o homem estava perfeitamente capacitado a se relacionar bem com o Criador, o que de fato aconteceu, conforme está escrito: "Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia" (Gn 1: 31). Há, pois, dúvida de que tal relato demonstra que o homem estava em harmonia consigo mesmo, com o seu próximo (no caso era Eva), com a criação e, especialmente, com o Criador?

Por isso, ao vislumbrar a belíssima harmonia no universo criado, Deus prorrompeu em satisfação; afinal, tudo funcionava como uma bela e harmoniosa orquestra que segue as diretrizes do maestro.

2. O homem tornou-se essencialmente pecador. 

Que lastimável lermos o relato de Gênesis 3, que mostra que o homem passou a ser pecador, por causa da sua desobediência ao Criador! E sendo o homem essencialmente pecador, passou a ser espiritualmente morto. Daí que o Novo Testamento diz: "Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram" (Rm 5: 12).

Ora, a grande e primeira implicação disso é que o homem criado por Deus tornou-se adorador de si mesmo. Afinal, a queda registrada em Gênesis tem como pano de fundo a sugestão satânica de que Adão e Eva se tornariam "como Deus". Então, o trágico resultado foi que ambos, marido e mulher, se tornaram rebeldes pecadores! Ou seja: Ficaram destituídos da glória de Deus, impossibilitados de fazer a vontade de Deus e escravos, como diz o apóstolo Paulo aos Efésios (Ef 2: 1-3).

3. O homem foi criado essencialmente necessitado de aprendizado. 

Ao criar o homem, o Senhor Deus lhe concedeu as faculdades intelectuais pelas quais o homem podia aprender/ensinar acerca do seu Criador, de si mesmo e da criação inferior. Na verdade, o entendimento do homem era tão perfeito que ele foi capaz de dar nomes aos animais viventes, de acordo com as características de cada um deles.

Mais "espantoso" ainda foi Adão ter discernido que Eva era sua semelhante, a ponto de prorromper liricamente dizendo: "Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada". No entanto, o mais importante é lembrar que o homem discernia corretamente o mundo habitável, por causa da sua boa relação com o seu Criador.

Mas, com a entrada do pecado no mundo, o homem passou a ser errante em termos de adoração a Deus, pois até as suas faculdades intelectuais foram maculadas. É por isso que diz a Bíblia: "Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis" (Rm 1: 22, 23).

Então, temos a idolatria que é fruto de um entendimento obscurecido, pelo que desde a queda aplicam-se as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo: "Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus" (Jo 4: 22).

Ora, se juntarmos os três pensamentos expostos acima, parece que podemos concluir que é o obscurecimento do entendimento que explica a visão existencialista humana que diz: "comamos e bebamos que amanhã morreremos".

E isso me faz pensar nas palavras do Senhor Jesus ao falar de dois tesouros, um terreno e outro celestial, e a exigência de dedicação total que cada um deles faz ao homem. E tal é a exigência daqueles dois tesouros, como o exigem dois senhores, que o Senhor Jesus afirmou categoricamente: "Não podeis servir a Deus e às riquezas" (Mt 6: 19-22).

Então, perguntemos: A quem o homem tem servido desde a queda de Adão? Qual tem sido o deus da humanidade? E qual tem sido o caminho das gerações desde Adão? Embora os homens possam ser classificados em duas amplas categorias - os religiosos e os ateus - é a Bíblia que diz existirem apenas dois grupos de pessoas: os ímpios ou piedosos; os que servem a Deus ou os que não o servem; os justos ou injustos; os que amam a Deus ou os perversos; etc.

No entanto, com exceção dos ateus professos, todos os religiosos - judeus, cristãos, evangélicos, budistas, etc. - afirmam servir tão somente a Deus, embora a grande maioria não perceba que está perigosamente enganada. Por quê? Porque os religiosos, incluindo os ateus professos, estão em um dos dois únicos caminhos existentes - o apertado e o espaçoso. Demonstremos isso, pensando nos evangélicos dos nossos dias, à luz do texto abaixo:
"Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela. Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis"(Mt 7: 13-23).
Antes de tudo, tal texto é uma aplicação que nosso Senhor Jesus Cristo, o Senhor da glória, está fazendo aos Seus ouvintes, especialmente, aos discípulos. É, pois, uma aplicação do Seu ensino, a partir do capítulo cinco. Então, o Senhor está apelando veementemente para que Seus discípulos façam a boa escolha. Que tomem para si a única opção que conduz para a bem-aventurada eternidade. Afinal, diz Ele, "larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela".

Agora, perguntemos: Segundo nosso Senhor Jesus há possibilidade de existir uma porta alternativa, que esteja entre a "porta estreita" e a "porta larga"? E quanto ao caminho, existe um caminho que não seja nem largo nem apertado? Uma espécie de meio termo?

A mim parece que de boa mente todos diremos: NÃO! Não há possibilidade de ter, segundo o ensino das Escrituras, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, uma alternativa de caminho intermediário. No entanto, ao dizer "Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores", penso estar querendo o Senhor Jesus alertar Seus discípulos quanto ao erro dos que dizem: 'Não devemos ser radicais. Bem podemos viver entre os extremos'.

Eis, pois, o terrível engano: Alguém estar ativo no caminho espaçoso, mas afirmar estar em comunhão com o Senhor Deus, que é Luz! E, quando as coisas são assim, o que se estabelece, ainda que sem o saber, é o que ouso chamar de caminho alternativo, que é o caminho dos que se consideram inteligentes por não serem radicais.

Mas não existe uma porta de largura mediana que nos leve a um caminho fácil de trilhar! Por quê? Porque quando o Senhor Deus enviou Seu Filho ao mundo, o fez com o propósito descrito aos Gálatas: "o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai" (Gl 1: 4).

Por outro lado, há muitos que dizem "Senhor, Senhor", mas estão trilhando o seu próprio caminho - caminho da frouxidão teológica, cujo deus é um camarada amoroso e não exigente com a santidade; caminho de práticas próprias do mundo pós-moderno! Para esses tais o que importa é crer, independentemente do que se venha a fazer!

Ora, esses podem muito bem ser classificados conforme Paulo disse: "O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas" (Fp 3: 19). Tudo isso, pois, é próprio do caminho espaçoso! Então, consideremos algumas características do caminho apertado:

1. Este é o caminho da fé! 

Logo, os que nele caminham dizem: "Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé" ( Fp 3: 7-10).

Então, para os da fé, o que importa acima de tudo é: "crescer na graça e no conhecimento do Senhor Jesus Cristo"!

2. Este é o caminho da religião do coração. 

Quem trilha tal caminho tem aprendido o seguinte: "Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus". Daí que eles não admitem agasalhar no coração ressentimentos, ódio e espírito de vingança! Também buscam guardar seu coração do adultério, da fornicação, etc.

3. Este é o caminho do amor a todos os homens. 

Nesse aspecto, basta que lembremos que o caminho apertado é o daqueles que oram pelos seus perseguidores, buscando ser imitadores do Pai celeste. E quando ajudam as pessoas necessitadas, não fazem propaganda de suas ações, nem mesmo para si, como fazem os hipócritas. Resumindo, eles procuram se conduzir segundo a Lei Régia que diz: "Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas" (Mt 7: 12).

4. Enfim, este é o caminho da autonegação. 

A Bíblia diz que a fé opera pelo amor. Sendo assim, o que importa para os do Caminho é fazer a vontade do Senhor Jesus. E a Sua vontade é que vivamos em prol da unidade, que tem por base a Sã Doutrina; que vivamos em humildade, cujo referencial é o Senhor Jesus Cristo, que foi "obediente até à morte, e morte de cruz"; e que vivamos em solicitude, sendo como o Senhor que disse: "Tal como o Filho do Homem que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mt 20: 28).

Diante do exposto, pergunto: Há, porventura, um caminho alternativo entre fazer a própria vontade e fazer a vontade do Senhor? Há uma terceira via pela qual eu busque agradar aos homens e a Deus ao mesmo tempo?

Posso ser cristão autêntico sem carregar a minha própria cruz dia após dia?

No entanto, muitos falsos profetas estão por aí querendo nos convencer de que existe o tal evangelho da prosperidade; que existe o evangelho que perdoa pecadores sem que estes se arrependam; que existe evangelho que me faz carismático, a ponto de profetizar, expulsar demônios e curar muitos doentes, mas que não tenha a Jesus como Senhor em meu coração. Ora, todos os que estão nesse tipo de caminho, se não nascerem de novo, "naquele Dia" vão ouvir do próprio Senhor Jesus, as palavras que finalmente os desmascararão como os que viveram engando a si mesmos e aos outros. O que eles finalmente ouvirão? Eis as mais terríveis palavras a serem ouvidas pelos hipócritas: "Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade" (Mt 7: 23).

Então, há lugar de maior engano, senão entre os religiosos? Não há muitas pessoas fazendo ousadas afirmações, dizendo a si mesmas que estão seguras? Mas a questão é: em que caminho elas estão?

Meu caro leitor, você acredita que há um caminho alternativo que lhe garanta uma eternidade na presença do Senhor? NÃO acredite nisso, jamais! Afinal, naquele dia, os falsos: sejam profetas, mestres e pastores, juntos com os seus interesseiros seguidores serão banidos da presença do Senhor. Assim, ouçamos a voz dAquele que é o Caminho, e a Verdade, e a Vida: "Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), 14 porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela".


Fonte:
Editora Fiel | Jaime Marcelino

Jaime Marcelino é pastor da Igreja Presbiteriana de Cidade Nova, em Manaus, e fundador da Conferência Encontros da Fé Reformada em sua região. Ele prega, frequentemente, em conferências no Brasil, tendo participado da Conferência Fiel em 2006. Jaime é casado com Francisca, com quem tem duas filhas.

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