Adoração trágica
O pó volte à terra, de onde veio, e o espírito volte a Deus, que o deu. (Eclesiastes 12:7)
Por Carl Trueman em iPródigo
Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo.com | Original aqui
Por Carl Trueman em iPródigo
O problema com grande parte da adoração cristã contemporânea, seja Católica ou Protestante, não é entretenimento demais, mas é não ser entretenimento o suficiente. A adoração caracterizada por rock animado, comédia stand-up, pessoas lindas e bem apessoadas no centro do palco e um tipo clichê de sentimentalismo barato negligencia uma forma clássica de entretenimento, o que nos diz que "em meio à vida, estamos envolvidos pela morte".
Ela, a adoração cristã contemporânea, negligencia a tragédia. Tragédia como forma de arte e entretenimento destaca a morte, e a morte é central para a verdadeira adoração cristã. O elementos litúrgicos mais básicos da fé, o batismo e a Santa Ceia, falam de morte, de sepultamento, de um pacto de sangue, de um corpo despedaçado. Mesmo o clamor de que “Jesus é Senhor!” assume um entendimento de senhorio muito diferente do de César. O senhorio de Cristo é estabelecido por meio de seu sacrifício na cruz, e o de César, por meio de poder.
Talvez seja estranho a alguns caracterizar tragédia como entretenimento, mas a tragédia sempre foi parte vital das obras artísticas do Ocidente desde que Homero relatou sobre Aquiles, começando sobre a morte de seu querido Pátroclo, até sua retirada relutante dos campos de batalha de Tróia. Seres humanos sempre foram atraídos por contos de tragédia, assim como os de comédia, quando o intuito era se elevar acima das rotinas previsíveis da vida diária – em outras palavras, serem entretidos.
De Ésquilo a Tennessee Williams, escritores do gênero têm enriquecido os teatros. As grandes peças de Shakespeare são suas tragédias. Quem colocaria Charles Dickens acima de Thomas Hardy e Joseph Conrad? A tragédia atraiu a atenção de notáveis pensadores desde a Aristóteles a Hegel e Terry Eagleton.
A adoração cristã deveria imbuir as pessoas da realidade da tragédia da queda do homem e da humanidade. Deveria nos prover uma linguagem que nos permita adorar o Deus da ressurreição enquanto lamentamos o sofrimento e a agonia de nossa parte nesse mundo alienado de seu criador, e deveria, assim, afiar nossa esperança pela única resposta ao grande desafio que iremos enfrentar mais cedo ou mais tarde. Apenas aqueles que aceitam que irão morrer podem começar a olhar com alguma esperança para a ressurreição.
Apesar disso, hoje a tragédia, com algumas poucas exceções, foi excluída do entretenimento popular. Seja o sentimentalismo barato, a pirotecnia dos filmes de ação ou a idiotice banal dos reality shows, o senso trágico está completamente perdido. Isso é mais agravado ainda pela forma trivial com que a linguagem da tragédia agora é usada no vernáculo popular. Como sendo um momento decisivo ou de crise, as palavras tragédia e trágico agora servem para todo tipo de utilidade linguística. Em um mundo onde até mesmo derrotas esportivas são descritas como tragédias, raramente esses termos falam das crises morais catastróficas e quedas heroicas que estão no cerne da grande literatura de tragédia.
Mas a vida humana é, ainda assim, verdadeiramente trágica. A morte permanece uma realidade teimosa, onipresente e inevitável. Apesar de todo antiessencialismo pós-moderno, de todo o repúdio pela natureza humana, de toda a retórica da auto-criação, a morte eventualmente chega para todos, frustra todos, nivela todos. Não é simplesmente um constructo linguístico ou uma convenção social. Mas mesmo assim, a cultura Ocidental tem, vagarosa mas continuamente, empurrado a morte, a única impressionante inevitabilidade da vida humana, para a zona mais periférica da existência.
Pascal observou esse problema na França do Século XVII, quando viu a obsessão pelo entretenimento como o surgimento do desejo humano caído de ser distraído de qualquer pensamento sobre mortalidade. “Tenho dito com frequência que a causa única da infelicidade do homem é que ele não sabe como permanecer quieto em seu quarto”, dizia. E: “Distração é a única coisa que nos consola de nossas misérias, e ainda assim é em si mesma a maior de nossas misérias”.
Hoje o problema é ainda maior: o entretenimento aparentemente se tornou o objetivo primário de existência das pessoas. Eu duvido que fosse surpreendente para Pascal que o mundo magnificou o tamanho, o alcance e a compreensão da distração. Não o surpreenderia que a morte foi reduzida a pouco mais que um personagem de desenho em incontáveis filmes de ação ou um mero impedimento momentâneo em novelas e seriados. De fato, ele não iria ficar perplexo em saber que a sombria violência da mortalidade não deixa qualquer marca duradoura nos enlutados no surreal mas sedutor mundo do entretenimento popular.
Mas talvez ele seja surpreendido com o fato de que as igrejas têm entusiasticamente endossado esse projeto de distração e dissimulação. É isso que resume muito da adoração moderna: distração e dissimulação. Grupos de louvor e músicas de triunfo parecem ter sido projetados em forma e conteúdo para distrair os adoradores das realidades mais difíceis da vida.
Mesmo funerais, o contexto religioso onde poderia se assumir que a realidade da morte seria inescapável, têm se tornado o contexto para os mais atrozes e incoerentes atos: a celebração de uma vida que agora acabou. O Salmo 23 e o hino “Comigo habita” eram marcas tradicionais de funerais por muitos anos, mas isso parece ter mudado.
Referências ao vale da sombra da morte ou à brevidade da vida terreal, lembretes tanto de nossa mortalidade quanto da fidelidade de Deus mesmo nos mais escuros momentos, foram trocados por músicas como “Wind Beneath My Wings” e “My Way”. A economia superficial da adoração como entretenimento chegou até mesmo aos últimos ritos para os que se vão.
Entretanto, a tragédia é parte vital do entretenimento. Aristóteles, em sua obra Poética, argumentou em favor dos benefícios pessoais e sociais do drama trágico. A audiência, levada por crises morais vertiginosas, grandes falhas e as catastróficas quedas dos heróis, usufruía a experiência da catarse – experimentando a vasta gama de emoções – sem serem agentes nos eventos representados no palco. Eles deixavam o teatro lavados pela experiência e sabendo mais profundamente o que é ser humano. Eles estavam mais sábios, mais pensativos e mais bem preparados para enfrentar a realidade de suas próprias vidas.
De todos os lugares, a igreja deveria ser o mais realista. A igreja sabe quão grave foi a queda da humanidade, entende o custo dessa queda tanto na morte de Cristo encarnado quanto na morte inevitável de cada crente. Nos Salmos de lamento, a igreja tem uma linguagem poética para dar expressão aos mais profundos anseios de uma humanidade buscando encontrar paz não nesse mundo, mas no próximo. Nas grandes liturgias da igreja, a morte lança uma longa, criativa e catártica sombra. Nossa adoração deveria refletir as realidades de uma vida que deve enfrentar a morte antes de experimentar a ressurreição.
É, dessa forma, uma ironia do tipo mais perverso que as igrejas tenham se tornado lugares onde a distração Pascaliana e uma noção de entretenimento que exclui o trágico parece dominar de forma tão abrangente quanto fazem no mundo ao nosso redor. Estou certo que a separação dos prédios das igrejas dos cemitérios não foi parte intencional do começo desse processo, mas certamente ajudou a diminuir a presença da morte. A geração atual não passa pela inconveniência de andar pelos túmulos de entes queridos ao se reunirem para adorar. Hoje em dia a morte simplesmente sumiu de dentro das igrejas também.
Na tradição em que fui criado, da igreja Presbiteriana Escocesa, os ritmos mais sóbrios do saltério, os clamores de lamento e fragilidade mortal das vozes cantando sem acompanhamento instrumental ajudava a conectar a adoração às realidades da vida. De fato há Salmos de alegria e triunfo. Pais regozijando o nascimento de um filho podem encontrar palavras de gratidão para entoarem ao Senhor, mas também há Salmos que permitem aos enlutados expressar seu sofrimento e sua dor em palavras de adoração a Deus.
Os Salmos como base para a adoração cristã, com seus elementos de lamento e confusão, e a intrusão da morte na vida, tem sido, com frequência, substituídos não pode músicas que capturam essa mesma sensibilidade – como muitos dos grandes hinos do passado o fazem – mas por músicas que asseguram o triunfo sobre a morte sem nunca realmente encará-la. O túmulo está vazio, certamente; mas nunca estamos realmente certos do porquê ele esteve ocupado, para começar.
Apenas os morto podem ser ressurretos. Como o segundo ladrão da cruz enxergou tão claramente, a entrada para o reino de Cristo é através da morte, não ao escapar dela. O protestantismo tradicional via isso, conectando o batismo não tanto ao lavar, mas à morte e ressurreição. Liturgias protestantes se asseguravam que a lei seria lida em cada culto, para lembrar as pessoas que a morte era a pena por seu pecado. Somente então, depois da lei pronunciar sua sentença de morte, o evangelho seria lido, chamando-os de seus túmulos para a fé e à vida e ressurreição em Cristo. Assim, a congregação se tornava participante do drama da salvação.
Certamente havia catarse nesse tipo de adoração: a congregação saía a cada semana tendo encarado a mais profunda realidade de seus destinos. Talvez seja irônico, mas a igreja que confronta as pessoas com a realidade da brevidade da vida vivida sob a sombra da morte prepara melhor a congregação para a ressurreição do que a igreja que vai direto para o triunfalismo da ressurreição sem aquela parte estranha que fala sobre morrer.
Dietrich Bonhoeffer questionou certa vez: “Por que é que o cinema tem se tornado muitas vezes mais interessante, mais excitante, mais humano e mais envolvente que a igreja?”. De fato, por que? Talvez a situação seja pior do que eu descrevi; talvez as igrejas sejam mais triviais até que a indústria do entretenimento. Afinal, no entretenimento popular é possível encontrar ocasionalmente o trágico sendo devidamente articulado, como nos filmes de Coppola ou Scorcese.
Uma igreja com uma visão menos realista da vida do que a que se encontra no cinema? Para alguns, isso pode ser um pensamento divertido, até mesmo entretenimento; para mim, é uma tragédia.
Ela, a adoração cristã contemporânea, negligencia a tragédia. Tragédia como forma de arte e entretenimento destaca a morte, e a morte é central para a verdadeira adoração cristã. O elementos litúrgicos mais básicos da fé, o batismo e a Santa Ceia, falam de morte, de sepultamento, de um pacto de sangue, de um corpo despedaçado. Mesmo o clamor de que “Jesus é Senhor!” assume um entendimento de senhorio muito diferente do de César. O senhorio de Cristo é estabelecido por meio de seu sacrifício na cruz, e o de César, por meio de poder.
Talvez seja estranho a alguns caracterizar tragédia como entretenimento, mas a tragédia sempre foi parte vital das obras artísticas do Ocidente desde que Homero relatou sobre Aquiles, começando sobre a morte de seu querido Pátroclo, até sua retirada relutante dos campos de batalha de Tróia. Seres humanos sempre foram atraídos por contos de tragédia, assim como os de comédia, quando o intuito era se elevar acima das rotinas previsíveis da vida diária – em outras palavras, serem entretidos.
De Ésquilo a Tennessee Williams, escritores do gênero têm enriquecido os teatros. As grandes peças de Shakespeare são suas tragédias. Quem colocaria Charles Dickens acima de Thomas Hardy e Joseph Conrad? A tragédia atraiu a atenção de notáveis pensadores desde a Aristóteles a Hegel e Terry Eagleton.
A adoração cristã deveria imbuir as pessoas da realidade da tragédia da queda do homem e da humanidade. Deveria nos prover uma linguagem que nos permita adorar o Deus da ressurreição enquanto lamentamos o sofrimento e a agonia de nossa parte nesse mundo alienado de seu criador, e deveria, assim, afiar nossa esperança pela única resposta ao grande desafio que iremos enfrentar mais cedo ou mais tarde. Apenas aqueles que aceitam que irão morrer podem começar a olhar com alguma esperança para a ressurreição.
Apesar disso, hoje a tragédia, com algumas poucas exceções, foi excluída do entretenimento popular. Seja o sentimentalismo barato, a pirotecnia dos filmes de ação ou a idiotice banal dos reality shows, o senso trágico está completamente perdido. Isso é mais agravado ainda pela forma trivial com que a linguagem da tragédia agora é usada no vernáculo popular. Como sendo um momento decisivo ou de crise, as palavras tragédia e trágico agora servem para todo tipo de utilidade linguística. Em um mundo onde até mesmo derrotas esportivas são descritas como tragédias, raramente esses termos falam das crises morais catastróficas e quedas heroicas que estão no cerne da grande literatura de tragédia.
Mas a vida humana é, ainda assim, verdadeiramente trágica. A morte permanece uma realidade teimosa, onipresente e inevitável. Apesar de todo antiessencialismo pós-moderno, de todo o repúdio pela natureza humana, de toda a retórica da auto-criação, a morte eventualmente chega para todos, frustra todos, nivela todos. Não é simplesmente um constructo linguístico ou uma convenção social. Mas mesmo assim, a cultura Ocidental tem, vagarosa mas continuamente, empurrado a morte, a única impressionante inevitabilidade da vida humana, para a zona mais periférica da existência.
Pascal observou esse problema na França do Século XVII, quando viu a obsessão pelo entretenimento como o surgimento do desejo humano caído de ser distraído de qualquer pensamento sobre mortalidade. “Tenho dito com frequência que a causa única da infelicidade do homem é que ele não sabe como permanecer quieto em seu quarto”, dizia. E: “Distração é a única coisa que nos consola de nossas misérias, e ainda assim é em si mesma a maior de nossas misérias”.
Hoje o problema é ainda maior: o entretenimento aparentemente se tornou o objetivo primário de existência das pessoas. Eu duvido que fosse surpreendente para Pascal que o mundo magnificou o tamanho, o alcance e a compreensão da distração. Não o surpreenderia que a morte foi reduzida a pouco mais que um personagem de desenho em incontáveis filmes de ação ou um mero impedimento momentâneo em novelas e seriados. De fato, ele não iria ficar perplexo em saber que a sombria violência da mortalidade não deixa qualquer marca duradoura nos enlutados no surreal mas sedutor mundo do entretenimento popular.
Mas talvez ele seja surpreendido com o fato de que as igrejas têm entusiasticamente endossado esse projeto de distração e dissimulação. É isso que resume muito da adoração moderna: distração e dissimulação. Grupos de louvor e músicas de triunfo parecem ter sido projetados em forma e conteúdo para distrair os adoradores das realidades mais difíceis da vida.
Mesmo funerais, o contexto religioso onde poderia se assumir que a realidade da morte seria inescapável, têm se tornado o contexto para os mais atrozes e incoerentes atos: a celebração de uma vida que agora acabou. O Salmo 23 e o hino “Comigo habita” eram marcas tradicionais de funerais por muitos anos, mas isso parece ter mudado.
Referências ao vale da sombra da morte ou à brevidade da vida terreal, lembretes tanto de nossa mortalidade quanto da fidelidade de Deus mesmo nos mais escuros momentos, foram trocados por músicas como “Wind Beneath My Wings” e “My Way”. A economia superficial da adoração como entretenimento chegou até mesmo aos últimos ritos para os que se vão.
Entretanto, a tragédia é parte vital do entretenimento. Aristóteles, em sua obra Poética, argumentou em favor dos benefícios pessoais e sociais do drama trágico. A audiência, levada por crises morais vertiginosas, grandes falhas e as catastróficas quedas dos heróis, usufruía a experiência da catarse – experimentando a vasta gama de emoções – sem serem agentes nos eventos representados no palco. Eles deixavam o teatro lavados pela experiência e sabendo mais profundamente o que é ser humano. Eles estavam mais sábios, mais pensativos e mais bem preparados para enfrentar a realidade de suas próprias vidas.
De todos os lugares, a igreja deveria ser o mais realista. A igreja sabe quão grave foi a queda da humanidade, entende o custo dessa queda tanto na morte de Cristo encarnado quanto na morte inevitável de cada crente. Nos Salmos de lamento, a igreja tem uma linguagem poética para dar expressão aos mais profundos anseios de uma humanidade buscando encontrar paz não nesse mundo, mas no próximo. Nas grandes liturgias da igreja, a morte lança uma longa, criativa e catártica sombra. Nossa adoração deveria refletir as realidades de uma vida que deve enfrentar a morte antes de experimentar a ressurreição.
É, dessa forma, uma ironia do tipo mais perverso que as igrejas tenham se tornado lugares onde a distração Pascaliana e uma noção de entretenimento que exclui o trágico parece dominar de forma tão abrangente quanto fazem no mundo ao nosso redor. Estou certo que a separação dos prédios das igrejas dos cemitérios não foi parte intencional do começo desse processo, mas certamente ajudou a diminuir a presença da morte. A geração atual não passa pela inconveniência de andar pelos túmulos de entes queridos ao se reunirem para adorar. Hoje em dia a morte simplesmente sumiu de dentro das igrejas também.
Na tradição em que fui criado, da igreja Presbiteriana Escocesa, os ritmos mais sóbrios do saltério, os clamores de lamento e fragilidade mortal das vozes cantando sem acompanhamento instrumental ajudava a conectar a adoração às realidades da vida. De fato há Salmos de alegria e triunfo. Pais regozijando o nascimento de um filho podem encontrar palavras de gratidão para entoarem ao Senhor, mas também há Salmos que permitem aos enlutados expressar seu sofrimento e sua dor em palavras de adoração a Deus.
Os Salmos como base para a adoração cristã, com seus elementos de lamento e confusão, e a intrusão da morte na vida, tem sido, com frequência, substituídos não pode músicas que capturam essa mesma sensibilidade – como muitos dos grandes hinos do passado o fazem – mas por músicas que asseguram o triunfo sobre a morte sem nunca realmente encará-la. O túmulo está vazio, certamente; mas nunca estamos realmente certos do porquê ele esteve ocupado, para começar.
Apenas os morto podem ser ressurretos. Como o segundo ladrão da cruz enxergou tão claramente, a entrada para o reino de Cristo é através da morte, não ao escapar dela. O protestantismo tradicional via isso, conectando o batismo não tanto ao lavar, mas à morte e ressurreição. Liturgias protestantes se asseguravam que a lei seria lida em cada culto, para lembrar as pessoas que a morte era a pena por seu pecado. Somente então, depois da lei pronunciar sua sentença de morte, o evangelho seria lido, chamando-os de seus túmulos para a fé e à vida e ressurreição em Cristo. Assim, a congregação se tornava participante do drama da salvação.
Certamente havia catarse nesse tipo de adoração: a congregação saía a cada semana tendo encarado a mais profunda realidade de seus destinos. Talvez seja irônico, mas a igreja que confronta as pessoas com a realidade da brevidade da vida vivida sob a sombra da morte prepara melhor a congregação para a ressurreição do que a igreja que vai direto para o triunfalismo da ressurreição sem aquela parte estranha que fala sobre morrer.
Dietrich Bonhoeffer questionou certa vez: “Por que é que o cinema tem se tornado muitas vezes mais interessante, mais excitante, mais humano e mais envolvente que a igreja?”. De fato, por que? Talvez a situação seja pior do que eu descrevi; talvez as igrejas sejam mais triviais até que a indústria do entretenimento. Afinal, no entretenimento popular é possível encontrar ocasionalmente o trágico sendo devidamente articulado, como nos filmes de Coppola ou Scorcese.
Uma igreja com uma visão menos realista da vida do que a que se encontra no cinema? Para alguns, isso pode ser um pensamento divertido, até mesmo entretenimento; para mim, é uma tragédia.
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