A Marcha que manifesta coisa alguma!



Por Rubinho Pirola em Genizah

Comecei há já um tempo desconfiar da Marcha para Jesus e do que ela representa.

Sou cristão e sei da importância de como tal, testemunhar do nome Daquele a quem amo e sirvo. Mas desconfio do que está por trás de uma coisa dessas.

Tirando pra já a sabida e declarada intenção de muitos líderes que tem estado por trás dessa manifestação de obterem benefícios políticos (financeiros, etc, etc...), desconfio do que está mais embaixo, mais pro intestino da tal marcha.



Quando Paulo escreveu à igreja em Corinto, no primeiro capítulo da sua primeira carta, manifestou o que estava também na raiz de muitos dos desmandos daquela comunidade e que me permito trazer à luz ao falar da marcha pretensamente por, ou para Jesus.

Entre os irmãos da tal igreja, haviam contendas das quais Paulo havia tomado ciência pelos familiares de um tal Cloé. Ali, Paulo mostra o que estava por trás do “iceberg”, dos sintomas de desvio sério entre os primeiros cristãos daquela cidade grega. Na carta, ele afirma o seguinte:

Com isso quero dizer que algum de vocês afirma: "Eu sou de Paulo"; ou "Eu sou de Apolo"; ou "Eu sou de Pedro"; ou ainda os que afirmam "Eu sou de Cristo". 1 Co 1:12

Notem que para o espanto do apóstolo, o pior de todas as afirmações sobre os partidários desse ou daquele, era a de que havia entre eles os que absurdamente, afirmavam que eram de Cristo querendo sobressair-se aos demais, ganhar a disputa. Esses, segundo Paulo, eram os piores.

E porquê?

Simplesmente, porque os que se diziam ser de Cristo, deveriam ser de todo mundo. Simples. Se é que eram do Senhor, então esses, deviam ser de todo mundo, exceto de si mesmos.

Essa era a bronca. Esse era o espanto. Esse era o cúmulo de um pecado já admitido – o de ser cada um de um grupo, ou dos que usavam dos argumentos de Apolo, de Cefas, para prevalecerem sobre os outros. Com Cristo isso era e continua a ser impossível.

E aí está a minha crise com a Marcha para Jesus. Se formos de fato de Cristo, então deveríamos ser de todo mundo. E não usarmos do nome de Cristo para nos separarmos dos outros, para justificar o nosso grupo, a nossa panela, a nossa agremiação. Na marcha, parece-me que afirmamos: “Nós não somos de vocês povo brasileiro! Somos de Cristo! E que se lixem, pois só nos ocupamos de nós mesmos e dos nossos”.

Não há como sermos do Supremo Inclusivo Senhor Jesus sem nos dedicarmos dos outros, da sociedade e das suas mazelas. Não há como sermos de Cristo e lutarmos pelos NOSSOS direitos, pelo NOSSO benefício, pelo NOSSO interesse. Ou somos de todos, ou não somos de Cristo, por Cristo amou ao MUNDO todo. Cristo é de todos. O único de Quem Cristo não é, é de Si mesmo. Foi isso que manifestou na cruz.

Entre a marcha, ou o que ela virou, sou mais pelas manifestações de rua que assombram os nossos governantes – ou serviçais da nação – os do poder.

Nos meus 15 anos, perturbado na minha consciência por ter participado de uma manifestação contra a ditadura, procurei ao meu pastor. Pergunte-lhe com toda a sinceridade inocente de um jovenzinho se era ou não pecado, eu como cristão, participar de uma coisa daquelas – totalmente inusitada para a época, inda mais para um crente. Lembro-me como se fosse hoje, de ele me ter olhado direto nos olhos e disparado: “Você tem ido com que finalidade a essa passeata – para defender os seus direitos, ou os dos outros, da sociedade?”... Depois de pensar, respondi-lhe que já tinha aprendido que dos meus direitos, cuidava Deus. Eu estava nas ruas pelo direito do ultrajado, do trabalhador, do pobre roubado no que era seu... pelos presos por crime de consciência, etc... Ainda guardo na memória, dele me ter dado um tapinha nas costas e dito: “Filho, se é assim, vá. Vá em oração, em jejum, mas não deixe de ir! Deus está com você”.

Com essa lembrança, guardei a minha fé inabalável naquilo que Cristo me confiou e que me fundamenta a crer que cristão que é cristão tem o dever, a responsabilidade, ou se é pra parecer espiritual, a missão, de envolver-se na política.

Se é para lutar para mudar o país, vou pras ruas COM CRISTO e manifestando o meu compromisso com o que sei, Ele deseja para todos – paz, justiça e fraternidade.

Entre a Marcha para Jesus e as Manifestações por num novo Brasil, mais justo, sem corrupção, fraterno e bom para todos, sem exceção, cristão ou não, fico com a segunda opção.

#MudaBrasil!




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