Faça uma escolha por Deus

Como escolher entre dois caminhos? O que precisamos ponderar nessa escolha?

Uma das grandes dificuldades do mundo moderno são os tais centros de atendimento automatizado. Você liga para resolver um problema ou solicitar determinado serviço e é atendido por uma voz metálica, artificial, que lhe oferece uma série de opções sem dar oportunidade para qualquer interrupção ou esclarecimento de dúvida. Parece que os seres humanos estão perdendo espaço em todos os lugares, inclusive nos call centers. Você não é atendido por um ser humano, seu semelhante; quem o atende é um robô falante, programado para reconhecer o que você está dizendo.

Toda vez que ligo para um desses serviços, acabo tendo de conduzir a "conversa" inteira, oferecendo repostas rápidas e claras aos questionamentos da máquina. Caso gagueje numa resposta ou não use a inflexão adequada, o atendente eletrônico logo retruca: "Não entendi; repita". O robô falante, que felizmente não ri de nós, fica pedindo para repetirmos quase tudo que falamos. É uma angústia tremenda! E o pior é que temos de fazer as escolhas certas a cada pergunta da máquina, rapidamente, sem titubear, sob pena de ter de, novamente, repetir tudo desde o início.

Felizmente, para outras escolhas da vida, temos mais tempo para pensar. Mesmo assim, fazer escolhas e seguir com nossas vidas parece cada vez mais difícil. Estamos como que paralisados: temos sido incapazes de fazer escolhas sobre relacionamentos, casamento, dinheiro, família e carreira. Acredito que não nos sentimos dessa forma porque não sabemos exatamente o que dizer, como quando estamos com um atendente virtual do outro lado da linha. O real motivo pode ser o fato de estarmos adorando a um deus falso.

A ilusão das múltiplas opções sem compromisso está escravizando o homem moderno.

O texto de I Reis 18.21 descreve um momento crucial de decisão. É o confronto final entre o Deus de Israel e uma falsa divindade chamada Baal. O profeta Elias, então, chama o povo de Deus para escolher de uma vez por todas entre o Deus vivo que os libertou e aquele falso deus que os havia conquistado: "Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; e se é Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu". Eles pareciam perdidos, incapazes de fazer uma escolha. Queriam cobrir suas apostas, sentar em cima do muro e manter suas opções em aberto. Será que nós, cristãos do século 21, somos muito diferentes? Você preferiria fazer uma escolha séria, sem volta, ou uma da qual pudesse se retratar e voltar atrás, caso necessário? Você acha que tem medo de se comprometer? Quando convidado para uma festa, costuma responder com um "talvez", ao invés de simplesmente dizer "sim" ou "não"? Você deixa seu celular ligado o tempo todo, mesmo quando está em uma reunião, só para que não esteja totalmente presente na atividade em que está envolvido? Concentra-se na pessoa com quem está falando depois do culto ou fica olhando para os lados, sempre à procura de alguém mais interessante para conversar?

Se sua resposta a semelhantes perguntas for sim, então você está adorando ao deus das opções em aberto. As pessoas esperam anos para validar um diploma universitário, só compram em lojas com políticas de troca garantida, e não é incomum que namorem outra pessoa durante anos antes de casar – quando se casam. Reservamo-nos o direito de manter nossas opções em aberto em todas as áreas de nossas vidas, do sexo à espiritualidade. Em seu livro The paradox of choice ("O paradoxo da escolha"), Barry Schwartz explica porque temos dificuldade para nos comprometer e o motivo pelo qual adoramos deixar nossas opções em aberto. Ele afirma que, culturalmente, exigimos escolhas, opções. Acreditamos que mais opção significa mais liberdade; e a maioria das pessoas considera a liberdade ilimitada como a melhor alternativa. A ironia, diz Schwartz, é que essa escolha aparentemente ilimitada não nos faz felizes de fato. Como o número de opções disponíveis para nós é tão exagerado, fica difícil que tenhamos a alegria de verdadeiramente nos comprometermos a qualquer coisa ou qualquer pessoa. Mesmo quando nos comprometemos, nossa cultura faz com que nos sintamos insatisfeitos com a escolha que fizemos.

Medo da escolha

Há pouco tempo, em uma lanchonete, eu estava atrás de um cliente que pediu café com leite grande, descafeinado, de baunilha, sem açúcar e com espuma extra. Ainda pediu que o leite fosse esquentado a uma temperatura de 60 graus. Eu ali, parado na fila, depois de ouvir isso, comecei a pensar: "Talvez eu queira meu café esquentado a 60 graus também. Quem sabe se, durante toda minha vida, eu tenha tomado meu leite na temperatura errada?" De repente, o pedido daquele desconhecido fez com que eu me sentisse infeliz com minha própria escolha. Comecei a cobiçar o café do outro. Não tinha mais certeza do que queria! Fiquei ansioso e indeciso, não sabia se estava pronto para me comprometer – com o meu café ou com o dele. Seria isso liberdade de escolha ou escravidão a ela?

Pois e se pegarmos essa multiplicidade de opções triviais que encontramos no dia a dia – a temperatura do café, a posição do carro na garagem, o modelo do celular que usamos – e as projetarmos a questões maiores, como qual a profissão a seguir, o local onde fixar residência, a pessoa com quem nos casaremos ou a quem devemos adorar? Parece que, quanto mais opções temos, mais medo sentimos de fazer uma escolha. Tornamos-nos, assim, escravos da falta de compromisso; temos pavor de cometer erros e evitamos, a todo custo, ter as opções reduzidas. Na verdade, às vezes sentimos tanto medo de fazer uma escolha que, simplesmente, nos recusamos a fazê-la. Ao fazermos isso, estamos adorando a um ídolo. Um deus falso. Um dos "baals" de nossa cultura, na verdade. Seu nome é "opções em aberto".

Ao longo dos anos, os israelitas haviam sido libertos da escravidão e da destruição pelo Deus vivo. Foram resgatados do Egito, sustentados no deserto, salvos da mão de povos inimigos e mais poderosos – repetidamente, espetacularmente e milagrosamente. Os deuses egípcios eram impotentes contra o Senhor, assim como as divindades veneradas por cananeus, heteus, amorreus, perizeus, heveus e jebuseus. Contudo, aqui estão eles, em I Reis 18, lambendo o pó diante de Baal, adorando a outro deus que logo seria derrotado. Isso deveria nos enojar. Mas nós, o povo de Deus hoje, somos diferentes deles? Fomos libertos da escravidão do pecado pela morte e ressurreição de Cristo, de maneira espetacular e milagrosa. No entanto, aqui estamos, muitos de nós adorando aos próprios deuses que Cristo venceu, quando sabemos que são divindades derrotadas, que só irão nos arrastar para a morte se nos apegarmos a eles.

Nós adoramos ao deus das opções em aberto. E ele está nos matando. Ele mata nossos relacionamentos, quando nos diz que é melhor não nos envolvermos demais. Ele mata nosso serviço aos outros porque nos faz acreditar que é melhor guardar nossos fins de semana para nós mesmos. Mata nossas ofertas, dizendo-nos que existem momentos de insegurança financeira e que não sabemos quando podemos precisar daquele dinheiro que usaríamos para concretizar um sonho, por menor que seja. E ele mata nossa alegria em Cristo, nos convencendo de que é melhor não passarmos aos outros a impressão de que somos espirituais demais.

O mais assustador a respeito desse deus é que podemos nunca perceber que o estamos adorando. E isso porque ele finge que não é um deus. Na verdade, ele nos promete liberdade de todos os deuses, de todas as responsabilidades. "Mantenha suas opções em aberto", ele diz. "Adore a mim, e você não terá que servir a nada nem a ninguém. Nenhum compromisso é necessário. Liberdade total". De forma parecida, os israelitas pensaram a mesma coisa ao não responderem a Elias. Eles não acreditavam que estavam cometendo idolatria (I Rs 18.21). Mas, quando escolheram não se decidir, fizeram uma escolha. Ao recusarem-se a agir, estavam, na verdade, se afastando do Deus vivo que os havia resgatado, e cometendo um obsceno ato de adultério espiritual ao adorarem ao deus das opções em aberto. Algumas traduções modernas descrevem o povo de Deus como oscilante entre duas opiniões diferentes. A indecisão deles os deixou impotentes.

Comprometa-se

Acontece que o Deus vivo, amoroso e trino, não nos criou para mantermos nossas opções em aberto. Ele não nos criou para vivermos com medo de fazer escolhas, e tampouco nos fez para sermos como o personagem de Al Pacino no filme Fogo contra fogo, de 1995 – um homem que jura nunca se envolver em um relacionamento do qual não pudesse sair em 30 segundos. Deus nos criou para nos comprometermos, a ele e uns aos outros. Sim, ele nos criou para fazermos escolhas. É correto que sejamos cuidadosos na hora de tomar decisões, que oremos e busquemos conselho nas Escrituras e com cristãos sábios. Quanto maior a decisão, mais cuidadosos devemos ser. Chega um momento, porém, em que a pausa se torna procrastinação e quando a espera não é a opção mais sábia. Chega um momento em que a decisão por não fazer uma escolha se torna idolatria: transforma-se em uma falta de confiança no Deus que ordena as decisões que tomaremos, ajunta os destroços e faz com que todas as coisas cooperem para o nosso bem e para a sua glória.

Seja sábio, mas então descanse na soberania e na bondade de Deus e faça uma escolha. Comprometa-se! Tome uma decisão! Seja sincero e obstinado. O texto de Tiago 1.6-8 coloca a questão da seguinte maneira: "Peça, porém, com fé, em nada duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento (...) O homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos."

Confie que Deus é bom e soberano, e redime cada escolha que fazemos. Se até mesmo as escolhas daqueles que mataram seu próprio Filho foram ordenadas para nosso próprio bem – conforme Atos 4.27-28 –, então como podemos duvidar de que ele tem boas intenções para conosco e nossas escolhas, mesmo que elas sejam imprudentes Outra razão para que rejeitemos o deus das opções em aberto é porque o próprio Deus vivo é um Deus de escolha. E ele nos fez à sua imagem. Efésios 1.4 diz: "Elegeu-nos nele antes da fundação do mundo". Já I Coríntios 1.27 diz: "Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias". E a segunda Epístola aos Tessalonicenses 2.13 afirma: "Deus os escolheu para a salvação, em santificação do Espírito". Se Deus gostasse de manter suas opções em aberto como nós, não teríamos nada que esperar de nosso futuro, além da tormenta eterna.

Em que áreas de sua vida você ainda está flertando com o deus das opções em aberto? Onde está se recusando a escolher? Talvez, você esteja se recusando a se comprometer em um relacionamento específico – quem sabe, até mesmo ao casamento? Ou, quem sabe, você não esteja verdadeiramente comprometido com seu trabalho, mas deixando a rede social aberta o tempo todo e torcendo para ser interrompido. Talvez, seus olhos inquietos estejam sempre em constante alerta à procura de algo ou alguém que considera melhor do que aquilo que tem hoje. Talvez você esteja mantendo suas opções em aberto com o próprio Deus, não se permitindo comprometer demais com ele e seu Reino. Pois saiba que Elias está falando com você em I Reis, e ele está dizendo: "Faça uma escolha". Você já tem toda a informação de que precisa a respeito de Deus. Chega, portanto, dessa aversão a correr riscos, dessa fraca força de vontade, dessa imaturidade. Ou, como provavelmente diria uma tradução moderna: Cresça!

Ao recordar dos últimos 20 anos de minha vida cristã, percebo que adorei e servi repetidamente ao deus das opções em aberto, e vi muitos irmãos na fé fazerem o mesmo. Quantos, por exemplo, tiveram medo de se comprometer através do casamento porque esse falso deus odeia tal compromisso? Ele sabe que, ao longo de um matrimônio, precisamos "esquecer os outros", e isso significa deixar de lado todas as outras opções. O deus das opções em aberto é cruel e vingativo. Ele partirá seu coração; não permitirá que ninguém se aproxime demais. Mas, ao mesmo tempo, como ele é tão maldoso, não permitirá que ninguém se afaste demais também, porque isso significaria que essa pessoa não é mais uma opção. Então, essa situação confusa e exaustiva vai se prolongando, sem fim, ora aproximando, ora afastando, como as marés, sem permitir decisões por isso ou aquilo. Agimos como um homem faminto diante de um banquete, que morre simplesmente porque não consegue escolher entre o frango e o camarão.

O deus das opções em aberto também é mentiroso. Ele nos promete que. se deixarmos nossas opções em aberto, poderemos ter tudo e todos. Mas, no final, acabamos mesmo com nada e ninguém. Jesus disse: "Vocês não podem servir a dois mestres". Em algum momento, precisaremos escolher a quem seguiremos. Se escolhermos o falso deus, não poderemos ter ao mesmo tempo o Deus trino, aquele que deliberadamente negou todas as outras opções para nos salvar. Nada restringe mais as opções de alguém do que permitir que suas mãos e seus pés sejam pregados a uma cruz.

Deuteronômio 30.19-20 diz: "Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, amando ao Senhor teu Deus, dando ouvidos à sua voz, e achegando-te a ele; pois ele é a tua vida". Escolha o Deus das possibilidades infinitas, aquele que escolheu se limitar a um tempo específico, a um lugar específico e a um povo específico. Escolha o Deus que recusou todas as outras alternativas para que pudesse buscar para ele um noiva. Escolha o Deus que escolheu não descer da cruz até que ela fosse vencida. Escolha o caminho estreito. E pare de adorar ao deus das opções em aberto.

Fonte:
Cristianismo Hoje - Barry Cooper

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