Disciplina, como negociar o negociável


Por Hernandes Dias Lopes em Palavra da Verdade

Disciplina é uma palavra fora de moda no mundo pós moderno. Predomina hoje a liberdade sem fronteiras. A pós-modernidade, sustentada pelo tripé da pluralização, privatização e secularização, ensina que não existe um padrão de conduta absoluto e que cada um deve escolher o seu modo de viver sem ter que dar satisfação de suas escolhas. A disciplina seria uma agressão à individualidade, uma intromissão ao mundo particular, indevassável e não compartilhado. A lei básica que prevalece hoje é: faça o que lhe dá prazer, o que é importante é você se sentir bem. É proibido proibir. Cada um deve escolher o que melhor lhe agrada sem a interferência de quem quer que seja. Se não existem limites claros sobre o que é certo e errado; se não existem valores absolutos; se tudo é relativo, então, a disciplina deve ser aposentada como um expediente arcaico para o tempo pós-moderno.

O resultado dessa cosmovisão é a anarquia, a licenciosidade e a confusão moral. A sociedade moderna está falida moralmente. A família está como um barco à deriva num mar tempestuoso. Os pais estão perdidos, perplexos e confusos vendo a família naufragar. Os filhos, sem parâmetros e balizas orientadoras de disciplina, estão se rendendo à uma licenciosidade perigosa, capitulando-se à devassidão. Choramos as consequências, mas não diagnosticamos as causas. Combatemos os resultados da crise, mas não lutamos contra as causas geradoras da crise. Não enxergamos com clareza os princípios que estão por trás das ações. A questão básica é que não apenas a verdade é atacada, mas os pressupostos da verdade foram abalados. Emanuel Kant, no seu livro A crítica da razão pura questionou a verdade antitética, afirmando que não há verdade absoluta. Kierkegaard, o pai do existencialismo moderno afirmou que a verdade é subjetiva. Hegel, o filósofo ditador da Alemanha, com sua dialética, disse que tudo é relativo.

Se assim é, não há espaço para se crer em Deus nem muito menos na sua Palavra. John Locke afirmou que o homem é produto do meio, negando assim, a inclinação para o mal que está dentro do nosso coração. Jean Jacques Rousseau, dizia que o homem é bom por natureza, por isso não há necessidade de correção. Charles Darwin, negava a verdade de que o homem foi criado por Deus e que só os mais fortes e espertos sobreviveriam. Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, pontuava que a repressão é o gênese de todas as neuroses, por isso a disciplina está na contra-mão da vida saudável. Augusto Comte, o pai do Positivismo, dizia que a sociedade perfeita viria com a educação das massas. O homem não precisa de Deus, precisa de educação. Ora, todos esses afluentes filosóficos desaguaram no mar da confusão e da libertinagem. Temos uma sociedade confusa, perdida moralmente, atolada no pântano de seus muitos prazeres, mas destruída pelas drogas deletérias, pelos vícios degradantes, pela sexualidade desregrada e sem freios.

Mais do que nunca a bandeira da verdade de Deus deve ser levantada. A falta de disciplina traz corrupção. Onde não há limites, onde não há lei, o povo se degrada. Por isso, a disciplina se faz necessária, porque todos nós temos uma inclinação para o mal. Temos a semente do pecado dentro de nós. A estultícia está ligada ao coração da criança. A falta de disciplina traz vergonha e desgraça. A disciplina deve ser preventiva e interventiva. Deve ser firme e amorosa. Deve ser clara e justa. Deve ser bíblica em sua essência para buscar sempre a correção e a restauração do faltoso. Assim, entendemos que disciplina não é nem repressão patológica nem castigo, mas um ato de amor.

A questão básica é saber distinguir o que é inegociável e o que é negociável. Muitos pais engolem um camelo e coam um mosquito. Brigam por coisas banais e toleram aberrações. Já no quinto século, Agostinho dizia que um pai deve educar um filho vinte anos antes dele nascer. Primeiro, devemos ser disciplinados para depois exercermos com coerência e consistência a disciplina bíblica. O que podemos tolerar? Onde podemos fazer concessão? Os pais jamais devem abrir mão de valores absolutos da Palavra de Deus.

Há coisas que são supra culturais, são princípios eternos de Deus em qualquer tempo e em qualquer lugar. Pecado é pecado em qualquer tempo, em qualquer cultura. Transigir com esses princípios, aceitar o que Deus proíbe, aplaudir o que Deus abomina, amar o que Deus rejeita é insensatez. Por outro lado, há o risco de super valorizar o que Deus não proíbe. Muitos pais caem nesse extremo do legalismo, do farisaísmo, impondo sobre os filhos regras e mais regras, fardos e mais fardos, oprimindo suas vidas com mandamentos de homens, com hábitos e costumes que não possuem nenhuma fundamentação na Palavra de Deus. Essa atitude repressiva e opressora produz uma geração doente emocionalmente e fraca espiritualmente.

Não existe nenhuma cultura sagrada e pura. Todas elas estão contaminadas pelo vírus do pecado. Não é a cultura que determina o que é santo e profano, o que é certo e errado, mas a Palavra de Deus. Seremos julgados não segundo os preceitos e regras da nossa cultura, mas segundo o escrutínio da Palavra de Deus. Os fariseus eram legalistas, davam mais valor a preceitos de homens do que aos princípios das Escrituras. Viviam mais preocupados com a aparência diante dos homens do que com a piedade diante de Deus. Estavam mais interessados em arrancar aplausos dos homens do que receber a aprovação de Deus. Negociavam o inegociável e eram intransigentes com o negociável. Por fora, eram lindos; por dentro, podres.

Há muitos pais que não sabem distinguir o que é essencial e o que é secundário. Não sabem dialogar, não sabem ceder, não sabem fazer concessões naquilo que é negociável. Mantém suas regras e perdem seus filhos. Deixam intactos seus preceitos e arrebentam com a família. Mais do que nunca os pais precisam estar perto dos filhos, precisam ser amigos dos filhos. As pressões que os filhos enfrentam hoje são descomunais. As armadilhas são mortíferas. A sedução do prazer é avassaladora. Se o lar não for um quartel general, um lugar de refúgio, um abrigo contra o temporal, os jovens não resistirão. Os pais precisam investir nos filhos, gastar tempo com os filhos. Nenhum sucesso compensa o fracasso da família. Os filhos não precisam tanto de conforto, mas de amor. Precisam não de presentes, mas de presença. Precisam não de censura, mas de compreensão e disciplina amorosa.

A águia tem muito para nos ensinar sobre a disciplina dos filhos. Ela, como pedagoga de Deus, nos dá vários princípios fundamentais, dignos de ser observados:

1. Coloca o ninho dos seus filhos longe dos predadores – A águia não constrói o ninho dos seus filhos perto dos predadores. Ela busca os lugares altaneiros para ali colocar o ninho dos filhos. Muitos pais perdem os filhos, porque colocam o ninho deles perto de feras perigosas. Como Ló, armam suas tendas para as bandas de Sodoma e Gomorra. Davi, mesmo sendo o homem segundo o coração de Deus, mesmo tendo vencido um urso, matado um leão, derrotado um gigante, conquistado um reino, acumulado riquezas, e se tornado um homem de sucesso e fama internacional, perdeu os seus filhos dentro de casa. No ninho do rei havia uma víbora peçonhenta, chamado Jonadabe, que deu um conselho maligno para Amnom. Ele violentou a sua própria irmã. Mais tarde Absalão matou Amnon, conspirou contra o seu pai e foi morto. Salomão, quando assumiu o reinado, matou seu irmão Adonias. Houve estupro, assassinato, conspiração, derramamento de sangue na casa de um homem de Deus, porque ele construiu o ninho de seus filhos perto dos predadores. Pai e Mãe, onde vocês estão construindo o ninho dos seus filhos? Onde estão os seus filhos? Quem são os conselheiros de seus filhos? Quem frequenta a sua casa com os seus filhos?

2. A águia ensina os seus filhos pelo exemplo – Muitos pais fracassam na disciplina dos filhos, porque ensinam uma coisa e praticam outra. Os filhos não vêem coerência na vida dos pais. Quando o filhote da águia está na hora de sair do ninho, ela começa a voejar sobre o ninho, mostrando-lhe a necessidade de sair para as aventuras da vida. A Bíblia diz que os pais devem ensinar a criança não o caminho em que ela quer andar, nem mesmo o caminho em que ela deve andar, mas no caminho em que ela deve andar. Ensinar o caminho é algo teórico, ensinar no caminho é uma lição de vida.

3. A águia aplica disciplina adequada aos filhos na hora certa – Quando o filhote da águia não obedece o comando para voar, e mesmo diante do exemplo se nega a sair do ninho, ela então, remove toda a penugem do ninho e deixa apenas os espinhos e ferpas pontiagudas para acicatar o filhote. Tem hora que a única linguagem que os filhos entendem é a voz da disciplina. Há muitos pais que estragam seus filhos, hiper-protegendo-os. A disciplina é ato de amor. Ela visa o amadurecimento do filho. Ela produz fruto de justiça.

4. A águia vai às últimas consequências para disciplinar e discipular os filhos – Quando o filhote se recusar até mesmo a atender o expediente da disciplina, a águia toma uma medida radical. Ela pega o filhote do ninho com as suas possantes garras e arroja-o das alturas para o chão. Ele que nunca voou sozinho, cai de ponta cabeça, desesperado; e ela deixa. Quando o filhote está para espatifar-se ao chão, ela o toma novamente e o leva de volta para as alturas e novamente o arroja de lá. E faz isso, duas, cinco, dez vezes, até que o filhote aprende a voar sozinho. A lei da águia é: meu filho tem que ser meu discípulo. A águia não desiste do filho. Precisamos aprender essa lição: Não podemos abrir mão dos nossos filhos. Eles são filhos da promessa. Eles são herança de Deus. Não geramos filhos para a morte, não geramos filhos para povoar o inferno. Nossos filhos são presente de Deus. Devemos amá-los, discipliná-los, orar com eles, por eles, chorar por eles e jamais abrir mão deles, até que Deus os restabeleça e faça deles uma bênção, uma coroa de glória na sua mão!



Nota:

Este artigo foi escrito por Pr. Hernandes em 16 de março de 2004

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