Jesus disse: Amem os seus inimigos!


Mas a vós, que isto ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam. (Lucas 6:27-28)

Por Derval Dasilio em Escritos&Artigos

O perdão é a expressão máxima do verdadeiro amor. Quem ama, entende a pessoa que o agrediu, até o extremo quase absurdo da desculpa do Crucificado: porque não sabem o que fazem (Lucas 23, 34). Quem ama, é também capaz de reconhecer seus erros, reparar o dano causado e reconstruir a comunhão (comum + união) avariada. Contudo, como é difícil perdoar! Parece que no fundo do coração humano a tendência à violência, à vingança e ao se afastar é intrínseco ao dinamismo genético que não nos deixa vivenciar a experiência do amor em plenitude.

O perdão é um processo de conversão. Para chegar a ele é preciso viver uma profunda experiência de Deus. Somente Deus é capaz de perdoar e nos habilitar para o perdão. Por isso, o perdão é a graça por excelência, de Deus para com seus filhos. Mas o perdão exige também um processo no ofensor: em primeiro lugar, tomar consciência do dano causado com sua ação, atitude ou intenção determinada. É importante dar-se conta das conseqüências dos atos. Do contrário, estar-se-ia apostando na impunidade.

Em segundo lugar, é necessária a confissão pública (não somente no foro interno) da infração, como parte fundamental do processo de conversão. Isto implica conhecer-se muito bem o dano que se causou à pessoa-vítima e à sociedade, em nosso caso, à comunidade eclesial. Algumas pessoas dizem que basta pedir perdão a Deus. Mas, dessa maneira, o processo fica incompleto. Torna-se necessária a ação pública, a confrontação e o diálogo, ao menos com o confessor, que representa a comunidade eclesial.

Vem, em seguida, a reparação pelo dano causado. Em alguns lugares se diz que “o que quebra, paga e leva os pedaços”. Ficaria incompleto o caminho se não se reparasse moral ou materialmente o mal que se fez. Do contrário, o processo penitencial não produziria os efeitos desejados na pessoa arrependida. E na vítima e na comunidade não se cumpriria com o princípio básico da vida social, que é a justiça: dar a cada um o que lhe corresponde.

Requer-se, por último, o compromisso de não se reincidir na mesma falta. Isto não quer dizer que absolutamente não se volte a falhar. A condição humana é muito frágil e incerta. A fraqueza, a sedução e as tentações nos podem surpreender e arrebatar. Mas a decisão de não voltar a cair em falta deve ser inteiramente sincera.

O mundo, dividido pelas guerras, ódio e miséria, necessita de remédios estruturais profundos e relativamente definitivos. E é aí onde os cristãos são chamados a colaborar com nosso grãozinho de areia.

Essa é a finalidade das leituras de hoje: Davi, que perdoa a seu inimigo Saul, tendo podido eliminá-lo sem maiores contratempos. Paulo, que nos chama a viver no espírito pacífico e de reconciliação do novo Adão. Jesus, que nos convida a viver o perdão como um exercício permanente de nosso compromisso cristão.

Só através de um testemunho de perdão e reconciliação contínuos, pessoais e coletivos, conseguiremos derrotar as forças da violência, o ódio e a destruição da vida em todas as suas formas.

“Precisamos de leis que protejam o meu inimigo. Se elas não o protegem, também não protegem a mim”.
Ruy Barbosa

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