Disciplina e resistência


Algumas pessoas têm alvos, mas se perdem no caminho, não sabem como chegar lá. São idealistas, com convicções superficiais, e pouco pragmáticas. Tendem a ser pessoas frustradas. Outras vivem num círculo vicioso de atividades sem saber para onde estão indo, simplesmente se habituaram a fazer o que fazem. São pragmáticas, superficiais e pouco idealistas. Tendem ao tédio. Frustração e tédio são marcas da vida de muitos cristãos modernos.

A jornada cristã requer as duas coisas: um ideal (visão) e um caminho (missão). Paulo disse ao rei Agripa que não foi desobediente à visão celestial. Ele tinha um alvo e caminhou, resolutamente, em direção a ele. Uma preocupação de Moisés em relação ao povo de Deus era o risco de se desviarem dos caminhos propostos por Deus, de não ouvirem mais a sua palavra e acabarem sendo seduzidos por outros deuses. Encantaram-se com a paisagem e perderam o destino. Para Moisés, permanecer em Deus e no caminho proposto por ele era a única garantia de vida.

O ponto de partida de todo cristão é a graça de Deus, que nos alcança, salva e nos apresenta um novo caminho. O ponto de chegada é a glória, a realização plena do propósito de Deus. Entre um e outro, temos diante de nós a extraordinária aventura da vida. Ao longo desta aventura, temos escolhas a serem feitas, decisões que precisam ser tomadas. Necessitamos ser treinados a fazer as escolhas certas. Se formos pegos de surpresa, daremos ouvidos às vozes mais estridentes, às propostas mais sedutoras, aos caminhos mais largos. Isso nos leva à frustração ou ao tédio.

Uma das armadilhas que enfrentamos na civilização moderna são as inúmeras possibilidades e meios que ela nos oferece. Muitos deuses gritam todos os dias, clamam por nossa atenção, insistem que sua agenda é urgente. O grande inimigo do cristão moderno é a dispersão; talvez uma das ciladas mais sutis do Diabo. Temos alvos, sem objetividade, ou corremos muito, sem chegar a lugar algum.

Quando Paulo fala sobre a necessidade de sermos revestidos de toda a “armadura de Deus”, o propósito não é, a priori, sair por aí lutando contra algum inimigo invisível, mas a necessidade que temos de permanecer em Cristo. Precisamos resistir às ciladas do Diabo para permanecer firmes e inabaláveis em meio à confusão do mundo. A “armadura de Deus” diz mais respeito a nós do que ao inimigo.

É cada vez mais comum encontrar crentes deprimidos e frustrados ou secularizados e narcisistas. É como se “as forças espirituais do mal” drenassem toda a vitalidade espiritual. As disciplinas espirituais são as práticas necessárias para não se cair nas ciladas da dispersão e vir a perder a força vital da fé. Precisamos nos firmar na verdade, na justiça, no evangelho, na fé, na salvação e na Palavra. Este é o caminho que nos conduz ao alvo. Fora dele certamente nos perderemos.

A oração é a disciplina que integra todas as outras. Enquanto permanecemos orando e vigiando com toda a súplica e gratidão, o caminho permanece claro diante de nós. A prática da oração não só nos preserva em Deus, mas preserva Deus em nós. A presença de Deus nos ajuda a discernir o mundo em que vivemos e como devemos viver nele.

O apóstolo Paulo tinha um alvo -- ele chama-o de “coroa incorruptível” e, como um atleta disciplinado, ele corria tendo aquele alvo bem claro diante de si. A disciplina rigorosa que ele impôs a si mesmo era para que ele não fosse desqualificado na aventura da vida, precisava resistir firme contra todas as ciladas do inimigo. Não basta ter um alvo, é preciso saber alcançá-lo, como não basta apenas correr, é preciso saber para onde estamos correndo.


Fonte:
Ultimato - Ricardo Barbosa de Sousa

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