Culto Individual, Culto Familiar e Culto Comunitário

Culto Individual, Culto Familiar e Culto Comunitário

Com a intenção de testar Jesus e coloca-lo em dificuldade, o intérprete da Lei pergunta: – Mestre, qual é o principal, o primeiro, de todos os mandamentos? Considerando a imensa quantidade de mandamentos, abrangendo tantas áreas e aspectos importantes, a tarefa de escolher um ou fazer um resumo de todos, parecia simplesmente impossível. Para os homens comuns, sim; mas para Jesus, não. De forma magnífica Jesus responde: “…O principal é: Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.” (Mc 12.29-31).

Na nossa curta existência terrena precisamos levar muito a sério essas palavras de Jesus, priorizando-as acima de tantas outras que chegam até nós, ou seja: Há um só Deus e Senhor, sobre tudo e sobre todos. Ele é o Deus criador e sustentador de toda a criação e deve ser distinguido e cultuado em espírito e em verdade. Em decorrência desta primeira e sublime realidade, nossos pensamentos e ações precisam estar intimamente ligados a ele, distinguindo-o acima de tudo e de todos. Somente ele é digno de receber a maior manifestação do nosso amor, devoção e obediência.

E, complementando a síntese, Jesus nos ensina que, abaixo de Deus, o nosso próximo deve ser alvo de nosso amor, na mesma medida com que amamos a nós mesmos e, ainda mais, na medida que Cristo nos amou (Jo 13.34). Então, de forma prática e efetiva, nossa vida precisa ser um contínuo culto a Deus, cuja liturgia se desenvolve através de atitudes e ações direcionadas diretamente a ele ou, indiretamente, quando amamos e servimos ao nosso próximo. É o que veremos a seguir:

1. CULTO INDIVIDUAL
(O Alicerce da vida cristã)

Assim como na biologia existem vários níveis hierárquicos de organização dos seres vivos, começando pelos átomos, depois moléculas e terminando no corpo vivo; de igual forma, a igreja, o corpo vivo de Cristo é constituída por indivíduos e famílias. Podemos afirmar que igreja saudável é uma igreja que agrada a Deus. Para uma igreja ser saudável, os indivíduos e famílias que a compõem também precisam ser espiritualmente saudáveis.

Igreja também é comparada a um edifício. Um edifício sólido e estável é aquele edificado sobre a rocha, que é Cristo, o alicerce sólido sobre o qual as pedras vivas (os crentes) são colocadas (Ef 2.19-22; Cl 2.6-7). Essas e outras figuras metafóricas expressam a estreita ligação entre Deus e sua igreja.

É na intimidade com Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo que a vida cristã se fundamenta e se desenvolve: “A intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança.” (Sl 25.14); “porque o SENHOR abomina o perverso, mas aos retos trata com intimidade.” (Pv 3.32). Esse estreito relacionamento entre o crente e o Senhor é que produz crentes “Alegres na Esperança, Fortes na fé, Dedicados no Amor, Unidos no trabalho”, como diz o moto da UMP (União de Mocidade Presbiteriana).

É no Culto Individual que desenvolvemos esta intimidade com Deus. 

Temos belíssimos exemplos, na bíblia e na história, de servos de Deus que fizeram a diferença em seu tempo por conta de seu estreito relacionamento com Deus: Enoque andava com Deus (Gn 5.22-24); Moisés tratava com Deus face a face (Dt 34.10-12); Ana, na sua intimidade com o Senhor foi atendida (1Sm 1 e 2); Samuel, em tempos de apagão espiritual foi usado por Deus para a restauração espiritual do povo de Israel, pois o Senhor se manifestava a ele (1Sm 3.21). Davi, apesar de suas fraquezas era um homem segundo o coração de Deus (At 13.22).

Os salmos de autoria de Davi são testemunhas da sua intimidade com Deus, onde ele expressa louvores, ações de graças, sua confiança em Deus, mas, também, suas perplexidades e clamor. E, o que dizer de Daniel? O registro bíblico já diz tudo: “Daniel, pois, quando soube que a escritura estava assinada, entrou em sua casa e, em cima, no seu quarto, onde havia janelas abertas do lado de Jerusalém, três vezes por dia, se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu Deus, como costumava fazer.” (Dn 6.10). Mesmo sob ameaça e correndo o risco de perder a sua vida, ele não alterou sua rotina cotidiana.

Jesus nos ensina que precisamos buscar um momento a sós com Deus: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.” (Mt 6.6). Além de orar, em hora apropriada e lugar sossegado, precisamos, primariamente, nos enriquecer com a leitura da bíblia[1], e, complementarmente com a leitura de bons textos devocionais, livros etc. O cântico de louvores é parte integrante e relevante do culto a Deus (Sl 34.1; Mt 26.30; At 16.25).

 Finalmente, é bom deixar claro que o culto individual não fica restrito a um momento reservado e isolado. O servo de Deus deve cultuar a Deus em todo o tempo e em todo o lugar, com seus pensamentos, palavras, atitudes e ações.

2. CULTO FAMILIAR
(O Alicerce da família cristã)

Famílias cristãs espiritualmente fortalecidas são bênção para a igreja. 

Ao invés de drenar recursos e esforços da liderança, na solução de seus problemas, elas contribuem para ampliar os recursos a serem utilizados para alcançar os perdidos. Para que isso aconteça, os pais ou responsáveis precisam desempenhar o seu papel, ao invés de querer delegar ou terceirizar o que é seu dever. Isso deve ser feito com muita sabedoria, dedicação e oração, nunca por decreto ou por força ou por violência.

Não é eficaz obrigar os filhos pequenos a participar de culto doméstico, ler a bíblia e ir à igreja. Conduzir não é obrigar! Antes de tudo é preciso viver uma vida cristã tão linda que contagie os outros membros da família a amar a Deus, obedecê-lo e fazer a sua vontade. É preciso respeitar sempre a individualidade de cada um e usar de sabedoria para conduzi-los.

Vejamos alguns aspectos importantes do culto doméstico ou familiar:

a) É mandato de Deus para os pais (Dt 6.6-9) - “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.” (Dt 6.6-7).

É preciso ensinar, primeiramente com o exemplo pessoal, mas também com as palavras; repetindo quantas vezes for necessário e insistindo até a absorção e prática natural.

b) Proporciona a oportunidade de transmissão de valores para a formação de caráter (Gn 35.2; Js 24.15; Ml 2.6) - “Então, disse Jacó à sua família e a todos os que com ele estavam: Lançai fora os deuses estranhos que há no vosso meio, purificai-vos e mudai as vossas vestes;” (Gn 35.2)

“Porém, se vos parece mal servir ao SENHOR, escolhei, hoje, a quem sirvais: …. Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR." (Js 24.15)

“A verdadeira instrução esteve na sua boca, e a injustiça não se achou nos seus lábios; andou comigo em paz e em retidão e da iniquidade apartou a muitos.” (Ml 2.6)

O pai, e na sua ausência a mãe ou outro responsável, precisa exercer os papéis de profeta, sacerdote e pastor da sua família. Como profeta, ele recebe a palavra de Deus e a transmite para a sua família. Como sacerdote, ele zela pela pureza e santidade da sua família. Como pastor, ele guia e cuida da sua família.

c) Tem a promessa de resultado duradouro (Pv 22.6) - “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele.” (Pv 22.6)

Para que o resultado seja alcançado é preciso observar cuidadosamente o início do texto: “ensina a criança”. É a partir da mais tenra idade que o processo deve começar. A criança é uma verdadeira esponja, absorvendo tudo o que ouve e vê na sua família. Inicialmente ela reage por imitação; depois, por sua própria vontade e decisão. Vale ressaltar que o ensino se dá “no caminho”, isto é, durante a caminhada e convivência.

d) Tem a promessa de prolongamento da vida (Dt 6.2) - “para que temas ao SENHOR, teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida; e que teus dias sejam prolongados.” (Dt 6.2)

No período do AT, aquele que se desviava dos mandamentos divinos, sendo rebelde e transgressor, não vivia muito tempo, inclusive porque a tolerância divina era mínima para com os ímpios. Observando-se a história humana, não será difícil constatar que, de um modo geral, aquelas pessoas que foram bem cuidadas e orientadas quando crianças tiveram vida mais longa. E, essa constatação é muito mais evidente e tangível quando essa orientação familiar se dá a partir de princípios e valores cristãos.

d) Proporciona a oportunidade de um prazeroso convívio familiar. - Há muitos momentos de convívio familiar prazeroso. Família é bênção de Deus em nossas vidas! Entretanto, esse momento em que a família se reúne para cultuar a Deus é especialmente prazeroso. Apenas quem já o vivenciou pode testemunhar essa realidade.

São momentos de deleite e edificação: na leitura e meditação na Palavra de Deus, no ouvir aquela oração simples e sincera da criança, no compartilhar as vivências do dia, no esclarecimento de dúvidas. São momentos de plantar memórias que servirão de esteio para os filhos para o resto de suas vidas. São momentos temporários, mas com desdobramentos eternos.

e) Deve ser feito com criatividade e de forma lúdica. - Há que usar de sabedoria e criatividade para tornar esse momento tão atrativo que a criança fique na expectativa de chegar a hora do próximo “cultinho”. Os pais não precisam ser teólogos ou professores para conduzir esse momento. Basta buscarem um conhecimento básico daquilo que será ensinado e compartilhado.

Certamente o conteúdo bíblico será a base. Além da Bíblia, as livrarias evangélicas (físicas ou virtuais) oferecem inúmeros materiais ou recursos de apoio para serem utilizados no culto familiar ou doméstico (livros, cadernos, jogos, CDs, DVDs etc). Na internet podem ser encontradas muitas dicas sobre o assunto.

Finalmente, a pergunta que não quer calar é: por que o culto familiar é tão negligenciado, se há pleno conhecimento, tanto da sua importância, quanto do estrago causado quando não é praticado? A influência dos pais sobre os filhos pode ser impactante e duradoura, como aquela de Jonadabe, filho de Recabe, usada por Deus como exemplo de obediência (Jr 35.1-19). Por que não aproveitar esse momento para exercer influência benéfica sobre a família?

3. CULTO COMUNITÁRIO
(O Alicerce da igreja cristã)

Longe de ser uma rotina ou uma obrigação religiosa, o culto comunitário deve ser algo muito esperado e desejado por todos (2Cr 20.13), algo que gera alegria e júbilo (Ne 12.43), algo a ser preservado (At 2.42; Hb 10.25). Qualquer que seja a forma de culto – individual, familiar ou comunitário – o culto bíblico deve ser norteado por alguns princípios.

Vejamos alguns aspectos importantes do culto comunitário:

a) Princípio da destinação - “….Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto.” (Mt 4.10)

O culto bíblico é oferecido única e exclusivamente a Deus, portanto, é teocêntrico e não antropocêntrico.

b) Princípio da autoridade - “ Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo.” (1Co 11.3)

Considerando a presença de muitas pessoas no culto comunitário, há que se ter pessoas responsáveis pela liderança da programação. Não é razoável que cada um resolva fazer o que tiver vontade. A autoridade de gênero estabelecida por Deus não deve ser desprezada.

c) Princípio da comunhão - “esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz;” (Ef 4.3)

Além da adoração a Deus, o culto deve promover a comunhão e unidade do corpo de Cristo, a igreja.

d) Princípio da decência e ordem - “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem.” (1Co 14.40)

Deus merece o nosso melhor, tanto em termos de forma como de conteúdo.

e) Princípio da participação - “Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação.” (1Co 14.26)

Ainda que alguns atuem mais diretamente na liturgia do culto – orando, pregando, cantando no coral ou tocando um instrumento musical – não podemos nos comportar como meros espectadores ou, muito menos, como quem frequenta o culto apenas para avaliar e criticar. Somos parte integrante daquilo que está sendo realizado, associando nossas mentes e emoções.

f) Princípio da edificação - “Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua.” (1Co 14.19)

“Seja tudo feito para edificação.” (1Co 14.26b)

No culto se exalta a Deus e se promove o crescimento espiritual dos crentes, rumo à maturidade cristã.

g) Princípio da reverência - “Lembraram-se os seus discípulos de que está escrito: O zelo da tua casa me consumirá.” (Jo 2.17)

É preciso manifestar respeito profundo ao cultuarmos a Deus. Ele está presente para receber o culto que lhe oferecemos. Enquanto se desenvolve a programação litúrgica: onde estão os nossos pensamentos? Cantamos refletindo sobre a letra? Acompanhamos cada palavra da oração que está sendo feita? Prestamos atenção na mensagem? Ou: conversamos com quem está perto a qualquer tempo, nos distraímos com a criança que está à nossa frente, consultamos o celular a todo instante.

h) Princípio do amor - “Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais,…” (1Co 14.1)

Quando o amor a Deus e ao próximo se torna a base de tudo em nossas vidas, inclusive a base do culto que prestamos a Deus, tudo flui melhor. Ainda que as nossas imperfeições pessoais sejam fatores de limitação na realização do culto comunitário, esse amor vem preencher as lacunas (1Pe 4.8).

Conclusão:

Esclarecidos a respeito dessas três formas de culto (individual, familiar e comunitária), quanto ao que consiste e quanto à sua importância, resta a todos nós o desafio permanente de praticá-las e incentivar outros a fazerem o mesmo.

Fonte:
Pare!Leia!Reflita!Pratique! - Paulo Raposo Correia

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