Haiti: onde está a "poderosa" igreja brasileira?


Alan Brizotti


As cenas são chocantes: corpos espalhados pelas ruas, gritos sufocados sob escombros, o desespero por uma garrafa de água. Correria, violência, dor. Imagine, por um momento, o que significa olhar ao redor e perceber que tudo aquilo que você chamava de "vida", acabou. Casas e suas pessoas agora são pó e lembranças. As ruas são apenas a mistura estranha de mortos e destroços. Não encontro outra palavra a não ser: devastação.

Um cinegrafista amador captou o momento em que uma mulher, atônita ao observar as chamas de um prédio destroçado bradou desesperada: "o mundo está acabando!" Paradoxo intrigante: começa um novo ano, acaba o mundo dela. Em lágrimas, procurei por pessoas que nunca conheci. Chorei por crianças que nunca abracei. Tentei encontrar meios para, de alguma forma, minimizar o que é absurdo.

Lembrei de Jeremias em suas Lamentações. A devastação de sua amada terra fez seus olhos derramarem-se em fontes. Chorei pelos haitianos porque somos todos humanos, fronteiras, nomes e "raças" são apenas criações imbecis que abraçamos só para dificultar nossos esforços na convivência. Somos todos filhos do pó, filhos da Mãe Terra, filhos amados do Pai. Chorei não apenas como um brasileiro sentado em seu confortável sofá numa distância segura do caos, mas como um humano aflito cuja mesma distância apenas apavora ainda mais.

Em meio a todo o caos, uma fúria me invadiu: onde está a "poderosa" igreja brasileira? Aquela que berra todos os dias na televisão sobre seus poderes para curar, exorcizar e angariar muita grana! Aquela dos mega-pastores, mega-empresários, mega-pregadores, mega-cantores, mega-patifes! Aquela dos endinheirados bispos do poder! Aquela dos magnatas da fé que enganam, distorcem as Escrituras e, sob a fachada do sobrenatural, escravizam mentes ávidas pelo espetáculo!

Vejo uma grande mobilização de governos, entidades não-governamentais, civis, a igreja católica e suas pastorais, mas não vejo nada da Poderosa Igreja Evangélica Brasileira! Pense bem no que vou escrever agora:
se essa tragédia não servir para mudar radicalmente os rumos da teologia triunfalista da atualidade no Brasil, descretamos a nossa morte!
Depois das atrocidades da Inquisição e do Nazismo, a teologia cristã experimentou novos rumos, se o Haiti e sua absurda tragédia não nos sacudir os alicerces teológicos, é porque já estamos tão mortos quanto os que entram na crescente estatística macabra do terremoto. Quanto dinheiro as igrejas evangélicas brasileiras movimentam por mês? Quanto se gasta com o luxo miserável dessas "pseudo-elites" tupiniquins travestidas de cristãos?

Assim como hoje julgamos pesadamente a Inquisão e o Nazismo, nos julgarão daqui a alguns anos pelo descaso com a natureza, pela insensibilidade com os que sofrem e pela farsa que toleramos socialmente todos os dias.


Vou chorar mais um pouco...
Alan Brizotti, emociona no Genizah

Comentário Genizah Virtual: É companheiro Alan, ao que parece a esquadrilha de aviões da elite evangélica deste país está ocupada demais levando seus felizes proprietários para o próximo evento gospel e não há quem possa ajudar as vítimas destes desastres de início de ano, inclusive aqui pertinho.

Espero que na hora do dízimo do mês que vem os seguidores destas pessoas se lembrem que além de contribuir para a gasolina do jatinho seria de bom tom, digamos assim, mandar algum para quem está no campo, pois de conversa, milagres na TV e shows de vitória estamos todos cheios.
Comentário PC@maral: O texto já diz tudo, posso apenas repetir a pergunta que compõe o titulo: Onde está a "poderosa" igreja brasileira?

Não se ouve um pio, uma campanha, uma manifestação, uma "marcha", não me refiro aqui as congregações pequenas e a igreja tradicionais, mas àqueles que gastam horários na TV todos os dias, para venderem seus "produtos". O único artigo que pouco ouvimos anunciar é, justamente, o que faz a diferença, a Palavra de Deus, que, pouco é, por "eles" anunciada.

Assim diz o Senhor:

"Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas.(...) não fizestes distinção entre vós mesmos e não vos tornastes juízes tomados de perversos pensamentos? (...) Entretanto, vós outros menosprezastes o pobre. Não são os ricos que vos oprimem e não são eles que vos arrastam para tribunais? (...) Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.
Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé.

Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem.

Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem as obras é inoperante?
Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque? Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou", (Tiago cap 2).

***

Fonte : Genizah

Um comentário:

  1. Conheço pastores que inclusive foram para o Haiti e estão mobilizados.
    Mas creio que nenhum dos que postou estas críticas aqui fez nada por aquela nação.
    Antes de olhar o argueiro no olho do irmão tirem a trave!!!!!!!!!!

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